sexta-feira, 27 de abril de 2012

Ameaça nas trilhas do Tarô

Será possível prever o futuro pela leitura das cartas do Tarô?
Carolina resolveu experimentar e…
Muitas ameaças se anunciaram para ela e seus amigos, Fátima, que não conseguia amar de verdade, e Fabrício, que não decidia com quem iria morar após a separação dos pais.
Carolina será capaz de compreender a mensagem dos misteriosos arcanos para poder evitar o perigo, ajudando seus companheiros e a si mesma?
Para saber, só mesmo mergulhando nos segredos desse universo místico, juntamente com um grupo de jovens estudantes que descobriu um baralho muito antigo e mágico.




Olá pessoal. Duvido que algum de nós que gosta de ler tenha passado incólume pela Série Vagalume. E, revendo a lista de livros para ver qual eu ainda não tinha lido, reencontrei esse título que, além de me transportar anos atrás, me motivou a ler um livro com um novo olhar. Quando eu o li, era só um moleque interessado em esoterismo que lia revistinhas de banca achando que poderia interpretar os mistérios do mundo. Hoje, sabendo que já tá bom demais eu conseguir interpretar um baralho de Tarô e olhar pro meu futuro com olhos bem mais condescendentes (porque mistérios do mundo é coisa demais para uma vida só), quis reler a obra Ameaça nas trilhas do Tarô, de Sérsi Bardari.



Na época em que eu li, eu não tinha o acesso fácil à tecnologia que tenho hoje. Hoje, quando nos interessamos por uma obra, lançamos seu nome num site de pesquisa e vemos o que temos de resumos, resenhas, opiniões. Nesse caso, específico, eu preferi o caminho antigo. Comprei o livro (tá ok, foi pela internet, nem foi o caminho antigo ipsis litteris) e o reli. Com olhos de primeira vez, mas atento aos detalhes que não seria capaz de captar outrora - eu amadureci e outros horizontes se delinearam. Talvez por isso eu goste tanto de reler livros - eles revelam até onde eu consegui ir desde que os manipulei pela primeira vez.
A história fala de Carolina, uma menina tímida, por volta dos seus quinze anos - está na oitava série - que adquire um baralho de Tarô (um Tarô de Marselha - não tínhamos na época a variabilidade de baralhos acessíveis no mercado brasileiro atual) e começa sua jornada (uma história bem familiar a muitos de nós, não?)


Carolina abre as cartas para sua amiga Fátima.
Ilustração de Bilau & Salatiel para o livro. 
Ameaça nas Trilhas do Tarô, p.32


Esse livro, como todos os demais pertencentes a essa série, é facílimo de ser encontrado em qualquer biblioteca pública ou biblioteca escolar. E valem muito a pena, por sua leitura fácil e agradável, fluida e descompromissada, escondendo grandes lições cotidianas. Para se ter por perto a qualquer momento, passagem de metrô, viagem de ônibus, espera por um táxi... intermeio de caminhos até o veículo certo poder levar você ao seu destino.
E você? Quais livros da Série Vagalume você leu? Que tal relembrar aqui?
Tive a gratíssima surpresa de encontrar o autor, Sérsi Bardari (site), para um bate-papo online. O resultado de nossa conversa você lê em seguida.



1. Você joga Tarô? Se joga, há quanto tempo?


Eu aprendi a jogar o Tarô Egípcio com uma moça que chama Nelise, que, hoje em dia, se eu não me engano, está em Brasilia. Isso foi na década de 1980. Naquela época, comecei lendo as cartas para conhecidos e depois acabei lendo por um curto período de tempo profissionalmente. Mas logo percebi que não queria continuar, pois tinha de ser algo doado, e só para pessoas que soubessem compreender o modo simbólico e voltado para o autoconhecimento.


2. Como surgiu a ideia do livro Ameaça nas trilhas do Tarô?


Eu sempre entendi as cartas como um grande auxílio de acesso a conteúdos inconscientes, para um processo analítico. Como estudioso da obra de Carl Gustav Jung, percebi no Tarô um modo de driblar a mente mente racional, como forma de acessar o lado emocional e, assim, tentar um equilíbrio em ambos (racional e emocional) de modo a atingir o self.
Daí, por conta das minhas leituras de Jung, do Tarô e das minhas concepções sobre esse jogo milenar, pensei em repartir esse conhecimento com os jovens.


