segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

RPG e Tarot... Confluências num 4 de Paus

Esses dias atrás, estava eu refletindo sobre cartas que me agradam (porque sobre as encardidas eu já disse aqui). Evidentemente, o Três de Copas é uma delas. Quem não gosta da celebração, da felicidade, do contentamento que provêm da abundância da subida de Perséfone dos Infernos onde reina, para encontrar-se com Dheamater?

Três de Copas
Celebração
Osho Zen Tarot
Na minha opinião, uma das melhores releituras
do Três de Copas do Waite-Smith.

Mas, apesar disso, e da beleza disso, eu tenho uma carta que enche meu coração de maior alegria. O quatro de Paus. Que, tratando-se do Waite-Smith, é quase, "apenas", uma diferença de perspectiva em relação ao três de Copas. Aonde o três de Copas é festa, o quatro de Paus é estruturação da celebração. Porque, convenhamos, para haver celebração, mesmo que seja uma festa surpresa, alguém tem que ter se predisposto a organizar algo, antes.


Quatro de Paus
Radiant Rider Waite

Parece estranho não evocar um nove ou dez de Ouros, ou um seis de Espadas, ou um nove de Copas. Mas não, eu realmente gosto do quatro de Paus. Suas atribuições são muito interessantes, e por vezes até contraditórias, se pensarmos que o naipe de Paus, por ser Fogo, não aceita acompanhantes que não tolerem seu calor, sendo, portanto, atraente à distância, apenas. Da mesma forma, um quatro, por ser estruturação, não carece de companhia e acompanhamento, sendo, em todos os naipes, um ponto de reflexão pessoal, não de encontro. 
Mas dessa combinação sui generis de dois valores individualistas, temos justamente a carta de Paus mais agregadora. O quatro de Paus é o fogo da lareira em meio a um incêndio de possibilidades. Vênus em Áries, diria Crowley. 


Louis Jean Francois Lagrenee - Marte e Venus, alegoria da paz.


Vênus e Ares. Um encontro fortuito, que atrai outro, e outro, e um ao outro, dos quais Harmonia é o resultado.


Quatro de Paus
Thoth Crowley-Harris

Completude. Conclusão. Como se, antes do meio, antevíssemos um fim. Vai dar tudo certo, ouço sussurrar ao meu ouvido. Mas não, não vai, não tão facilmente – olha o cinco ali, sucedendo, como dragão que espreita, como serpente pronta para dar o bote. De prontidão, mas não predisposta.
Vai de como se encara o quatro. 
Uma das versões mais belas do quatro de Paus que conheço é a do Tarô Mitológico. Engraçado como vejo, recentemente, críticas à esse baralho sendo que, no Brasil, foi o oráculo mais precioso para o conhecimento dos Arcanos Menores, tão desvalorizados em locais onde o padrão Marseille fez escola. Ok, eu não gostei da reedição, com retoques nos desenhos originais da Tricia Nevell, mas essa é uma opinião pessoal.


Quatro de Paus
Tarô Mitológico

Pois bem. No quatro de Paus do Tarô Mitológico, Jasão está ao meio, tendo ao seu redor Teseu (representando o naipe de Paus e representado no Rei desse mesmo naipe), Castor e Pólux (representando o naipe de Espadas e representados no Cavaleiro desse mesmo naipe), Héracles (representando o poder de realização e representado no Arcano Maior A Força) e Orfeu (representando o naipe de Copas e representado no Rei deste mesmo naipe). Cadê Ouros? Não, não é esse o ponto por aqui. Procura-se a realização, não a concretização. Espera-se obter o Velocino, mas não se sabe o que fazer com ele após obtê-lo – como veremos lá no dez.
Vendo esses quatro personagens (inter)ligados por um objetivo comum, é praticamente impossível para mim não recordar dos jogos de RPG (Role Playing Game – jogo de representação de papéis), em especial o Dungeons & Dragons.







Para quem não conhece RPG, tenho certeza que entenderão o que quero dizer se lembrarem-se do desenho Caverna do Dragão – que, à propósito, chama-se Dungeons & Dragons no original.


