quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Blogagem Coletiva: Magia & Tarot: Direcionando a rota. Escolhendo um destino.

Olá pessoal. A Pietra e a Luciana propuseram um tema que muito me apraz. Sempre gostei da ideia de usar minhas cartas para além da divinação. Já falamos sobre isso, aqui e aqui. Bora falarmos agora da metodologia que envolve a magia cartomântica.


"Nas tantas situações que a vida oferece, algumas são muito felizes. Outras, mais angustiantes. Para celebrar ou para tentar resolver, tirar tarot é uma forma concreta de fazer alguma coisa a respeito. Porém é sabido que as cartas são marcas humanas e que, entre outras coisas, demonstram sucesso, alegria, prosperidade, paz. Qual é o seu desejo? Acredita que usar o tarot de forma intencional e não apenas oracular - ou tudo junto e misturado - resulta nas transformações mágicas/sincrônicas da vida?"

Só com essa imagem a postagem já seria plenamente justificada.
Desejo, um dos Sete Perpétuos, da HQ Sandman.

Somos seres capazes de desejar. Talvez seja essa nossa maior capacidade frente aos demais animais. Somos animais providos e movidos por desejos. Não nos contentamos com pouco. Vamos, a maior parte das vezes, em oposto ao Zen, em direção ao nosso próprio nez.
Quando, contudo, nos damos conta de nossa natureza luminosombria, estamos diante de um manancial de possibilidades em chiaroscuro. Há quem chame isso de autoconhecimento. Outros, de magia.




Todos os caminhos levam a Roma, principalmente para quem tem boca e sabe usá-la. Alguns caminhos são passivos, como a força propulsora que nos leva para fora de um vagão do metrô em horário de pico. É só seguir o fluxo e já estamos onde o fluxo quiser que fiquemos. Na maior parte das vezes, esse é o caminho mais fácil, deixar o fluxo guiar os passos.
Mas nem sempre o fluxo nos leva para a estação que desejamos. E, nessas horas, calcamos nossos pés e firmamos o corpo para dizer “aqui, não”. E nossa vontade, se for forte, mantém-nos seguros do fluxo. Até o momento em que seguir o fluxo seja pertinente.


Em contrapartida, podemos não encontrar fluxo no sentido que desejamos. O vagão pode estar vazio. Podemos estar com sono. E aí, perder a estação é tão fácil quanto se estivéssemos sendo empurrados por todos os lados. Manter-se alerta é fundamental para salvaguardar o destino que desejamos. 
É aí que entra a vontade de se escolher a própria rota. Ou, em uma única palavra, Magia.


A metáfora que proponho poderia ser traduzida assim: o caminho traçado pelo metrô é o que costumeiramente chamamos “destino”. É algo pré-determinado pelas nossas ações pregressas. Nós entramos no vagão. Poderíamos chamar isso de karma, se a palavra não estivesse tão desgastada pelo mau uso.
 As pessoas e o fluxo que seguem são todas as influências que sofremos a todo o tempo. Nossa herança familiar, nossos amigos, nossos conhecidos. Suas opiniões, desejos, informações... Podemos seguir, ou não, o fluxo que elas apontam.
Por último, nós mesmos... e todas as escolhas que nortearam a nossa estadia em determinado vagão, em determinado momento, com determinada rota preestabelecida.

Mapa do metrô de São Paulo. 
Na prática é bem mais fácil.

Podemos apreender o caminho enquanto o trilhamos, fazendo novas escolhas à medida em que elas forem necessárias. Mas para quem quiser encurtar caminhos e facilitar rotas... Existem mapas. E escolhas podem ser feitas premeditadamente, evitando desvios e imprevistos.
Aos mapas, damos o nome de baralho. E as rotas, rituais.
A própria divinação já é um ato de magia. Ninguém se iluda quanto a isso. Descobrir a rota que será percorrida até determinado destino já é, per se, uma possibilidade de fazer escolhas corretas. Mas, e quando a rota não nos agrada?
Podemos ritualizar a rota que desejamos, alterando o rumo dos nossos próprios passos.


Esse ritualizar tem três níveis, representados pelas três estruturas que formam um baralho de Tarô: podemos fazer uma baldeação, alterando radicalmente a rota mas encontrando o nosso caminho bem mais rápida e facilmente. Esse nível é feito com os Arcanos Maiores. Podemos também encontrar um guia, um parceiro de caminhada; esse nível é representado pelas Cartas da Corte. Ou podemos gerar uma situação favorável (uma carona, por vezes, é muito bem vinda): aí estamos no nível das Cartas Numeradas
Perceba que só no primeiro nível você está por sua conta. No segundo e terceiros, depende das atitudes e disponibilidade de outrem para ser auxiliado, por ressonância e partilha, ou de situações favoráveis que não necessariamente foram planejadas. Portanto, comecemos pelos Arcanos Maiores. Eles nos concedem maior responsabilidade pelos efeitos, o que também nos garante maior segurança.
Monte um altar, se quiser. Ou apenas separe a(s) carta(s) correspondente ao seu intento. Lembre-se que cada Arcano Maior corresponde a um universo de possibilidades. Então, é bom saber exatamente o que se deseja. Um pedido bem feito à Torre é mais benéfico que um mal elaborado ao Sol, já aviso de antemão.
Olhe a carta. Entenda sua escolha. Entenda o caminho que quer trilhar. Manifeste claramente o motivo pelo qual aquele Arcano representa seu intento. Afirme em voz alta, ou queime um papel branco virgem com seu pedido escrito à lápis. Lembre-se, você acabou de comprar seu bilhete para uma rota de metrô que te levará exatamente aonde você pediu.