3. As imagens do livro remetem diretamente ao Tarô de Marselha editado pela Editora Pensamento (falo isso por causa da imagem do verso das lâminas na página 99), mas os significados que você aplica não estão no livro do Carlos Godo, que muito pouco disserta sobre as cartas numeradas, as cartas que mais aparecem nas leituras de Carolina. Quais foram suas fontes de pesquisa sobre Tarô para compor os significados que aparecem no livro?


Sim, eu usei o Tarô me Marselha, por ser o mais conhecido. Mas, para descrever os significados dos arcanos menores, eu fiz uma interpretação a partir da carta equivalente no Tarô Egípcio. Esse Tarô é enumerado de 1 a 78 e não se utiliza dos naipes. As descrições dos arcanos menores nos manuais do Tarô Egípcio são bem mais completas. Além disso, as imagens são simbólicas e estão associadas ao alfabeto hebraico que à astrologia. Por isso, permite uma interpretação mais aprofundada.




4. O método empregado por Carolina no livro é um Arcano Maior + três Arcanos Menores. Caso você realmente jogue Tarô, é esse o método que você emprega?


Conheço alguns métodos. Um de 9 Arcanos Maiores e 16 Arcanos Menores; um de cinco arcanos Maiores; um de Três Maiores e Sete Menores. Esse de Um mais Três é um método rápido, quando se está em busca de alguma resposta mais pontual.


5. Você conseguiu criar uma personagem que, ao mesmo tempo que reflete interiormente sobre a função do oráculo em sua vida, leva os demais a refletirem sobre suas próprias crenças, usando o Tarô numa escrita suficientemente leve, dada a própria natureza de literatura infanto-juvenil. Em sua opinião, qual o papel do romance na propagação e divulgação do Tarô?


Sinceramente, eu imaginei que o livro fosse ter uma repercussão maior do que teve, especialmente por conta, além do Tarô, do suspense inserido na narrativa. Ocorre que o livro é indicado por professores nas escolas e, creio, que tenha causado algum tipo de receio por parte dos educadores. Imagino que os professores tenham indicado pouco por terem dificuldade (por conta de desconhecimento) de abordar esse assunto com os jovens. No entanto, já recebi muitas cartas e e-mails de jovens que leram o livro por conta própria e passaram a se interessar por esse importante instrumento de autoconhecimento.


Bem pessoal, é isso. Gratíssimo à contribuição do Sérsi Bardari ao Conversas Cartomânticas e, como não poderia deixar de ser, recomendo a leitura desse livro delicioso.
Abraços a todos.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Eu não acredito em Anjos.

Dürer

Quando eu era menor, eu acreditava. Acho que todo mundo acreditava que Eles existissem. Estranhamente, essa crença não era de todo confortante - se eles existissem, seus contrários também deveriam existir, e acho que eu era novo demais naquela época para confiar numa coisa dessas, sobretudo à noite, no escuro, sozinho no quarto, quando os ruídos ganhavam significados aterradores por demais. 
Eu dormia com o rádio ligado, só para constar.

Universal Wirth

Não acreditar em algo é uma forma muito confortável de enfrentar o problema que esse mesmo algo desperta. Olhando agora, como adulto, para os meus terrores infantis, parece-me correto minha forma pueril de ter desacreditado. Afinal de contas, é mais fácil não acreditar que casais estáveis homoafetivos sejam tão hábeis quanto suas contrapartes heterossexuais para criar um indivíduo. É mais fácil acreditar que a ferida causada por um estupro se curará com o nascimento da criança. É super mais fácil acreditar que um guru qualquer de uma religião ou seita qualquer guarda as chaves do seu Paraíso ou Inferno, e ele permutará com você só pelo tempo de uma vida toda.
É mais fácil desacreditar da própria responsabilidade que aceitar seu destino, fazer suas escolhas.

