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segunda-feira, 19 de março de 2012

Deus é um superlativo.


Olá pessoal. Raramente posto por aqui questões decorrentes de consultas. Não porque não ache os estudos de caso necessários, longe disso; É porque, normalmente, as questões levantadas são muito particulares para que eu exponha aqui. Esse caso que vou contar é uma daquelas exceções que devem, sim, ser divulgadas - mantendo, evidentemente, o respeito ao nome dos envolvidos.
Por esses dias, joguei para um jovem pai de família. Havia ficado desempregado há pouco e queria saber de novos rumos, pois o desespero começou a ligar no seu celular e ele queria se posicionar antes que o desagradável personagem batesse, enfim, à sua porta. O jogo foi muito positivo, e eu já estava bem satisfeito com o que havia visto. Reconhecêramos seus limites e a forma de transpô-los para obter o melhor dos resultados. Foi aí que ele me perguntou: como está minha relação com Deus? Digo, tem algum entrave espiritual que esteja me mantendo nesse rumo esquisito?
Ok, embaralhemos, cortemos, disponhamos as cartas, como manda o ritual. Diante de perguntas tão complexas, quanto menos eu pensar, melhor. Deixo as cartas falarem com o ênfase que lhes é próprio. Depois da frase formada, posso explorar mais o tema mas, num primeiro momento, deixo com elas. 
Surpreendentemente, as cartas foram enfáticas em recomendar-lhe uma boa dose de hedonismo, sem gelo. Algo surpreendente, sem dúvida. Enquanto conversávamos sobre o prognóstico, percebi que ele carregava (literalmente) a família nas costas. Oferecia-lhes tudo o que era possível, e mais. Não era capaz de negar nada. O não lhe era sofrido de dizer.
As cartas apontavam para o caminho oposto... A relação deste com Deus estava baseada em paradigmas que não correspondiam ao que ele precisava. 



Ele me disse: "Fico meio sem graça de encher o saco de Deus, sabe? Só recorro a Ele quando se esgotam todas as possibilidades aqui, na Terra. Não acho certo ficar o importunando com os meus problemas."
As cartas me mostravam justamente o contrário, era hora de ele começar a pedir o que quisesse, porque Deus estava com redobrada atenção para lhe conceder o que pedisse. Temi por ele, que ele perdesse esse momento tão precioso.
"Meu amigo, se eu te pedir essa corrente que está no seu pescoço (e que caminhava com ele havia anos) você me daria?"
"Se você for um dos meus, sim."
"Você me perguntaria se eu teria encontrado uma igual antes, se eu não teria dinheiro para comprar, perguntaria porque motivo eu quereria justamente a corrente em seu pescoço?"
"Não..."
"Então, me diga... Por que você quer esperar acabarem suas perspectivas e expectativas para pedir a Deus o que deseja? Acredita mesmo que Ele agiria contigo diferentemente da forma como você age com os outros?"



Lágrimas nos olhos, sem mais questões, despedimo-nos. 

Deus é um superlativo de nós mesmos. Aonde estivermos, Deus também estará, inevitável e inexoravelmente.
Certamente, Deus é um grande Cartomante (ou se consulta com Madame Cazam). E uma inspiração para seguir meu Caminho na Arte. E, claro, Deus tem um senso de humor do seu próprio tamanho.



Abraços a todos.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Compaixão e uma colher de xarope, por favor.



Olá pessoal. Eu tenho refletido muito sobre uma palavra em especial. Compaixão. Embora pensemos que ela soe como sinônimo de misericórdia, piedade, compaixão é outra coisa. O bacana da Língua Portuguesa é isso: nos meandros de um bom dicionário, encontramos não só novos sentidos, como novos caminhos imiscuídos em tais sentidos.
Bora lá, entender o que diferencia essas três palavras e porque compaixão é quase sinônimo de Tarô.
 Conforme o dicionário Aurélio, piedade é 
s.f. Compaixão, dó, pena, comiseração. / Teologia Virtude que leva a render a Deus a honra que lhe é devida. / Devoção, afeição e respeito pelas coisas da religião. // Piedade filial, amor respeitoso aos pais.
Misericórdia é
s.f. Piedade, compaixão, sentimento despertado pela infelicidade de outrem. / Perdão concedido unicamente por bondade; graça. / Punhal que outrora os cavaleiros traziam à cintura no lado oposto àquele em que estava a espada, e que lhes servia para matar o adversário, depois de derrubado, se ele não pedia misericórdia. // Misericórdia divina, atribuição de Deus que o leva a perdoar os pecados e faltas cometidos. // Bandeira de misericórdia, pessoa bondosa, sempre pronta a ajudar o próximo e a desculpar-lhe os defeitos e faltas. // Golpe de misericórdia, o ferimento mortal feito com o punhal chamado misericórdia; o golpe mortal dado a um moribundo. // Mãe de misericórdia, denominação dada à Virgem Maria para significar a sua imensa bondade. // Obras de misericórdia, nome dado a quatorze preceitos da Igreja, em que se recomendam diferentes modos de exercer a caridade, tais como visitar os enfermos, dar de comer a quem tem fome etc. // Estar à misericórdia de alguém, depender da piedade de alguém. // Pedir misericórdia, suplicar caridade.

Compaixão é, para além de sinônimo de piedade (grifo nosso),
s.f. Sentimento de pesar que nos causam os males alheios; comiseração, piedade, dó.



