quinta-feira, 19 de abril de 2012

Tarôs Egípcios no Brasil

Mago
Tarô Egípcio (Kier)


Olá pessoal. Eu ganhei, da amada Edy de Lucca, um Tarô Egípcio da Editora Kier. Meu primeiro contato com esse baralho foi em 2004, quando, na ausência de um dos meus baralhos à mão, uma amiga, a Barbara, ofereceu o seu para que eu jogasse para ela. Naquela época, eu acreditava que cada baralho possuía seu dono e que não poderíamos utilizar o baralho de outro cartomante. O grau de precisão do oráculo me levou a rever meus conceitos. Evidentemente, não emprestaria ou permitiria que qualquer um tocasse em um de meus baralhos, assim como não aceitaria jogar com qualquer baralho; mas, conforme percebi, a confiança entre os participantes é fator preponderante ao baralho utilizado. 

Por volta de 2006, conheci a obra de Patricia Fernandes, Desvendando o tarô: estudo comparado do Tarô e do Baralho Cigano (Pallas). Essa obra, muito completa, também possuía as referências ao Tarô Egípcio da Kier. Por ser comparativo, levava-me a pensar naquelas descrições, naquela iconografia e da relação com a prática do Marselha.
Reencontrei-me com esse oráculo ano passado. Agora sim, com o baralho, com o veículo de tais visões (Obrigado, Edy!). Mas, viajar por suas lâminas, indo à raiz da construção de seus axiomas, não seria tão simples. Em essência, estaria eu com um baralho de Tarô, e, como tal, jogaria da mesma forma que jogo qualquer outro baralho. Mas não; os significados básicos são os mesmos, já que é um baralho de Tarô; mas, mergulhar em sua iconografia e axiomas leva-nos a viagens diferentes, específicas. Cada baralho é um universo, mesmo. Ou talvez um inter-universo nesse Universo que é o Tarô.




Nesse baralho, temos áreas específicas da carta correspondendo a informações complementares em relação ao conceito da lâmina. Em outras palavras: a carta é fragmentada em pedacinhos que se unem como em um quebra-cabeça para formar o conceito e a previsão.

Sol
Kier
Em relação aos Arcanos Maiores, a parte central da lâmina corresponde aos desenhos que conhecemos, com as devidas adaptações para assemelharem-se à arte egípcia. Associada à parte superior, gera o conceito atributivo do Arcano. O axioma se obtém pelo signo zodiacal e planetário inscritos na parte inferior, correlacionando com o número e com a letra hebraica correspondente.

Purificação
Kier

Já em relação aos Arcanos Menores, as cartas são divididas em três partes, correspondentes aos Planos Espiritual, Mental e Físico. A parte superior possui uma letra hebraica, uma egípcia, um signo místico e os atributos de uma deidade. Na parte mediana, temos uma interpretação iconográfica dos conceitos representados pela parte inferior, onde estão o título, os símbolos místicos, astrais, alfabéticos e cabalísticos.
Percebo que nós, cartomantes, estamos ficando (mal) acostumados a desvincular o baralho do ritual. Se o excesso de zelo com a ritualística é questionável, a ausência dela também é. Cartomancia é manipulação de energia, não deveríamos nos esquecer disso. E, devido a isso, eu demorei um pouquinho para me entregar ao Tarô Egípcio – ele possui um ritual específico de consagração, que, se eu pretendia aceitar o oráculo como meu, convinha respeitar. Além disso, ele possui uma literatura específica, também – o livro A Cabala da Predición, de Francisco Iglesias Janeiro. Constantino K. Rienma traduziu e compilou o conteúdo para o Clube do Tarô (confira aqui e aqui). Falando nisso, este Tarô foi inicialmente elaborado para ilustrar o livro, e não para ser um oráculo... Para conhecer melhor a história desse baralho, sugiro a leitura do excelente texto de Eduardo Escalante, aqui
Algumas edições do baralho foram produzidas no Brasil. As versões que conheci – não possuo outra que não a da Kier – são monocromáticas, em fundo dourado, como a da Pallas. Não conheço edições que respeitem as cores da edição da Kier.
Falando nisso, as cores são um capítulo à parte. Rosa e laranja substituem o vermelho; o fundo é dourado. Azuis dividem espaço com violetas. Hachuras dão origem a texturas específicas, que contextualizam os cenários. 