Dellarocca

Enfim, voltando a falar dos Anjos, já que falar do seu sexo é lugar-comum para discussões sem sentido, eu acreditava, desacreditando (antes de dormir, principalmente). Asas perfumadas, penas macias, um abraço acalentador que me fizesse esquecer todos os problemas, como um milagre que aparentemente não mereço.
Mensageiros da Divindade, velozes como um pensamento, trespassavam seu coração com brasas ardentes de devoção, lembrando sua origem. A sua, e a deles, que também é sua. Num momentum - porque deveria parecer que nada existiu antes, nada depois faria sentido - você finalmente entende o porquê de ser quem é e de estar onde está.
Tudo se cruzaria. Ordenadas e abscissas criariam finalmente um ponto. E, como é da própria natureza do ponto, o infinito ficaria ali, contido. Um universo contendo universos e ladeado por universos.
Mas a vida não é cartesiana a esse ponto, e eu continuo não acreditando em Anjos.
Os nomes dos Anjos são construídos a partir de permutações de letras hebraicas, dando a entender que, mais que personalidades, os Anjos são ações, verbos que qualificariam a ação de Deus. Sendo assim, cada Nome é um Codinome, um código de acesso a uma faceta d'Aquele que é Senhor de Todas as Faces. Contatando a Face certa, obter-se-ia uma certa vantagem em determinado acontecimento. Ele, pessoalmente, através daquela Face, viria em auxílio daquele que o invocara.
Anjos. Deus em ação. Qualitativa e quantitativamente.


Existem outras formas de abordar o conceito. Algumas até comerciais - vide Cidade dos Anjos, com Seth (Nicholas Cage) e Supernatural, com Castiel. Perto, talvez perto demais, do que por humano chamamos de divino. 
Não, eu continuo não acreditando em Anjos.
Eu não preciso acreditar. Eu brinco de pique-esconde com eles. Especialmente alguns que, mesmo escondendo suas asas, aliviam corações como se fossem capazes de fazer milagres, que fazem mesmo não se considerando capazes.
Abraços a todos.



segunda-feira, 23 de abril de 2012

Salve Jorge!



É curioso perceber os altares daqueles que inter-relacionam religiosidade e cartomancia: a imagem de São Jorge sempre está lá, protegendo, revelando, garantindo o sucesso da consulta e o auxílio daquele que a procura. 
Assim como o santo, amado por grande parcela da população, Ogum é um dos Orixás mais queridos e cultuados no Brasil. Guerreiro, abridor de caminhos, senhor do Ferro e da Guerra, é invocado nos momentos em que se sente um entrave, um obstáculo, que deve ser superado a todo custo. Sincretizado com São Jorge na Umbanda e com Santo Antonio no Candomblé, suas cores são, respectivamente, vermelho e branco, azul e amarelo. Além disso, é um companheiro dos Cartomantes que agregam um valor religioso às suas cartas.
No Dragon’s Tarot (LoS - terceira imagem da primeira fileira), São Jorge é a Morte. A relação do homem (consciência) com o Dragão (instinto), aqui, se dá por meio do combate e da vitória da pureza de intenções premeditadas sobre as atitudes intempestivas e animalescas. Em última instância, a Religião vence a Natureza e constitui Sociedade. Uma transformação, um corte, radical, é necessário e bem-vindo para que o processo se concretize – há que se deixar muito para trás.


Carro
Ogum
Tarô dos Orixás: Senhores dos Destinos


Nos Tarôs de inspiração afrobrasileira publicados no Brasil, é associado aos Arcanos IV e VII. Uma das mais belas representações de sua efígie está no Arcano VII do baralho de Eneida Duarte Gaspar. Nela, vemos o Orixá em um carro puxado por bois, com um toldo de pele felina, tendo sua espada em riste e um arco-íris e folhas ladeando seu veículo. 
No Tarô dos Orixás editado pela Pensamento (originalmente e até hoje publicado pela Lo Scarabeo - primeira imagem da segunda fileira), sua representação dá-se no Imperador. Ambas as associações estão corretas – Ogum é realizador, concretizador, firme em seu propósito, protetor, irascível, colérico, como o Imperador, assim como, sendo o protetor dos Caminhos, é também responsável pelo progresso, pela evolução, pelo direcionamento e inventividade representados pela Carruagem. 


