domingo, 25 de setembro de 2011

Faroeste, Poker e Cartomancia: A Mão do Homem Morto.


It's been a good poker game so far and you're feeling fine. You scoop up the cards and look at them briefly, not wanting to give away anything to the other players. Suddenly in the back of your mind you feel a twitch, an uneasiness. You glance at the cards again and break out into a sweat. Sure, it's only a legend but where do legends come from? And with you holding the Dead Man's Hand you can only hope that it's all smoke and mirrors. But what exactly is The Dead Man's Hand and where did this poker myth come from?


Continuando minhas pesquisas em relação ao Poker e a Cartomancia, me deparei com um conteúdo curioso, interessante, ainda que macabro, porém passível de testes: a Mão do Homem Morto (Dead Man's Hand).  Se trata de um par de ases e um par de oito dos naipes pretos (Espadas e Paus) e um kicker não definido,  combinação esta que é tradicionalmente tida como azarenta. Se superstição ou não, saberemos...


Conforme a Wikipedia


James Butler Hickok (Troy Grove, Illinois, 27 de maio de 1837 — Deadwood, Território de Dakota, 2 de agosto de 1876), melhor conhecido como Wild Bill Hickok, foi um vulto histórico americano e uma figura lendária do Velho Oeste. Hickok lutou no exército da União durante a Guerra Civil Americana. Chegou ao Oeste como condutor de diligências. Depois da guerra ele ganhou fama como jogador profissional e homem da lei. Foi xerife nos territórios de Kansas e Nebraska. Hickock se envolveu em vários tiroteios notórios, explorados pela imprensa sensacionalista.




Em 2 de agosto de 1876, no Saloon Nuttal Mann's No.10 de Deadwood (Dakota do Sul), em Black Hills, Hickok não encontrou vazio seu lugar habitual, então se sentou para o Poker de costas para a porta, contrariando seus hábitos - que talvez o tivessem mantido vivo até então. Ele recebeu um tiro na cabeça de um revólver calibre .45, dado por Jack McCall. Wild Bill caiu silenciosamente no solo sem soltar as cartas que estavam nos seus dedos: um par de ases, um par de oito dos naipes pretos (paus e espadas) e acredita-se que  o kicker seja um Valete ou Dama de ouros (existem versões que apontam para uma Rainha de Paus, para um Rei de Espadas ou ainda para o Coringa; não há consenso) que ele estava descartando, quando foi interrompido. Essas cinco cartas ficaram conhecidas como a "Mão do Homem Morto" (Dead Man's Hand).



Acho interessante pensarmos no que significaria esse conteúdo num contexto cartomântico. É uma mão de cartas oriunda do Poker; tem um peso cultural considerável - temos músicas, filmes, games baseados nesse evento específico; no limite, estamos lidando com um vulto histórico americano; por fim, é uma combinação de cartas e como tal possui um significado. Se transportássemos o conteúdo cultural envolvido nessa combinação para o  Petit Lenormand, o que teríamos? 



E se estivéssemos lidando com o Waite Smith?




Talvez o Thoth Crowley-Harris..?




Aparentemente, não é o proposto por essas cartas. Evidente; a questão lúgubre relacionada às quatro cartas nada tem a ver com os números, mas com os naipes.
Falando em naipes, um parêntese, sobre a etimologia dos naipes aqui no Brasil, que herdamos de Portugal (referenciado aqui):


Antigamente, o baralho português tinha os mesmos naipes que o atual espanhol (taças, espadas, paus e ouros). Quando o baralho Anglo-Francês foi adotado em Portugal, os desenhos mudaram, mas os velhos nomes foram usados para continuar a designar os naipes. É por esta razão que os corações são chamados copas,  os diamantes são chamados ouros, os trevos paus, folhas espadas, apesar de tal não ser a ilustração. 


Na Cartomancia, as cartas de Paus e Espadas são naturalmente maléficas, em contraposição a Copas e Ouros. Noir se opõe ao rouge, como o dia se opõe à noite - de forma complementar. Não é possível transpormos essa análise para o Tarot devido à perspectiva quaternária que temos atualmente, baseada, grosso modo, nos quatro elementos. Na Cartomancia, a perspectiva, antes de quaternária, é dual. Favorabilidade e desfavorabilidade são, antes de qualquer coisa, representadas por cores
Logo, as cartas pretas já apontariam desgraça. Um jogo negro - e a metáfora é evidente - é algo macabro e indesejável. Seria o mesmo que Espadas ocupando a jogada, quando se trata de uma leitura de Tarot. Onde as Espadas tocam, o rastro é sangue. Onde o noir toca, o rastro é desalento. No Poker.... talvez sorte.
Jogando Poker, quem não desejaria essa mão de cartas..?
Poderia dizer o mesmo da Cartomancia? #not


Com todas essas conjecturas, com todas essas considerações, ainda assim apenas o contexto de jogo é capaz de nos informar, adequadamente, se uma previsão é benéfica ou maléfica. Mas que é divertido observar o diálogo proposto em uma leitura em que essas cartas apareçam, ah é.
Não entendam com isso que estou propondo que essas cartas percam seu significado original na taromancia e no Petit Lenormand e passem a simbolizar de forma combinada infortúnios, como a misfortune proposta para o Poker. Mas eu considero por demais divertido ver como se aplicam - ou não - possibilidades de diálogo. Lembremo-nos que uma das propostas de kicker é o Valete de Ouros... Que, tratando do Petit Lenormand, é uma carta muito adequada ao propósito desse post.
Abraços a todos.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Blogagem Coletiva: Você, seu Tarot e seus rituais


Há essa necessidade entre você e seu deck?
Você realiza algum tipo de ato que sacralize de alguma forma seus decks e suas leituras, ou nada disso é necessário quando se fala de Tarot?

Novamente, Pietra, Luciana e Nath surpreendem. Esse é um tema bastante polêmico na Arte, e ainda alvo de dubialidades. Afinal de contas, é necessário consagrar, ritualizar a posse de um baralho?



