quinta-feira, 30 de junho de 2011

Conversas Cartomânticas: A Strega Pietra di Chiaro Luna e o Hierofante



Olá pessoal. continuando as atividades da Blogagem Coletiva, cá temos a presença da Pietra di Chiaro Luna. Adepta e divulgadora da Bruxaria Italiana (Stregheria), Pietra é amante dos animais e demonstra isso na escolha de seus baralhos - sempre ligados ao divino, às culturas antigas, à intimidade e ao mundo natural - intimidade e carinho que veremos a seguir.
Organizadora da Confraria Brasileira de Tarot, dos eventos do Chá de Tarot e consultora, podemos contatá-la nos seguintes links:


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Textos sobre Bruxaria Italiana e Tarot

Próxima postagem: Os Enamorados, por Zoe de Camaris, dia 03 de julho.

Com a palavra, Pietra.

Escolhi O Hierofante porque é o meu arcano pessoal, então me senti bastante à vontade para escrever sobre ele.

Hierofante, o grande professor

Arcano 5. 
Acima, à esquerda, Gaian Tarot. 
Ao lado, Mitológico. Abaixo, à esquerda,
 Goddess Tarot e, ao lado, Waite-Smith.

O quinto arcano do Tarot seja talvez um dos que teve seu significado e entendimento desnivelados pelo passar do tempo. Quando o Tarot começou a ser concebido em sua estrutura e imagens, lá nos anos 1490 e tantos, o Papa (título original da carta) era uma figura importante e proeminente. Talvez o seja até hoje para a comunidade católica que, conta com o seu sacerdote para esclarecer, apoiar e ensinar a secularidade da Igreja e de seus modos.
Porém, é dado que, pelo menos ou mais fortemente, nos últimos 100 anos, a Igreja e o Papa perderam seu "carisma" e que o Tarot não é mais só um jogo de cartas entre as massas, mas um sistema de leitura de vida e de conhecimentos, que foi, inclusive, imbuído de várias disciplinas e ideias que não necessariamente, representam o Papa ou o ideário cristão.
O Tarot ganhou toques da Cabala (judaíca); de diversas mitologias; de espiritualidades centradas na natureza; da cultura contemporânea que se soltou completamente de uma visão teocentrista do universo. Tarot agora é tarô e serve a diversos propósitos, como terapia, investigação, meditação e, sempre, divinação. Hoje em dia, ninguém é dono do Tarot; ele é um livro de vida que está aberto a todos que desejem ler e falar sua linguagem.
Então, o que acontece com o arcano 5? Ele perde sua razão de ser? Se torna fora de lugar? Fora de forma?
Absolutamente, não. O Papa, como mostrado nas imagens do Waite-Smith Tarot, ou melhor, o conhecido e talvez não entendido, Hierofante é uma carta incrível, com muitas possibilidades e ensinamentos que sim, se perpetuam na humanidade ao longo dos séculos.
O Hierofante é o sacerdote. E o sacerdote é o oficiante de uma religião ou espiritualidade. É o mediador. A ponte. É quem lida com os ensinamentos espirituais e quiçá, culturais e de fundação de mundo de um grupo ou sociedade. O sacerdote é o que dedica sua vida, recebe treinamento - formal, geralmente - e pratica ao longo de sua vida, todo esse conhecimento, o transformando em sabedoria.
Um outro papel que cabe ao Hierofante é o de professor. O que traz o conhecimento e ajuda o aluno a encontrar sabedoria. Aqui, ele também é o mediador, o que faz uma ponte, mas não necessariamente entre o divino e o mundano, mas entre o aluno e a sua cognição. Afinal, o que é aprender? É vivenciar conhecimentos e poder compreender, generalizar e construir conceitos. O papel do professor é fazer com que esse processo se dê de forma significativa, ou seja, que faça sentido para quem aprende e que possa ser utilizado tanto para uma discussão teória quanto para uso prático.
Por fim, um último papel que encontro no Hierofante é o de modelo. Este inclui os dois últimos de sacerdote e professor. Ambos são a demonstração da vivência e de como fazer o conhecimento secular e espiritual culminarem num estilo de vida que os tenha como pano de fundo.
E, com tudo isso, a representação do Papa/Hierofante, do Sacerdote foi ganhando diversas nuances e ideias, crescendo em significados e se transformando em significantes que carregam em si os princípios da educação, da mediação e da espiritualidade. Alguns exemplos podem ser vistos nas seguintes representações:
- Gaian Tarot, de Joanna P. Colbert: ela chama seu arcano 5 de O Professor e ele é aquele senhor que vive por entre as ervas, plantas, animais e pessoas de um local e os conhece todos. Ele está junto ao coiote que pergunta, rodeia e que, talvez, nos leva a outros lugares para reconhecer coisas que já sabemos ou que precisamos aprender. O professor, o número 5, des-estabiliza conhecimentos para construir novos.
- Goddess Tarot, de Kris Waldherr: nesse deck chamado de Tradição, representada pela deusa romana Juno. Ela, esposa de Júpiter e assim, rainha dos deuses, mantém as tradições e status quo através das atribuições e cerimoniais que passam por gerações. O chamado e a importância dessa tradição é se manter saudável, desprovida de uma necessidade insana de poder e, principalmente, significativas.
- Tarô Mitológico, de Liz-Greene: neste a carta tem seu nome "Hierofante" e nela está mostrado Quíron, o professor de heróis, o curador ferido. Quiron ensina os heróis as qualidades, princípios e moral. Infelizmente, em sua história, não consegue usar seus próprios conhecimentos para se curar, demonstrando que, algumas vezes, o aprendizado não vem necessariamente pelo amor, mas sim, pela dor.
Muitas pessoas acreditam que olhar para O Hierofante nessas distintas representações o torna mais suave e menos severo ou austero que um padre, como visto no Papa do Waite-Smith. Mas será que é sempre assim?
Quero dizer, os professores que temos, os melhores deles, são os mais regrados, mais conhecedores de sua área de atuação e que exigem sim, disciplina, capricho e um trabalho bem feito. Porém, são os mesmos professores que reconhecem o movimento e a dinâmica de cada turma e atinge os alunos onde mais precisam avançar. Austeridade e autoridade são faces necessarias desse papel, mas não se mata aí a amorosidade que o espiritual, o contente com seu papel carrega em tudo que faz.
Muitas representações. Várias ideias. Uma mesma essência. Quando O Sacerdote aparece num jogo ele pode nos falar de aprender e fazer as coisas como a tradição pede, como é conhecido e entendido secularmente. Nos fala de fazer pontes de conhecimento e de deter a chave desse conhecimento para que, com a ajuda de outros (e das outras cartas da leitura) o transformar em sabedoria. A Educação, o entendimento. Por outro lado, a teimosia, a dureza dos velhos caminhos também pode ser observada e pode nos alertar sobre como o mundo é dinâmico e abre sim, espaço para o que é novo, vivo e principalmente, para o que traz novos significados.
Viver como O Hierofante é uma tarefa de tempo integral. Pois ele pede que nos entreguemos ao estudo e ao trabalho de quem ensina. O que se ganha profundamente, é que quem ensina também aprende, e, se for capaz aprende a olhar pelos olhos dos outros, novas formas, perspectivas e ensinamentos daquilo que ele mesmo sabe tão bem!