Cavaleiro de Espadas
Ogum
Tarô dos Orixás, Senhores dos Destinos


Essas ideias também são aproveitadas em relação aos Arcanos Menores, já que Ogum é muito bem representado pelos Cavaleiros, em especial os Cavaleiros de Paus e Espadas – yang, projetivos, voláteis porém intensos. Em alguns baralhos, especialmente aqueles produzidos a partir de obras de arte, como o Tarô dos Anjos da Monica Buonfiglio e o Golden Tarot de Kat Black, o Cavaleiro de Paus é o próprio São Jorge. No Tarô dos Orixás de Eneida Duarte Gaspar, o Cavaleiro de Espadas representa Ogum.
No Petit Lenormand, conforme estudado no Brasil – o famigerado baralho ou Tarô Cigano – Ogum relaciona-se com a carta 22, o(s) Caminho(s) (segunda imagem da terceira fileira). Enquanto a interpretação europeia toma essa carta como símbolo de possibilidade, escolha, encaminhamento, a interpretação brasileira, em muito inspirada pela abrangência do Orixá, toma essa carta por direcionamento, rumo de vida, os acontecimentos imediatos. Na primeira acepção, um leque de possibilidades; na segunda, a melhor escolha, independente das opções disponíveis. No Mystical Lenormand (primeira imagem da primeira fileira), vemos a sua efígie correlacionada com  a carta 01, o concretizador Cavaleiro.
Mas, atentemos ao detalhe, onde Deus reside com discrição: uma divindade jamais poderá ser contida em um único Arcano do Tarô. Alguns de seus aspectos correlacionam-se, dialogam com a imagem e com o conceito, mas são diálogos e assimilações, não regras fixas. O nosso desafio, enquanto viventes desse processo, é respeitar nosso credo (seja ele qual for, seja presença ou seja ausência), afinal de contas ele funciona, sem, no entanto, perder de vista as dimensões onde religiosidade e cartomancia se tocam... como onde se afastam e não dialogam.
Aparenta ser difícil, a primeira vista, mas não; a religiosidade (ou ausência dela) é o conforto do cartomante e sua garantia de sucesso no momento do ritual; fora dele, tudo são imagens passíveis de diálogo, permanência, memória e esquecimento, sem ônus ou bônus decorrente disso. 
Salve São Jorge, para aqueles que creem, para os que não creem, para os que são religiosos e para os que prescindem de religiosidade.
Todos os caminhos que Jorge abre levam a Roma do mesmo jeito.



Abraços a todos.

domingo, 22 de abril de 2012

Comunidade do Conversas Cartomânticas no Twitter


Olá pessoal. Agora temos uma comunidade no Twitcom de Cartomancia. Assim como o perfil principal @Tarotetc, teremos nessa comunidade sorteios, promoções, divulgações de estudos, novidades e eventos ligados à Cartomancia no Brasil.
Dá uma passadinha por lá - o nome já é conhecido: Conversas Cartomânticas.
Abraços a todos.

sábado, 21 de abril de 2012

Game of Thrones Playing Cards.


Essa é uma daquelas situações em que você fica embasbacado e só. Pelo menos, foi assim que eu fiquei. 
Não faço segredo de que estou apaixonado pela série. Ainda não li os livros -um prazer a ser vivenciado sem pressa. A segunda temporada só começou, ainda tenho tempo. Creio que devo ler os livros sempre uma temporada atrasado. Assim, tenho o prazer da ansiedade pelo novo episódio sem o conhecimento de como os eventos se encadearão.
Mas... Depois de descobrir esse souvenir... Acho que falta de pressa não é um bom termo.

Representando as famílias Baratheon (Espadas), Targaryen (Copas), Lannister (Ouros) e Stark (Paus), temos, nas cartas numeradas de 2 a 10 o emblema da referida família mas, sobremaneira, a parte divertida está nos Ases, na Corte e nos Coringas.