Particularmente, depende, para mim, do baralho, do caso, da intencionalidade e da funcionalidade do referido oráculo na minha prática, pessoal e profissional.
Eu possuo baralhos que foram consagrados de forma ritualística, com direito a velas, incensos, flores. Lembro-me, em especial, do meu segundo baralho, o Tarô dos Anjos, da autoria de Monica Buonfiglio. A autora propõe em seu livro todo um ritual de consagração, com orações de Salmos, montagem de altar e tudo. E lá fui eu, participando ativamente do espírito oferecido ao referido baralho.
Acho interessante isso. Quando adquirimos um maço de cartas, estamos tomando posse de algo que, paradoxalmente, já nos pertence. O ritual, nesse sentido, formaliza algo que já é inexorável ao evento. Ao ritualizarmos, confirmamos que aquele baralho não é mais um baralho de banca ou livraria, mas o único exemplar que possui reverberação e ressonância com um indivíduo específico - o portador. Para quem costuma ler o Tarot de forma mais lúdica, entre amigos, sugiro o seguinte experimento, psicométrico: feche os olhos, e deixe que um dos seus amigos lhe entregue um baralho ao acaso. Dificilmente você errará o dono correto, já que existe reverberação entre o dono e seu baralho. É parte do dono, ainda que à parte do dono.
Possuo baralhos que o próprio contexto da obtenção me eximiram de rituais de consagração. É o caso do meu Thoth. Eu o recebi de presente de um aluno e amigo, atualmente falecido. A inexorabilidade da morte consagrou meu baralho, pois não importa quantas versões deste baralho eu venha a ter, aquele, em especial, foi presente dele, parte dele que se tornou parte de mim. Assim como tenho casos de várias pessoas que ficaram com os espólios de amigos e familiares que, ou seguiram outro caminho (neste ou em outros planos) ou descobriram, de forma trágica ou natural, que seu caminho não era esse...



Outro baralho que tem lugar cativo entre os inexoravelmente meus é o baralho de Piquet que recebi de um amigo e ex-colega de república. Ele me enviou este baralho da França, onde morava - e o mesmo pertencera a sua avó. Tal correlação familiar teve todo um efeito no meu Caminho. Na carta que acompanhou o baralho, ele disse: "não sei qual é, mas sei que esse baralho tem história"... e me sinto hoje responsável por perpetrar a mesma neste caminho que trilhamos. inexorabilidade da posse e a inter-relação doador-recebedor faz com que o baralho tenha toda uma identidade própria, singular, sacralizadora.
Evidentemente, um dos meus baralhos mais queridos é o que minha avó me deu, e que utilizo para as (raras) leituras que faço com as cartas comuns. É impressionante como eu, ao manipulá-lo, sinto como se tivesse sete anos e estivesse no colo da minha avó, enquanto ela abria o leque e me ensinava a jogar - primeiro Buraco, depois a Ler. Combinações, sequências e leituras ainda se mesclam frente à minha mesa enquanto desnudo o porvir e me preparo para ele. Seja sincero, leitor: você acredita mesmo que eu precisaria consagrá-lo?
Isso não significa que eu seja contra o ritual ou não o pratique mais; recentemente, ganhei de presente de uma amiga querida o Tarot Egípcio Kier, para mim o melhor dentro dessa iconografia específica. O baralho possui toda uma história e uma funcionalidade dentro da literatura a ele relacionada - estou me referindo ao livro Cabala da Predición, em especial - que deve (e será) respeitada por mim. O livreto que acompanha o baralho sugere uma consagração específica. Por que não fazê-la? Por que não mergulhar na ideia do autor? Por que pular etapas, sendo que posso acompanhá-lo? No momento oportuno, farei a devida consagração, enquanto me apaixono diariamente por essa iconografia e acompanho as cores e formas dando imagem aos sonhos da Divindade.

Sol
Ancient Italian

E, para finalizar, falo sobre minha atual - e, possivelmente, por muitos anos mais - menina dos olhos: o Ancient Italian, meu presente de World Tarot Day.
Conheci esse baralho - as imagens, não seu nome - nas postagens da Claudia Boechat. Um baralho tão belo e tão representativo das imagens do Tarô de Marselha, meu favorito (até então...). Quando descobri seu nome, fiquei ansioso por tê-lo. E foi ele minha primeira aquisição da Lo Scarabeo. Sei eu que, quando abri a caixa e vi seu conteúdo, tive uma certeza que, com a experiência, tornou-se convicção: Podem tocar nesse baralho. Manipulá-lo. Embaralhá-lo. Até mesmo lê-lo. Ele é meu. Não no sentido egoísta da frase, mas no sentido mais elevado - não há o risco de "energias negativas" tomarem-no de mim. De o toque de uma pessoa fazer com que eu lhe perca a paixão. Ele é meu - e é simples assim. E, por ser simples, é belo e, desnecessário dizer, não é preciso consagrar aquilo que por natureza é sagrado.
Todavia, dormi com ele algumas noites debaixo do travesseiro. Custa nada dar um tom de ritual, não é? 
Abraços em todos.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Jogando com cinco cartas.

Jayr Peny, Quatro Elementos.
Disponível em http://migre.me/5HjVq

Olá pessoal. O método de cinco cartas é simples, mas o panorama que oferece é muito amplo. Assim como a Mandala Astrológica, ele permite diversos níveis de interpretação coexistirem na mesma carta, no mesmo jogo. E, partindo desse pressuposto, é o jogo que eu utilizo em atendimentos online, quando tenho pouco tempo para apresentar um diagnóstico e o consulente tem perguntas a fazer.
Correlacionando cada posição a um dos quatro elementos e o centro ao Éter, temos as quatro principais áreas da vida do consulente passíveis de um diagnóstico rápido e preciso, podendo, dessa forma, direcioná-lo na elaboração de suas perguntas para melhor aproveitamento da consulta.
Eu utilizo Terra para o Norte, Água para o Oeste, Fogo para o Sul e Ar para o Leste. Existem tantas variações para a disposição dos elementos quanto possíveis; esteja à vontade para modificar essa disposição em função das suas crenças e práticas. Objetivamente, essa modificação não trará diferenciações para o jogo – os quatro planos ainda estarão representados.
Retire a Carta Diagnóstico. Ela já aponta para a natureza da questão mais importante, ou seja, esteja atento para que área é apontada por ela. Será a casa que merecerá maior atenção, ou, se preferir, a casa que deve ser aberta primeiro. 
clique na imagem para ampliar