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Conversas Cartomânticas: Euclydes Cardoso Jr. e o Imperador



Continuando nossa Blogagem Coletiva, conversamos hoje com o Euclydes Cardoso Jr. Ele joga Tarot desde os 13 anos. Iniciou seus estudos com o Rider Waite, presenteado pela mãe de um amigo. Mantinha as lâminas apenas pelo prazer de olhar. Um prazer que ele mantém até hoje... Ver e sentir antes de deduzir, de forma simultaneamente organoléptica e embasada na Tradição. Autodidata por opção, Maçon do R.E.A.A pelo Supremo Conselho do Grau 33 e frater Rosacruz, nos presenteia hoje com a apresentação impecável de sua interpretação, seu olhar sobre o Imperador, o Arcano Regente de 2011. 
Para contatá-lo:
Site pessoal: www.cardosojr.com.br
Blogwww.tarotcabala.com.br
A partir de julho, o autor estará disponivel para atendimentos no site www.pax.org.br

Próxima postagem: O Hierofante, por Pietra di Chiaro Luna, dia 30 de junho.




INTRODUÇÃO:




O Império dos fatos  /  2011 o ano do Imperador.


O poder, a disciplina, o trabalho, as bases sólidas, a capacidade de concentração e a lentidão, são palavras chaves para a descrição do quarto arcano – o arcano do Imperador. Ele representa o poder adquirido através de duro e árduo trabalho, contando também com a razão e lógica para a obtenção desse poder. Mas antes de adentrarmos ao estudo do quarto arcano, vamos nos deliciar com uma antiga e sábia história sobre o poder e a sabedoria:






O REI E O FALCÃO


Adaptação de James Baldwin

Gengis Khan foi um grande rei e guerreiro. Conduziu seu exército à China e à Pérsia, e conquistou muitas terras. Em todos os países, falava-se de seus feitos ousados e dizia-se que desde Alexandre o Grande, não houvera rei igual. Uma certa manhã longe das guerras , saiu de casa afim de passar o dia caçando na floresta. Muitos amigos foram com ele. Todos, carregando seus arcos e flechas, seguiam felizes em sua montarias. Acompanhavam-nos os serviçais, conduzindo os cães pela retaguarda.
 A partida mostrava-se muito bem disposta. Seus gritos e risadas retumbavam na floresta. Esperavam abater muitos animais que trariam para casa ao final do dia. O rei levava ao punho seu falcão predileto, pois naquela época essa ave era treinada para a caça. A uma ordem do dono, o pássaro alçava vôo, e do alto vasculhava a floresta. Ao avistar um cervo ou uma lebre, mergulhava velozmente sobre a presa, qual uma flecha. 
O dia inteiro passaram Gengis Khan e seus caçadores ao cavalgar pela floresta. Não encontraram, porém, tanta caça quanto esperavam. Á tardinha, decidiram retornar. O rei estava habituado a cavalgar pela floresta. E conhecia todas as trilhas. Tendo o grupo escolhido o caminho mais curto para casa, ele tomou uma estrada mais longa que passava por um vale entre duas montanhas.
O dia fora quente, e o rei tinha sede. Seu falcão amestrado alçara vôo, deixando-o só. O pássaro saberia encontrar o caminho da casa. O rei prosseguia lentamente. Conhecia uma fonte de águas límpidas em alguma paragem perto da trilha. Se ao menos pudesse encontrá-la naquele momento! Mas os dias quentes do verão haviam secado todos os córregos da montanha.
Mas eis que, para a sua alegria, avistou um pouco de água escorrendo pela beira de uma pedra. Haveria de encontrar a fonte logo acima. Na estação chuvosa, as águas corriam ligeiras naquele ponto; mas agora gotejavam lentamente.O rei apeou de montaria. Tirou do embornal um cálice de prata. Começou a aparar as gotas que caíam lentamente da pedra. 
A água demorava para encher o cálice; e o rei tinha tanta sede que mal podia esperar. Finalmente , estava quase cheio. Levou aos lábios e estava prestes a sorver o primeiro gole.
De repente, um zunido cruzou os ares e o cálice foi derrubado de suas mãos. A água derramou-se toda. O rei procurou ver quem fizera aquilo. Fora seu falcão amestrado. O pássaro voou de um lado para o outro algumas vezes e acabou pousando nas pedras, perto da fonte. O rei pegou o cálice e tornou a recolher as gotas de água. Desta vez não esperou tanto tempo. Quando estava pela metade, levou-o á boca. Mas antes que o cálice lhe tocasse os lábios , o falcão deu outro mergulho, derrubando o objeto.
Desta vez o rei começou a ficar zangado. Empreendeu mais uma tentativa , e pela terceira vez o falcão o impediu de beber. O rei ficou bastante irritado e gritou:- como te atreves a fazer isso? Se eu pudesse as minhas mãos em ti, torcer-te-ia o pescoço!
Mais uma vez, o rei encheu o cálice. Porém, antes de levá-lo á boca, sacou da espada. - Agora, senhor falcão, é a última vez – disse ele.
Mal proferira as palavras, o falcão mergulhou e derrubou-lhe das mãos o cálice. Mas o rei já esperava por isso. De um golpe, acertou o pássaro em pleno vôo. 
E logo o pobre falcão jazia aos pés do dono, sangrando até morrer. 
- É o que mereces por teus caprichos, - disse Gengis Khan. Entretando, ao procurar o cálice, encontrou-o caído entre duas pedras onde não conseguia alcançar. - Mesmo assim, vou beber desta fonte - disse consigo mesmo.
E pôs-se a galgar a parede íngreme da rocha para chegar até o lugar de onde a água escorria. A tarefa era árdua ; e quanto mais subia, mais sede sentia.
Por fim, atingiu o local. E havia, de fato, uma nascente; mas o que era aquilo dentro do poço ocupando-lhe quase todo o espaço?  Uma enorme serpente morta, e das mais venenosas.
O rei parou. Esqueceu-se da sede. Pensou apenas no pobre pássaro morto ali no chão.- o falcão salvou-me a vida! – gritou. – E o que fiz em troca ? Era meu melhor amigo, e eu o matei
Desceu a escarpa. Tomou cuidadosamente o pássaro nas mãos e o colocou no embornal. Subiu na montaria e partiu ligeiro, dizendo consigo:

Aprendi hoje uma triste lição,
que é nunca fazer coisa alguma com raiva.


OS SÍMBOLOS QUE COMPÕEM O ARCANO DO IMPERADOR.




A coroa que vemos sobre a cabeça do Imperador, representa o poder, que teve que ser conquistado pela força. A coroa portanto também representa a autoridade de que está investido o personagem. 
 Na sua mão direita ele segura o mesmo cetro portado pela sua esposa- a Imperatriz – no arcano anterior. E o cetro como já sabemos, representa não apenas o poder autoritário, mas também o poder do amor, da diplomacia, calma, paciência e bons modos. Isso se deve ao fato do cetro ser encimado pelo símbolo do planeta vênus que representa o Amor. Dirigir com amor, ou  como diria uma velha frase: 


"Eu comando servindo e sirvo comandando"

O cetro visto de outro modo, apresenta em sua composição acima do globo, a Cruz de Malta. A Cruz de Malta é tida como sendo o símbolo da dignidade imperial, e também representa a unificação do poder terreno com a sabedoria Cósmica e está ligada aos quatro elementos da natureza.
A espada na qual o Imperador repousa o seu braço é o instrumento que ele utiliza para nos proteger contra os perigos, uma vez que este arcano para alguns estudiosos, também representa uma espécie de protetor espiritual. Agora, da mesma maneira que o Imperador utiliza de sua espada para nos proteger, ele pode utilizá-la para nos cutucar quando estamos meio parados ou desanimados em relação a vida, quando o necessário seria confiarmos em nosso poder interior e lutar por aquilo que desejamos atingir.
A águia pintada no brasão sobre a pedra cúbica, representa a elevação do pensamento que se faz necessária na conclusão de qualquer obra, principalmente as de natureza material. Não podemos ser apenas os executores físicos de uma obra, e sim temos que possuir em nós a genialidade do espírito, para que através disso a nossa obra seja ela qual for, possa ser melhor concluída.




A pedra cúbica representa o sólido perfeito e a obra humana realizada. Ela ostenta em si mesma o símbolo do planeta Júpiter(4). Uma vez que Júpiter é tratado dentro da Astrologia como sendo o "grande benéfico", podemos deduzir que o fato de Júpiter símbolo da sorte, prosperidade e plenitude estar colocado dentro de um cubo, que representa a matéria e a obra humana realizada, faz do imperador uma pessoa que sabe conduzir muito bem os assuntos materiais e administrativos, podendo atingir grandes riquezas e tornar-se um benfeitor dos menos favorecidos.
 As pernas cruzadas do Imperador formam uma cruz que representará os quatro elementos – terra, ar, água e fogo – e a expansão do poder humano em todos sentidos – material, mental, emocional e espiritual.
No arcano podemos notar a predominância de duas cores, que são o azul e o verde. Se relacionarmos as cores à Grande Fraternidade Branca temos que o azul está ligado ao primeiro raio (Mestre Ascencionado El Morya) e representa o poder, a fé, a autoridade, a determinação e a vontade de Deus que se deve cumprir no planeta terra e na vida de todos os homens. O verde por seu lado irá representar o quinto raio (Mestre Ascencionado Hilarion) da cura, verdade, lei, rigor e justiça.


Significado do 4° Arcano Maior – O IMPERADOR.




O quarto arcano está ligado ao trabalho e á capacidade de realização, principalmente no que diz respeito a assuntos relacionados ao plano material.


O imperador é a imagem do poder, energia, autoridade e direcionamento. Ele é desconfiado em relação ás novidades, pelo menos de inicio, quando não as compreende totalmente, depois do que as aceitará sem obstáculos nem restrições. 