Se funciona? Não sei. Sei por mim, para mim funciona. Teste e tire suas próprias conclusões. Creio que, como eu, você descobrirá que o baralho é muito mais que setenta e oito imagens impressas em papel passíveis de analisar o porvir. E olha que isso já é absurdamente fascinante! Mas definitivamente não esgota seu uso. 
Abraços a todos, vejamo-nos no próximo post... ou na próxima estação do metrô.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Quando a Sombra se faz presente. Ou: A Carta Testemunha, só que ao contrário.

Sombras na parede, e parece-nos serem animais...

Espadas. Esse naipe, que possui a foice de Chronos e a espada de Ares em seus aspectos mitológicos e astrológicos, me assusta(va!) um bocado. O Grande e o Pequeno Maléficos, juntos? Perae. Deixa eu tomar uma talagada de coragem, primeiro. Claro que é só um naipe, como os outros três que compõem o quarteto. Mas, da mesma forma como Copas é desejado, Espadas é execrado. Herança de uma cartomancia onde o preto se opunha ao vermelho como o mal ao bem. Maniqueísmos à parte, sobraram alguns preconceitos que, perpetrados pela literatura, afastam esse naipe da minha lista de desejos. O que, por outro lado, não deixa de ter um pouquinho de razão. Onde há fumaça, há fogo – mesmo que a origem do fogo seja outra além da que supúnhamos quando víamos a nuvem de fumo.


Por esses tempos, ainda, estava eu a ler O Lado Sombrio dos Buscadores da Luz (Cultrix). Esse livro é bem bacana. Juro (como se precisasse jurar) que mais de uma vez fechei o livro por falta de coragem para continuar. Cadê meu copo com minha talagada de coragem, mesmo?
A autora, Debbie Ford, fala-nos do processo de integração da Sombra. Conforme a Wikipedia
Sombra, em psicologia analítica, refere-se ao arquétipo que é o nosso ego mais sombrio. É, por assim dizer, a parte animalesca da personalidade humana. Para Carl Gustav Jung, esse arquétipo foi herdado das formas inferiores de vida através da longa evolução que levou ao ser humano. A sombra contém todas aquelas atividades e desejos que podem ser considerados imorais e violentos, aqueles que a sociedade, e até nós mesmos, não podemos aceitar. Ela nos leva a nos comportarmos de uma forma que normalmente não nos permitiríamos. E, quando isso ocorre, geralmente insistimos em afirmar que fomos acometidos por algo que estava além do nosso controle. Esse "algo" é a sombra, a parte primitiva da natureza do homem. Mas a sombra exerce também um outro papel, possui um aspecto positivo, uma vez que é responsável pela espontaneidade, pela criatividade, pelo insight e pela emoção profunda, características necessárias ao pleno desenvolvimento humano. Devemos tornar a nossa sombra mais clara possível.Procurando um trabalho partindo do interior para o exterior. A sombra é freqüentemente projetada em outra pessoa, que aparece ao indivíduo como negativa.

Ler esse livro é um desafio. Você acredita mesmo que se conhece e, pior, você é tão bondoso, honesto, justo, honrado, verdadeiro e equânime quanto se julga ser? Baseado em que embasa essa resposta?

A manifestação dos seus sonhos começa com a difícil tarefa de descobrir o que eles verdadeiramente são. Enquanto somos crianças, seguimos as pegadas de nossos pais e professores. Aceitamos sua orientação e seu discernimento para nos guiar nas tarefas escolares; eles influenciam nossa escolha com relação a esportes, passatempos e outras atividades que ocupam nosso tempo livre. Quando ficamos adultos, escolhemos a carreira e os colegas baseados nos ideais estabelecidos pelos mais velhos.

Mas em que ponto paramos de ouvir essas vozes externas e entramos em sintonia com nossos guias interiores? Em que momento decidimos que talvez o caminho que estamos trilhando não seja, de fato, o nosso?

Seria essa a razão que nos leva a sentir que falta algo na nossa vida?