Disponha as cinco cartas: meio, acima, esquerda, abaixo, direita. Se estivéssemos lidando com a questão temporal antes do diagnóstico (vide abaixo) disporíamos meio, cima, baixo, esquerda, direita. O círculo formado pelas cartas dispostas na primeira possibilidade dá a ideia de influência, ciclicidade; a segunda possibilidade, de decorrência, linearidade. Eu gosto de diferenciar a disposição das cartas justamente pelo valor e significado das casas na estrutura do jogo.
A carta do centro representa a essência do jogo, a motivação, a lição a ser apreendida com a jogada. Essa casa se relaciona com os Arcanos Maiores, ou seja, se um Arcano Maior sair nessa casa, mesmo que seja um Arcano funesto, essa área está em equilíbrio – o consulente está afinado com o desejo de sua Alma.
A carta acima da carta de essência representa o Plano Material do consulente – saúde, dinheiro, finanças, imóveis, posses em geral. A carreira, quando relacionada com a carta que está no Plano Mental. Essa casa afina-se com o naipe de Ouros, estando, portanto, equilibrada quando sai uma carta deste naipe, mesmo que a carta não seja positiva.
A carta à esquerda da carta de essência representa o Plano Emocional. Emoções, sentimentos, família, intuições, paixões, a sexualidade estão compreendidas nessa casa. Essa casa afina-se com o naipe de Copas, estando, portanto, equilibrada quando sai uma carta deste naipe, mesmo que a carta não seja positiva.
A carta abaixo da carta de essência representa o Plano Espiritual. Não confunda esse plano com práticas religiosas; aqui nós vemos a religiosidade, não a religião – a proposta espiritual que o consulente possui, não a manifestação da crença. Vemos também viagens, projetos pessoais, direcionamentos, o foco. Essa casa afina-se com o naipe de Paus, estando, portanto, equilibrada quando sai uma carta deste naipe, mesmo que a carta não seja positiva.
A carta à direita da carta de essência representa o Plano Mental. Vemos aqui a vida social do consulente – seus amigos, seus inimigos, parceiros de trabalho, colegas, vizinhos. Se a individualidade é vista na carta central e na carta do Plano Espiritual, aqui vemos como essa individualidade se manifesta para os outros. Aqui também temos o diagnóstico dos pensamentos do consulente, que nem sempre se afinam com os seus sentimentos e motivações. Essa casa afina-se com o naipe de Espadas, estando, portanto, equilibrada quando sai uma carta deste naipe, mesmo que a carta não seja positiva.
Depois de virarmos as cinco cartas, atentamos para os naipes. Uma carta de Espadas no Plano Material pede que tenhamos mais atenção à carta que está no Plano Mental; uma carta de Copas na Essência pede maior atenção ao Plano Emocional; um Arcano Maior no Plano Mental informa que a lição do momento se afina com a relação entre o consulente e seu meio social. As relações entre os naipes e os elementos das casas nos direciona a saber qual é, efetivamente, a área da vida do consulente que pede maior atenção.
Após diagnosticarmos isso, voltamo-nos para a Carta Diagnóstico, que abriu o jogo. Qual é a casa correspondente? A cruz correspondeu à Carta diagnóstico? Como a Carta Diagnóstico corresponde à motivação da consulta, que caminho você consegue traçar entre a motivação e as perspectivas que o jogo oferece?
Parece complicado, eu sei; mas com um pouquinho de treino e prática, o jogo flui muito rapidamente, identifica-se as motivações e decorrências de forma rápida e precisa.
Além dessa forma, que gosto muito, aponto outras duas formas de abrir um jogo com cinco cartas: uma linear e outra em cruz.

PASSADO REMOTO/PASSADO RECENTE/PRESENTE/FUTURO PRÓXIMO/RESULTADO

Esse jogo é um detalhamento do jogo de três cartas. Visa encontrar as raízes da questão formulada pelo consulente. A primeira carta representa o passado remoto, ou as causas da busca do consulente por respostas. A segunda carta representa o passado recente, ou as questões que passaram a incomodar o consulente. A terceira carta representa o presente ou a situação atual em que o consulente se encontra. A quarta carta representa as possíveis ações que o consulente deve tomar. A quinta carta representa o resultado dessa ação.
Atente-se para os naipes, nessa jogada; eles indicarão o curso de ação que o consulente tenta seguir e qual lhe será mais adequado.

INFLUÊNCIAS CONSCIENTES / INFLUÊNCIAS INCONSCIENTES / FATORES ORIUNDOS DO PASSADO / POSSIBILIDADES FUTURAS / SÍNTESE OU RESULTADO
Esse jogo é o que considero mais adequado para respostas no Petit Lenormand. Escolha uma carta significante para o assunto que será visualizado. Por exemplo, para uma questão de amor, use a carta 24; para uma questão sobre dinheiro, use a 34; para uma questão de saúde, use 03; para uma questão de trabalho, use 26 e assim por diante. Coloque uma carta em cima desta, que mostra o panorama e a síntese, ou o resultado; acima desta, uma carta apontará os fatores conscientes; abaixo destas, uma carta para apontar os fatores inconscientes; à esquerda, as influências do passado, e à direita as influências do futuro, tentando relacionar todas as cartas com a carta central. Caso a mensagem não fique clara, é possível pedir mais três cartas, como esclarecimento.

São métodos curtos, mas extremamente eficazes. Na verdade, creio que todo método seja válido, desde que o cartomante esteja à vontade para operá-lo. Falando nisso, nesse link aqui eu falo sobre a estrutura de uma consulta.

Abraços a todos.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Dos usos da Mandala Astrológica.



Olá pessoal. A pedidos, eu compartilho aqui a minha forma de abrir a Mandala Astrológica. É um jogo muito amplo e completo, que serve como diagnóstico de uma série de fatores, e ainda por cima dá uma ideia de tempo para cada aspecto previsto.
Eu demorei para postar sobre essa jogada porque não existe um consenso sobre sua metodologia. Eu pesquisei a respeito e vi que existem tantas formas quanto cartomantes que a utilizam. Portanto, nem tudo que está nessa postagem corresponderá, efetivamente, à visão de outros oraculistas. Complementar, certamente, mas passível de discrepâncias, que a sua experiência com o oráculo será capaz de eximir.
A escolha das imagens eu devo à inspiração da palestra sobre o Arcano XVII, da Pietra di Chiaro Luna na Confraria Brasileira de Tarot e ao texto sobre a Luade Vera Chrystina para a Blogagem Coletiva. Embora sejam disciplinas independentes, em muitos pontos Astrologia e Tarot se tocam. Nem que seja iconograficamente, apenas, se tocam... mas ainda acho que é mais que isso.
Dedico essa postagem a Edy de Lucca, Katharina Dupont e Claudia Mello, do grupo Tarologistas. Obrigado, meninas, pela sugestão do tema.


Astrólogos olham para o Céu.
Geomantes, para o chão.
Cartomantes, para a mesa.




Vamos então ao passo-a-passo:

DEFININDO O PLANO DE JOGO

Defina quantas cartas você usará para cada casa. Com exceção da central, que normalmente possui uma carta só (Maior ou Menor – eu uso um Arcano Maior, como explicarei adiante), existem pessoas que colocam uma carta (só um Arcano Maior ou um Arcano, com o baralho todo misturado), duas cartas (um Arcano Maior e um Menor, embaralhados separadamente) ou, como eu, três cartas (um Arcano Maior e dois Menores; Hadès (Cartas e Destino, Ed 70) indica embaralhar os Menores juntos, e, no meu caso, utilizo um Arcano Maior, uma Carta da Corte e uma Carta Numerada). Cada uma dessas abordagens trará um panorama diferente, mas de forma alguma “errado”. 