E é aí que começamos a refletir. Compaixão é uma aceitação da dor do outro como se fosse nossa. Mas... Sem ser nossa. É como se vivenciássemos o sofrimento sem, no entanto, sermos responsáveis ou correspondentes a ele.
Parece algo extremamente desagradável, algo extremamente desnecessário, mas não. É justamente o contrário. 
Existem coisas que não temos como explicar. Que, por maior que seja o nosso sofrimento, não conseguimos passar, não conseguimos fazer entender. Pode ser um limite nosso, mas pode ser um limite do interlocutor, também. Se, no primeiro caso, a responsabilidade é nossa e a ação é possível, no segundo caso é praticamente impossível resolver o caso.
A menos que o nosso interlocutor experimente a mesma coisa que nos faz sofrer, ele não irá entender. O limite é dele, é impossível transpor um limite interno sem o desejo do indivíduo de superá-los.
É aí que entra a compaixão. Compaixão é a habilidade de sentir com o outro, sem participar do evento que motiva tal sentimento. Normalmente relacionamos compaixão com a dor, mas não necessariamente estamos falando de qualquer tipo de sentimento negativo. A habilidade reside na capacidade de sentir junto.
Se a piedade e a misericórdia nos levam a entender o sofrimento do outro, a compaixão nos leva a sentir junto. O entendimento é baseado em nossa vivência, em nossa experiência, em nosso background e em nossas projeções. Como naquele caso famoso em que o rapaz num certo programa da Rede GloBBBo foi acusado de estupro, ainda que a jovem que dormiu com ele não tenha se pronunciado a respeito. O entendimento do telespectador visou a proteção da "vítima", mas não pensou se, de fato, a "vítima" teve um "algoz". O entendimento da cena motivou um julgamento que, embora mostre que o telespectador da atração está atento aos fatos que ocorrem, não está suficientemente apto para deixar que as pessoas que participam do programa tomem a frente de suas próprias decisões.  Mas não seria essa uma das prerrogativas para participar do programa?
Esses dois termos, que ainda que possam soar como sinônimos são coisas diferentes, deixam o observador à parte, seguro. Ele só observa e elabora seu julgamento, baseado em prerrogativas que não estão afinadas com o evento. São as experiências do observador sobre uma cena a qual ele não pertence. São suas ideias, são suas acepções do mundo, atuando sobre eventos aos quais ele não tem nenhuma participação. É seguro, é tranquilo. 
Não existe, num caso como esse, nenhum tipo de compaixão. Existe piedade, existe  misericórdia.... mas compaixão é outra coisa.
Compaixão é o que o leva a procurar na sua experiência aquela dor que o teu interlocutor está experienciando. Aquele sentimento que escorre por seus olhos e voz possui um registro em você, e você sabe. 
Não é difícil desenvolver a compaixão. É um desafio e tanto manter esse sentimento em ação quando as coisas não ocorrem como você deseja. Mas não é difícil. Lembra do que disse sobre termos todas as experiências do mundo dentro da gente, incluindo aquelas que execramos? Então. É disso que estou falando - temos todas as experiências do mundo dentro de nós, nada nos é indiferente, nada nos é desconhecido no campo dos sentimentos.
Saberemos exatamente como o outro se sente, se nos abrirmos para isso. Esqueçamos nosso passado, nossas prerrogativas, nossas projeções, nossas noções de certo e errado. Não é por muito tempo, é só pelo tempo suficiente para que aquilo que o outro representa nos preencha. Em algum lugar aí dentro haverá uma ressonância. Em algum ponto você sentiu ou deixou de sentir exatamente aquilo que o outro representa - e por isso ele apareceu na sua vida, para te lembrar das tuas escolhas, aquelas que levaram você a ser exatamente quem você é.
Ok, isso não é compaixão, isso é empatia. Compreender intrinsecamente como o outro se sente. Mas é a partir da empatia que desenvolvemos a compaixão. Ao desenvolvermos a habilidade de sentirmos o que o outro sente, sem participar ativamente do evento, temos aquele distanciamento confortável e necessário, próprio da piedade e da misericórdia, mas com a intenção de atuarmos exatamente no ponto que merece atenção, desprezando todos os demais - eles se resolverão por si mesmos, quando o ponto certo for curado.
Compaixão deveria ser prerrogativa de todo Cartomante. Nenhum cliente, mesmo que o mais curioso, se aproxima de nós a menos que tenha algo a resolver ou curar. E nossa habilidade, como tarólogos e cartomantes que somos, é revelar esse sofrimento e minimizar os danos causados por esse diagnóstico, através da conscientização dos indivíduos sobre suas capacidades de superação e desenvolvimento.
Eu ainda acredito que existe bad people  no mundo, eu não sou criança, eu não sou inocente. Mas eu decido olhar cada pessoa como alguém que pode ir além do que eu vejo à primeira vista.
Seja meu cliente, ou não.
Abraços a todos.

Post Scriptum: A motivação dessa postagem foi o episódio 14 da terceira temporada de Glee. Como não sei se todos os leitores assistem o seriado (mentira, sei que não...), posto aqui a música referente ao episódio e desejo que ela os toque como me tocou. Tendo sido inspirada em um episódio de seriado, a postagem não aprofunda o tema com a perspectiva que este merece. Temos outro texto sobre compaixão aqui no Conversas Cartomânticas e este, da autoria de Marcelo Bueno, em seu blog ZephyrusAlém disso, recomendo a leitura da postagem Om Mani Padme Hum, no blog do meu irmão Euclydes Cardoso Jr., TarotCabala. Confiram.
  






Life's too short to even care at all oh
I'm losing my mind losing my mind losing control
These fishes in the sea they're staring at me oh oh
Oh oh oh oh
A wet world aches for a beat of a drum
Oh

If I could find a way to see this straight
I'd run away
To some fortune that I should have found by now
I'm waiting for this cough syrup to come down, come down

Life's too short to even care at all oh
I'm coming up now coming up now out of the blue
These zombies in the park they're looking for my heart
Oh oh oh oh
A dark world aches for a splash of the sun oh oh

If I could find a way to see this straight
I'd run away
To some fortune that I should have found by now

And I run to the things they say could, restore me
Restore life the way it should be
I'm waiting for this cough syrup
To come down

Life's too short to even care at all oh
I'm losing my mind losing my mind losing it all

If I could find a way to see this straight
I'd run away
To some fortune that I should have found by now

So I run to the things they said could, restore me
Restore life the way it should be
I'm waiting for this cough syrup
To come down


One more spoon of cough syrup now, oh
One more spoon of cough syrup now, oh

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Quando a Sombra se faz presente. Ou: A Carta Testemunha, só que ao contrário.

Sombras na parede, e parece-nos serem animais...