Esse é o tipo de pergunta que mais tememos, porque exige de nós uma segunda avaliação do que temos pensado até agora. Alguma vez você já questionou sua crença em Deus? Para alguns, questionar a doutrina sagrada é um pecado mortal; mas, se não desafiarmos nossas crenças mais básicas, não cresceremos espiritualmente. Nossa vida correrá simplesmente ao longo das linhas estabelecidas pelos nossos pais, e não passaremos jamais dos limites que eles estabeleceram para nós quando éramos crianças.
Debbie Ford

Ok. Enquanto lia, o Leo Chioda postou um texto instigante, causador de reflexões por noites a fio. Lá fui eu caçar minha Nemesis, e, por contraponto inevitável, visitar minha Temis. A Giane Portal fez um comentário nessa postagem, que foi mais que incentivador: “Emanuel, no universo binário em que vivemos, quanto maior a Luz, maior a Sombra. É fato.” Bora atrás da Sombra, então. Por contraponto ao tamanho da Sombra, é inevitável encontrar a Luz que a projeta – assim como o corpo que lhe dá forma.
Já estava complicado, mas poderia complicar mais. Claro. O Pablo de Assis nos diz: 
O complicado é percebermos a Sombra. Como toda boa sombra, ela sempre fica atrás de nós (se estamos olhando para a fonte de Luz) e dificilmente vemos ela chegando. Também, se está escuro, não vemos a sombra. E geralmente só percebemos a Sombra porque ela está projetada em algo.

Projeção aqui é o conceito chave pra compreender tudo isso. Basicamente, tudo o que nos é inconsciente (e a Sombra se inclui nisso, por motívos óbvios) só nos é percebido quando é projetado. E o que isso quer dizer? Basicamente que quando eu olho para algo e eu reconheço que isso é diferente de mim, eu estou projetando nela a minha sombra; principalmente se além de reconhecer a diferença eu coloco repulsa ou algo que me separe ainda mais disso.

Como a Sombra reune tudo o que reconheço (inconscientemente, a princípio) como sendo não-Eu, basicamente tudo o que vejo como não-eu no mundo se torna projeção da minha sombra. Em outras palavras, quando eu vejo isso, eu estou vendo no outro o que reconheço como sendo não-eu em mim mesmo.

O mecanismo pode parecer um pouco complicado, mas basicamente funciona assim: como não reconheço determinada característica em mim, então eu reprimo isso, que fica inconsciente. Mas isso não fica esquecido, mas sim jogado no mundo, no outro, que é visto como portando isso que não reconheço em mim, que é minha sombra. Eu posso conscientizar isso, mas não internalizo como sendo eu.
E é aí que o livro da Debbie Ford vai no osso da questão e no meio do músculo cardíaco do leitor. Nós somos absolutamente tudo em potencial. Não manifestamos tudo, mas somos. Somos potencialmente assassinos, ladrões, estupradores, dependentes químicos, mentirosos, traidores, maledicentes, fofoqueiros, racistas, misógenos, e por aí vai. Completa a lista com o que você execra, lembrando que o que você execra, você também é. Em potencial, mas é.
E desse cruzamento do que é a Sombra com o que é a Sombra na Cartomancia, lá fui eu caçar minhas cartas. Eu gosto de todos os Cavaleiros, poderia escolher um como Testemunha, mas não. Conforme disse o Leo, poderia escolher qualquer carta que representasse aquilo que de fato eu considerasse precioso. Dentro desse panorama, não poderia ser outra senão a Rainha de Paus.

Rainha de Paus
Marseille Grimauld

A Rainha de Paus é fidelidade a si mesmo. Sempre. Ela está para além dos ditames sociais – esses ficam lá em Espadas, por conveniência, sem trocadilho. A Rainha de Paus gosta, e porque gosta, gosta e só. O inverso é verdadeiro: ela não gosta, e, por não gostar, não gosta. Ponto. É uma figura que não só sabe fazer escolhas, como tem certeza de estar no caminho certo. O calor representado pela união do Fogo do naipe à estirpe úmida e fria de sua Realeza dá-lhe uma calidez que não é inocente ou pueril. Ela é arco-íris e relâmpago, como diz Veet Pramad.

Valete de Espadas
Marseille Grimauld

Ok. E qual seria a carta Sombra, senão o famigerado Pajem de Espadas? Não vou negar não. Êta carta encardida. Oposta ipisis litteris à Rainha – se esta é Fogo e Água, o Pajem é Ar e Terra. O calor após uma inesperada chuva de verão, aquele cheiro cálido de ar lavado e aromatizado com a terra úmida dá lugar à poluição de um dia seco. Poeira. Sufocamento. Dor de cabeça e sangramento nasal. Já falamos bastante dessa carta por aqui... Dá uma olhada aqui e aqui, em especial.

A maledicência do Valete de Espadas, a maior parte das vezes,
oculta um profundo sentimento de inadequação e um desejo de
ser aceito. Fofoca é confundida com intimidade, intriga com partilha,
ofensa aos outros com afirmação da própria natureza,
 grosseria e parcialidade com sinceridade.
Compaixão para gente assim. É só o que dá para ter.