A Lua
Tarot Este


Eu gosto de colocar uma carta de cada estrutura porque forma uma “frase completa”: O Arcano da Corte é o sujeito, ou seja, o personagem que surgirá na vida do consulente ou a máscara que ele assumirá frente à situação proposta pela Casa. Deverá ele ser tão astuto e precavido quanto o Valete de Espadas na casa 1? Ou deverá se precaver contra fofocas no ambiente de trabalho, com a mesma carta ocupando a casa 6?
O Arcano Maior é o verbo. Ele indica a ação que movimentará o desenvolvimento do consulente no que concerne aos aspectos da Casa onde sai. E a Carta Numerada é o objeto, direto ou indireto (risos), que complementa o sentido, oferecendo o cenário onde a ação se desenrola/desenrolará.
No começo parece complicado, mas depois de um tempo de prática temos 12 leituras de três cartas, respondendo às questões específicas de cada Casa. “Quem será o consulente durante o tempo da consulta?” Vejamos as três cartas da Casa 1. “Como o consulente se relacionará com seu parceiro?” Vejamos a Casa 7 e por aí vai. Nesse primeiro momento, as Casas são separadas, “cada uma no seu quadrado”, e as cartas são analisadas em função desse limite.

RELACIONANDO-SE COM O CONSULENTE


Estrela.
Lenormand Tarot

Naturalmente, eu tiro a carta diagnóstico e entendo como o jogo transcorrerá. Essa carta, no caso, dialogará diretamente com a carta central da Mandala, então é importante atenção a ela. A Carta Diagnóstico pode, inclusive, relacionar-se com a Casa 1 – o motivo pelo qual o consulente busca o Cartomante dialoga com o estado em que se encontra no momento.
Eu embaralho, após o diagnóstico, as cartas nos três agrupamentos: Maiores, Corte, Numeradas. Espalho as carta frente ao consulente, e peço que o consulente tire, dos Maiores, 13 cartas. Sugiro que você escolha uma palavra chave para cada casa, e diga: “, você está tirando a carta para a Casa 1” ou “, você está tirando a carta que representa sua personalidade”. Repita o mesmo para a Corte, só que com 12 cartas (a Casa central só possuirá o Arcano Maior, conforme dito acima), pedindo a máscara relativa à cada Casa, e depois o mesmo em relação às Numeradas, pedindo a situação na qual a lição do Arcano Maior manifestará a máscara. Completa a mesa, partimos para a análise propriamente dita.

ANALISANDO AS CASAS ASTROLÓGICAS


Sol
Thoth Crowley Harris

Conforme o Clube do Tarô (compilação de Constantino K. Riemma), às Casas se atribuem os seguintes aspectos:

Casa 1: a personalidade e o temperamento; a aparência, a vitalidade e a constituição física. Avó (mãe do pai), irmãos dos amigos. Cabeça e rosto, olhos, ouvido esquerdo, cérebro, músculos, movimento e sangue, aparelho genital masculino. Corresponde ao signo de Áries.    
Casa 2: o dinheiro e os bens adquiridos pelo trabalho; os ganhos e perdas financeiras, a administração. Os pais dos amigos e os amigos da mãe. Pescoço e garganta, língua, laringe e sistema linfático. Touro.
Casa 3: a comunicação, escritos, documentos, estudos, criação intelectual, as pequenas viagens, as trocas e o comércio, os vizinhos. Os irmãos e irmãs, colegas e professores da escola primária, secretários. Ombros, braços e mãos, sistema nervoso e respiratório. Gêmeos.
Casa 4: o lar, o passado, a infância, os bens imobiliários, o domicílio; a hereditariedade, as raízes, a história. A mãe, os bens dos irmãos, primos por parte de pai e sogro. Peito, seios, estômago, órgãos femininos (ovários e útero), cérebro. Câncer.
Casa 5: os amores, a criatividade; as diversões, jogos, ganhos pela sorte, especulações, o vestuário; a educação. Os filhos, os bens da mãe, noiva (o), amantes e os amigos do cônjuge. Coração, costas e ombros, artérias, diafragma e o lado direito do corpo. Leão.
Casa 6: o serviço diário, os colegas, assistentes e subordinados; a saúde, a higiene, a alimentação e as doenças agudas; animais domésticos. Tios e tias maternos, os conselheiros e instrutores. Intestino delgado e plexo solar, músculos e nervos. Virgem.
Casa 7: o casamento, as relações íntimas, sócios e companheiros; os contratos e processos, os conflitos, os concorrentes e os inimigos declarados. O cônjuge, os avós maternos e sobrinhos. Rins, quadris e nádegas, o genital feminino e o baixo ventre. Libra.
Casa 8: sexo, transmutação e morte; as heranças e presentes; psiquismo. Os negócios e finanças do cônjuge ou sócios, os amigos do pai. Sistema reprodutor, sistema urinário e excretor. Escorpião.
Casa 9: os ideais, os estudos superiores, as grandes viagens e o estrangeiro, comércio internacional ou por atacado; a religião, a lei e a filosofia. Cunhados, os netos, professores e colegas de curso superior. Músculos e coxas, fígado, quadris e artérias. Sagitário.
Casa 10: a carreira, a vocação, o prestígio social e profissional, os empreendimentos, as relações com as autoridades. O pai, sogra, primos por parte de mãe; patrão, superiores e patrocinadores. Joelhos e pernas, ossos e pele, dentes e ouvido direito. Capricórnio.
Casa 11: as amizades, as simpatias e proteções, as esperanças, projetos e planos, os lucros dos empreendimentos, os clubes e associações. Genros, noras e os bens do pai. Tornozelos e barriga da perna, cérebro, circulação sangüínea e a energia nervosa. Aquário.
Casa 12: o servir altruísta, a vida religiosa ou mística, os sacrifícios e as provas, as limitações, as práticas veladas, os vícios. Tias e tios paternos, protetores secretos e inimigos ocultos. Pés, sistema linfático e tecido adiposo. Peixes.