Espadas. Esse naipe, que possui a foice de Chronos e a espada de Ares em seus aspectos mitológicos e astrológicos, me assusta(va!) um bocado. O Grande e o Pequeno Maléficos, juntos? Perae. Deixa eu tomar uma talagada de coragem, primeiro. Claro que é só um naipe, como os outros três que compõem o quarteto. Mas, da mesma forma como Copas é desejado, Espadas é execrado. Herança de uma cartomancia onde o preto se opunha ao vermelho como o mal ao bem. Maniqueísmos à parte, sobraram alguns preconceitos que, perpetrados pela literatura, afastam esse naipe da minha lista de desejos. O que, por outro lado, não deixa de ter um pouquinho de razão. Onde há fumaça, há fogo – mesmo que a origem do fogo seja outra além da que supúnhamos quando víamos a nuvem de fumo.


Por esses tempos, ainda, estava eu a ler O Lado Sombrio dos Buscadores da Luz (Cultrix). Esse livro é bem bacana. Juro (como se precisasse jurar) que mais de uma vez fechei o livro por falta de coragem para continuar. Cadê meu copo com minha talagada de coragem, mesmo?
A autora, Debbie Ford, fala-nos do processo de integração da Sombra. Conforme a Wikipedia
Sombra, em psicologia analítica, refere-se ao arquétipo que é o nosso ego mais sombrio. É, por assim dizer, a parte animalesca da personalidade humana. Para Carl Gustav Jung, esse arquétipo foi herdado das formas inferiores de vida através da longa evolução que levou ao ser humano. A sombra contém todas aquelas atividades e desejos que podem ser considerados imorais e violentos, aqueles que a sociedade, e até nós mesmos, não podemos aceitar. Ela nos leva a nos comportarmos de uma forma que normalmente não nos permitiríamos. E, quando isso ocorre, geralmente insistimos em afirmar que fomos acometidos por algo que estava além do nosso controle. Esse "algo" é a sombra, a parte primitiva da natureza do homem. Mas a sombra exerce também um outro papel, possui um aspecto positivo, uma vez que é responsável pela espontaneidade, pela criatividade, pelo insight e pela emoção profunda, características necessárias ao pleno desenvolvimento humano. Devemos tornar a nossa sombra mais clara possível.Procurando um trabalho partindo do interior para o exterior. A sombra é freqüentemente projetada em outra pessoa, que aparece ao indivíduo como negativa.

Ler esse livro é um desafio. Você acredita mesmo que se conhece e, pior, você é tão bondoso, honesto, justo, honrado, verdadeiro e equânime quanto se julga ser? Baseado em que embasa essa resposta?

A manifestação dos seus sonhos começa com a difícil tarefa de descobrir o que eles verdadeiramente são. Enquanto somos crianças, seguimos as pegadas de nossos pais e professores. Aceitamos sua orientação e seu discernimento para nos guiar nas tarefas escolares; eles influenciam nossa escolha com relação a esportes, passatempos e outras atividades que ocupam nosso tempo livre. Quando ficamos adultos, escolhemos a carreira e os colegas baseados nos ideais estabelecidos pelos mais velhos.

Mas em que ponto paramos de ouvir essas vozes externas e entramos em sintonia com nossos guias interiores? Em que momento decidimos que talvez o caminho que estamos trilhando não seja, de fato, o nosso?

Seria essa a razão que nos leva a sentir que falta algo na nossa vida?

Esse é o tipo de pergunta que mais tememos, porque exige de nós uma segunda avaliação do que temos pensado até agora. Alguma vez você já questionou sua crença em Deus? Para alguns, questionar a doutrina sagrada é um pecado mortal; mas, se não desafiarmos nossas crenças mais básicas, não cresceremos espiritualmente. Nossa vida correrá simplesmente ao longo das linhas estabelecidas pelos nossos pais, e não passaremos jamais dos limites que eles estabeleceram para nós quando éramos crianças.
Debbie Ford

Ok. Enquanto lia, o Leo Chioda postou um texto instigante, causador de reflexões por noites a fio. Lá fui eu caçar minha Nemesis, e, por contraponto inevitável, visitar minha Temis. A Giane Portal fez um comentário nessa postagem, que foi mais que incentivador: “Emanuel, no universo binário em que vivemos, quanto maior a Luz, maior a Sombra. É fato.” Bora atrás da Sombra, então. Por contraponto ao tamanho da Sombra, é inevitável encontrar a Luz que a projeta – assim como o corpo que lhe dá forma.
Já estava complicado, mas poderia complicar mais. Claro. O Pablo de Assis nos diz: 
O complicado é percebermos a Sombra. Como toda boa sombra, ela sempre fica atrás de nós (se estamos olhando para a fonte de Luz) e dificilmente vemos ela chegando. Também, se está escuro, não vemos a sombra. E geralmente só percebemos a Sombra porque ela está projetada em algo.

Projeção aqui é o conceito chave pra compreender tudo isso. Basicamente, tudo o que nos é inconsciente (e a Sombra se inclui nisso, por motívos óbvios) só nos é percebido quando é projetado. E o que isso quer dizer? Basicamente que quando eu olho para algo e eu reconheço que isso é diferente de mim, eu estou projetando nela a minha sombra; principalmente se além de reconhecer a diferença eu coloco repulsa ou algo que me separe ainda mais disso.

Como a Sombra reune tudo o que reconheço (inconscientemente, a princípio) como sendo não-Eu, basicamente tudo o que vejo como não-eu no mundo se torna projeção da minha sombra. Em outras palavras, quando eu vejo isso, eu estou vendo no outro o que reconheço como sendo não-eu em mim mesmo.

O mecanismo pode parecer um pouco complicado, mas basicamente funciona assim: como não reconheço determinada característica em mim, então eu reprimo isso, que fica inconsciente. Mas isso não fica esquecido, mas sim jogado no mundo, no outro, que é visto como portando isso que não reconheço em mim, que é minha sombra. Eu posso conscientizar isso, mas não internalizo como sendo eu.
E é aí que o livro da Debbie Ford vai no osso da questão e no meio do músculo cardíaco do leitor. Nós somos absolutamente tudo em potencial. Não manifestamos tudo, mas somos. Somos potencialmente assassinos, ladrões, estupradores, dependentes químicos, mentirosos, traidores, maledicentes, fofoqueiros, racistas, misógenos, e por aí vai. Completa a lista com o que você execra, lembrando que o que você execra, você também é. Em potencial, mas é.
E desse cruzamento do que é a Sombra com o que é a Sombra na Cartomancia, lá fui eu caçar minhas cartas. Eu gosto de todos os Cavaleiros, poderia escolher um como Testemunha, mas não. Conforme disse o Leo, poderia escolher qualquer carta que representasse aquilo que de fato eu considerasse precioso. Dentro desse panorama, não poderia ser outra senão a Rainha de Paus.

