I
[de XII horas vezes dia e noite que o dia tem.]
6:00
Não dormiu. O download não terminou. Internet lenta. Dez mega. Inúteis.
7:00
Celular desperta. Nem olha. Desliga.
Não precisa despertar. Não dormiu.
8:00
Fecha a fresta do black-out. Luz demais distrai.
9:00
Toma o resto de café gelado na caneca. O que é aquilo? Era uma mosca no fundo?
10:00
Maldito download. Não termina.
11:00
Redes sociais. Precisa atualizá-las.
12:00
Instagram. Fotos do quarto. Pontos estratégicos, devidamente preparados para tal. Muitos filtros. Muitos, mesmo.
13:00
Comer. Mas... Não. Melhor não.
14:00
Facebook. Haters gonna hate. Não são inteligentes o suficiente.
O cesto de lixo recende o fedor de excrementos.
15:00
Celular toca. Mãe. Não atende. Não entende.
16:00
Cinco dias. Quem diria, esse jogo está tão bom! É o melhor.
Download talvez não termine por isso.
17:00
Cores se espalham pelo quarto. Não está certo, está escuro.
18:00
Silêncio. Dizem que é a hora do Angelus.
[Epílogo: dias depois, 6:00]
O Sol nascera lindo.
Não viu.
O féretro seguirá para o cemitério municipal as 9:00.