Eu conheço alguns baralhos comemorativos, e alguns promocionais também. Mas, sinceramente, nunca vi um trabalho tão condizente com a história que motivou a produção. E aqui não estou me referindo em nada a significados adivinhatórios: estou observando a escolha dos personagens e a disposição diante das quatro estruturas possíveis. Um trabalho fantástico, que não mutila em nada os próprios personagens. Pelo contrário, propõe magníficas reflexões.


O naipe de Paus, representando o Casa Stark, tem como Rei Eddard "Ned", como Rainha Katelyn, como Valete Arya e como Ás Jon Snow. 





O naipe de Copas, representando a Casa Targaryen, com o "Rei" Viserys (quem assistiu entenderá minhas aspas, ásperas por natureza e opção), a Rainha (Khaleesi, por favor) Daenerys, tendo por Valete Sir Jorah da Casa Mormont. Seu Ás é Khal Drogo.






O naipe de Espadas, representando a Casa Baratheon, tem como Rei Robert, como Rainha Cersei, como Valete Renly e como Ás Joffrey.






O naipe de Ouros, representando a Casa Lannister, tem como Rei Tywin, como Rainha Cersei (a única personagem com o privilégio de representar duas cartas - seria isso um reflexo do seu comportamento?), como Valete Jaime e como Ás Tyrion. 




Fica um pouquinho complicado tecer considerações sem dar spoilers. Mas repare que nos naipes pretos temos os principais casais da trama representando os Reis e Rainhas. Nos naipes vermelhos, os Reis e Rainhas possuem relações de parentesco. Os Valetes são personagens axiais, com relação direta com os Reis e Rainhas. E os Ases são os pontos de transformação e ignição dos naipes - são os personagens mais singulares correlacionados às respectivas Casas.



E os Jokers são um capítulo à parte. Afinal de contas, rei morto, rei posto, e eles continuam em frente.


Como esse baralho é baseado nas Casas mais proeminentes da primeira temporada, resta-nos suspirar pela perspectiva de que, nessa temporada, as demais se apresentem e um segundo baralho seja feito. Os Greyjoy já estão dando o que falar.




Aguardemos.
Abraços a todos.


quinta-feira, 19 de abril de 2012

Tarôs Egípcios no Brasil

Mago
Tarô Egípcio (Kier)


Olá pessoal. Eu ganhei, da amada Edy de Lucca, um Tarô Egípcio da Editora Kier. Meu primeiro contato com esse baralho foi em 2004, quando, na ausência de um dos meus baralhos à mão, uma amiga, a Barbara, ofereceu o seu para que eu jogasse para ela. Naquela época, eu acreditava que cada baralho possuía seu dono e que não poderíamos utilizar o baralho de outro cartomante. O grau de precisão do oráculo me levou a rever meus conceitos. Evidentemente, não emprestaria ou permitiria que qualquer um tocasse em um de meus baralhos, assim como não aceitaria jogar com qualquer baralho; mas, conforme percebi, a confiança entre os participantes é fator preponderante ao baralho utilizado. 

Por volta de 2006, conheci a obra de Patricia Fernandes, Desvendando o tarô: estudo comparado do Tarô e do Baralho Cigano (Pallas). Essa obra, muito completa, também possuía as referências ao Tarô Egípcio da Kier. Por ser comparativo, levava-me a pensar naquelas descrições, naquela iconografia e da relação com a prática do Marselha.
Reencontrei-me com esse oráculo ano passado. Agora sim, com o baralho, com o veículo de tais visões (Obrigado, Edy!). Mas, viajar por suas lâminas, indo à raiz da construção de seus axiomas, não seria tão simples. Em essência, estaria eu com um baralho de Tarô, e, como tal, jogaria da mesma forma que jogo qualquer outro baralho. Mas não; os significados básicos são os mesmos, já que é um baralho de Tarô; mas, mergulhar em sua iconografia e axiomas leva-nos a viagens diferentes, específicas. Cada baralho é um universo, mesmo. Ou talvez um inter-universo nesse Universo que é o Tarô.