Rainha de Paus
Marseille Grimauld

A Rainha de Paus é fidelidade a si mesmo. Sempre. Ela está para além dos ditames sociais – esses ficam lá em Espadas, por conveniência, sem trocadilho. A Rainha de Paus gosta, e porque gosta, gosta e só. O inverso é verdadeiro: ela não gosta, e, por não gostar, não gosta. Ponto. É uma figura que não só sabe fazer escolhas, como tem certeza de estar no caminho certo. O calor representado pela união do Fogo do naipe à estirpe úmida e fria de sua Realeza dá-lhe uma calidez que não é inocente ou pueril. Ela é arco-íris e relâmpago, como diz Veet Pramad.

Valete de Espadas
Marseille Grimauld

Ok. E qual seria a carta Sombra, senão o famigerado Pajem de Espadas? Não vou negar não. Êta carta encardida. Oposta ipisis litteris à Rainha – se esta é Fogo e Água, o Pajem é Ar e Terra. O calor após uma inesperada chuva de verão, aquele cheiro cálido de ar lavado e aromatizado com a terra úmida dá lugar à poluição de um dia seco. Poeira. Sufocamento. Dor de cabeça e sangramento nasal. Já falamos bastante dessa carta por aqui... Dá uma olhada aqui e aqui, em especial.

A maledicência do Valete de Espadas, a maior parte das vezes,
oculta um profundo sentimento de inadequação e um desejo de
ser aceito. Fofoca é confundida com intimidade, intriga com partilha,
ofensa aos outros com afirmação da própria natureza,
 grosseria e parcialidade com sinceridade.
Compaixão para gente assim. É só o que dá para ter.

Mas, perae, de novo. Evidentemente, eu sou tendencioso na interpretação da Rainha de Paus, porque realmente amo a ideia passada pela interpretação dessa carta à luz da personagem Penélope, no Tarô Mitológico. Por que eu não seria também tendencioso na minha relação com o Valete de Espadas? Não existem maniqueísmos no Tarô. Maniqueísmos são desenvolvidos por pessoas, não por cartas - embora quem manipule as cartas sejam pessoas. Curiosamente, nesse mesmo baralho, o Valete de Espadas é a única carta da Corte que não é representada por um herói, mas sim por um deus - Zephiro. E esse nome, aqui no Brasil, é um catecismo. Mas não daqueles que se apreende na igreja aos domingos.
Se eu descobri a Sombra, descobri também que naipe de experiências ela estaria atraindo para mim. Resta-me descobrir que tesouro ela reserva. Nesse caso, o que de positivo e luminoso existe no Valete de Espadas. Foram dias a fio pensando nessa carta, vivendo seus aspectos naturais (e desagradáveis). Eu não gostava dele, não sem motivo. Mas, superando sua característica primeva, primitiva, primordial e essencial, sobra-nos características muito belas para viver. A lição dele é chatinha, mas necessária.
Se essa carta fosse um conto, seria William Wilson. Poe. Will I am will son. Isso já me afastaria quilômetros dela. Autocrítica é uma característica a ser desenvolvida, não imposta por outrem (ainda que esse outro seja um duplo seu) - porque senão, não seria autocrítica, mas crítica embrulhada em uma transferência emocional louca. Pensando mais um pouco, há algo de Cisne Negro aqui também (confira a trilogia Caleidoscópio Cartomântico aqui: parte 1, parte 2, parte 3).
Mas não só. Há outro capaz de vestir a máscara do Valete de Espadas, também. E esse eu admiro sobremaneira.


Parece estranho, mas é fato. A habilidade que ele possui em escarafunchar os mais diferentes casos de uma forma absurdamente lógica passa por uma característica única nessa carta da Corte: critério. O Valete de Espadas é o mais criterioso entre as cartas da Corte. Suas intenções podem não ser das melhores (e raramente são), mas seu método é louvável. Ele junta pontos, soma ideias, imagens, informações, correlaciona tudo e... o resultado é idêntico ao seu caráter. Se essa carta se manifestar de forma bela, belo é o resultado e a chegada de suas informações. Caso contrário, temos um Kingslayer a postos para liberar seu veneno e chicotear com sua língua.
Pensando bem, nem sempre o resultado é idêntico ao caráter do Valete. Por vezes, o que menos importa é o seu caráter, e sim o que ele faz. O nosso Holmes contemporâneo que o diga.

O caráter do Dr. House não é lá aquelas coisas. Ele tem uma série de limites nesse sentido. Um misantropo cuidando dos mesmos seres que repele por opção. Um anti-herói por natureza que, por essa mesma natureza, é capaz de atos heroicos. Não há o que questionar quanto aos resultados. A questão são os métodos. Mas que ele é brilhante, ele é.

Não foi fácil chegar a essa conclusão sobre a luminosidade do Valete de Espadas. Aceitar que eu tenho potencial para realizar qualquer coisa que eu execre, também não. Mas quem disse que é fácil caçar aspectos encardidos em nós mesmos e entendê-los? A Sombra só é bela quando ela é compreendida, aceita e integrada plenamente. Hoje eu entendo que todas as características que eu não admiro no Valete também estão em mim, mas eu opto por não manifestá-las. Eu escolho por isso. 
Acho que, se eu não gostava dele, não era por ele, per se; era só pelo que ele é capaz de fazer. Ms existe uma forma muito fácil de resolver o problema com o Valete de Espadas. Quando ele se mostra vítima, quando ele se mostra interessado em dizer o que andam dizendo por aí, quando ele fala mal de alguém, conhecido ou desconhecido para você... Use as três peneiras. E siga sua vida. 


Abraços a todos, integremos nossas Sombras e cacemos novos desafios. O inferno somos nós... O Paraíso também.

