É curioso perceber os altares daqueles que inter-relacionam religiosidade e cartomancia: a imagem de São Jorge sempre está lá, protegendo, revelando, garantindo o sucesso da consulta e o auxílio daquele que a procura.
Assim como o santo, amado por grande parcela da população, Ogum é um dos Orixás mais queridos e cultuados no Brasil. Guerreiro, abridor de caminhos, senhor do Ferro e da Guerra, é invocado nos momentos em que se sente um entrave, um obstáculo, que deve ser superado a todo custo. Sincretizado com São Jorge na Umbanda e com Santo Antonio no Candomblé, suas cores são, respectivamente, vermelho e branco, azul e amarelo. Além disso, é um companheiro dos Cartomantes que agregam um valor religioso às suas cartas.
No Dragon’s Tarot (LoS - terceira imagem da primeira fileira), São Jorge é a Morte. A relação do homem (consciência) com o Dragão (instinto), aqui, se dá por meio do combate e da vitória da pureza de intenções premeditadas sobre as atitudes intempestivas e animalescas. Em última instância, a Religião vence a Natureza e constitui Sociedade. Uma transformação, um corte, radical, é necessário e bem-vindo para que o processo se concretize – há que se deixar muito para trás.
Carro
Ogum
Tarô dos Orixás: Senhores dos Destinos
Nos Tarôs de inspiração afrobrasileira publicados no Brasil, é associado aos Arcanos IV e VII. Uma das mais belas representações de sua efígie está no Arcano VII do baralho de Eneida Duarte Gaspar. Nela, vemos o Orixá em um carro puxado por bois, com um toldo de pele felina, tendo sua espada em riste e um arco-íris e folhas ladeando seu veículo.
No Tarô dos Orixás editado pela Pensamento (originalmente e até hoje publicado pela Lo Scarabeo - primeira imagem da segunda fileira), sua representação dá-se no Imperador. Ambas as associações estão corretas – Ogum é realizador, concretizador, firme em seu propósito, protetor, irascível, colérico, como o Imperador, assim como, sendo o protetor dos Caminhos, é também responsável pelo progresso, pela evolução, pelo direcionamento e inventividade representados pela Carruagem.
Cavaleiro de Espadas
Ogum
Tarô dos Orixás, Senhores dos Destinos
Essas ideias também são aproveitadas em relação aos Arcanos Menores, já que Ogum é muito bem representado pelos Cavaleiros, em especial os Cavaleiros de Paus e Espadas – yang, projetivos, voláteis porém intensos. Em alguns baralhos, especialmente aqueles produzidos a partir de obras de arte, como o Tarô dos Anjos da Monica Buonfiglio e o Golden Tarot de Kat Black, o Cavaleiro de Paus é o próprio São Jorge. No Tarô dos Orixás de Eneida Duarte Gaspar, o Cavaleiro de Espadas representa Ogum.
No Petit Lenormand, conforme estudado no Brasil – o famigerado baralho ou Tarô Cigano – Ogum relaciona-se com a carta 22, o(s) Caminho(s) (segunda imagem da terceira fileira). Enquanto a interpretação europeia toma essa carta como símbolo de possibilidade, escolha, encaminhamento, a interpretação brasileira, em muito inspirada pela abrangência do Orixá, toma essa carta por direcionamento, rumo de vida, os acontecimentos imediatos. Na primeira acepção, um leque de possibilidades; na segunda, a melhor escolha, independente das opções disponíveis. No Mystical Lenormand (primeira imagem da primeira fileira), vemos a sua efígie correlacionada com a carta 01, o concretizador Cavaleiro.
Mas, atentemos ao detalhe, onde Deus reside com discrição: uma divindade jamais poderá ser contida em um único Arcano do Tarô. Alguns de seus aspectos correlacionam-se, dialogam com a imagem e com o conceito, mas são diálogos e assimilações, não regras fixas. O nosso desafio, enquanto viventes desse processo, é respeitar nosso credo (seja ele qual for, seja presença ou seja ausência), afinal de contas ele funciona, sem, no entanto, perder de vista as dimensões onde religiosidade e cartomancia se tocam... como onde se afastam e não dialogam.
Aparenta ser difícil, a primeira vista, mas não; a religiosidade (ou ausência dela) é o conforto do cartomante e sua garantia de sucesso no momento do ritual; fora dele, tudo são imagens passíveis de diálogo, permanência, memória e esquecimento, sem ônus ou bônus decorrente disso.
Salve São Jorge, para aqueles que creem, para os que não creem, para os que são religiosos e para os que prescindem de religiosidade.
Todos os caminhos que Jorge abre levam a Roma do mesmo jeito.
Sou devota de São jorge, tenho Ogum como meu protetor, mas não conhecia metade do que li aqui.
ResponderExcluirmuito bom,
bjs
Muito obrigado, Mary! Sede sempre bem vinda por aqui.
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