Ladino, Guerreiro, Clérigo, Maga... E monstros.


Bem, num jogo de RPG tradicional, ao estilo do Dungeons & Dragons, temos mais ou menos quatro personagens (de acordo com o número de jogadores) - um guerreiro, um mago, um clérigo e um ladrão - dotados de habilidades diferentes entre si, e totalmente complementares. Assim como Vênus e Ar(i)es, a complementaridade de todas as habilidades permitem a sobrevivência do grupo, aventura após aventura. O guerreiro possui a força, mas não é capaz de lidar bem com mágicas; o mago possui a mágica, mas é fraco e não consegue curar; o clérigo cura e tem o potencial para ataques diretos do guerreiro, ainda que em menor potência; e o ladino é capaz de abrir fechaduras e atacar pelos flancos com maior eficácia. Sozinhos, sobretudo no 1º Nível, não são capazes de sobreviver às aventuras propostas pelo Mestre; mas, em conjunto... Pelo menos existe a possibilidade de subirem de nível.


Quatro de Paus
Participação
Osho Zen Tarot
Vejam como os quatro membros se fortalecem no laço desenvolvido
com os demais presentes. Há bênção quando há união.


E é assim que eu gosto do quatro de Paus... De ver o quão interligados estamos. Quando ele surge em um jogo, teremos todo o auxílio necessário para a obtenção do nosso desejo, por merecimento, não sorte; Deus, não Fortuna (como diria o nickname de Dion Fortune). Mas, evidentemente, esse não é o fim da tarefa proposta pelo naipe, que tem que ser levada a cabo por cada indivíduo como mestre de sua vida.
Abraços a todos.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Conversas Cartomânticas: em Technicolor com Sarah Helena e o Pajem de Copas

Eu creio que serei repetitivo em dizer o quanto a Confraria foi importante para mim em termos de conhecimento - de temas e pessoas, não necessariamente nessa ordem. A Sarah foi uma das mais amáveis surpresas que obtive no evento. Com sua oficina de construção de Arcanos, mergulhei de cabeça na Força. Na Mystic Fair, fui de Torre. E quando dei por mim, havia saído uma Princesa de Copas (e olha que prefiro baralhos tradicionais, com Valetes!)
Artista e tarófila, como ela mesmo se define, amante de RPG, HQ e Pop Art, conversamos horas. E essas horas ainda são pouco para as horas que gostaria de conversar mais. É muito assunto! Hoje ela vem aqui mostrar seu companheiro de jornada, tão artista quanto ela, o Pajem de Copas. Vamos com eles.
Contato com a autora: Mercado de Arcádia

Lendo o Tarot Teachings encontrei essa passagem no Pajem de Copas, que me faz rir por uns quinze minutos. Afinal, é uma frase que eu costumo ver como a minha definição máxima. 
“Eu vejo o mundo em Technicolor.”


Então, nós temos a cena. A moça, em seus all star vermelho cereja (que hoje em dia as pessoas falam converse, mas na época ainda eram all star, custavam mais barato que todos os outros tênis e significavam alguém que por opção fugia da moda), está andando pela exposição. Ela treme um pouco, segurando a respiração a cada peça que surge sob a luz, e então, algo que boa parte das pessoas não parece dar tanta atenção capta seu olhar. De repente, o museu, as pessoas, as placas, tudo ficou invisível, diante da caixinha de madeira manchada que está na sua frente. Um estojo simples de onde saem pincéis com os pelos gastos. A madeira tem pintinhas ocre e cinza escuro, assim como as cavidades na ponta do estojo, que ainda guardam um restinho de tinta. Cinzéis se espalham ao lado. Ela começa a soluçar. Aquele é sem dúvida alguma o lugar mais importante da exposição para ela. Ela chora ao ponto dos joelhos tremerem. Três mil anos antes, escribas e escultores egípcios usaram aquelas simples ferramentas para produzir a beleza de obras como aquelas de que o museu estava naquele momento repleto. 

Pajem de Copas
Egipcio (Lo Scarabeo)


Sentir correr as águas de copas debaixo da pele é ter acesso àquilo que é mais invisível, por ser o que fica exposto diante de todos. É essa súbita percepção que molda uma personalidade e que passa a ser o cristal da lente com que todo seu contato com o mundo se dá. 