Na obtenção daquilo que deseja muitas vezes é lento, porque prefere trabalhar e agir com os pés bem plantados no chão. As tarefas que realizamos quando estamos sob a sua influência, tem que ser realizadas passo-a-passo sem pressa para chegarmos ás conclusões finais. Na realidade o que importa para o imperador  não é apenas a conclusão de um objetivo, e sim, todo o trabalho que se teve que desenvolver para chegarmos a essa conclusão. Dai advém o fato de que estamos diante de um arcano que nos vai ensinar alguns valores bem antigos, mas que a maioria de nós infelizmente não desenvolve no dia-a-dia, principalmente quando temos algo de esfera material para realizar e quando esse valores seriam mais importantes. Esses valores são em seqüência: base sólida, disciplina, paciência e capacidade de concentração. 
Quando procuramos trabalhar com eles na execução de qualquer projeto os resultados acabam sendo magníficos. Vamos nas próximas linhas comentá-los cada um de uma vez, para que fique bem clara a maneira pela qual devemos orientar nosso cliente, quando esse arcano aparecer em uma consulta. 
Quando usamos o termo base sólida e o relacionamos ao arcano do imperador, queremos mostrar ao cliente que uma vez que o imperador representa o trabalho , esse trabalho tem que começar de alguma maneira, e a melhor maneira para começar alguma coisa é justamente com bases sólidas?
Base sólida é a pessoa antes de iniciar qualquer projeto, procurar se certificar se ela está certa do que quer realizar, o porquê realizará e finalmente por onde essa realização se iniciará. Se esses pontos não ficarem bem esclarecidos desde o inicio, corremos o risco de apenas iniciar os projetos e nunca conseguir levá-los até o fim, justamente por falta de solidez e objetividade inicial. Quando temos certeza daquilo que queremos e procuramos nos certificar se todos os detalhes , ou pelo menos a grande maioria está em ordem, antes de iniciarmos qualquer ação, nos sentimos até mais seguros em relação a como devemos conduzir os nossos  objetivos. 
Assim que os  nossos projetos começam a caminhar sobre uma base segura, surgem dois valores muito importantes para uma conclusão satisfatória. São eles: a paciência e a disciplina.
A paciência se faz necessária em todos os nossos projetos, ainda mais nos dias  de hoje quando parece que se torna cada vez mais difícil a obtenção daquilo que queremos, pelo menos de maneira imediata. Temos que compreender que na vida, todas as coisas tem o seu momento para se realizar, e que não adianta ficarmos forçando a realização de algo que ainda não esteja no seu tempo certo de realização. A demasiada preocupação com a conclusão, ou seja, o trabalho em si. E na maioria dos casos o trabalho que temos antes de realizar um objetivo, muitas vezes é mais gratificante do que o próprio objetivo. É realmente uma pena que não tenhamos consciência disso, pois se tivéssemos poderíamos aprender bem mais com a vida. A paciência do imperador na realização de seu trabalho com cada detalhe, faz com que ele seja capaz de realizar trabalhos perfeitos, ou praticamente próximos da perfeição. Ele é metódico, perfeccionista, e trabalha com total empenho e sentido de entrega, (ás vezes até em demasia) em relação as tarefas  ás quais se propôs a executar.
Além da paciência já mencionada, também é fundamental termos em nosso trabalho e em nossa vida a disciplina. E esta deve começar, antes de mais nada, por nós mesmos, uma vez que o homem sem disciplina é igual a um navio á deriva em meio a uma grande tempestade. Como podemos deduzir, brevemente ele encalhará, ou será engolido pelas ondas.
Disciplinar-se de maneira alguma quer dizer limitar-se. O homem  disciplinado não tem limites para o que ele deseja fazer. Apenas procura fazer as coisas no seu devido tempo e dá sempre prioridade para as mais importantes, agindo sempre segundo a sua consciência.
Por fim, teríamos que observar também como atua um dos elementos que contribui para o sucesso de nossos empreendimentos segundo o quarto arcano; a capacidade de concentração. É este último porém importante elemento que é de fundamental importância para a realização de qualquer trabalho. A capacidade de concentração naquilo que estamos fazendo evita com que nós nos dispersemos e nos faz resolver uma coisa de cada vez. Procedendo desta maneira temos os melhores resultados, menos complicações e satisfação garantida, quando nos propomos a executar algum projeto, seja ele qual for. Diz-se que a capacidade de concentração tem que estar presente no início, meio, fim e até mesmo depois da conclusão de um projeto, que é justamente o momento em que podemos por tudo a perder devido as nossas euforias descontroladas, após o sucesso de uma empreitada bem sucedida. E pode ter a certeza de que esta ultima observação tem real valor, é justa e perfeita. Portanto toma-a como guia em tuas ações e serás feliz.
Poderíamos dizer que o imperador, é a contra-parte masculina da imperatriz. Enquanto ela possui criatividade, o seu esposo possui a razão para a manutenção daquilo que foi criado. Ela encara a vida de frente, personifica o movimento e não tem medo de se lançar impulsivamente num novo projeto. Por outro lado ele gosta muito de saber onde está pisando, desenvolve os seus projetos com lentidão e mediante planos cuidadosamente traçados segundo a lógica e a razão. Se para a imperatriz é fundamental lançar novas sementes ao solo, para o imperador é de extrema importância saber esperar a semente brotar a pacientemente observar o crescimento da nova arvorezinha cuidando metódica e minuciosamente, para que ela não seja atacada por vermes e pragas, para que no devido tempo ele possa se deliciar lentamente com os seus frutos, sabendo que a sua missão, o seu trabalho, foi cumprido, e que agora ninguém mais poderá derrubar aquela frondosa árvore em que a sementinha bem cuidada se converteu.
O quarto arcano é símbolo de sucesso garantido em qualquer projeto, para aqueles que souberem se guiar por tudo o que foi colocado nas linhas acima. Ele é o nosso protetor, a força de que necessitamos e a responsabilidade que cai sobre os nossos ombros quando nos propomos a executar alguma coisa. O imperador possui um lado altamente paternal e está sempre disposto a sabiamente ensinar a seus filhos como atingir o sucesso, mediante a justiça, integridade, paciência, retidão, trabalho e confiança em si mesmo. Basta saber ouvir e não teimar.



O IMPERADOR NA ÁRVORE DA VIDA DA CABALA.


Na Árvore da vida, o IMPERADOR é o 15° Caminho




15° é o Caminho de Áries / Caminho de Heh.
Cor: Escalarte
Som:
Inteligência: Constituinte
O VAZIO PERMITE A EXISTÊNCIA (De se criar algo)
Titulo Esotérico:
SOL DA MANHÃ, SENHOR ENTRE O PODEROSOS.