P.S.: Para aqueles que desejarem ir à fundo nessa ideia, sugiro veementemente que leiam o livro da Debbie Ford, O lado sombrio dos buscadores da luz (Cultrix). Há um outro, que ainda não li, chamado O Efeito Sombra, escrito pela Debbie Ford, Deepak Chopra e Marianne Williamson. Aqui embaixo segue o trailer.




Ah, em tempo: segue aqui um teste organizado pela VEJA para reconhecer alguns aspectos da Sombra. Não é um fim em si, é um começo. E o Ricardo Pereira produziu para o Clube do Tarô um texto precioso sobre a relação das cartas invertidas com os aspectos sombrios dos Arcanos, aqui.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Jogando com cinco cartas.

Jayr Peny, Quatro Elementos.
Disponível em http://migre.me/5HjVq

Olá pessoal. O método de cinco cartas é simples, mas o panorama que oferece é muito amplo. Assim como a Mandala Astrológica, ele permite diversos níveis de interpretação coexistirem na mesma carta, no mesmo jogo. E, partindo desse pressuposto, é o jogo que eu utilizo em atendimentos online, quando tenho pouco tempo para apresentar um diagnóstico e o consulente tem perguntas a fazer.
Correlacionando cada posição a um dos quatro elementos e o centro ao Éter, temos as quatro principais áreas da vida do consulente passíveis de um diagnóstico rápido e preciso, podendo, dessa forma, direcioná-lo na elaboração de suas perguntas para melhor aproveitamento da consulta.
Eu utilizo Terra para o Norte, Água para o Oeste, Fogo para o Sul e Ar para o Leste. Existem tantas variações para a disposição dos elementos quanto possíveis; esteja à vontade para modificar essa disposição em função das suas crenças e práticas. Objetivamente, essa modificação não trará diferenciações para o jogo – os quatro planos ainda estarão representados.
Retire a Carta Diagnóstico. Ela já aponta para a natureza da questão mais importante, ou seja, esteja atento para que área é apontada por ela. Será a casa que merecerá maior atenção, ou, se preferir, a casa que deve ser aberta primeiro. 
clique na imagem para ampliar

Disponha as cinco cartas: meio, acima, esquerda, abaixo, direita. Se estivéssemos lidando com a questão temporal antes do diagnóstico (vide abaixo) disporíamos meio, cima, baixo, esquerda, direita. O círculo formado pelas cartas dispostas na primeira possibilidade dá a ideia de influência, ciclicidade; a segunda possibilidade, de decorrência, linearidade. Eu gosto de diferenciar a disposição das cartas justamente pelo valor e significado das casas na estrutura do jogo.
A carta do centro representa a essência do jogo, a motivação, a lição a ser apreendida com a jogada. Essa casa se relaciona com os Arcanos Maiores, ou seja, se um Arcano Maior sair nessa casa, mesmo que seja um Arcano funesto, essa área está em equilíbrio – o consulente está afinado com o desejo de sua Alma.
A carta acima da carta de essência representa o Plano Material do consulente – saúde, dinheiro, finanças, imóveis, posses em geral. A carreira, quando relacionada com a carta que está no Plano Mental. Essa casa afina-se com o naipe de Ouros, estando, portanto, equilibrada quando sai uma carta deste naipe, mesmo que a carta não seja positiva.
A carta à esquerda da carta de essência representa o Plano Emocional. Emoções, sentimentos, família, intuições, paixões, a sexualidade estão compreendidas nessa casa. Essa casa afina-se com o naipe de Copas, estando, portanto, equilibrada quando sai uma carta deste naipe, mesmo que a carta não seja positiva.
A carta abaixo da carta de essência representa o Plano Espiritual. Não confunda esse plano com práticas religiosas; aqui nós vemos a religiosidade, não a religião – a proposta espiritual que o consulente possui, não a manifestação da crença. Vemos também viagens, projetos pessoais, direcionamentos, o foco. Essa casa afina-se com o naipe de Paus, estando, portanto, equilibrada quando sai uma carta deste naipe, mesmo que a carta não seja positiva.
A carta à direita da carta de essência representa o Plano Mental. Vemos aqui a vida social do consulente – seus amigos, seus inimigos, parceiros de trabalho, colegas, vizinhos. Se a individualidade é vista na carta central e na carta do Plano Espiritual, aqui vemos como essa individualidade se manifesta para os outros. Aqui também temos o diagnóstico dos pensamentos do consulente, que nem sempre se afinam com os seus sentimentos e motivações. Essa casa afina-se com o naipe de Espadas, estando, portanto, equilibrada quando sai uma carta deste naipe, mesmo que a carta não seja positiva.
Depois de virarmos as cinco cartas, atentamos para os naipes. Uma carta de Espadas no Plano Material pede que tenhamos mais atenção à carta que está no Plano Mental; uma carta de Copas na Essência pede maior atenção ao Plano Emocional; um Arcano Maior no Plano Mental informa que a lição do momento se afina com a relação entre o consulente e seu meio social. As relações entre os naipes e os elementos das casas nos direciona a saber qual é, efetivamente, a área da vida do consulente que pede maior atenção.
Após diagnosticarmos isso, voltamo-nos para a Carta Diagnóstico, que abriu o jogo. Qual é a casa correspondente? A cruz correspondeu à Carta diagnóstico? Como a Carta Diagnóstico corresponde à motivação da consulta, que caminho você consegue traçar entre a motivação e as perspectivas que o jogo oferece?
Parece complicado, eu sei; mas com um pouquinho de treino e prática, o jogo flui muito rapidamente, identifica-se as motivações e decorrências de forma rápida e precisa.
Além dessa forma, que gosto muito, aponto outras duas formas de abrir um jogo com cinco cartas: uma linear e outra em cruz.

PASSADO REMOTO/PASSADO RECENTE/PRESENTE/FUTURO PRÓXIMO/RESULTADO

Esse jogo é um detalhamento do jogo de três cartas. Visa encontrar as raízes da questão formulada pelo consulente. A primeira carta representa o passado remoto, ou as causas da busca do consulente por respostas. A segunda carta representa o passado recente, ou as questões que passaram a incomodar o consulente. A terceira carta representa o presente ou a situação atual em que o consulente se encontra. A quarta carta representa as possíveis ações que o consulente deve tomar. A quinta carta representa o resultado dessa ação.
Atente-se para os naipes, nessa jogada; eles indicarão o curso de ação que o consulente tenta seguir e qual lhe será mais adequado.