(...)Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
(...)Olhou sua própria mão 
Sua rude mão de operário 
De operário em construção 
E olhando bem para ela 
Teve um segundo a impressão 
De que não havia no mundo 
Coisa que fosse mais bela.
(...)O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
(...)E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.

O operário em construção
 Vinícius de Moraes

Quem é o artista? Quem é aquele que é capaz de tirar a poesia daquilo que está a sua volta como um agricultor que prensa as olivas para extrair o azeite? Ezra Pound diria que os artistas são as antenas da raça. A experiência é a arma do Valete: ele é o estagiário do baralho, o aprendiz, e isso dá a perspectiva de um observador que tenta captar tudo e, bem sucedido ou não, experimenta fazer tudo o que observa. Ao pajem, o novo olhar.  
Mais do que tudo, é esse posto de observador atento, que permite ao artista ser aquele que aceita ser tocado pela beleza – e moldado por ela. Mais do que o domínio da técnica, o aprendiz ganha a percepção de como o mestre move as mãos ou os lugares por onde costuma andar. Mais do que a forma como o cavaleiro segura a espada, o pajem aprende porque o cavaleiro empunha uma espada. E sendo este o pajem de copas, enquanto outros rezam ou dormem ele vai usar os movimentos daquela espada para dar verossimilhança à epopeia que está escrevendo e reescrevendo até considerar que pode vir a tona. 

Pajem de Copas
Harmonious

Ao artista, a permissão para a alucinação, o preço pago por sentir e ver aquilo que ele permite aos outros desviarem o olhar. As pessoas na praça vão e vem, e o poeta grita – “agradeçam, agradeçam por sermos loucos por todos vocês. É a nossa loucura que impede que toda a cidade caia nas mãos da insanidade.” Aquele que abraça o caos paga um preço. Apanha para conseguir dar conta de tudo o que viu, e segue adiante com uma ferida que os outros não percebem, e que sangra a cada aniversário do combate – mas que permite ao Livro Vermelho do Marco Ocidental seguir adiante e ver a história ser contada. Ser o herói é só um pedaço do percurso – é preciso contar a história. E perde os prazos, e confunde as datas, e ainda se surpreende quando alguém faz algo por uma intenção mesquinha ao ponto de se ver incapaz de confiar.

Valete de Copas
Universal Fantasy

Sentada na areia, a moça tenta ler um livro. Consegue ouvir a corrida constante do menino que segue correndo para dentro do mar e volta correndo para a areia, inquieto, até que ela larga o livro, senta na linha onde o mar toca a areia, e ele senta sobre suas pernas. Os cachos compridos do menino escondem por alguns segundos olhos atentos ao movimento sutil que surge na poça formada pelas ondas sobre o buraco que cavaram juntos. Um peixe miúdo, prateado e pontilhado de preto, navega no círculo circunscrito pela areia. Ele quase cai para frente observando o peixe, como se uma muda conversação se desse entre os dois. Por longos minutos, tenta fazer o peixe subir na concha de plástico que usou para cavar a poça. Quando consegue, ergue a concha, em triunfo. De pé, ele ri. O peixinho salta para o mar, mas o menino não se preocupa em persegui-lo. Está mais preocupado em imitar seu movimento enquanto corre pela areia, ele mesmo sendo agora o peixe que observava.

Princesa de Copas
Via Tarot

Nota do editor: Em alguns baralhos, como o Via, os Pajens são substituídos pelas Princesas. Existem diversas possibilidades de análise dessa perspectiva; porém, em última instância, aplica-se tanto às Princesas quanto aos Pajens os mesmos significados propostos.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O Oráculo da Cigana: um curioso baralho de Cartomancia