O Não-Iniciado
Tarô Egípcio de Bernd A. Mertz


Outros baralhos inspirados na iconografia egípcia foram editados por aqui. Um dos meus favoritos é o baralho de Bernd A. Mertz, em preto, branco e dourado editado pela Editora Pensamento. São 22 Arcanos Maiores apenas, e a numeração das cartas acompanha o número de flores de lótus visíveis na imagem.


O Sol
Tarô do Antigo Egito


A Pensamento editou outro livro, o Tarô do Antigo Egito, este com os setenta e oito Arcanos para serem destacados do final do livro.




É interessante ressaltar que, em relação às cartas da Corte, os signos de Ar correspondem a Ouros e os de Terra a Espadas.


Não seria possível terminar esse texto sem citar o primeiro baralho editado no Brasil, o Tarô Adivinhatório. Esse baralho, cuja primeira edição foi produzida em 1949 e permaneceu sendo a única por alguns anos, possui como referência a obra de Papus, cujo Tarô é também de iconografia egípcia. Ou seja, o primeiro baralho editado no Brasil foi um Tarô Egípcio – melhor dizendo, de iconografia egípcia. Esse baralho merece um estudo especial e específico de nossa parte. 
Ainda hoje a iconografia egípcia nos atrai e nos envolve. Sabemos que o Tarô não veio do Egito Antigo, mas isso não nos impede de sonharmos com as areias de um deserto de noites frias e dias dourados como a pele de seus habitantes.
Não podemos falar dos Tarôs Egípcios sem falarmos do trabalho de Nelise Carbonare. Precursora deste baralho no Brasil, podemos conhecer seu trabalho no site TarotDoor (www.tarotdoor.com) onde cada lâmina é devidamente analisada em seus símbolos específicos assim como em suas relações como as demais cartas. Nelise publicou um texto sobre o Tarô Kier no Clube do Tarô e participou da Blogagem Coletiva, escrevendo sobre a Sacerdotisa. Confira aqui. Existe, também no Clube do Tarô, uma excelente linha cronológica com os baralhos egípcios. Confira aqui
Caso se interesse por essas obras, é possível adquiri-las pela Editora Pensamento. Em relação aos importados, confira o site da Priscilla Lhacer, Amor, o Próprio.

Referências Bibliográficas

ANÁDARA. Tarô egípcio. Visualização disponível no Google Books.
DOANE, Doris Chase & KEYES, King. O Tarô do Antigo Egito: simbolismo mágico e chaves para sua interpretação. 3 ed. São Paulo: Pensamento, 1995.
FERNANDES, Patricia. Desvendando o Tarô: estudo comparado dos tarôs e do baralho cigano. 3 ed. Rio de Janeiro: Pallas, 2003.
MERTZ, Bernd A. Tarô egípcio: caminho de iniciação. 5 ed. São Paulo: Pensamento, 2005.
Tarô adivinhatório. São Paulo: Pensamento, 2006.
Tarots egipcios: Baseados en el Simbolismo, Mitología y Leyendas Egipcias. Buenos Aires: Kier, 2001.
"Os fundametos do Tarô Kier" in Revista PLANETA. Edição 359, ano 30, n. 8, de agosto de 2002, p. 32-39.

7 comentários:

  1. Olá Mineirinho, não conheço nada de Tarô, mas gostei muito do seu post. Agora conheço um pouquinho. ;))

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    1. Oi Edilma, seja sempre bem vinda por aqui. Temos muito assunto ainda :)

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  2. Olá Emanuel, muito interessante esse texto, bem detalhado e completo. Sempre me interessei pelo tarot,é uma verdadeira fonte de sabedoria, auto conhecimento, meditação e que muito nos orienta. Tenho uma amiga que sempre diz que o tarot é para quem possui olhos para ver e ouvidos para escutar. Adorei o texto. Bjos

    Josy

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    1. Oi Josy, tudo bem? Que bom que gostou. Muito mais há para ser dito sobre; os baralhos egípcios correspondem a toda uma fase do desenvolvimento do estudo do oráculo por aqui, e merecem toda a atenção.
      Tarô é assim mesmo. Olhos, ouvidos e sentidos aguçados.
      Passeie sempre por aqui, seja sempre bem vinda.

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    2. Obrigada Emanuel, voltarei sempre sim. Bjos. Ótimo final de semana

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  3. Oi, meu lindo! Eu que tenho que agradecer a você pelas dicas, orientações e observações...sinto a tua falta. Besteira minha, você sempre morou no meu coração, lembra?! muitos beijos

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    1. De fato, não consigo imaginar um período antes de morar no seu coração. Muito obrigado por isso.
      Breve breve, reveremo-nos pessoalmente. Um beijo.

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