terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O Julgamento, 2009 e "Desejo" de Victor Hugo



Olá pessoal. Dezembro para mim foi, sobremaneira, tempo de pensar nos "fins". Fins, plural, seria sinônimo de metas a se alcançar, ou seria uma quantidade considerável de finalizações? Acho que para mim foi um pouco disso tudo... 

Dentro da estrutura dos Arcanos Maiores, vemos as finalizações em algumas cartas de maneira objetiva, e em outras como a única saída viável: a primeira delas, claro, é A Morte, tão temida que em alguns baralhos de Marselha não possui sequer nome; a Torre, tão temida quanto (pelo menos por quem conhece seus fatídicos significados), denominada por vezes A Casa de Deus (La maison Dieu) - quem sabe uma forma de suavizar sua influência...; o Universo, que por sua própria natureza de última carta do baralho (embora não em todas as estruturações do mesmo) simboliza todos os "finais felizes" (mesmo que não seja exatamente sempre assim...).
Existem duas cartas que, por serem ligadas a ciclos temporais, podem também ser relacionadas com os fins. São elas a Roda da Fortuna e o Julgamento. A Roda da Fortuna diz respeito aos ciclos, em geral, e a inconstância da Existência, em particular. Após experienciarmos o Ajustamento,  e interiorizarmo-nos em busca de nosso próprio Tempo como o Eremita, entendemos que, mesmo diante da inexorável ordem vista anteriormente e da capacidade que possuímos de identificar padrões e portarmo-nos frente a eles de maneira adequada, há o lado caótico e inconstante do Universo, que só vemos como caótico porque não o podemos compreender perfeitamente (como analogia, vemos hoje o estudo da genética quebrando diversos paradigmas anteriormente sustentados pela ciência, como por exemplo a existência de raças entre os seres humanos.)
Por sua vez, o Julgamento, cuja iconografia em diversos baralhos remete ao Juízo Final, foi sabiamente renomeado por Crowley como o Aeon. Aeons são grandes períodos cíclicos e espiralados de tempo, beirando a eternidade. Quando surge no jogo, o Aeon representa o momento de refletirmos sobre os últimos tempos, não num sentido apocalíptico raso e epidérmico que temos visto recentemente pelos acontecimentos que porventura ocorrerão em 2012, e desde sempre com a interpretação dos últimos dias pelas religiões de massa; os últimos tempos, nesse caso, dizem respeito aos mais recentes momentos, eventos e acontecimentos vividos.
Essa não deixa de ser a perspectiva de muitos de nós em dezembro, independentemente do ano. Momento de fazermos as contas, refazermos a contabilidade, verificarmos nossa saúde, mental, emocional e física, e prepararmos uma nova página em branco (aperte ctrl+t) para um novo momento. Mesmo que, bem sabemos, esse novo momento seja uma continuação dos demais momentos vividos. Ainda assim, ele é novo.
Mas, para que seja novo, devemos encerrar todas as situações engessadas do passado. Essa é a função do Aeon. Sua letra é Shin, sua regência é o Fogo (para alguns, Plutão, quando este ainda era planeta). O 31º Caminho Cabalístico une Hod e Malkuth, a Glória do Reino ou o Reino da Glória. Um dos arquétipos relacionados é o Hermes Psicopompe, o "Acompanhante das Almas", mas eu acredito que há muito de Hephaesthos aqui também.
Hoje de manhã, ao abrir meu e-mail, me deparei com o texto clássico do Victor Hugo, enviado pela Léa Bastos. Obrigado por me fazer refletir, Léa. 

Desejo

Victor Hugo

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Sim, eu amei, eu desesperei, eu errei e acertei; mas principalmente, eu confiei.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.

Posso dizer que tenho amigos. Isso já me faz feliz. Mas não só os tenho, como sei que eles têm a mim. E eu tenho a sorte de possuir a míriade de possibilidades entre o bom e o mau, entre o ignorante e o sábio, entre as antíteses que forem passíveis de ser compreendidas.


E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Já acreditei que meu maior inimigo era eu mesmo. Ledo engano, embebido em soberba. Há momentos em que pessoas conseguem, sim, machucar você. Por prazer. 
Mas não por muto tempo.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Os meus passos me trouxeram até aqui, e eles me levarão aonde eu desejar... Mesmo que eu não faça a menor idéia de para onde eu esteja indo.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

...Mas havemos de convir que, por vezes, é necessário ser intolerante, pois nem sempre tolerar significa educar, ensinar, ser bom. Por vezes, ser intolerante nos libera de mágoas há muito acalentadas. Mas que sejamos verdadeiros até nesse momento, para que não haja quem pense: "Nossa! Ele (a) não é assim!". Nossa intolerância deve ser, até certo ponto, previsível.


Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

CARPE DIEM. Aproveite seu dia. E aproveite seus dias. E, só para lembrar, esse é o primeiro dia do resto da sua vida.


Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Chame a Tristeza para dançar. Mas não se esqueça que, quando ela lhe dá a mão, ela não pretende soltar. E ria, ria muito e ria de tudo, ria de si mesmo e dos outros, sabendo que o riso desafoga a alma, mas também pode hiperventilá-la.

Desejo que você descubra,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

E, espero, que você descubra que não é você que, diretamente, é responsável pela opressão, pela injustiça e pela infelicidade de outrem, mas que você pode, diretamente, ser responsável por um ato de bondade que, se não for capaz de sessar com o sofrimento, é capaz ao menos de atenuá-lo.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Aproveite as dádivas da Mãe. Elas são gratuitas e efêmeras, portanto, não as desperdice.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

E aproveite sua sombra, seus frutos, a ciclicidade de suas folhas, a funcionalidade de seus galhos; e, alegoricamente, perceba o quanto você é parecido com essa árvore!

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

É preciso ser prático. É preciso ter os pés no chão, para que a cabeça toque as estrelas... e nós saibamos o caminho de volta. É preciso ter consciência que somos mais que o dinheiro pode obter. Ainda que ele seja muito bem vindo!

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Se todo o possível for feito e todos os momentos forem bem vividos, até a Morte é bem vinda. Com saudades, com dor, mas sem sofrimento, respeitando o ciclo da vida.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem

... E que sendo homem, se o quiser, encontre um bom homem, e que sendo mulher, se o quiser, encontre uma boa mulher...

E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.



sábado, 19 de dezembro de 2009

Nova postagem no Clube do Tarô: O ano de Vênus, ano da Imperatriz




Tem sido difícil para mim ficar longe do blog, mas é devido realmente por motivo de força maior. Tentarei manter um ritmo, embora menor (mas ainda assim um ritmo) nos próximos tempos. Eu havia me prometido isso antes...


Bem, novidade: texto novo no Clube do Tarô, sobre o ano de 2010. E que vibrem as cálidas energias de Vênus sobre nós!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Vencedores da primeira promoção do Conversas Cartomânticas, e um pedido de desculpas

Olá pessoal. Sei que estou em dívidas com todos os leitores pela ausência de postagens, mas o fim do ano tem sido um pouco exaustivo proffisionalmente, e eu não possuo Internet em casa. Contudo, a produção de textos continua no mesmo ritmo, e aguardem para breve novas atualizações. Fica aqui registrado o meu pedido de desculpas, pois sabem o respeito que nutro por todos vocês, leitores do blog, "conversadeiros" como eu...
Como houveram poucas inscrições na promoção, decidi que todos saíram vencedores.Adriana Carvalho, Hugo Morelo e Katia, aguardem meu contato para esse fim de semana.
E aos demais, obrigado por frequentarem o blog!
Até breve... Espero!!!

sábado, 5 de dezembro de 2009

Fim de ano. Fim de ciclos. Finalizações. "Fins"(?)


Fim de ano. Cada vez mais difícil postar assuntos devidamente refletidos, devidamente pensados. Vamos por impulsos... Vamos por sensações. Deixo o Mago de lado um pouquinho e mergulho na experiência do Louco. Dizem que Freud fazia isso, deixava as palavras brotarem do seu inconsciente para proferir suas palestras; portanto, ele não se preparava, porque já se sentia preparado. Esse não é meu caso, mas vamos lá.
Nos Arcanos Maiores do Tarot, vemos os “fins” (plural esquisito, que rima sub-repticiamente com Maquiavel, quando não lemos sua obra com o devido respeito...) ou melhor, a finalização por meio das suas diversas possibilidades: O Imperador apresenta o encerramento de uma fase de curta duração (“vencer uma batalha não significa vencer uma guerra”); a Morte, o encerramento de um ciclo (“morra antes que você morra”); a Torre, a quebra de paradigmas – e de algumas costelas, por vezes (“algumas bênçãos de Deus chegam estraçalhando todas as vidraças”); o Æon, que apresenta uma nova Era, um novo ciclo (“hoje o tempo voa amor/ escorre pelas mãos/ mesmo sem se sentir/ e não há tempo que volte amor/ vamos viver tudo o que há para viver”) e o Universo, que indica uma finalização de proporções cósmicas – micro ou macro, mas ainda assim cósmicas (Om mani padme hum).
Pedi um aconselhamento.
Tirei o Universo.

Om mani padme hum.