Conheci esse baralho ano passado, nas postagens do Alex Tarólogo. Primeira referência que conheci a respeito desse oráculo, mas não pensava um dia conhecer o baralho em minhas próprias mãos. E confesso que, tendo o conhecido em outubro, não achei que fosse tão bom. Não foi um baralho que acelerou meu coração imediatamente, mas, talvez justamente por isso, tenho o carinho por ele que o mantém entre meus favoritos. Existem paixões que demandam tempo e vivência. O estranhamento inicial não foi um obstáculo; antes, foi um caminho.
O meu, eu ganhei de presente da Priscilla Lhacer. Um mimo, um carinho que, makhtub! tinha uma razão de ser. Quando um oráculo chega às nossas mãos por vias misteriosas como um presente ou surpresa, é bom que estejamos atentos aos seus efeitos. E, nesse caso, os efeitos foram preciosos ao ponto de eu indicá-lo, veementemente, para quem se interessa por Cartomancia, sobretudo a italiana, no qual ele se baseia.
O baralho é formado por 52 cartas - o mesmo número de cartas de um baralho comum  - o que o predispõe a ser a ilustração de significados anteriores propostos para cada uma das cartas do baralho comum. Se hoje não possuímos acesso às referências que nortearam a elaboração das imagens, pelo menos podemos pressupor que a metologia do jogo será semelhante àquela que norteia sessões de Cartomancia. Muitas cartas, frases curtas, porém precisas. 

Uma possibilidade de desenvolvimento desse oráculo é ser uma contração do Vera Sibilla Italiana, hipótese altamente plausível, proposta pela Socorro, da De Keizerin Boutique (recomendo). Eu tenho encontrado alguns outros baralhos que também corresponderiam a esses desenvolvimento imagético de conceitos cartomânticos de matriz comum. Mas é cedo ainda para que eu possa afirmar qualquer coisa. 
Minha experiência com esse oráculo tem apontado que ele é precioso para revelar intenções e fazer previsões de curta duração. Nada muito extenso, nada muito amplo: aquilo que é passível de se resolver com uma frase, mais elaborada que um simples sim/não, mas menos elaboradas que um panorama.
Como exemplo, posto uma das minhas cartas favoritas, o Mercador. Eu pensei nela justamente por ela dialogar com as minhas leituras no momento - Malba Tahan, Rumi (indicação preciosa do Claudiney Prieto), Omar Kayyam e As Mil e Uma Noites (livro e baralho).  E daí, temos um primeiro passo para analisar as demais 51 cartas.


 O Mercador
Oráculo da Cigana
Lo Scarabeo

Seguindo a orientação do livreto que acompanha as cartas, vamos trabalhar com a formação do conceito da lâmina a partir do cruzamento entre o título e a imagem. 
Mercador é o título dado àqueles que mercadeiam. Que comerciam. Que levam e trazem. Em todos os sentidos.
Conforme o Dicionário Aurélio:

s.m. Indivíduo que compra por atacado para vender a varejo. / Negociante de panos. // Fazer ouvido de mercador, v. OUVIDO.
Estar em contato com várias culturas, com vários povos, fazem do mercador um personagem ambivalente. Por um lado, nunca saberão exatamente o que ele pensa, já que ele conheceu um mundo diferente demais para se prender unicamente aos limites do seu povo ou região; por outro lado, as questões a que se apega tem para ele um valor maior do que para aqueles que se mantém devido ao costume, ao hábito, num mesmo comportamento. Ele escolhe manter um comportamento, porque sua natureza o leva a voltar sempre ao local de origem, com o desejo de partir novamente.
Por outro lado, ele sempre saberá mais dos outros que os outros pensam que ele sabe. O contato com pessoas tão diferentes o deixa atento aos hábitos, tiques, vícios. Só assim ele sabe diferenciar pesos e medidas - pelo que não se diz, mas se deixa dizer... pelo que não foi dito.

Dentro dessa perspectiva, e poderíamos estendê-la muito mais, verificando filologicamente as demais possibilidades oferecidas - Mercante, Marchand, Mercader, Kaufmann - o Mercador é um personagem cujo olhar anseia pelo horizonte, a quem ninguém é ilimitado o bastante para uma análise comportamental. Os termos parecem ser a mesma coisa, mas não são. Significados se depreendem de termos aparentemente sinônimos e, pouco a pouco, percebemos que o poder do termo está em ser único, mas passível de ser substituído por algo que, mesmo parecido, não é igual. Como exemplo, pensemos no termo francês Marchand. Além de Mercador, esse termo define aqueles que entendem de Arte o suficiente para indicar a compra de algo; seria o representante de um artista. O intermediário. Apesar dos significados se tocarem, há que se notar expansões. Os termos se cruzam, se reproduzem, e significados se apresentam ante nossos olhos.