Mas, perae, de novo. Evidentemente, eu sou tendencioso na interpretação da Rainha de Paus, porque realmente amo a ideia passada pela interpretação dessa carta à luz da personagem Penélope, no Tarô Mitológico. Por que eu não seria também tendencioso na minha relação com o Valete de Espadas? Não existem maniqueísmos no Tarô. Maniqueísmos são desenvolvidos por pessoas, não por cartas - embora quem manipule as cartas sejam pessoas. Curiosamente, nesse mesmo baralho, o Valete de Espadas é a única carta da Corte que não é representada por um herói, mas sim por um deus - Zephiro. E esse nome, aqui no Brasil, é um catecismo. Mas não daqueles que se apreende na igreja aos domingos.
Se eu descobri a Sombra, descobri também que naipe de experiências ela estaria atraindo para mim. Resta-me descobrir que tesouro ela reserva. Nesse caso, o que de positivo e luminoso existe no Valete de Espadas. Foram dias a fio pensando nessa carta, vivendo seus aspectos naturais (e desagradáveis). Eu não gostava dele, não sem motivo. Mas, superando sua característica primeva, primitiva, primordial e essencial, sobra-nos características muito belas para viver. A lição dele é chatinha, mas necessária.
Se essa carta fosse um conto, seria William Wilson. Poe. Will I am will son. Isso já me afastaria quilômetros dela. Autocrítica é uma característica a ser desenvolvida, não imposta por outrem (ainda que esse outro seja um duplo seu) - porque senão, não seria autocrítica, mas crítica embrulhada em uma transferência emocional louca. Pensando mais um pouco, há algo de Cisne Negro aqui também (confira a trilogia Caleidoscópio Cartomântico aqui: parte 1, parte 2, parte 3).
Mas não só. Há outro capaz de vestir a máscara do Valete de Espadas, também. E esse eu admiro sobremaneira.


Parece estranho, mas é fato. A habilidade que ele possui em escarafunchar os mais diferentes casos de uma forma absurdamente lógica passa por uma característica única nessa carta da Corte: critério. O Valete de Espadas é o mais criterioso entre as cartas da Corte. Suas intenções podem não ser das melhores (e raramente são), mas seu método é louvável. Ele junta pontos, soma ideias, imagens, informações, correlaciona tudo e... o resultado é idêntico ao seu caráter. Se essa carta se manifestar de forma bela, belo é o resultado e a chegada de suas informações. Caso contrário, temos um Kingslayer a postos para liberar seu veneno e chicotear com sua língua.
Pensando bem, nem sempre o resultado é idêntico ao caráter do Valete. Por vezes, o que menos importa é o seu caráter, e sim o que ele faz. O nosso Holmes contemporâneo que o diga.

O caráter do Dr. House não é lá aquelas coisas. Ele tem uma série de limites nesse sentido. Um misantropo cuidando dos mesmos seres que repele por opção. Um anti-herói por natureza que, por essa mesma natureza, é capaz de atos heroicos. Não há o que questionar quanto aos resultados. A questão são os métodos. Mas que ele é brilhante, ele é.

Não foi fácil chegar a essa conclusão sobre a luminosidade do Valete de Espadas. Aceitar que eu tenho potencial para realizar qualquer coisa que eu execre, também não. Mas quem disse que é fácil caçar aspectos encardidos em nós mesmos e entendê-los? A Sombra só é bela quando ela é compreendida, aceita e integrada plenamente. Hoje eu entendo que todas as características que eu não admiro no Valete também estão em mim, mas eu opto por não manifestá-las. Eu escolho por isso. 
Acho que, se eu não gostava dele, não era por ele, per se; era só pelo que ele é capaz de fazer. Ms existe uma forma muito fácil de resolver o problema com o Valete de Espadas. Quando ele se mostra vítima, quando ele se mostra interessado em dizer o que andam dizendo por aí, quando ele fala mal de alguém, conhecido ou desconhecido para você... Use as três peneiras. E siga sua vida. 


Abraços a todos, integremos nossas Sombras e cacemos novos desafios. O inferno somos nós... O Paraíso também.

P.S.: Para aqueles que desejarem ir à fundo nessa ideia, sugiro veementemente que leiam o livro da Debbie Ford, O lado sombrio dos buscadores da luz (Cultrix). Há um outro, que ainda não li, chamado O Efeito Sombra, escrito pela Debbie Ford, Deepak Chopra e Marianne Williamson. Aqui embaixo segue o trailer.




Ah, em tempo: segue aqui um teste organizado pela VEJA para reconhecer alguns aspectos da Sombra. Não é um fim em si, é um começo. E o Ricardo Pereira produziu para o Clube do Tarô um texto precioso sobre a relação das cartas invertidas com os aspectos sombrios dos Arcanos, aqui.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Conversas Cartomânticas: Prem Mangla e o Valete de Espadas



E eu não gosto do Valete de Espadas. #prontofalei. Pelo menos, não gostava.

Laurence Fishbourne como Othelo e Kenneth Branagh como Iago, 

Essa é uma carta tradicionalmente relacionada à intriga, à fofoca, à maledicência e ao ciúme. O melhor personagem para representá-la é o shakesperiano Iago, da tragédia Othelo, o Mouro de Veneza. Faz de amiguinho, por inveja, e destroi sua vida e caminhos. Nem todos nós somos inocentes para sermos convencidos por alguém assim; mas, se o formos, é tragédia na certa.