Percebam que aqui, à Casa 4 se atribui a mãe e à 10 o pai. Isso não é consenso entre os Astrólogos, e, caso você opte por seguir a Astrologia Medieval que aponta para as características contrárias (pai na 04, mãe na 10), todas as atribuições parentais serão trocadas pelas casas imediatamente opostas. Mas isso é outra história e não afeta diretamente a interpretação das Casas. Eu sempre usei as atribuições mãe na Casa 04/pai na Casa 10 com sucesso.
Conforme disse anteriormente, eu utilizo uma carta central, norteadora das relações entre as Casas. Essa carta, para mim, é sempre um Arcano Maior (existem cartomantes que utilizam Arcanos Menores, como os responsáveis pela Tarô Semestral do Personare), revela a raiz das lições que o consulente viverá no período do jogo.
Um vídeo para entender as Casas na Astrologia:


TEMPORALIZANDO AS PREVISÕES

A Estrela
Vandenborre Bacchus

Terminada essa primeira análise, torna-se necessário temporalizar algumas interpretações. Eneida Duarte Gaspar, em seu Tarô dos Orixás (Pallas) sugere que às Casas 1, 2 e 3 sejam relacionados os temas de um passado distante (distante aqui seria mais ou menos um ano. Pode corresponder a mais tempo, mas que há um ano começou a se tornar incômodo para o consulente). As Casas 4, 5 e 6 ao passado recente (seis a três meses atrás). As Casas 7, 8 e 9 corresponde o presente imediato (variação de um mês para mais ou para menos) e as casas 10, 11 e 12 ao futuro próximo (até um ano). Se seguirem a minha forma de dispor, vocês terão nove cartas para cada um desses momentos, que devem ser relacionadas entre si, sem grande ênfase à divisão por casas. Estamos respondendo a uma questão com nove cartas, não com três grupos de três.
Temporalizados os eventos, voltamos nossos olhares aos meses do ano. A Casa 1 corresponde ao mês em que se joga a Mandala, partindo daí os doze meses seguintes (por isso sugiro esse jogo para aniversariantes – para mapearmos sua Revolução Solar – ou para o Ano Novo, Astrológico ou não). No grupo Tarologistas, em conversa proposta por Claudia Mello, tive um insight: caso o tempo seja menor (e você tenha disponibilidade para fazer isso, risos), divida o tempo da consulta por doze (número de casas) e analise a temporalidade dentro desse resultado. Por exemplo: para um mês (como foi o caso), dividimos trinta, trinta e um ou vinte e oito dias por 12 (número de casas da mandala) e do resultado sabemos quais são as influências dos dias específicos do mês.

ANALISANDO AS OPOSIÇÕES


Sol
Old Path

Na mandala temos seis eixos diametralmente opostos que se relacionam com a carta central – a mais importante, como disse anteriormente. Teríamos, então:
Das relações entre a Casa 01 e a Casa 07 as relações do consulente, como indivíduo, com os outros, em especial o cônjuge.
Das relações entre a Casa 02 e a Casa 08 as relações do consulente com os seus recursos, assim como a relação com os recursos dos outros.
Das relações entre a Casa 03 e a Casa 09 a comunicação, os contatos, as parcerias e viagens.
Das relações entre a Casa 04 e a Casa 10 a vida pessoal, íntima, e a vida pública, assim como o trabalho. Aqui também veríamos a ascendência imediata – pai e mãe.
Das relações entre a Casa 05 e a Casa 11 – o brilho pessoal do consulente versus sua necessidade de pertencimento a grupos.
Das relações entre a Casa 06 e 12 – A saúde, a doença, a rotina e a surpresa.
Aconselho estudar, nesse caso, Astrologia. Embora o Tarot não precise oficialmente da Astrologia para “funcionar”, utilizar a Mandala Astrológica sem entender o básico da Astrologia é um contrassenso que deve ser evitado pelo cartomante sério. É como usar óculos sem armação. A lente é perfeita, mas não encaixa no rosto por falta de base.

ANALISANDO AS TRIPLICIDADES

Em função dos elementos de cada signo regente de cada Casa, agrupamos as casas 1, 5 e 9 (correspondentes a Áries, Leão e Sagitário, respectivamente); 2, 6 e 10 (Touro, Virgem e Capricórnio); 3, 7 e 11 (Gêmeos, Libra e Aquário); e 4, 8 e 12 (Câncer, Escorpião e Peixes), formando os triângulos correspondentes ao Fogo, à Terra, ao Ar e à Água, respectivamente. 

Ao Fogo relacionamos o projetivo, o masculino, o quente, o seco, a iniciativa, a projeção, a maior e melhor ideia de si mesmo que o consulente é capaz de fazer, o brilho pessoal, a autoestima, a independência, os ensinos superiores, as viagens longas, a espiritualidade e a religião. O plano espiritual.

À Água relacionamos o receptivo, o feminino, o úmido, o frio, as emoções, os sonhos, os anseios, os desejos, a família, o sexo, as heranças, os inimigos ocultos, as doenças. O plano emocional.

Ao Ar relacionamos o projetivo, o masculino, o úmido, o quente, as viagens, os estudos, o intelecto, a comunicação, os amigos e inimigos, as relações que não perpassam necessariamente as emoções, a política. O plano mental/social.

À Terra relacionamos o receptivo, o feminino, o seco, o frio. Aqui temos o plano material, as finanças, a saúde, os imóveis, o comércio, a segurança, a praticidade, o cotidiano.

ANALISANDO AS QUADRUPLICIDADES

Às Casas Cardinais, ou Cardeais (1, 4, 7, 10) correspondem todas as iniciativas, inícios, começos, possibilidades, aberturas.
Às Casas Fixas (2, 5, 8, 11) correspondem as manutenções, estabelecimentos, estruturações, permanências, resistências.
Às Casas Mutáveis (3, 6, 9, 12) correspondem todas as modificações, finalizações, encerramentos, cortes e rupturas.

DEFININDO PESSOAS NO JOGO

Estrela
1001 Nights

Essa é a parte “fofoqueira” da Mandala. Aqui, podemos ver praticamente qualquer pessoa que se relacione conosco ou com nosso consulente, sem, no entanto, precisarmos recolher as cartas da mesa e perguntarmos por cada um deles. Eu gosto muito de usar essa técnica para saber se o ano será promissor para os meus entes queridos tanto quanto será para mim. Como a família é grande, o jogo dura horas... tudo de bom.
O importante é lembrarmo-nos que o que Vermos parte da nossa ótica com relação ao indivíduo invocado. Ou seja, não significa que a pessoa envolvida concordará com o consulente quando este expor o que você, como Cartomante, viu a respeito dele. Do ponto de vista do consulente, o ano da pessoa consultada será daquele jeito ou a relação entre o consulente e o consultado refletir-se-á daquela forma.
Dada a dica, vamos às pessoas (estamos tomando por base mãe na casa 04 e pai na casa 10; como disse, se invertermos as posições em função da Astrologia Medieval, temos que mudar toda a estrutura):
Irmãos: Casa 03. Cada irmão mais novo, contam-se três Casas. Cada irmão mais velho, subtraem-se três casas.
Filho: Casa 05. Cada filho depois do mais velho, somam-se mais três Casas (irmão do primeiro).
Namorada (o): Se for sem compromisso, 05. Se for compromisso, 07. 
Sócio: Casa 07.
E por aí vai. As possibilidades são infinitas. Primo do amigo... da Casa 11 (amigos) contamos 4 (pai ou mãe) mais três (irmão do pai ou da mãe) e mais cinco (filho). Ou seja, desde que você consiga fazer a contagem correta, todas as pessoas do seu círculo são passíveis de serem vistas. Todas. Mas nem todos irão convir, senão... Você tá com tempo?
Imaginem. Meu pai tem nove irmãos. Minha mãe, oito. Certa vez me propus a ver todos, incluindo os filhos. Foram boas três ou quatro horas anotando tudo.
Agora eu sou mais comedido, risos.