Nesse baralho, temos áreas específicas da carta correspondendo a informações complementares em relação ao conceito da lâmina. Em outras palavras: a carta é fragmentada em pedacinhos que se unem como em um quebra-cabeça para formar o conceito e a previsão.

Sol
Kier
Em relação aos Arcanos Maiores, a parte central da lâmina corresponde aos desenhos que conhecemos, com as devidas adaptações para assemelharem-se à arte egípcia. Associada à parte superior, gera o conceito atributivo do Arcano. O axioma se obtém pelo signo zodiacal e planetário inscritos na parte inferior, correlacionando com o número e com a letra hebraica correspondente.

Purificação
Kier

Já em relação aos Arcanos Menores, as cartas são divididas em três partes, correspondentes aos Planos Espiritual, Mental e Físico. A parte superior possui uma letra hebraica, uma egípcia, um signo místico e os atributos de uma deidade. Na parte mediana, temos uma interpretação iconográfica dos conceitos representados pela parte inferior, onde estão o título, os símbolos místicos, astrais, alfabéticos e cabalísticos.
Percebo que nós, cartomantes, estamos ficando (mal) acostumados a desvincular o baralho do ritual. Se o excesso de zelo com a ritualística é questionável, a ausência dela também é. Cartomancia é manipulação de energia, não deveríamos nos esquecer disso. E, devido a isso, eu demorei um pouquinho para me entregar ao Tarô Egípcio – ele possui um ritual específico de consagração, que, se eu pretendia aceitar o oráculo como meu, convinha respeitar. Além disso, ele possui uma literatura específica, também – o livro A Cabala da Predición, de Francisco Iglesias Janeiro. Constantino K. Rienma traduziu e compilou o conteúdo para o Clube do Tarô (confira aqui e aqui). Falando nisso, este Tarô foi inicialmente elaborado para ilustrar o livro, e não para ser um oráculo... Para conhecer melhor a história desse baralho, sugiro a leitura do excelente texto de Eduardo Escalante, aqui
Algumas edições do baralho foram produzidas no Brasil. As versões que conheci – não possuo outra que não a da Kier – são monocromáticas, em fundo dourado, como a da Pallas. Não conheço edições que respeitem as cores da edição da Kier.
Falando nisso, as cores são um capítulo à parte. Rosa e laranja substituem o vermelho; o fundo é dourado. Azuis dividem espaço com violetas. Hachuras dão origem a texturas específicas, que contextualizam os cenários. 

O Não-Iniciado
Tarô Egípcio de Bernd A. Mertz


Outros baralhos inspirados na iconografia egípcia foram editados por aqui. Um dos meus favoritos é o baralho de Bernd A. Mertz, em preto, branco e dourado editado pela Editora Pensamento. São 22 Arcanos Maiores apenas, e a numeração das cartas acompanha o número de flores de lótus visíveis na imagem.


O Sol
Tarô do Antigo Egito


A Pensamento editou outro livro, o Tarô do Antigo Egito, este com os setenta e oito Arcanos para serem destacados do final do livro.




É interessante ressaltar que, em relação às cartas da Corte, os signos de Ar correspondem a Ouros e os de Terra a Espadas.


Não seria possível terminar esse texto sem citar o primeiro baralho editado no Brasil, o Tarô Adivinhatório. Esse baralho, cuja primeira edição foi produzida em 1949 e permaneceu sendo a única por alguns anos, possui como referência a obra de Papus, cujo Tarô é também de iconografia egípcia. Ou seja, o primeiro baralho editado no Brasil foi um Tarô Egípcio – melhor dizendo, de iconografia egípcia. Esse baralho merece um estudo especial e específico de nossa parte. 
Ainda hoje a iconografia egípcia nos atrai e nos envolve. Sabemos que o Tarô não veio do Egito Antigo, mas isso não nos impede de sonharmos com as areias de um deserto de noites frias e dias dourados como a pele de seus habitantes.
Não podemos falar dos Tarôs Egípcios sem falarmos do trabalho de Nelise Carbonare. Precursora deste baralho no Brasil, podemos conhecer seu trabalho no site TarotDoor (www.tarotdoor.com) onde cada lâmina é devidamente analisada em seus símbolos específicos assim como em suas relações como as demais cartas. Nelise publicou um texto sobre o Tarô Kier no Clube do Tarô e participou da Blogagem Coletiva, escrevendo sobre a Sacerdotisa. Confira aqui. Existe, também no Clube do Tarô, uma excelente linha cronológica com os baralhos egípcios. Confira aqui
Caso se interesse por essas obras, é possível adquiri-las pela Editora Pensamento. Em relação aos importados, confira o site da Priscilla Lhacer, Amor, o Próprio.