Valete de Nuvens
Mente
Osho Zen

E, por essas e outras, foi uma das cartas mais difíceis até então de eu encontrar alguém para escrever - evidentemente, eu não quereria experienciar a ideia de falsidade e inveja dessa carta (alguém se voluntaria?)
Ter, porém, lido o texto da Prem Mangla me abriu os olhos para outras possibilidades. Ela tem seu lado belo, para além da sombra que eu via (engraçado notar que essa sombra tinha muito de Sombra, conforme veremos em breve). Sejamos, portanto, guiados nessa carta com a doçura própria da autora.
Mas não nos enganemos: essa carta é furiosa, e danosa a quem a encontra com inocência: ninguém quer ser um Valete de Espadas, ninguém quer se encontrar com um Valete de Espadas. E bem sabemos o que a Fada Madrinha Má fez por se achar preterida...
Contato com a autora em seu blog.

Pagem de Espadas
Witches (007)

Quando se vê a imagem de um jovem embainhando uma  espada, a primeira impressão é de alguém pronto para a luta não é mesmo? Porem a pergunta é: Quanto tempo ele levou para chegar até ali? Será que esta pronto mesmo? Que tática usará? Vindo de um jovem, podemos esperar muitas coisas, pois obedecer a um impulso ou saciar uma curiosidade não significa estar pronto, e o resultado nem sempre é positivo.

Valete de Espadas
Waite-Smith

Quando se é jovem a primeira tendência é obedecer aos nossos impulsos que não são necessariamente os mais corretos, porque estão sob influencia emocional  e as emoções de um adolescente são uma incógnita para o mais estudioso dos terapeutas. O que os leva a salvar o mundo e torná-lo bem melhor?  O que os leva a andar com os amigos e falar o mesmo idioma e se compreenderem? Não importa em que condições familiares eles crescem, adolescer é um processo grupal onde existem diferenças de idéias entre eles e seus pais ou responsáveis. 

Valete de Espadas
Universal-Angelis

Assim é o Valete de Espadas, jovem, antenado no seu mundo e nos seus interesses, por vezes se tornando um Dom Quixote querendo salvar sua Dulcineia, por outras um  Samurai, um guerreiro disputando sua honra e seu território e em outras, um lutador de Esgrima que esta absolutamente centrado em seus objetivos. Tudo para se tornar um Rei Artur diante de seu fieis cavaleiros (amigos). Atos heroicos exigem estratégias e pensamentos aguçados que tornam os feitos na base da tentativa e erro em resultados nem sempre  positivos, a experiência e o tempo transformam o mais passional dos guerreiros.

Valete de Espadas
Lenormand Tarot

Ao longo da história e do tempo podemos ver muitos Valetes de Espadas, e em nossas vidas pessoais também, muitos momentos de nossa jornada pessoal nos tornamos o Valete de Espadas. O mais famoso é o vestibulando, já observou um vestibulando em véspera de prova da faculdade escolhida? Durante o ano inteiro ele respira estudo, recebe as maiores pressões internas e externas, cobradíssimo por um resultado perfeito, já não bastava que no ano anterior lhe pedissem uma decisão da escolha de sua carreira profissional para o resto de sua vida, nossa que peso!  ; Isso é uma batalha não e mesmo? Existem os que param as festas e mergulham nos estudos e existem os que levam a vida da melhor maneira possível, apenas quando sair a lista dos aprovados, saberemos  qual a melhor estratégia. 

Valete de Espadas
Marseille Dusserre-Marteau

De um modo geral o nosso Valete em questão esta inserido na nossa rotina de vida, não importa a faixa etária, representa nossas intenções diante de uma situação, por isso atenção ao lado da lamina da sua espada, de um lado usa a inteligência e batalha por seus objetivos usando táticas super honestas , dando um passo de cada vez, para atingir suas metas.  Porém sua astúcia pode ser usada também para enganar e ludibriar, manipulando quem quer que seja até que seus objetivos sejam atingidos. É a famosa faca de dois gumes. Um lado apara as arestas da vida e encontra ajuda, o outro lado fere e muito a si e aos que o cercam, deixando rastros por onde passa. 

Valete de Espadas
Dame Fortune's Wheel

E então de que lado você usa sua espada?


Nota do editor: Em alguns baralhos, como o Lo Scarabeo, os Pajens são substituídos pelas Princesas. Existem diversas possibilidades de análise dessa perspectiva; porém, em última instância, aplica-se tanto às Princesas quanto aos Pajens os mesmos significados propostos.

Em tempo: existem dois romances, um policial e uma prosa, e uma HQ (!) que evocam essa carta. E atenção, beberrões: tem uma bebida, também. :)
Valete de Espadas, um mundo para além da fofoca. Rumor as it.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Nova postagem no Clube do Tarô: das cimitarras bastardas.