BIBLIOGRAFIA DE ESTUDOS:
MEDITAÇÕES SOBRE OS 22 ARCANOS MAIORES DO TARÔ
JUNG E TARÔ – Sallie Nichols
TARÔ Espelho da Alma – Manual para o Tarô de Aleister Crowley
O Tarô e a Viagem do Herói
Segredos do Eterno

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Conversas Cartomânticas: Jaime E Cannes e a Imperatriz


Olá pessoal. Continuando nossa apresentação dos Arcanos, contamos com a participação de Jaime Cannes. Jaime E Cannes realiza atendimentos com Tarot, Astrologia e Numerologia, assim como um excelente trabalho com Tarot Circular - um método muito interessante de atendimentos em grupo. Colaborador de diversos sites e jornais, dentro e fora de Porto Alegre. Autor do livro Tarot Para a Autotransformação e a CuraUm Guia Para Novas Aplicações do Tarot (edição independente), que brevemente será devidamente comentado nesse blog.
Jaime por ele mesmo:

Sou tarólogo desde 1988, mas comecei minha caminhada espiritual aos 14 anos iniciado pelo meu pai, um devotado praticante da doutrina espírita, mas aberto para todos os temas da espiritualidade, ele foi o meu introdutor na filosofia esotérica. O tarot foi minha arrancada nesse maravilhoso mundo de símbolos.  Sua imensa flexibilidade arquetípica me incitou a mergulhar em outras áreas do conhecimento interior como a astrologia, a numerologia,  runas, geomancia, mitologia, simbologia e psicologia junguiana.
Passei pelas doutrinas umbandista, espírita e wiccana, da teosofia à hierarquia oculta dos mestres ascencionados e hoje me considero um esotérico universalista. Sinto em tudo uma manifestação do divino e percebo que parte do meu trabalho é justamente auxiliar a abrir os olhos da alma dos que me procuram para esse universo maior ao alcance de todos nós!
Conheça o meu blog de tarot, reiki, espiritualidade e temas livres através do linkwww.tarotzenreiki.blogspot.com e também o meu blog de poemas, crônicas e contos  através do link www.jaimeecannes.com/blog e deixe seus comentários e opiniões.


Nova postagem: O Imperador, por Euclydes Cardoso Jr., em 27 de junho.



Criatividade
Osho Zen Tarot



Enquanto A Sacerdotisa encarna os aspectos internos e espirituais do feminino A Imperatriz é a manifestação corpórea do feminino no mundo! Ela rege o corpo nas suas funções, mais de uma forma prazerosa do que prática ou realmente funcional. Este arcano representa a mãe terrena que nutre e acolhe seu rebento recém nascido e o ensina a cuidar do corpo, escovando os dentes e o cabelo, cuidando da sua aparência, tomando banhos e transformando esses atos cotidianos em momentos de prazer, ou melhor, de auto-satisfação. A Imperatriz é que oferece a segurança afetiva necessária para que possamos nos expressar nessa vida. 

Imperatriz
Thoth Crowley-Harris

Em termos psicológicos ela simboliza a relação com a mãe, que apresenta o mundo à criança, e quanto mais ela fizer com que se sinta o mundo como um lugar confiável de se viver, melhor se dá a expressão afetiva e até mesmo criativa do futuro adulto. O contato físico com o corpo da mãe na primeira infância, desde a amamentação, ajuda a criar o sentido interno de prazer, auto-nutrição, satisfação e até mesmo de sensualidade em seus primeiros exercícios!

Imperatriz
Rider-Waite

O terceiro arcano do tarot carrega em si os atributos do número que representa. O três está tradicionalmente associado ao processo criativo e multiplicador! O período de gestação da maioria dos seres vivos é composto por números divisíveis por três (Os nove meses dos homens, os doze meses dos elefantes, as três semanas dos ratos, etc.), e por isso mesmo representa a abundância, a fertilidade, a sorte e a proteção. O arcano de A Imperatriz tem sido muitas vezes associado ao planeta Vênus na correspondência astrológica. Esse planeta é o regente de touro e libra, signos que regem a beleza, a gentileza e as relações humanas de um modo sempre envolvente e íntimo. O três é relacionado com o planeta Júpiter, o arauto da boa fortuna, da expansão e do crescimento em todos os sentidos. Costumo considerar A Imperatriz como uma conjunção astrológica de Vênus/Júpiter, ou seja, com intenso envolvimento em questões relativas ao prazer, o bem estar e as relações sempre de modo positivo e instigante, mas um tanto frívolo e sensualista demais por vezes! Essa conjunção expressa no arcano também incentiva a criatividade e a sensibilidade artística. A Imperatriz é a musa inspiradora dos pintores, poetas e cineastas... Seu arquétipo se estende desde a velha mãe de avental até a atriz de cinema ou musa da música pop que incendeia a fantasia de adolescentes de ambos os sexos! O feminino pleno é o campo dos seus domínios. A maternidade, a beleza e a nutrição, a arte e a inteligência inspirada (Comum nos artistas) são seus atributos naturais. Tudo isso, porém não a torna uma cuidadora menos eficiente e apaixonada. Na mitologia o mito que melhor a representa é a Deusa Deméter. A personalidade que melhor incorporou suas características foi Lady Di. 

Lady Di

Mãe devotada aos filhos, extremamente participativa na vida deles, como também uma feroz ativista dos direitos humanos e dos animais. Ela se opunha às caçadas da realeza, por exemplo. Por outro lado foi uma formadora de opinião em questões de estilo e moda e teve uma vida amorosa tão intensa quanto escandalosa.

Imperatriz
Sharman-Caselli Tarot

Considero importante salientar que os atributos de cuidado com o próprio corpo tanto quanto a capacidade de cuidar das pessoas e dos seres indefesos desse mundo não são um privilégio só das mulheres! A força arquetípica de A Imperatriz vive na alma da humanidade capaz de se manifestar de modo abundante e generoso, como lhe é peculiar.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Conversas Cartomânticas: Nelise Carbonare e a Sacerdotisa.


Olá pessoal. Hoje contamos com a colaboração de Nelise Carbonare, para aproximarmo-nos mais d'A Sacerdotisa. Nelise Carbonare é uma das maiores, senão a maior, expoente do Tarot Egípcio da Kier - o baralho mais coeso em termos de iconografia egípcia - no Brasil. Seu trabalho pode ser acessado em seu site (Tarot Door), que, didático e acessível, abriu as portas para essa iconografia tão específica.

