quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Puta!



[I de II]


- Puta! Gritavam em silêncio os transeuntes ao verem-na passar, altiva por fora, destruída e escondida num canto qualquer dali de dentro.
Vadia, vagabunda, puta. Meretriz, rameira, dos ramos do Porto. Vestia vermelho, disfarce e mimetismo de boca e olhos, ora por drogas, ora por chorar por uma droga de vida. Ora sangue, ora sangre. Saliva e lágrima.


[Interlúdio]

Céu plúmbeo, ordenhado em seus relâmpagos por ventos impiedosos. Seria bom banhar-se de água leitosa, disfarce perfeito para mais um soluço. Ou vários. 

Ela via a Lua.




6 comentários:

  1. Que lindo, Emanuel! Veja se entendi bem: a imagem que você colocou com o texto é A Imperatriz, que representa "elegância, distinção, cortesia, riqueza, [...] soluciona os problemas. Renova e melhora as situações". Ela é "altiva por fora". No entanto, você fecha o texto com a personagem que via A Lua, que simboliza "insegurança, medo, os problemas aparentemente não têm solução ou saída". A "puta" sente desilusão e decepção em relação à vida, sente-se destruída e chora. Então, ela deseja a Lua, que me parece estar cheia no momento em que ela passa, porém o céu está cinzento, triste. Assim, ela pode transitar pela penumbra sem ser notada e depreciada pelos transeuntes impiedosos...

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    1. Oi Simone! Esse é o texto da Sacerdotisa, a Imperatriz e Serva da Lua. As mulheres do Tarô se interpenetram, como a água que, misturada a vinho, deixa de ser água, deixa de ser vinho, é algo entre água e vinho.
      Beijos!!!

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    2. Nossa, que erro enorme! Bem se vê que não sou profissional, mas leio pela beleza e particularidade de significados que o Tarô tem, tanto que comprei meu Thoth. De qualquer forma, obrigada por sua forma carinhosa de reportar meu erro. Isso me fez voltar aqui e ler novamente esse texto lindo! Mas de uma coisa eu sei, e senti isso já na primeira vez que li (embora não tenha escrito): essa "puta" parece a Lúcia, a Lucíola de José de Alencar, uma das minhas personagens femininas preferidas! Beijos!!

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    3. É uma delícia e uma vergonha ler seus comentários. Uma delícia por me referenciar textos clássicos para minha leitura e uma vergonha por não tê-los lido ainda! E olha que eu gosto do José de Alencar!

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  2. Vergonha nada! Eu também não li e nem "conheço" um milésimo do que eu gostaria. E eu também aprendo muito com seus textos criativos e inteligentes, seus referenciais e pontos de vista. Vi que você também escreve para o Clube do Tarô, o que me deixou mais contente ainda. Ah, e preciso te agradecer: os textos do seu blog e do Clube foram as únicas coisas que eu consegui ler e comentar depois do meu triste início de ano. Obrigada. Beijos!

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    1. Sinto-me honrado. Que eu possa sempre mais lhe agradar com o que escrevo. Muito obrigado mesmo. São comentários como esse que me motivam a escrever mais.

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Quando um monólogo se torna diálogo...