Atente, nessa imagem, para os olhos do Mercador. Através de seus olhos,
ele não só expõe sua mercadoria, como todas as possibilidades que encontrou
de belo em seus tecidos. Comprar-se-ia tecidos dele por seus olhos. 


Diante disso, da ideia de intermediação, tão concernente ao termo, vamos para a imagem. 
Apesar de estar ligado à ideia de viagem, de busca de mercadorias em locais distantes, nessa carta vemos essa ideia como secundária. Temos uma carta ativa nesse sentido - a Viagem, cuja iconografia do personagem remete à do Mercador. Aqui, vemos o navio ao fundo partindo, não sabemos se o navio deixou o mercador ou se irá buscar mercadorias para ele. Só sabemos que ele já não participa do processo - o que chega, ou o que parte, apesar de passar pelo Mercador, não lhe compete mais. O navio também aparece nas cartas Suspiros, Esposa e Consolação, mostrando aquilo que vem de longe... ou remete para longe.


À esquerda: Suspiros. À direita: Consolação.
Observe o navio, dialogando com o personagem principal.
Oráculo da Cigana
Lo Scarabeo


Se falamos do navio, falemos do mar. Como diria a Ana Carolina: "por que me mostra o mar, se eu quero ver o navio?" 


À esquerda: A Esposa. À direita: Desgosto. 
Em uma o navio. 
Na outra, a imensidão do mar.
Oráculo da Cigana
Lo Scarabeo


Diante da imensidão, os detalhes se diluem. Para o melhor ou para o pior. Além disso, o mar une o aqui ao lá. Com um horizonte de possibilidades no meio. O mar transcende o espaço visível, mostrando que o que se busca ainda não está ao alcance. Mas já é possível desejar. Além das já citadas Consolação e Suspiros, o mar aparece em Desgosto. Mas aqui o navio já não se vê. E a frase de Ana Carolina faz todo o sentido. Coloca os Suspiros ladeando Desgosto e dá uma olhada.
Dos diálogos entre as iconografias, partimos para o personagem principal. Um árabe, irmão dos árabes. Suas vestes apontam para isso. Moro, mouro. E aí precisaríamos entender como um italiano veria um mouro para sabermos como essa carta seria vista pelo italiano que a delineou. Novos sentidos se depreenderão disso. Se você der uma olhadinha nesse link aqui, ficará sabendo que os italianos já dominaram a Líbia, durante o declínio do Império Otomano, na chamada Guerra Ítalo-Turca, em 1911. Apesar de italianos terem ocupado o território, eles não foram capazes de colonizar o espaço, perdendo terreno durante a I Guerra Mundial. As culturas coexistiram como água sob azeite. O conflito mistura, o tempo assenta cada coisa em seu lugar - conforme seus atores veem a questão de "lugar".
Alguns barris, caixas, e um acolchoado no qual esse mouro se apoia, correspondem às suas mercadorias. Ele está a postos, pois se dali se afastar, perde o que tem - é sua presença que atesta que o que o rodeia é dele. Mas sua posição é relaxada - logo, carregadores irão levar o material para o local correto.


Espera
Oráculo da Cigana
Lo Scarabeo


Seu olhar se perde à frente, como em SuspiroEspera. Se o olhar se perde, é porque os pensamentos importam mais. E não são pensamentos coesos, direcionados; são sonhos, devaneios, alimentados pela espera, que permite uma certa esperança.