Nelise por ela mesma:
Sou formada em pedagogia (PUC-SP), e auto didata em Psicologia Junguiana. Há mais de 30 anos estudo intensamente a psique humana. Uso o Tarot Egípcio como linguagem simbólica para me comunicar com o seu íntimo. Desenvolvo trabalhos de expansão da consciência para os mais ousados navegantes na jornada do auto conhecimento. E continuo aprofundando meus estudos dos fenômenos cognitivos e técnicas para a penetração em estados de extrema cognição.


Próxima postagem: A Imperatriz, por Jaime E. Cannes, em 24 de junho.






Decifra-me ou te devoro!

A Sacerdotisa é a carta da Mulher em todos os seu nuances. A Grande Mãe, a Mãe, a Mulher, a Sagacidade, Intuição, Persuasão, Sensibilidade, o Amor.
Ela representa a Sabedoria, ou a Arca dos arquivos dos
Conhecimentos, dos Dons e da História.
Ela significa um momento aonde você descobre que lá dentro de você tem um manancial a ser revelado. Quando você descobre que já faz tempo, que vem guardando em um Baú, tudo o que mais gosta, e muitas coisas que ainda não teve coragem ou oportunidade para explorar de si mesmo. Então, sofrendo de saudades de si mesmo, você resolve abrir esse Baú e resgatar a si próprio.
Portanto a Sacertotisa representa o resgate de si mesmo. A recuperação de uma vivência que estava esquecida ou reprimida.
No processo de vivência dessa carta, vamos do inferno ao céu. Da extrema repressão a liberdade plena. Das frustrações do não ser para a segurança da realização pessoal.
Essa carta então traz tudo o que estava reprimido ou escondido. Nesses tempos tão confusos nos relacionamentos afetivos, essa carta traz a retomado do Amor. Fala da necessidade de assumir os próprios sentimentos e de expressá-los. Amar, compreender, é o que esse Arcano pede!
Éa cartas das bruxas! Denota profunda sensibilidade e por isso, o título, Decifra-me ou te devoro! Pessoas extremamente sensitivas tem que descobrir uma fórmula de transformar essa sensibilidade em instrumento, senão ela vira uma arma contra a própria pessoa. Assim como qualquer Dom que não é ouvido, se transforma no Diabo, e faz diabos da gente.   Portanto bruxinhas e bruxinhos não esqueçamde pelo menos dançar um pouquinho todo dia. E colocar uma placa em um local muito visivel: RESPIRE! Não há Diabo que resista a uma boa dose de oxigênio.

sábado, 18 de junho de 2011

Conversas Cartomânticas: Giancarlo Kind Schmid e o Mago



Olá pessoal. Dando seguimento a nossa blogagem coletiva, segue abaixo o texto do Giancarlo Kind Schmid sobre o Mago. O Gian tem uma abordagem profunda e delicada de cada Arcano, sempre trazendo suas realidades para o cotidiano de uma forma prática e precisa, não deixando de nos apresentar a perspectiva histórica que permeia a construção do conceito do mesmo.

Próxima postagem: A Sacerdotisa, por Nelise Carbonari, em 21 de junho. 

Giancarlo por ele mesmo:
Giancarlo Kind Schmid, 41, é capixaba de Vitória (ES), de família petropolitana, morando em Petrópolis (RJ) desde tenra idade. Desde cedo inclinou-se às pesquisas, interessando-se por história, esoterismo e psicologia. Tem formação em Florais de Bach, Reiki Usui (nível 3A), Teoria Junguiana e é licenciado em Literaturas e Língua Portuguesa pela UNESA. Iniciou-se em algumas fraternidades esotéricas como a Ordem Rosacruz (AMORC), Colégio Druídico do Brasil e a Tradicional Ordem Martinista (TOM). Desenvolve desde os anos 90 a prática da "taroterapia" cuja proposta é o uso do tarô para o autoconhecimento e superação pessoal (a partir da integração do tarô com os florais, psicologia junguiana, meditação, análise dos sonhos, etc). Congressista e palestrante, participou de importantes encontros de tarólogos no país, levando suas práticas e experiências a conhecimento do público. Atuou em SP, RJ, MG, PB e ES profissionalmente. Escreve regularmente artigos e diversos textos para sites, blogs, jornais e revistas. Dirigiu o programa "Razões da Alma" (esoterismo, cultura e filosofia) pela TV Cidade Imperial. Mantém o portal Taroterapia (www.taroterapia.com.br), o Guia de Tarô (www.sobresites.com/taro) e o blog "Alpha Symbolon"
(http://alphasymbolon.blogspot.com/). É um ativo propagador do tarô no Brasil e países lusófonos. Atende regularmente (presencial e on line) e ministra cursos e workshops.

Escolhi “O Mago” a partir da interessante proposta sugerida pelo amigo Emanuel (de 22 autores escreverem sobre um arcano de sua escolha), companheiro de comunidades virtuais. Explanar sobre esse arcano é ao mesmo tempo fascinante e desafiador, pois é uma lâmina instigante, rica em sua alegoria e simbologia.

I O MAGO

Fiat lux (faça-se a luz)! 
Gênesis 1:3.
Um imberbe rapaz vestido despojadamente, portando um grande chapéu, tem à sua frente uma mesa na qual estão distribuídas moedas, copos, às vezes uma chaleira, adagas, cartas. O jovem mantém numa das mãos uma moeda e na outra uma varinha, imagem essa relacionada ao ato “mágicko” concebido entre famosas ordem esotéricas que se popularizaram no final do século XIX. Eteilla (Jean-Baptiste Alliette (1738–1791) foi o primeiro a adotar o título ao se assumir como o próprio, ilustrando o primeiro arcano do seu baralho sob o título “Eteilla Consultando”. O mago, segundo as concepções esotéricas, é um manipulador das forças espirituais, um mediador entre o mundo terrestre e o mundo astral, um operador que usa o poder das palavras e dos símbolos para realizar alguns feitos especiais.