É isso. Ou não; creio que aqui só abrimos o assunto, sendo que muito mais há para ser dito a respeito. Como disse, essa postagem é um dos possíveis olhares, oriundo de minha própria experiência. Mas, de qualquer forma, já é pano para manga para futuras conversas.
Com o conhecimento conjunto de Astrologia e Tarot, a Mandala torna-se múltipla em interpretações. O contrário não é verdadeiro; para entender o sistema, não basta entender de Astrologia ou de Tarot - é necessário um conhecimento básico, ao menos, das duas disciplinas, para que o traquejo com a Mandala seja adequado.


P.S.: Caso deseje algum tema exposto cá no Conversas Cartomânticas, por gentileza, envie um email para emanueljsantos7@hotmail.com. Terei o maior prazer em conversar com você, nesse espaço. 



Abraços a todos. Até o próximo post.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Fórum Nacional de Tarô - EU FUI... E EU IREI!


Olá pessoal. Essa postagem demorou porque eu precisava de um tempo para sair do estado de êxtase provocado pelo evento. Foi tudo muito intenso, muito poderoso, muito amplo, condensado em menos de 24 horas (Jack Bauer ficaria com inveja).

Hã?


Com o objetivo de compartilhar experiências sobre a atividade do tarólogo, o fórum deseja reunir aqueles que anseiam conhecer melhor os caminhos do tarô em nosso país. O evento contará com renomados profissionais expondo as diversas formas de estudo (cabala, mitologia, simbologia) e de consulta (previsão, orientação, autoconhecimento). Também será abordado durante o evento o atendimento virtual e os cursos online,  bem como as normas criadas pelo Ministério do Trabalho no reconhecimento da classe (CBO 5168-05).

Sentados: AndreKadan, Rogerio Novo e Emanuel.
Da direita para à esquerda: Edy De Lucca, Alexsander Lepletier, 
Pedro Camargo, Nei Naiff, Claudiney Pietro e Valeria De Vilhena Colauto.

(Re)encontrar amigos (velhos e novos, virtuais e presenciais), perspectivas (sabemos que estamos no caminho certo quando encontramos a felicidade nos olhos daqueles que caminham conosco), reformular projetos, reinventar práticas... Sentir falta dos ausentes. Tudo isso ao entrar no auditório e perceber, finalmente, estar em casa. Uma experiência de certa forma já experienciada anteriormente, em outra oitava... Na Confraria Brasileira de Tarot.

Nei Naiff apresenta a introdução à terceira Mesa.
Tema: Tarólogos: direitos e deveres na CBO 5168-05.

Diante da experiência da Academia (lembremo-nos que sou historiador por formação), onde o diálogo é permeado por dilapidações de teorias insolúveis, é fantástico perceber, como pudemos, no evento, que o pensamento pode sim, ter nuances e degradées, sem, no entanto, gerar celeumas. 

Pietra di Chiaro Luna fala. Da direita para a esquerda, temos
Yedda Paranhos, Giancarlo Schmid, Anna Maria Costa Ribeiro e Prem Mangla.

Tivemos a oportunidade de expormos pontos de vista à vista dos pontos de vista dos demais que compunham a mesa, num processo interativo que "tirava os santos dos altares"... ou alçava a todos os cento e vinte presentes às mesmas alturas. Fomos ao encontro do que há de mais preciso, amplo e vivencial dentro da Cartomancia.

Eu, dando meu pitaco na conversa...

Lembremo-nos que, em Cartomancia, seja ela o Tarot, o Petit Lenormand ou as cartas de jogar, a teoria é importante, mas a empiria é fundamental. Precisamos manipular nossas cartas. Precisamos de feedbacks frente à nossa experiência nessa manipulação. E, se os temos na vivência com nossos alunos e clientes, Fóruns como o proposto por Nei Naiff, Giancarlo Schmid, Vera Chrystina e Alexsander Lepletier nos permitem ir além, e encontrar feedbacks na vivência de nossos colegas e irmãos da Arte. Era divertido perceber que não era o único a balançar a cabeça em aprovação e reconhecimento diante da experiência compartilhada dos palestrantes.

Galera reunida num abraço só.

Em nossas conversas, percebemos algo em comum: todos saímos com um desejo de termos conversado mais, vivenciado mais, celebrado mais. Contudo, isso é incentivo para os próximos eventos.

Alexsander, Leonardo Chioda, Raquel Carvalho e eu.

Cavaleiro, o cordial portador de boas novas.
Thanks, Tiago Barros.


E, para além do evento em si, minha eterna gratidão a Rhadra Calache e família (Alexandre, Lalucha e Samia, que fim de semana perfeito!), Tiago Barros, Edy de Lucca, Doraci Reis e Cláudia Mello, pelo carinho, pela presença constante em minha vida e pelo almoço maravilhoso, com carteado (lógico)...
Áquila.
Ás de Águia.
Ás de Ouros.
Thanks, Leo Chioda.

Em foto do Chioda: 
Café... 
...e Tarot...
...e Conversas...
...sempre Cartomânticas.



...a Leonardo Chioda e seu Ás, uma águia que voa num passe de mágica... da manga; a Edy de Lucca, cujo agradecimento apropriado irá em outra blogagem... Aguardem novidades. A Yedda Paranhos e seu olhar perscrutador - sua pergunta ainda ecoa nos meus ouvidos, e me faz acreditar que continuo no caminho certo...


Os braços abertos do Cristo Redentor formam a Cruz... Sem espinhos, pregos, sem sofrimento.
Here comes the Sun. 
Thanks, Doraci.


Pois bem. O Rio de Janeiro continua lindo.