Sinbad conta sua história ao carregador.
Seis de Ouros
Tarô das Mil e Uma Noites
Lo Scarabeo


Se nos remetermos à literatura, sobretudo Às Mil e Uma Noites, veremos que a figura do jovem afoito por aventuras, que vende tudo o que tem em busca de negócios no estrangeiro é recorrente. O personagem mais emblemático dessa perspectiva é Sinbad, que, por sete vezes, vende o que tem e sai em busca de aventuras. E da história de Sinbad apreendemos outros detalhes: quando vivemos algo maravilhoso, precisamos compartilhar com alguém. 
A história de Sinbad ocorre nos tempos do Califa Harun Al-Rashid, personagem que também se carrega de significados. Conforme consta, ele se disfarçava de mercador para visitar seu reino, de forma a assegurar-se pessoalmente de que tudo corria bem. Diversas histórias d'As Mil e Uma Noites o referenciam, seja como marco temporal ("No tempo do Califa Harun Al-Rashid..."), seja como personagem. Como personagem, talvez, seja o mais interessante. Ele é curioso, imiscuindo-se em qualquer assunto que considere interessante; contudo, não revela sua identidade até o momento oportuno, saindo-se muito bem como mercador para alguém que foi treinado para ser Califa. Conforme vimos antes, ao Mercador pertencem todos os pensamentos que o rodeiam, enquanto seus pensamentos não pertencem a ninguém. Ele precisa contar sua história, ele deseja contar sua história. Mas você jamais conseguirá ler seus pensamentos.
Daí, poderíamos sintetizar os significados observados em algumas palavras-chave, para além das óbvias comércio e troca: Intermediação consciente e proveitosa. Saber ouvir. Captar intenções com facilidade. Estar longe do que é familiar, ou ansiar por esse distanciamento. Notícias que vêm de longe. Um presente aguardado. Espera ansiosa, resultado breve. Uma história. Lucro, dividendos. Contato com culturas diferentes. Afirmação da identidade. Disfarce temporário. Teus pensamentos são terra de ninguém. Conhecimento de causa. Ansiedade pelo novo. Aguardo de novidades. Estar em território estranho. Diplomacia. O que se vê é mais precioso do que o que se ouve.


É muito divertido fazer isso, observar um oráculo novo com olhos de primeira vez, caçando respostas às indagações que surgem. Desses mergulhos, obtemos respostas preciosas às possibilidades de interpretação do oráculo. Eu não fazia a menor ideia de que chegaríamos aonde chegamos com esse texto - eu só escolhi a minha carta favorita, e saio mais rico na minha leitura dela. Dá um pouquinho de trabalho, mas vale a pena - quem falou que Cartomancia é fácil?
Abraços a todos.

Post Scriptum: Há um livro sobre esse baralho, com visualização acessível aqui. O irmão Euclydes Cardoso Jr., do TarotCabala, publicou o seu primeiro olhar sobre as cartas, aqui. Vale a leitura, vale o mergulhar nas imagens. O Ricardo Pereira, autor do Substractum Tarot, postou sua vivência com esse baralho aqui, vivência essa que dispensa comentários e atesta a rapidez das previsões.  E, caso queira adquirir o seu, clique aqui.

Atualização em 07 de novembro de 2012: Alguns links interessantes para o entendimento da profundidade dessa lâmina: aqui, aqui e aqui

sábado, 21 de janeiro de 2012

Conversas Cartomânticas: Lya Córdoba e o Cavaleiro de Copas

Eu não faço segredo do quanto gosto dessa carta. E hoje, Lya Córdoba vem nos mostrar os meandros cotidianos do encontro com essa personagem. Engraçado que, lendo esse texto, percebi o quando o Cavaleiro de Copas é feiticeiro. Ele está mais próximo da magia que da lógica, ainda que, paradoxalmente, a magia tenha lá sua lógica efetiva. Ainda que, particularmente, saiba ser uma pessoa beeeem suspeita para falar dela.

Os livros e baralhos de Lya

Contatos com a autora em seu blog.

Cavaleiro de Copas
Golden Botticelli

Quem  nunca assistiu a um filme e não ficou torcendo para que a mocinha, ao final de tantas idas e vindas, de tantas aventuras e perigos, fosse salva por aquele rapaz, belo, forte, audaz, inteligente e, sobretudo, perdidamente apaixonado por ela, por favor levante a mão.
Todos nós vivenciamos, vez ou outra (e algumas pessoas muito mais vezes) o sonho de sermos resgatados do nosso cotidiano tão sem graça pela força e o fogo transformador de uma paixão. Há, em cada um de nós, a doce esperança de, do nada, surgir alguém que nos envolva num turbilhão de carinhos, galanteios, mimos diversos e erotismo nos afogando num mar (Copas = Emoções = Água) de profundas emoções.