INFLUÊNCIAS CONSCIENTES / INFLUÊNCIAS INCONSCIENTES / FATORES ORIUNDOS DO PASSADO / POSSIBILIDADES FUTURAS / SÍNTESE OU RESULTADO
Esse jogo é o que considero mais adequado para respostas no Petit Lenormand. Escolha uma carta significante para o assunto que será visualizado. Por exemplo, para uma questão de amor, use a carta 24; para uma questão sobre dinheiro, use a 34; para uma questão de saúde, use 03; para uma questão de trabalho, use 26 e assim por diante. Coloque uma carta em cima desta, que mostra o panorama e a síntese, ou o resultado; acima desta, uma carta apontará os fatores conscientes; abaixo destas, uma carta para apontar os fatores inconscientes; à esquerda, as influências do passado, e à direita as influências do futuro, tentando relacionar todas as cartas com a carta central. Caso a mensagem não fique clara, é possível pedir mais três cartas, como esclarecimento.

São métodos curtos, mas extremamente eficazes. Na verdade, creio que todo método seja válido, desde que o cartomante esteja à vontade para operá-lo. Falando nisso, nesse link aqui eu falo sobre a estrutura de uma consulta.

Abraços a todos.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Dos usos da Mandala Astrológica.



Olá pessoal. A pedidos, eu compartilho aqui a minha forma de abrir a Mandala Astrológica. É um jogo muito amplo e completo, que serve como diagnóstico de uma série de fatores, e ainda por cima dá uma ideia de tempo para cada aspecto previsto.
Eu demorei para postar sobre essa jogada porque não existe um consenso sobre sua metodologia. Eu pesquisei a respeito e vi que existem tantas formas quanto cartomantes que a utilizam. Portanto, nem tudo que está nessa postagem corresponderá, efetivamente, à visão de outros oraculistas. Complementar, certamente, mas passível de discrepâncias, que a sua experiência com o oráculo será capaz de eximir.
A escolha das imagens eu devo à inspiração da palestra sobre o Arcano XVII, da Pietra di Chiaro Luna na Confraria Brasileira de Tarot e ao texto sobre a Luade Vera Chrystina para a Blogagem Coletiva. Embora sejam disciplinas independentes, em muitos pontos Astrologia e Tarot se tocam. Nem que seja iconograficamente, apenas, se tocam... mas ainda acho que é mais que isso.
Dedico essa postagem a Edy de Lucca, Katharina Dupont e Claudia Mello, do grupo Tarologistas. Obrigado, meninas, pela sugestão do tema.


Astrólogos olham para o Céu.
Geomantes, para o chão.
Cartomantes, para a mesa.




Vamos então ao passo-a-passo:

DEFININDO O PLANO DE JOGO

Defina quantas cartas você usará para cada casa. Com exceção da central, que normalmente possui uma carta só (Maior ou Menor – eu uso um Arcano Maior, como explicarei adiante), existem pessoas que colocam uma carta (só um Arcano Maior ou um Arcano, com o baralho todo misturado), duas cartas (um Arcano Maior e um Menor, embaralhados separadamente) ou, como eu, três cartas (um Arcano Maior e dois Menores; Hadès (Cartas e Destino, Ed 70) indica embaralhar os Menores juntos, e, no meu caso, utilizo um Arcano Maior, uma Carta da Corte e uma Carta Numerada). Cada uma dessas abordagens trará um panorama diferente, mas de forma alguma “errado”. 


A Lua
Tarot Este


Eu gosto de colocar uma carta de cada estrutura porque forma uma “frase completa”: O Arcano da Corte é o sujeito, ou seja, o personagem que surgirá na vida do consulente ou a máscara que ele assumirá frente à situação proposta pela Casa. Deverá ele ser tão astuto e precavido quanto o Valete de Espadas na casa 1? Ou deverá se precaver contra fofocas no ambiente de trabalho, com a mesma carta ocupando a casa 6?
O Arcano Maior é o verbo. Ele indica a ação que movimentará o desenvolvimento do consulente no que concerne aos aspectos da Casa onde sai. E a Carta Numerada é o objeto, direto ou indireto (risos), que complementa o sentido, oferecendo o cenário onde a ação se desenrola/desenrolará.
No começo parece complicado, mas depois de um tempo de prática temos 12 leituras de três cartas, respondendo às questões específicas de cada Casa. “Quem será o consulente durante o tempo da consulta?” Vejamos as três cartas da Casa 1. “Como o consulente se relacionará com seu parceiro?” Vejamos a Casa 7 e por aí vai. Nesse primeiro momento, as Casas são separadas, “cada uma no seu quadrado”, e as cartas são analisadas em função desse limite.

RELACIONANDO-SE COM O CONSULENTE


Estrela.
Lenormand Tarot

Naturalmente, eu tiro a carta diagnóstico e entendo como o jogo transcorrerá. Essa carta, no caso, dialogará diretamente com a carta central da Mandala, então é importante atenção a ela. A Carta Diagnóstico pode, inclusive, relacionar-se com a Casa 1 – o motivo pelo qual o consulente busca o Cartomante dialoga com o estado em que se encontra no momento.
Eu embaralho, após o diagnóstico, as cartas nos três agrupamentos: Maiores, Corte, Numeradas. Espalho as carta frente ao consulente, e peço que o consulente tire, dos Maiores, 13 cartas. Sugiro que você escolha uma palavra chave para cada casa, e diga: “, você está tirando a carta para a Casa 1” ou “, você está tirando a carta que representa sua personalidade”. Repita o mesmo para a Corte, só que com 12 cartas (a Casa central só possuirá o Arcano Maior, conforme dito acima), pedindo a máscara relativa à cada Casa, e depois o mesmo em relação às Numeradas, pedindo a situação na qual a lição do Arcano Maior manifestará a máscara. Completa a mesa, partimos para a análise propriamente dita.