Conversas Cartomânticas: Adash Van Teufel e o Happy Squirrel


Olá pessoal. É realmente engrandecedor, para mim, ver que chegamos tão longe. E se "vê mais claro quem vai longe", creio que todos aqueles que nos acompanharam, vinte e quatro escritores, cento e sessenta e cinco seguidores, todos amantes do Tarot, estão certamente vendo mais ao longe, como eu mesmo.  Nesses meses em que o grupo Tarologistas tem se mostrado efetivamente atuante no Facebook, o quanto eu cresci, o quanto eu acresci às minhas práticas cartomânticas!
Depois de passarmos pelos 22 Arcanos Maiores, cá estamos diante da maior avant garde da pós modernidade no que concerne ao Tarot. Temos diversos baralhos que buscam acrescer Arcanos dentro de sua estrutura pessoal, sem, no entanto, causarem grandes reflexões para além daquelas próprias do seu grupo de estudiosos. Falei um pouquinho sobre isso quando relacionei a carta do Mestre, no Osho Zen Tarot (Pensamento-Cultrix) a esse fenômeno - para mim, Osho se enquadraria no Arcano V e tranquilo, não precisaríamos ir além disso. Até aí tudo bem. O Happy Squirrel, em contrapartida, não partiu de um estudo sistemático dos Arcanos ou da proposta de uma escola iniciática (a não ser que você considere Os Simpsons como uma escola iniciática, risos). E, pelo número de baralhos que o têm incluído entre os Maiores, merece seu lugar na reflexão que propomos aqui. A Tradição foi vista, reflitamos sobre os acréscimos pós modernos também.
E quem se dispôs a enfrentar o desafio foi o tarólogo Adash Van Teufel. Acompanhemos seu raciocínio rascante e divertido - muito adequado a um Arcano (estou realmente me degladiando com esse conceito para referir-me a essa carta) que bagunça o coreto todo, deixando o Louco pensativo sobre seu próprio papel.

Adash Van Teufel, por ele mesmo:

Gosto de pensar na vida como sendo uma tela em branco, disposta a receber a tinta que eu queira depositar nela. 
A técnica usada para pintar representa o caminho a ser trilhado. Os pincéis são as ferramentas que uso e as tintas  uma expressão peculiar das escolhas que tomo.
Enquanto as pinceladas vão compondo paisagens, o traçado e estilo são minha personalidade. E cada composição única se reflete na obra pronta - as conquistas - cuja assinatura final é o reflexo do que aprendi neste processo.
Meu caminho, por natureza, é o do Mago, andando no limiar que separa e une os dois mundos. Meus pincéis são o tarô, a cabala e os florais, que, unidos, traçam o panorama existencial a ser seguido. As tintas são escolhidas à partir da observação conectada à realidade ao meu redor e compõem, para cada caso, uma palheta de cor. Entre o pensar e o sentir, prefiro o sentimento, a percepção e intuição. A espontaneidade é aquilo que traz sentido ao meu estúdio.
Desde 1990 estudo a arte de viver. Sou tarólogo, terapeuta e espiritualista independente. E ainda pretendo pintar muitas outras telas. 
Contato: Através do blog Studio Tarot. 


Você conhece o Esquilo Feliz?

Tudo começou com uma brincadeira no seriado americano Os Simpsons, satirizando o poder das vidências. Eis que no episódio do "Casamento de Lisa", Lisa adentra uma tenda e encontra uma vidente. O diálogo a seguir é tradução livre, do original:

Vidente: Estava te esperando, Lisa.
Lisa (arfando): Como você sabe meu nome?
Vidente: Seu crachá ("Oi, eu sou Lady Lisa"). Você gostaria de saber seu futuro?
Lisa: Eh, desculpe, eu não acredito em adivinhação. Estou saindo.
Vidente: O que te preocupa? Bart, Maggie e Marge estão na competição e Homer está perturbando a mostra de filhotes.
Lisa (arfando): Uau, você consegue ver o... presente.
Vidente: Agora vamos ver o que o futuro carrega. (Ela vira uma carta do que parece ser um baralho de Tarô e aparece a Morte)
Lisa (engolindo seco): A carta da "Morte"?
Vidente: Não, isso é bom: significa transição e mudança.
Lisa (aliviada): Oh.
(A vidente vira outra carta com a imagem de um esquilo)
Lisa: Oh, que fofo.
Vidente (arfando): "O Esquilo Feliz"!
Lisa (acanhada): Isso é ruim?
Vidente: Possivelmente. As cartas são imprecisas e misteriosas.

O curioso acerca da sátira em questão é que a carta do Esquilo Feliz (The Happy Squirrel Card) vem impressa no desenho com o número romano XXIII, sugerindo como se fosse um arcano maior do Tarô. O Tarô possui 22 arcanos maiores e 56 menores, até então nunca houve referência à existência de um 23º arcano. Até então!
Não fosse o fato de ser apenas uma brincadeira, o número 23 tem todo um mistério associado a ele. Segundo a Wikipédia, existe uma certa obsessão com este número em função de estar associado com fatos e incidentes, tornando-se com o passar do tempo uma espécie de lenda urbana.
 O 23 é associado pelo "Princípio da Discórdia" [1] com a Deusa Éris (Salve Éris!). Éris é na Grécia a Deusa da Discórdia, mãe das abominações, tendo parido a fome, a mentira, a pena, o esquecimento, a dor, as disputas, batalhas e matanças, os massacres, ódios, ambiguidades, desordem, ruína, insensatez e ao juramento, este causando problemas ao homem quando perjura voluntariamente.
À parte a mitologia, com Éris não se brinca. Tive a oportunidade de conhecer em 2010 um devoto de Éris em um grupo de estudos de ocultismo em que, cada vez que ele se fazia presente, começava a haver uma discussão caótica e desordenada, aonde todas as pessoas presentes falavam tudo ao mesmo tempo, numa velocidade impossível de acompanhar e por consequência, diálogo e entendimento encerravam-se no caos.
 OK. Mas o que tem em haver Éris com o Happy Squirrel e o diálogo de um episódio dos Simpsons de meados de 1990? Simples, artistas criadores de Tarôs e tarólogos não deixaram por menos a sátira, trollando os Simpsons. Criaram o Arcano 23, a Carta do Esquilo Feliz e esta hoje faz parte de alguns Tarôs, como o Victoria Regina (na versão on-line), International Icon, Touchstone e mesmo o Shadowscapes ganhou sua versão do esquilo.
 Claro que um tarólogo sério retiraria a carta do baralho de Tarô. Afinal, é uma brincadeira, uma homenagem. Mas, eis que o 23 veio para fazer suas peripécias. E as consequências, óh Éris, é que alguns resolveram se aventurar a deixar a carta no baralho em suas tiragens. E agora? Seremos levados ao discordianismos sobre seus possíveis significados? O que signifcaria a carta do esquilo?