Referências Bibliográficas

ANÁDARA. Tarô egípcio. Visualização disponível no Google Books.
DOANE, Doris Chase & KEYES, King. O Tarô do Antigo Egito: simbolismo mágico e chaves para sua interpretação. 3 ed. São Paulo: Pensamento, 1995.
FERNANDES, Patricia. Desvendando o Tarô: estudo comparado dos tarôs e do baralho cigano. 3 ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2003.
MERTZ, Bernd A. Tarô egípcio: caminho de iniciação. 5 ed. São Paulo: Pensamento, 2005.
Tarô adivinhatório. São Paulo: Pensamento, 2006.
Tarots egipcios: Baseados en el Simbolismo, Mitología y Leyendas Egipcias. Buenos Aires: Kier, 2001.
"Os fundametos do Tarô Kier" in Revista PLANETA. Edição 359, ano 30, n. 8, de agosto de 2002, p. 32-39.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Se eu precisasse descrever a Torre...

Torre
Radiant Rider Waite

...descreveria assim. Será que o pessoal do Linkin Park sabe jogar Tarô?



Nem preciso complementar nada. A música fala por si só.




Abraços a todos.

domingo, 15 de abril de 2012

Blogagem Coletiva Amor aos Pedaços: Desencante-se.




Olá pessoal. Seguindo com a Blogagem Coletiva, confesso que, inicialmente, foi esse o tema mais difícil de trabalhar. Afinal de contas, a própria palavra-tema evoca uma série de experiências chatas, infelizes, ligadas à situações e pessoas.
Será? Fui dar uma conferidinha no dicionário, esse querido, para entender a abrangência do termo e o que se escondia em seus meandros para ser explorado. E ele me deu os seguintes conceitos:
s.m. Cessação do encantamento; desilusão; desapontamento, decepção.
Para além dos óbvios significados, vamos trabalhar com o primeiro conceito. Cessação do encantamento.
Depois de termos tido uma vivência tão bela do encantamento, como poderíamos ver essa perspectiva de forma palatável? Há meios. Vamos a eles.
Eu cresci lendo Contos de Fadas. Não sei se elas sussurravam histórias no ouvido dos adultos aqui de casa que eu não poderia ouvir, mas sempre que delas me aproximava, era porque elas estavam brincando comigo de pique-esconde dentro de um livro. E, nas entrelinhas, eu percebia, ainda sem muita consciência disso, a existência daqueles outros planos de que é feito o Outro Mundo.




Frente a isso, era nos meus encontros noturnos com Hypnos que eu via, com meus olhos, o que durante o dia já havia lido, com novas cores, formas e interações. Talvez por isso quando era mais jovem eu tivesse tanta resistência a dormir: nem sempre Hypnos pinta suas telas com as mais belas cores. Só que, ao contrário de um livro, eu não posso desistir de um sonho só porque ele está correndo de forma contrária aos meus desejos. Eu preciso acordar, nesse caso.
Falando em sono, sonhos e contos de fadas, difícil não lembrar-me de dois deles: Branca de Neve e A Bela Adormecida. 
No primeiro, a jovem de pele branca como a neve, de cabelos negros como o carvão e lábios encarnados como o sangue é mais bela que aquela que, dotada de encantos e encantamentos, mira o espelho na parede enquanto Chronos joga uma partida de xadrez com Hypnos. Espelho, espelho meu, existe nesse mundo alguém mais bonita do que eu? Pergunta a Rainha, com o coração mais tatuado de dúvidas que de dragões o peito de um Yakuza. Sim, existe.