ANALISANDO AS CASAS ASTROLÓGICAS


Sol
Thoth Crowley Harris

Conforme o Clube do Tarô (compilação de Constantino K. Riemma), às Casas se atribuem os seguintes aspectos:

Casa 1: a personalidade e o temperamento; a aparência, a vitalidade e a constituição física. Avó (mãe do pai), irmãos dos amigos. Cabeça e rosto, olhos, ouvido esquerdo, cérebro, músculos, movimento e sangue, aparelho genital masculino. Corresponde ao signo de Áries.    
Casa 2: o dinheiro e os bens adquiridos pelo trabalho; os ganhos e perdas financeiras, a administração. Os pais dos amigos e os amigos da mãe. Pescoço e garganta, língua, laringe e sistema linfático. Touro.
Casa 3: a comunicação, escritos, documentos, estudos, criação intelectual, as pequenas viagens, as trocas e o comércio, os vizinhos. Os irmãos e irmãs, colegas e professores da escola primária, secretários. Ombros, braços e mãos, sistema nervoso e respiratório. Gêmeos.
Casa 4: o lar, o passado, a infância, os bens imobiliários, o domicílio; a hereditariedade, as raízes, a história. A mãe, os bens dos irmãos, primos por parte de pai e sogro. Peito, seios, estômago, órgãos femininos (ovários e útero), cérebro. Câncer.
Casa 5: os amores, a criatividade; as diversões, jogos, ganhos pela sorte, especulações, o vestuário; a educação. Os filhos, os bens da mãe, noiva (o), amantes e os amigos do cônjuge. Coração, costas e ombros, artérias, diafragma e o lado direito do corpo. Leão.
Casa 6: o serviço diário, os colegas, assistentes e subordinados; a saúde, a higiene, a alimentação e as doenças agudas; animais domésticos. Tios e tias maternos, os conselheiros e instrutores. Intestino delgado e plexo solar, músculos e nervos. Virgem.
Casa 7: o casamento, as relações íntimas, sócios e companheiros; os contratos e processos, os conflitos, os concorrentes e os inimigos declarados. O cônjuge, os avós maternos e sobrinhos. Rins, quadris e nádegas, o genital feminino e o baixo ventre. Libra.
Casa 8: sexo, transmutação e morte; as heranças e presentes; psiquismo. Os negócios e finanças do cônjuge ou sócios, os amigos do pai. Sistema reprodutor, sistema urinário e excretor. Escorpião.
Casa 9: os ideais, os estudos superiores, as grandes viagens e o estrangeiro, comércio internacional ou por atacado; a religião, a lei e a filosofia. Cunhados, os netos, professores e colegas de curso superior. Músculos e coxas, fígado, quadris e artérias. Sagitário.
Casa 10: a carreira, a vocação, o prestígio social e profissional, os empreendimentos, as relações com as autoridades. O pai, sogra, primos por parte de mãe; patrão, superiores e patrocinadores. Joelhos e pernas, ossos e pele, dentes e ouvido direito. Capricórnio.
Casa 11: as amizades, as simpatias e proteções, as esperanças, projetos e planos, os lucros dos empreendimentos, os clubes e associações. Genros, noras e os bens do pai. Tornozelos e barriga da perna, cérebro, circulação sangüínea e a energia nervosa. Aquário.
Casa 12: o servir altruísta, a vida religiosa ou mística, os sacrifícios e as provas, as limitações, as práticas veladas, os vícios. Tias e tios paternos, protetores secretos e inimigos ocultos. Pés, sistema linfático e tecido adiposo. Peixes.

Percebam que aqui, à Casa 4 se atribui a mãe e à 10 o pai. Isso não é consenso entre os Astrólogos, e, caso você opte por seguir a Astrologia Medieval que aponta para as características contrárias (pai na 04, mãe na 10), todas as atribuições parentais serão trocadas pelas casas imediatamente opostas. Mas isso é outra história e não afeta diretamente a interpretação das Casas. Eu sempre usei as atribuições mãe na Casa 04/pai na Casa 10 com sucesso.
Conforme disse anteriormente, eu utilizo uma carta central, norteadora das relações entre as Casas. Essa carta, para mim, é sempre um Arcano Maior (existem cartomantes que utilizam Arcanos Menores, como os responsáveis pela Tarô Semestral do Personare), revela a raiz das lições que o consulente viverá no período do jogo.
Um vídeo para entender as Casas na Astrologia:


TEMPORALIZANDO AS PREVISÕES

A Estrela
Vandenborre Bacchus

Terminada essa primeira análise, torna-se necessário temporalizar algumas interpretações. Eneida Duarte Gaspar, em seu Tarô dos Orixás (Pallas) sugere que às Casas 1, 2 e 3 sejam relacionados os temas de um passado distante (distante aqui seria mais ou menos um ano. Pode corresponder a mais tempo, mas que há um ano começou a se tornar incômodo para o consulente). As Casas 4, 5 e 6 ao passado recente (seis a três meses atrás). As Casas 7, 8 e 9 corresponde o presente imediato (variação de um mês para mais ou para menos) e as casas 10, 11 e 12 ao futuro próximo (até um ano). Se seguirem a minha forma de dispor, vocês terão nove cartas para cada um desses momentos, que devem ser relacionadas entre si, sem grande ênfase à divisão por casas. Estamos respondendo a uma questão com nove cartas, não com três grupos de três.
Temporalizados os eventos, voltamos nossos olhares aos meses do ano. A Casa 1 corresponde ao mês em que se joga a Mandala, partindo daí os doze meses seguintes (por isso sugiro esse jogo para aniversariantes – para mapearmos sua Revolução Solar – ou para o Ano Novo, Astrológico ou não). No grupo Tarologistas, em conversa proposta por Claudia Mello, tive um insight: caso o tempo seja menor (e você tenha disponibilidade para fazer isso, risos), divida o tempo da consulta por doze (número de casas) e analise a temporalidade dentro desse resultado. Por exemplo: para um mês (como foi o caso), dividimos trinta, trinta e um ou vinte e oito dias por 12 (número de casas da mandala) e do resultado sabemos quais são as influências dos dias específicos do mês.