Olá pessoal. Eu tenho refletido - e muito! - sobre o naipe de Espadas e, dessas reflexões, saiu o seguinte texto, que disserta sobre a iconografia das dez cartas numeradas desse naipe. Espero que apreciem.
Abraços a todos.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Conversas Cartomânticas: Adriana Kastrup e o Cavaleiro de Espadas



Olá pessoal. Continuando nossa Blogagem Coletiva, temos aqui Adriana Kastrup falando-nos do Cavaleiro de Espadas. Conheci a Adriana no Fórum Nacional de Tarô e, encantado com sua palestra e tendo levado o livro dela para ser autografado, percebi que não só possuía um grande conhecimento dos Arcanos, como era de uma simpatia ímpar. Foi um grande prazer conversar com ela. E agora, partilhamos desse mesmo prazer ao ler seu texto. 
Adriana Kastrup estudou na Italia onde se especializou em Tarô Clássico e divinatório. Há 27 anos atua como taróloga, atende e dá aulas no Rio de Janeiro. Consultora na Rede Globo em cenas de Tarô. Possui matérias publicadas em jornais como O Globo.
Contatos com Adriana Kastrup: adrianakastrup@uol.com.br
Vamos com ela, ao encontro do Cavaleiro de Espadas, em um trecho do seu livro A Vida pelo Tarô (recomendadíssimo!)

Cavaleiro de Espadas
Marseille Grimauld

Nosso menino se transforma num Cavaleiro ainda mais bem articulado, e quer, a qualquer custo, concretizar suas brilhantes idéias. Seguindo seus instintos e se utilizando de sua capacidade estratégica, lá vai ele, sem medo algum.

Impetuosamente, cheio de coragem e força de vontade, nosso rapaz sai atrás do novo, promovendo um vendaval de súbitas mudanças em nossas vidas. Normalmente inesperadas, novas notícias ou acontecimentos se aproximam com a chegada desse Cavaleiro.
Ele não passa por nós impunemente e não deixa de forma alguma que a acomodação tome conta do pedaço. Assim como não consegue ficar quieto, produz um furacão que nos leva junto. A sua chegada é sentida nessa movimentação e na clareza mental e rapidez de raciocínio que nos domina subitamente.

Cavaleiro de Espadas
Visconti-Sforza (US Games)

Porém, com toda essa pressa, corremos o risco de alavancada desmedida e do erro pela precipitação. Se nosso amigo, no entanto, não tiver condições próprias para canalizar toda essa energia, pode sair por aí roubando as idéias dos outros ou contando elaboradas mentiras, sem nunca perder a pose. Além disso, sua disposição agressiva rapidamente pode gerar conflitos e graves discussões. Torna-se facilmente um ser pretensioso, crente de que é mais iluminado que o restante da humanidade.

Cavaleiro de Espadas
Ancient Italian

Figurinha fácil em profissões que lidam com mundanidades e agitação.
Aqui, na família de Espadas, o Cavaleiro é a figura mais importante.

Príncipe de Espadas
Thoth Crowley-Harris

Nota do editor: Em alguns baralhos, como o Thoth, os Cavaleiros são substituídos pelos Príncipes. Existem diversas possibilidades de análise dessa perspectiva; porém, em última instância, aplica-se tanto aos Príncipes quanto aos Cavaleiros os mesmos significados propostos.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Os Tarôs de Marselha da Editora Pensamento

Tal como um verdadeiro Mutus Liber, o Tarô não veio acompanhado de normas ou dogmas, para ser utilizado obrigatoriamente deste ou daquele modo; todas as regras que hoje conhecemos foram inventadas posteriormente. Portanto, as normas e regras de utilização que lemos e ouvimos, as afirmações do que é certo ou errado, devem ser compreendidas de modo muito relativo e flexível. Os verdadeiros autores do Tarô, aqueles que sabiam do que se tratava, permaneceram anônimos e sem palavras. Ninguém, hoje em dia, pode se arvorar como autoridade para falar em nomes dos mestres originais. 

O Tarot permance um desafio em aberto. O que podemos fazer é nos associarmos para tentar decifrar os ensinamentos que se ocultam sob o conjunto das 78 cartas. E para fugir aos erros da subjetividade, nada melhor que trabalhar em grupo, partilhar, colocar à prova nossas reflexões. É esse o propósito do Clube do Tarô.

Olá pessoal. O Tarô de Marselha foi, entre as décadas de 1980 e 1990, o baralho mais acessível aqui no Brasil e formador da maior parte dos cartomantes, justamente por seu preço e disponibilidade frente às iniciativas importadas. Além disso, o baralho foi alvo de estudos que o "hermetizaram" e "esoterizaram" a um nível que agradava tanto os pesquisadores do Oculto quanto os interessados na Cartomancia de viés prático, voltada para as questões do cotidiano. Eram as mesmas imagens, com potencial interpretativo que beirava um horizonte.
Hoje, quase trinta anos depois e com um acesso muito maior a baralhos de outras estirpes, vejo o Marselha sendo, pouco a pouco, suplantado em comentários pelo Rider-Waite e pelos transculturais. Creio que esse súbito desinteresse se deu pela dificuldade em interpretar as cartas numeradas do Marseille com a facilidade proposta pelos baralhos inspirados em Waite, com palavras-chave e ilustrações que guiavam o olhar na interpretação. Mas, é certo, com o tempo as imagens que funcionariam como first steps passam a ser limitadoras das possibilidades interpretativas. Eu tenho apreço pelo padrão clássico por isso.  
Mas a origem do nosso interesse pelo Tarô provém, em grande parte, pela existência de estudos sobre esse baralho ter sido tão grande, como a de Carlos Godo, que referenciamos aqui.