Se existe... Ela não pode viver. E, após uma tentativa frustrada de assassinar Branca de Neve, a própria Rainha, disfarçada de velha (vejam que ironia), entrega à jovem uma maçã. Envenenada ou enfeitiçada, não sei; sei que Branca de Neve, tomada pelo encantamento, adormece profundamente. 

Da mesma forma, a Bela Adormecida (cujo nome é um mistério), sofreu o efeito de uma descortesia do Rei, seu pai que, ao convidar doze Fadas para o batismo da filha (fico pensando o que o padre achou disso, mas guardo meus pensamentos para mim mesmo), deixou uma décima terceira de fora.
Onze desejaram benesses, encantando a princesinha com talentos assaz desejáveis. Entra a Fada preterida, e deseja-lhe a morte aos 15 anos. A última fada, que não poderia cancelar o encantamento da que a precedeu, transformou a certeza da morte na incerteza de um sono prodigiosamente profundo, que duraria cem anos, até que ela fosse desperta pelo beijo dotado de amor verdadeiro.

Reparemos que, nos contos de fadas citados, o encantamento é a parte crucial, porém desagradável, do conto. Não haveria ...e viveram felizes para sempre sem um encantamento prévio. Nem por isso ser encantado é algo agradável de se viver, sempre. Nesses casos, em especial, não são mesmo. É necessário desencantar, ou, melhor dizendo, é necessário despertar.

Branca de Neve e A Bela Adormecida, com seus Príncipes.
E uma Fada e sua trombeta.
Eloquência num beijo silente.
Julgamento
Shadowscapes

No Tarô, a lâmina do despertar é a vigésima. Curioso que ela sucede justamente a magna luz solar. O despertar é o discernimento na luminosidade. Superamos os terrores noturnos. Não os desejamos mais, ainda que tenhamos consciência deles. Ok, o encantamento feiticeiro de maçãs e varinhas de condão ficou lá no Arcano XVIII; mas é cá no XX que entendemos isso. Olhamos para trás e, olha!, não é que foi bom acordar?
Quantas e quantas vezes nos encantamos por situações e pessoas... que não valeriam o esforço a uma segunda avaliação mais criteriosa? Faltam dedos nas minhas mãos para contar. Nessa hora, vale a pena desencantar. Vale a pena o despertar forçado, antes que seja tarde demais.
Despertar das doces ilusões do encantamento faz bem. 
Ainda que, a priori, doa. Faz bem.
Desencante-se. Desperte de suas doces ilusões. 
Você não imagina o prazer embutido nesse ato.

Ah, se não tiver Norah Jones de trilha sonora, não tem graça.






Trying to pick up the pace,
Trying to make it so i never see your face again.
Time to throw this away want to make sure that you never waste my time
Again.

How does it feel?
Oh how does it feel to be you right now dear?
You brought this upon, so pick up your piece and go away from here.

Please just let me go now.
Please just let me go.
Would you please just let me go now?
Please just let me go.

I'm going to get you.
I'm going to get you.
I'm going to get you out of my head.
Get out.

I'm going to get you.
I'm going to get you.
I'm going to get you out of my head.
Get out.

Never said we'd be friends,
Trying to keep myself away from you,
'cause you're bad, bad news.

With you gone, i'm alive,
Makes me feel like i took happy pills,
And time stood still.

How does it feel?
Oh how does it feel to be the one shut out?
You broke all the rules.
I won't be a fool for you no more my dear.

Please just let me go now.
Please just let me go.
Would you please just let me go now?
Please just let me go.

I'm going to get you.
I'm going to get you.
I'm going to get you out of my head.
Get out.

I'm going to get you.
I'm going to get you.
I'm going to get you out of my head.
Get out.
Abraços a todos.


P.S.: Caso (ainda assim) você esteja encantado com a grama do vizinho, que aparenta ser mais viçosa e verde que a sua, recomendo veementemente que assista o filme Foi apenas um sonho. Aprendemos com os Wheller que aquilo que da porta para fora, aos olhos alheios, é um sonho... internamente pode não ser. Assista o trailer aqui. E, para quem gostar de brincar de bonecas de papel... Dá uma olhada aqui.


Confira as demais participações:

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