ANALISANDO AS OPOSIÇÕES


Sol
Old Path

Na mandala temos seis eixos diametralmente opostos que se relacionam com a carta central – a mais importante, como disse anteriormente. Teríamos, então:
Das relações entre a Casa 01 e a Casa 07 as relações do consulente, como indivíduo, com os outros, em especial o cônjuge.
Das relações entre a Casa 02 e a Casa 08 as relações do consulente com os seus recursos, assim como a relação com os recursos dos outros.
Das relações entre a Casa 03 e a Casa 09 a comunicação, os contatos, as parcerias e viagens.
Das relações entre a Casa 04 e a Casa 10 a vida pessoal, íntima, e a vida pública, assim como o trabalho. Aqui também veríamos a ascendência imediata – pai e mãe.
Das relações entre a Casa 05 e a Casa 11 – o brilho pessoal do consulente versus sua necessidade de pertencimento a grupos.
Das relações entre a Casa 06 e 12 – A saúde, a doença, a rotina e a surpresa.
Aconselho estudar, nesse caso, Astrologia. Embora o Tarot não precise oficialmente da Astrologia para “funcionar”, utilizar a Mandala Astrológica sem entender o básico da Astrologia é um contrassenso que deve ser evitado pelo cartomante sério. É como usar óculos sem armação. A lente é perfeita, mas não encaixa no rosto por falta de base.

ANALISANDO AS TRIPLICIDADES

Em função dos elementos de cada signo regente de cada Casa, agrupamos as casas 1, 5 e 9 (correspondentes a Áries, Leão e Sagitário, respectivamente); 2, 6 e 10 (Touro, Virgem e Capricórnio); 3, 7 e 11 (Gêmeos, Libra e Aquário); e 4, 8 e 12 (Câncer, Escorpião e Peixes), formando os triângulos correspondentes ao Fogo, à Terra, ao Ar e à Água, respectivamente. 

Ao Fogo relacionamos o projetivo, o masculino, o quente, o seco, a iniciativa, a projeção, a maior e melhor ideia de si mesmo que o consulente é capaz de fazer, o brilho pessoal, a autoestima, a independência, os ensinos superiores, as viagens longas, a espiritualidade e a religião. O plano espiritual.

À Água relacionamos o receptivo, o feminino, o úmido, o frio, as emoções, os sonhos, os anseios, os desejos, a família, o sexo, as heranças, os inimigos ocultos, as doenças. O plano emocional.

Ao Ar relacionamos o projetivo, o masculino, o úmido, o quente, as viagens, os estudos, o intelecto, a comunicação, os amigos e inimigos, as relações que não perpassam necessariamente as emoções, a política. O plano mental/social.

À Terra relacionamos o receptivo, o feminino, o seco, o frio. Aqui temos o plano material, as finanças, a saúde, os imóveis, o comércio, a segurança, a praticidade, o cotidiano.

ANALISANDO AS QUADRUPLICIDADES

Às Casas Cardinais, ou Cardeais (1, 4, 7, 10) correspondem todas as iniciativas, inícios, começos, possibilidades, aberturas.
Às Casas Fixas (2, 5, 8, 11) correspondem as manutenções, estabelecimentos, estruturações, permanências, resistências.
Às Casas Mutáveis (3, 6, 9, 12) correspondem todas as modificações, finalizações, encerramentos, cortes e rupturas.

DEFININDO PESSOAS NO JOGO

Estrela
1001 Nights

Essa é a parte “fofoqueira” da Mandala. Aqui, podemos ver praticamente qualquer pessoa que se relacione conosco ou com nosso consulente, sem, no entanto, precisarmos recolher as cartas da mesa e perguntarmos por cada um deles. Eu gosto muito de usar essa técnica para saber se o ano será promissor para os meus entes queridos tanto quanto será para mim. Como a família é grande, o jogo dura horas... tudo de bom.
O importante é lembrarmo-nos que o que Vermos parte da nossa ótica com relação ao indivíduo invocado. Ou seja, não significa que a pessoa envolvida concordará com o consulente quando este expor o que você, como Cartomante, viu a respeito dele. Do ponto de vista do consulente, o ano da pessoa consultada será daquele jeito ou a relação entre o consulente e o consultado refletir-se-á daquela forma.
Dada a dica, vamos às pessoas (estamos tomando por base mãe na casa 04 e pai na casa 10; como disse, se invertermos as posições em função da Astrologia Medieval, temos que mudar toda a estrutura):
Irmãos: Casa 03. Cada irmão mais novo, contam-se três Casas. Cada irmão mais velho, subtraem-se três casas.
Filho: Casa 05. Cada filho depois do mais velho, somam-se mais três Casas (irmão do primeiro).
Namorada (o): Se for sem compromisso, 05. Se for compromisso, 07. 
Sócio: Casa 07.
E por aí vai. As possibilidades são infinitas. Primo do amigo... da Casa 11 (amigos) contamos 4 (pai ou mãe) mais três (irmão do pai ou da mãe) e mais cinco (filho). Ou seja, desde que você consiga fazer a contagem correta, todas as pessoas do seu círculo são passíveis de serem vistas. Todas. Mas nem todos irão convir, senão... Você tá com tempo?
Imaginem. Meu pai tem nove irmãos. Minha mãe, oito. Certa vez me propus a ver todos, incluindo os filhos. Foram boas três ou quatro horas anotando tudo.
Agora eu sou mais comedido, risos.


É isso. Ou não; creio que aqui só abrimos o assunto, sendo que muito mais há para ser dito a respeito. Como disse, essa postagem é um dos possíveis olhares, oriundo de minha própria experiência. Mas, de qualquer forma, já é pano para manga para futuras conversas.
Com o conhecimento conjunto de Astrologia e Tarot, a Mandala torna-se múltipla em interpretações. O contrário não é verdadeiro; para entender o sistema, não basta entender de Astrologia ou de Tarot - é necessário um conhecimento básico, ao menos, das duas disciplinas, para que o traquejo com a Mandala seja adequado.


P.S.: Caso deseje algum tema exposto cá no Conversas Cartomânticas, por gentileza, envie um email para emanueljsantos7@hotmail.com. Terei o maior prazer em conversar com você, nesse espaço. 



Abraços a todos. Até o próximo post.