Parece que a bênção de ter o adjetivo "Feliz" associado ao nome, fez o esquilo surgir nas tiragens com significados inusitados. Nos fóruns de discussão, como o Aecletic Tarot, associou-se automaticamente a idéia do esquilo com as nozes. No idioma inglês, a palavra nozes é nuts, que é comumente usada como "maluco", com os participantes discutindo alegremente sobre a carta deixá-los malucos!
He's nuts - Ele está doido! Epa! Tropeçamos no Louco? Não pode! O Zero ou o Sem-Número já tem o seu próprio sentido e seria o esquilo aqui um "ladrãozinho" de significado? Óh não, pelo amor de Éris, ladrão é um atributo negativo do Mago! Eu acho melhor irmos por outro caminho pra tentar chegar ao significado do Esquilo Feliz.
Então a melhor forma seria avaliar a carta a partir dela mesma, já que não está no Tarô clássico e nem tem tradição a seu respeito. Vou basear-me na imagem desenhada por Stephanie Pui-Mun Law, em seu Shadowscapes Tarot. No seu melhor estilo fantástico de fadas e anjos, Stephanie desenha a visão surreal da carta "imprecisa e misteriosa", com todo um entorno impreciso e misterioso que circunda uma árvore, onde o Esquilo Feliz olha em direção a uma fenda na árvore, que está cheia de nozes e ao mesmo tempo dos naipes do Tarô. Uma espada, um bastão, uma taça e um disco entre as nozes sugerem que o esquilo os estocou junto ao seu alimento.



A visão da Stephanie sugere um esquilo florestal. Este, na realidade, compreende 122 espécies de esquilos da família Sciuridae, roedores de hábitos diurnos, dividindo-se em 5 subfamílias diferentes e a partir daí existem diversos gêneros. Estes esquilos possuem sentidos bastante apurados e sua anatomia é adaptada à vida nas copas das árvores, local onde buscam segurança e refúgio de predadores terrestres.
Eles descem ao solo somente pra procurar alimento ou buscar aqueles que já tenham armazenado (enterrado na floresta), para isto, estão atentos aos menores ruídos e movimentos, pois esta prevenção lhes é vital. Possuem presas fortíssimas, roendo sementes com facilidade, como pinhão, nozes e coquinhos. Muitas vezes, enterram as sementes que coletam e com isto algumas acabam por germinar. Também se alimentam de frutas e pequenos insetos. Um detalhe interessante e que não passou despercebido por Stephanie é o fato de que aves, especialmente os corvos, podem observar o esquilo enterrar uma semente e, tão logo o esquilo saia, desenterrá-la.
Na sua convivência com humanos, são ditos como animais inteligentes e persistentes. Usam métodos inteligentes para contornar obstáculos e comer de alimentadores de passarinhos. Se treinados como pets, podem ser tão inteligentes quanto cães para aprender truques e comportamentos. Procuram estocar comida para os períodos de privação, portanto eles vão estocar tudo o que estiver disponível. Os que vivem em parques aprenderam que humanos são fontes de comida e se aproximam com facilidade, principalmente atraídos por flautas, harpas, gaitas e sons de gemidos. Porém, se um dia você avistar um, não lhe dê amendoim nem semente de girassol, pois isto pode lhe acarretar doenças.
Seria então a carta do Esquilo Feliz um aviso acerca dos perigos dos corvos que querem roubar aquilo que nós reservamos e guardamos para depois? Ou, como a vidente dos Simpsons, na sua expressão assustada, avisar que é preciso estocar para um grande período de privação que logo vem pela frente? Isto até poderia fazer sentido, afinal, quem guarda tem, diz o velho ditado. E o esquilo é feliz porque estocou alimento, prevenindo-se, e, com seus sentidos aguçados, nos alerta para não nos colocarmos em risco a menos que tenhamos inteligência suficiente e esperteza para nos pormos em segurança caso ocorra uma situação de perigo.
Assim, o Esquilo Feliz aprendeu em todos os arcanos maiores a se precaver e estando no final, em posse dos ases-elementos com seus mantimentos, venceu o 23 de Éris e seus filhos nada sadios que o atacaram, como numa mensagem de que o Tarô nos ensina a vencermos nossos maiores desafios com inteligência e perseverança?
Mas eu acho que não e que isso seria uma grande bobagem. Creio que o espírito do Esquilo Feliz surge como uma brincadeira, apenas para aguçar a curiosidade e de fazer piada com um medo que todos nós, estudantes sérios do Tarô temos. O medo de termos nossa seriedade questionada.
Todo o tarólogo legítimo estuda seriamente a estrutura, o simbolismo e os significados. Informa-se, faz cursos, lê livros, faz leituras para aprender e testar suas interpretações. Alguns se profissionalizam, criam uma identidade e começam a lidar com a visão de seu próprio nome estampado nas propagandas que seus próprios consulentes fazem e para tudo isto é preciso seriedade, pois um passo em falso e toda uma dedicação vai por água abaixo. O esquilo, assim, se torna uma representação da nossa própria fragilidade onde qualquer predador em terra pode, como uma serpente, nos privar do nosso "eu tarólogo" num instante.
Então o Esquilo Feliz é uma forma de lembrarmos do lado lúdico do Tarô. O de ser apenas um maço de cartas. E assim entender que, com excessiva seriedade, nossa própria vida pode se tornar rígida e restritiva, privando a nós mesmos dos prazeres que o adjetivo "feliz" do esquilo vem nos lembrar. Afinal, quando tudo começou, quando sequer sabíamos o que eram as figurinhas enigmáticas do Tarô, o que nos moveu a aprender foi curiosidade, foi dinamismo, foi um interesse vivo que se divertia enquanto descortinava verdades que mais tarde tornaram-se visões.
Predadores existem sim. Se nossa constituição pode parecer frágil, seriam os esquilos (nós), incapazes de lidar com as serpentes? Eu acho que não. E eis o próprio esquilo in nuts mostrando pra nós a que veio. Acesse o vídeo aqui.
Encare este espírito do Esquilo Feliz. E aqui deixo o meu desafio. Vivencie-o em você e no seu Tarô. Olhe-o e colha, em cada um dos outros 22 arcanos maiores, suas sementes. Quais sementes você coletaria? Pense bem, para não tornar sua vida "imprecisa e misteriosa"!

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[1] - Escrito por Gregory Hill e Kerry Thornley, publicado em 1965, é um texto sagrado ao Discordianismo, uma antítese dialética às religiões e estabelece que "todas as coisas acontecem em cinco, ou são divisíveis ou multiplicáveis por cinco, ou estão de certa forma direta ou indiretamente ligadas ao 5." Logo, o 23 resulta em 5 se somarmos seus dígitos e deste modo é atribuído a Éris.