O Mago
Visconti-Sforza (século XVI)


O arcano número um já teve muitos nomes: “pelotiqueiro, escamoteador, malabarista, prestidigitador, ilusionista, artesão, saltimbanco, mágico”. Hoje, o conhecemos como “O Mago” - seu título é um atributo a partir da herança ocultista do século XVIII: a magia estava em alta na Europa. Inspirador de muitos ocultistas, o arcano deixou de representar o logro em plena praça pública através da prestidigitação (brincadeira dos copos, das moedas, dos palitos, etc), ato esse difundido largamente durante a Idade Média e Renascença, perdurando entre algumas culturas urbanas até hoje. Ao se assumir “mago”, o arcano 01 ganhou o status de intermediador entre os vários universos, de unificador simbólico, um agente capaz de encantar e seduzir através das palavras e atos, encarnando o próprio poder criativo e a vontade imperativa.
Dois elementos chamam a atenção nesse arcano: o chapéu que se metamorfoseia na lemniscata, ou se preferir, no símbolo algébrico do infinito, e as mãos posicionadas em direção opostas (para cima e para baixo), tomando em cada uma delas um objeto (uma moeda e um bastão ou varinha). Essa última representação veio a estimular o imaginário de muitos ocultistas, relacionando a posição dos braços com a primeira letra do alfabeto hebraico (Aleph - א); se tratava apenas do ato de iludir – enquanto o prestidigitador prendia a atenção do público com uma das mãos, manipulava com a outra. Já a lemniscata vem a se repetir no arcano “A Força”, também inspirada no chapéu da figura. Em sua significância, ver evocar o “eterno vir a ser”.

Mago/Branchus
Tarot Nostradamus (Jean Payen) (1713-1760)

De sua pequena mesa abarrotada de objetos, promete desde “curas para as mais esquisitas doenças até mesmo a fonte da juventude”.  Diverte o público, encanta com suas histórias, trapaceia sordidamente, propõe atividades lúdicas para arrancar dinheiro dos incautos. Essa é a imagem clássica do caixeiro viajante, do vendedor milagreiro ou simplesmente do ilusionista falastrão.

Mago
Tarot de Oswald Wirth (Século XIX)


O Mago “brinca” de Deus. Orbita no mundo das ideias, abre portas e cria situações. Mas, bem como os espetáculos que produz, suas ações são impermanentes e fugazes: a continuidade não é seu forte, apenas a oportunidade, o lance é o que importa. O arcano nos propõe o jogo do “pegar ou largar”, devemos ser rápidos em nossas decisões e hábeis na consecução. É o momento, o agora, aproveitando as condições tal como a frase latina “carpe diem” (aproveite o dia). Qualquer distração é fatal. Objetivos ou metas são necessários para a sedimentação do plano, caso contrário, a chance se esvai. O arcano 01 é dotado de grande destreza e inteligência e espera de nós enorme articulação e presença de espírito ao agirmos. Ação, aliás, é seu nome. 
Dotado de uma natureza pueril/adolescente, “O Mago” nos prega peças quando não sabemos o que queremos. É necessário sabermos para onde queremos ir, onde pretendemos chegar. É, também, o ponto de partida para o encontro com a própria individualidade e a realização do ego.
Personifica o orador, o mágico das plateias, o palestrante, o vendedor ambulante, o marqueteiro, o artista circense. É o conquistador pelas palavras, mágicas e acrobacias. Deste modo, sugere a ação do LOGOS¹, a atuação do pensamento sobre todas as coisas. O próprio médium em seu papel de canalizar as esferas divinas.
Bom de papo, leva todos na conversa. Se você precisar convencer alguém, conseguir atingir rápido seu objetivo, contornar espertamente uma situação ou dar o primeiro passo em algo, esse é o arcano certo! Mas, lembre-se: você não conseguirá manter muito tempo as aparências e nem sustentar prolongadamente suas ações – toda magia tem um tempo muito curto.

NOTAS


¹ Para Heráclito de Éfeso (V a.C.), conjunto harmônico de leis que comandam o universo, formando uma inteligência cósmica onipresente que se plenifica no pensamento humano; no misticismo filosófico de Fílon da Alexandria (I d.C.), no neoplatonismo e no gnosticismo, inteligência ativa, transformadora e ordenadora de Deus em sua ação sobre a realidade.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Conversas Cartomânticas: Luciana Onofre e O Louco




Olá pessoal. Iniciando nossos trabalhos da blogagem coletiva proposta no Facebook e anunciada aqui, cá temos o trabalho da Luciana Onofre, do blog Taroteando
Ela, por ela mesma:
Uma taurina com ascendente em Leão. Nascida na Colômbia e habitante da Terra Brasilis atualmente. Pesquisadora do Sagrado Feminino, dos  seus mitos e mitologias. Theateísta. 
Taróloga por paixão, escolha e fascinação, focando em especial aos Oráculos do Feminino. 
Escreve em vários espaços ligados a esses temas desde o ano 2000, entre eles os extintos sites Magia da Deusa, PanDea,Santíssimas.org, Magical, Tribos de Gaia. Já colaborou nos sites: Rede Matríztica, Universo EcoFeminino, Crianças Pagãs. Atualmente sua escrita pode ser acessada no Divinare, no blog Taroteando. Ambos espaços dedicados aos Oráculos e ao Tarot. Assim como no Mamães Matrízticas, dedicado ao mundo de casa, filhos e "fazeres mágicos" no Vassouras & Bruxas. Coordena junto a outra mulheres, o grupo matriztico circular, Ciranda das Mulheres Sábias, com nichos e encontros em São Luis/MA, São Paulo, e Santa Catarina/ Brasil. 
Tradutora Pública e Interprete Comercial do Estado do Maranhão/Brasil, e professora de Espanhol.
A Luciana tem uma visão visceral, telúrica, familiar e vivencial dos Arcanos, algo muito bonito de sentir! Espero que gostem, como eu gostei!


Próxima postagem: O Mago, por Giancarlo Schmid, em 18 de junho.

Abraços a todos.

Meu lindo amigo, o sapiente Emanuel, do Conversas Cartomânticas [o admiro muito e é algo sincero] convocou os amigos tarologistas a participar desta blogagem coletiva, que terá com certeza mil e uma nuances, mil e uma apreensões, e uma riqueza ímpar de valores e conteúdos sobre o Tarot.
Meu Arcano escolhido foi O Louco, por um amor que lhe tenho, por uma relação intrínseca, visceral que há entre minha vida, meu percurso e ele.


