Olá pessoal. continuando as atividades da Blogagem Coletiva, cá temos a presença da Pietra di Chiaro Luna. Adepta e divulgadora da Bruxaria Italiana (Stregheria), Pietra é amante dos animais e demonstra isso na escolha de seus baralhos - sempre ligados ao divino, às culturas antigas, à intimidade e ao mundo natural - intimidade e carinho que veremos a seguir.
Organizadora da Confraria Brasileira de Tarot, dos eventos do Chá de Tarot e consultora, podemos contatá-la nos seguintes links:
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Textos sobre Bruxaria Italiana e Tarot
Próxima postagem: Os Enamorados, por Zoe de Camaris, dia 03 de julho.
Com a palavra, Pietra.
Escolhi O Hierofante porque é o meu arcano pessoal, então me senti bastante à vontade para escrever sobre ele.
Hierofante, o grande professor
Arcano 5.
Acima, à esquerda, Gaian Tarot.
Ao lado, Mitológico. Abaixo, à esquerda,
Goddess Tarot e, ao lado, Waite-Smith.
O quinto arcano do Tarot seja talvez um dos que teve seu significado e entendimento desnivelados pelo passar do tempo. Quando o Tarot começou a ser concebido em sua estrutura e imagens, lá nos anos 1490 e tantos, o Papa (título original da carta) era uma figura importante e proeminente. Talvez o seja até hoje para a comunidade católica que, conta com o seu sacerdote para esclarecer, apoiar e ensinar a secularidade da Igreja e de seus modos.
Porém, é dado que, pelo menos ou mais fortemente, nos últimos 100 anos, a Igreja e o Papa perderam seu "carisma" e que o Tarot não é mais só um jogo de cartas entre as massas, mas um sistema de leitura de vida e de conhecimentos, que foi, inclusive, imbuído de várias disciplinas e ideias que não necessariamente, representam o Papa ou o ideário cristão.
O Tarot ganhou toques da Cabala (judaíca); de diversas mitologias; de espiritualidades centradas na natureza; da cultura contemporânea que se soltou completamente de uma visão teocentrista do universo. Tarot agora é tarô e serve a diversos propósitos, como terapia, investigação, meditação e, sempre, divinação. Hoje em dia, ninguém é dono do Tarot; ele é um livro de vida que está aberto a todos que desejem ler e falar sua linguagem.
Então, o que acontece com o arcano 5? Ele perde sua razão de ser? Se torna fora de lugar? Fora de forma?
Absolutamente, não. O Papa, como mostrado nas imagens do Waite-Smith Tarot, ou melhor, o conhecido e talvez não entendido, Hierofante é uma carta incrível, com muitas possibilidades e ensinamentos que sim, se perpetuam na humanidade ao longo dos séculos.
O Hierofante é o sacerdote. E o sacerdote é o oficiante de uma religião ou espiritualidade. É o mediador. A ponte. É quem lida com os ensinamentos espirituais e quiçá, culturais e de fundação de mundo de um grupo ou sociedade. O sacerdote é o que dedica sua vida, recebe treinamento - formal, geralmente - e pratica ao longo de sua vida, todo esse conhecimento, o transformando em sabedoria.
Um outro papel que cabe ao Hierofante é o de professor. O que traz o conhecimento e ajuda o aluno a encontrar sabedoria. Aqui, ele também é o mediador, o que faz uma ponte, mas não necessariamente entre o divino e o mundano, mas entre o aluno e a sua cognição. Afinal, o que é aprender? É vivenciar conhecimentos e poder compreender, generalizar e construir conceitos. O papel do professor é fazer com que esse processo se dê de forma significativa, ou seja, que faça sentido para quem aprende e que possa ser utilizado tanto para uma discussão teória quanto para uso prático.
Por fim, um último papel que encontro no Hierofante é o de modelo. Este inclui os dois últimos de sacerdote e professor. Ambos são a demonstração da vivência e de como fazer o conhecimento secular e espiritual culminarem num estilo de vida que os tenha como pano de fundo.
E, com tudo isso, a representação do Papa/Hierofante, do Sacerdote foi ganhando diversas nuances e ideias, crescendo em significados e se transformando em significantes que carregam em si os princípios da educação, da mediação e da espiritualidade. Alguns exemplos podem ser vistos nas seguintes representações:
- Gaian Tarot, de Joanna P. Colbert: ela chama seu arcano 5 de O Professor e ele é aquele senhor que vive por entre as ervas, plantas, animais e pessoas de um local e os conhece todos. Ele está junto ao coiote que pergunta, rodeia e que, talvez, nos leva a outros lugares para reconhecer coisas que já sabemos ou que precisamos aprender. O professor, o número 5, des-estabiliza conhecimentos para construir novos.
- Goddess Tarot, de Kris Waldherr: nesse deck chamado de Tradição, representada pela deusa romana Juno. Ela, esposa de Júpiter e assim, rainha dos deuses, mantém as tradições e status quo através das atribuições e cerimoniais que passam por gerações. O chamado e a importância dessa tradição é se manter saudável, desprovida de uma necessidade insana de poder e, principalmente, significativas.
- Tarô Mitológico, de Liz-Greene: neste a carta tem seu nome "Hierofante" e nela está mostrado Quíron, o professor de heróis, o curador ferido. Quiron ensina os heróis as qualidades, princípios e moral. Infelizmente, em sua história, não consegue usar seus próprios conhecimentos para se curar, demonstrando que, algumas vezes, o aprendizado não vem necessariamente pelo amor, mas sim, pela dor.
Muitas pessoas acreditam que olhar para O Hierofante nessas distintas representações o torna mais suave e menos severo ou austero que um padre, como visto no Papa do Waite-Smith. Mas será que é sempre assim?
Quero dizer, os professores que temos, os melhores deles, são os mais regrados, mais conhecedores de sua área de atuação e que exigem sim, disciplina, capricho e um trabalho bem feito. Porém, são os mesmos professores que reconhecem o movimento e a dinâmica de cada turma e atinge os alunos onde mais precisam avançar. Austeridade e autoridade são faces necessarias desse papel, mas não se mata aí a amorosidade que o espiritual, o contente com seu papel carrega em tudo que faz.
Muitas representações. Várias ideias. Uma mesma essência. Quando O Sacerdote aparece num jogo ele pode nos falar de aprender e fazer as coisas como a tradição pede, como é conhecido e entendido secularmente. Nos fala de fazer pontes de conhecimento e de deter a chave desse conhecimento para que, com a ajuda de outros (e das outras cartas da leitura) o transformar em sabedoria. A Educação, o entendimento. Por outro lado, a teimosia, a dureza dos velhos caminhos também pode ser observada e pode nos alertar sobre como o mundo é dinâmico e abre sim, espaço para o que é novo, vivo e principalmente, para o que traz novos significados.
Viver como O Hierofante é uma tarefa de tempo integral. Pois ele pede que nos entreguemos ao estudo e ao trabalho de quem ensina. O que se ganha profundamente, é que quem ensina também aprende, e, se for capaz aprende a olhar pelos olhos dos outros, novas formas, perspectivas e ensinamentos daquilo que ele mesmo sabe tão bem!