O Louco
Marseille Grimauld

Como toda história tem dois lados, alguns problemas decorreram dos estudos serem muito mais iconográficos que históricos. O padrão Grimauld se instalou, levando os pesquisadores a estudarem com afinco as cores e formas de cada imagem, gerando padrões interpretativos complexos para além dos conceitos próprios de cada uma das cartas. Isso dava a cada detalhe da imagem característica de Universo. Uma pintura de Pollock em cada microanálise. Contudo, outros baralhos, também marselheses, eram tidos como "errados", como se o padrão Grimauld fosse o único certo.
Então, com as devidas ressalvas - não existem Marseilles errados, só diferentes - o padrão Grimauld é um dos mais agradáveis em minha opinião, justamente pelas imagens bem desenhadas e rachuradas, em relação às demais versões. 

O Louco
Marseille Conver

Comparemos com o Antigo Tarô de Marselha, de Nicholas Conver, de 1760. Aqui, as imagens eram coloridas à mão, o que acrescia cores às já utilizadas azul, vermelho, verde, preto, amarelo e carnação. O baralho foi inicialmente publicado pela Lo Scarabeo e atualmente é editado no país pela Pensamento. O traço é basicamente o mesmo, as cores não. Mas isso não impede que os mesmos voos interpretativos dados com o padrão Grimauld sejam dados com o padrão Conver.

Louco
Jean Payen

Queria apontar aqui também uma versão que teve grande peso na minha formação, já que foi meu primeiro baralho de Tarô: a versão de Jean Payen. O colorido dessas cartas é mais escuro, com preponderância do preto e, por isso, ao me deparar com os estudos sobre o Tarô de Marselha, me assustei um bocado com a perspectiva de estar usando um baralho errado quando, na verdade, eu tinha em mãos um baralho histórico. Os 22 Arcanos Maiores desse baralho estão disponíveis pela COPAG do Brasil.


E, para começarmos bem o ano, começamos com promoção! A Editora Pensamento disponibilizou para os leitores do Conversas Cartomânticas um exemplar do Tarô de Marselha de Carlos Godo, acompanhado do baralho de 78 cartas. Para participar, é muito simples: 
- Seja seguidor do Conversas Cartomânticas
- Deixe um comentário nessa postagem, com seu nome completo e e-mail para contato.
O sorteio será feito pelo site Random.org, no dia 20 de março. Alguém entrará o Ano Novo Astrológico de baralho novo! :)
Abraços a todos.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

I look to you, Whitney. And I will always love your songs.


Não nego, estou arrasado com a notícia. A perda de mais uma cantora que me marcou indelevelmente, que me faz pensar na efemeridade de uma vida. Whitney Houston (9 de agosto de 1963 - 11 de fevereiro de 2012) foi encontrada morta por um integrante de sua equipe na banheira de uma suíte no quarto andar do Beverly Hilton, hotel de Los Angeles. E com ela, foi também um pedacinho de mim.


Eu já havia falado sobre ela antes, aqui. Ter visto o reerguimento dessa pessoa foi para mim motivo de profunda gratidão à Divindade. Hoje, embora muito triste, ainda agradeço, por ter tido a oportunidade de ter sido tocado positivamente por essa mulher.


Que possamos conhecer mais pessoas como ela, nesta vida. A ti ergo minha Taça, pelo prazer que sua voz me trouxe tantas vezes. Siga em paz. Vou sentir saudades. A gente se vê, por aí.

Rainha de Copas
Hanson-Roberts

Abraços a todos.


Ouça as músicas dela aqui. E deleite-se, seja por saudade, seja por reconhecimento. 
Acho que, para mim, será um pouco dos dois.
O pessoal do seriado Glee também sofreu. Assista, aqui.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Conversas Cartomânticas: Kelma Mazziero e a Rainha de Espadas - Atire a primeira pedra quem não a reconhece



Olá pessoal. Eu acompanho o trabalho da Kelma Mazziero há uns bons anos. Acompanhei toda a escrita do livro Cartas na Mesa. E a conheci pessoalmente na Confraria Brasileira de Tarot. É de uma simpatia ímpar. Touro ascendente Touro, no mesmo grau de simpatia, tem praticidade. É, para mim, a melhor abordagem das cartas: buscar a raiz da questão, não o poema. Me divirto muito lendo os textos dela, que recomendo a quem, como eu, tenta ver Arcanos no cotidiano, não no transcendente, que, por ser transcendente, já é Arcano - não precisa de mais mistérios além daqueles que já tem!
Contatos com a autora: blog Cartas na Mesa, site Tarô Virtual.



Rainha de Espadas
Art Nouveau

Rainha de Espadas é a carta da corte perfeita para se fazer um espelho – ou reflexo – da persona polêmica e instintiva que ali se manifesta. Forte, de pulso firme, com mente sagaz, observadora compulsiva e veloz, age e reage com precisão. Ela é a mais temida e detestada quando se reflete em outra pessoa - qualquer um - que não seja a gente mesmo. Contudo, quando brota em nós, é a mais prazerosa das criaturas. Ela desperta o que é radical, extremo, provoca julgamentos e condenações. Mas como é possível tanto paradoxo numa só imagem?