Tarot of the Trance / U.S. Games

O Louco, andarilho sem idades pode ser entendido como parte da Roda do Destino, como parte dum Dependurado, como parte de qualquer Arcano, pois ele surge sem número exatamente para isso: para ser o que for necessário representar ao longo de toda nossa jornada... Ou jornadas.  Não apenas ser apreendido como esses dois arcanos, parte deles, ou passagem deles, mas se formos analisar com delicadeza, ele pode ser parte coadjuvante ou principal de qualquer um.
Ele é um eterno viajante, com eternos caminhos, de idas e voltas, nunca sabemos quando nos deparamos com ele [seja na vida real e concreta, ou como uma leitura de cartas] se ele tudo nos dirá, se ele permitirá que saibamos por quais paragens já andou, quais coisas viu, de qual ponto da estrada ele vem ou a qual vai... O entendo como uma profunda incógnita.
Ao longo dos meus 41 anos eu o vi muitíssimas vezes, encarnando O Louco Demente, O Louco Andarilho, O Louco Sonhador, O Louco Vagabundo, O Louco Ensandecido, O Louco Inocente, O Louco Eremita, O Louco Destino... Há tantos Loucos em fim, e sem eles acordar seria monótono e previsível.
Se ele surge ao lado dum Carro afoito, pode ser que o Destino o colocou ali para que usemos o freio e demos um tempo, ou não e atropelemos a vida de algum incauto que teimou em passar na nossa frente ou atravessar a estrada... Ela nada tem com isso, com o que faremos, pois ele é apenas um Louco, a decisão é nossa, o Carro é nosso, mas O Louco é o destino avisando.
Se ele teima em ficar com um Dependurado, o vejo como um acontecido feliz: este Louco fala, diz com sua fala mansa que sair da estrada para apenas encarnar o Louco Despreocupado, O Louco Deleitador,  é a melhor ação para evadir uma emboscada que quiçá nossa presa, nosso medo colocou no caminho e dela somos reféns... Dar uma de Louco quando Dependurados é quiçá o melhor sistema para aproveitar esse breque da vida, apenas descobrindo com olhos desprovidos de tudo, o mundo que sempre esteve aqui, ao nosso lado.
Dime con quién andas y te diré quién eres, e isto jamais foi tão assertivo como quando aplicado ao arcano O Louco
Quem lhe fizer companhia dele poderá obter um aliado, um novo olhar, um insight terrível ou um final fatal, pois ele é aquele que tudo pode vir-a-ser, aquele que tudo já foi, ou aquele que nada tem a ser, e são as cartas que o circundam, ou que o avizinham aquelas que sofrerão sua influência...
Não é atoa que nos naipes de jogo ele aparece como o Curinga, aquela carta que muita coisa pode ser.
É na sua infinita liberdade "assistida" [sempre há aquele animalzinho mágico de poder, xamânico a rondá-lo] que jaz a facilidade inerente ao Louco de se mimetizar ao entorno e passar desapercebido em sua caminhada secular. Mas desapercebido não quer dizer invisível, ou inerte, ele sem dúvida alguma sempre indica um desapego iminente, seja para com a vida em si [e aqui mora a Morte], seja para com um modo de vida [O Julgamento?], seja para com alguém [os Enamorados], ou a ruptura de laços e empatias para com um sistema [o Imperador, o Hierofante]... Mas em suma,  O Louco não é aquele bobo da corte inofensivo, um bufão simpático inativo, ele é operante!

O perigo é deixar que este Louco ande sem o nosso eixo pessoal, ou pior ainda, dilua nosso eixo pessoal, que dum estágio lúdico, recreativo, de prazer e deleite para com a vida, para com apenas deixar-se ir, o Louco se torne uma muleta emotiva, sensorial, mental e espiritual que usamos como meio de justificativas quando não sabemos lidar com essas esferas da vida: não sabemos amar, fazer parte, fixar ideias, evoluir pensamentos, concretizar sonhos, vivenciar um credo... 

Quando assim, O Louco encarna a pior das suas manifestações, mas também é ingrato culpá-lo pelas nossas solidões, pela fuga dos amigos ao avistar nossa presença, pelas falas coletivas sobre o que somos e fizemos, pois é escolha nossa manifestar esse aspecto dúbio e obscuro do Louco...

Podemos desejar um Louco quando tentamos outros caminhos, para assim encarar o quem vem pela frente sem presas ou preocupações, apenas aproveitando a nova chance, sendo o neófito que devemos ser quando o propósito é aprender.

Mas a maioria das vezes O Louco apenas quer assinalar um estágio em nossas vidas onde "In mundo privato" temos que encarar nossos demônios a sós, tecer nossos diálogos internos e reflexões, ver com nossos próprios olhos o Mundo e aprender com quedas e estradas sem fim a trilha da Vida. Onde devemos ter aprendido com toda a bagagem que ganhamos nesse caminho, o momento de partir, de voltar, de seguir em frente.


Magical Forest, Tarot of the Master, Bruegel Tarot/Lo Scarabeo; Tarot of White Cats/Llewellyn; Tarot Lukumi/Dal Negro; Paulina Tarot/U.S. Games


Meu amor pelo Louco mora na capacidade excepcional que ele tem de ser ele mesmo, sem vergonhas, sem medos aos parâmetros impostos pelo status quo, a seu singularidade exótica retrata como vejo a mim, aos meus e a vida... 
Eu gosto de ser este Arcano, e aceito os desafios e os perigos que ele traz consigo... Sem ele, penso que tudo teria sido bem mais fácil em meus dias, mas sem ele eu não teria aprendido tanto a criar meus eixos pessoais, a ceder quanto ao meu ímpeto de largar tudo e seguir sem eira nem beira pela vida... E ainda assim, após ter permitido a civilização do meu Louco, ainda sou ele, e isso me faz feliz, por todos os demais aspectos que ainda são latentes, que ainda são palpáveis, nele e em mim.

Eis o meu Louco.

Sempre grata,

Luciana Onofre


Imagens: Luciana Onofre/ Acervo pessoal.