Rainha de Espadas
Pallas
Dame Fortuna

Simples. Viver a Rainha de Espadas é conseguir dar a volta por cima depois de sofrer, de se decepcionar, de amargar alguma coisa realmente importante. Pode ser aquele relacionamento que surgiu de maneira incrível e terminou numa traição vil, pode ser a amizade que se mostrou falsa e gerou humilhação, pode ser um emprego sonhado que se torno maldição. Qualquer situação significativa que tenhamos vivido, que acreditávamos com todas as nossas forças... e acabou se mostrando um engodo. Depois do susto, do sofrimento, ela surge! A Rainha faz respirar fundo, limpar as lágrimas, tirar a sujeira da roupa e decide que nada daquilo irá defini-la. “O que mata, me fortalece”. E ela renasce muito mais atenta, desconfiada, sarcástica, capaz. Poderosa. Sim, porque o poder está diretamente ligado à posse e à perda. Aqui não vale (nem cabe) definir o que está certo ou errado, não tem a menor graça apostar no politicamente correto, não adianta tentar discurso moral. Só ela sabe o que viveu, só ela sabe como superou, portanto, só ela sabe como irá seguir daquele ponto em diante. Portanto, a Rainha de Espadas se manifesta, sim, para todo mundo em pelo menos um momento da vida. E é ela que permite sentirmos o sabor da reviravolta e da capacidade de se aprender apanhando. Quando sentimos na pele uma lição cruel não nos damos conta de que fomos inflexíveis, cegos, atirados numa meta sem pensar nas conseqüências. Só sentimos que não podemos ter tudo o que queremos e isso é uma lição muitas vezes regada a retaliação, orgulho, persistência.


Rainha de Espadas
Visconti-Sforza (Lo Scarabeo)

Curioso é o revés dessa moeda. Quando somos impiedosos tudo parece justo (desde que superemos aquilo que nos fez sofrer). Mas, quando encontramos em nossas vidas alguém que esteja em seu momento Rainha de Espadas, o cenário muda. Drasticamente. Isso porque a Rainha não dá brecha pra gente. Ela é cruel, dura, ácida, racional. Notamos que suas emoções são amargas, que ela é precisa, não facilita absolutamente nada pra ninguém. Pode ser alguém que gostava da gente e passou a detestar, pode ser um colega de trabalho ou patrão que não aceita falhas e não confia em ninguém se tornando competitivo e difícil de conviver, pode ser um familiar que não permita que se viva fora de seu controle ou domínio. O mais interessante é que, ao assumirmos essa carta, não notamos o quanto estamos dificultando as coisas para os demais. Mas, quando nos deparamos com ela fora de nós, sentimos a mais pura aflição por sermos seu alvo.

Rainha de Espadas
Marseille Grimauld
Repare na sua espada vermelha, como que
banhada em sangue. A única espada vermelha
do Tarô de Marselha.

Assim como (quase) tudo na vida, é muito mais fácil justificar nossos próprios erros do que fazermos isso com os outros. E a chave que dissolve toda essa força da Rainha de Espadas é justamente o perdão. Porque, enquanto não há perdão, não é possível deixar o que houve no passado e partir pra algo novo (não vale viver o novo com a dor do passado, senão é só repaginar “mais do mesmo”). A inflexibilidade que nos leva a desconfiar do mundo e dar a volta por cima é a mesma que faz com que não consigamos encontrar uma forma de nos relacionarmos com quem é inflexível. O perdão é, portanto, a única forma de se dar um basta no ciclo “olho por olho, dente por dente”. Como diz o ditado: “Perdoar não é esquecer, é aprender a lembrar sem dor”, porque existem coisas que não esquecemos, mas são passíveis (e possíveis) de se compreender e conviver sem carregar junto a dor que nos fizeram passar.
Rainha de Espadas é osso duro de roer para quem precisa lidar com ela. Mas não há como dizer que é postura desprezível, nem há como afirmar que pode se viver sem experimentá-la... muito menos ignorá-la. Ela é a mais pura reação, que por pior que possa parecer, consegue fazer qualquer um dar a volta por cima e continuar a vida ainda mais forte e indestrutível num momento em que nos sentimos presos por um fio. Basta entender, dosar... e perdoar. Assim ela existe, mas não persiste para todos (todos!) nós.


Abraço e obrigada

Kelma Mazziero





Nota do Editor: Assim como o baralho Dame Fortuna, acima apresentado, os baralhos de Piquet franceses relacionam a Rainha de Espadas com Pallas, a Deusa Athena. Ela é a única Deusa relacionada nessa atribuição. No Sola-Busca, temos Olímpia, a mãe de Alexandre, o Grande. Meditações, meditações... Ah: e teve essa imagem aqui, do Barbara Walker, que eu não tive coragem de postar, mas fica o link para os corajosos (ou curiosos, vá saber.)