Príncipe de Copas
Lover's Path

Quem nunca conheceu alguém cujas palavras e atitudes sempre nos fizeram sentirmos as pessoas mais especiais em todo o Universo? Cujos e-mails, sms e telefonemas eram dignos dos mais nobres trovadores das medievais cortes européias? Cuja disposição como amante nos levava a descobrir os mais secretos e deliciosos prazeres em cada centímetro do nosso corpo? Quem nunca…
Bom, quem nunca viveu uma experiência dessas vá se preparando pois a carta da semana é exatamente o dito cujo, o Cavaleiro de Copas.
Aliás, ele aparece numa tiragem, quando estamos naquele período natalino, extremamente emotivos, cheios de lembranças, rememorando pessoas, experiências e situações que vivemos durante o ano, dispostos a abrirmos nossos corações aos apelos do irrestrito amor universal que a data nos estimula.

Cavaleiro de Copas
Waite-Smith

Seja num imaculavelmente branco corcel, ou de metrô, de ônibus, van, carro, avião, barca ou mesmo a pé, essa figura romântica está chegando para nos envolver em seus braços e fazer-nos viver as maiores loucuras que uma mente apaixonada pode pensar.
Portanto prepare-se para os festins: planeje uma noite inesquecível de amor; faça aquele prato especial, com temperos afrodisíacos e coloque o vinho para “respirar”; banhe-se longamente, aproveitando a sensação da água pelo corpo e use uma gota daquele perfume que você guarda para as mais especilíssimas ocasiões; separe os CDs das músicas que mexem com o seu coração, acenda as velas e jogue-se nos braços da sedução personificada. Lembre-se que essa é uma grande aventura, um sonho que tornou-se realidade. Não significa que será eterno e, muitas vezes, que dure até o dia seguinte. Mas enquanto durar, vai valer cada segundo. O Cavaleiro de Copas vem para dizer esta chegando algo amoroso em sua vida! Por isso,abra seus sentimentos mas profundo e sinta a vibração  que Cavaleiro de Copas te emana. Deixe que o cavalo branco entre  em sua vida!
Não é preciso, necessariamente, que o Cavaleiro de Copas seja uma outra pessoa: nós mesmos podemos viver a energia retratada nessa carta e então é hora de usarmos do nosso poder de sedução para reavivar a chama do nosso relacionamento, ou de irmos à luta e conquistarmos um. Muito!

Cavaleiro de Copas
78 Doors

É sempre bom lembrar que as cartas são imagens de símbolos que podem ser lidos e decodificados de diversas maneiras e, para acalmar o fogo da paixão que tanto exaltei acima,o Cavaleiro de Copas também pode anunciar visitas, hóspedes, convites, propostas (tudo muito comum em épocas de final de ano) e viagens rápidas (também normal em período de férias).

Cavaleiro de Copas
Marseille Grimauld

Este arcanos nos lembra, também, que podemos levar a nossa taça repleta de emoções para o benefício de outros que dela poderão se beneficiar: que tal, aproveitando a espiritualidade contida nesta época do ano, fazer uma visita àquela nossa parenta que vive sozinha e convidá-la para participar dos nossos festejos? Ou fazer uma visita a um orfanato, levando ao menos um bombom para a criançada? Ou visitar alguém num hospital, levando uma palavra de carinho e de esperança? Aposto que eles também esperam por você, sua taça repleta de afeto montada em seu mítico cavalo branco. E viva o Cavaleiro de Copas em seu cavalo branco em nossa vidas todos so dias no emanado o amor... Que venha amor, leveza e alegria em nossa vidas...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Da posse do baralho.

Depois de falar sobre o colecionismo em si, e já tendo falado sobre nossos primeiros passos, fiquei pensando sobre o que nos leva a escolher determinado baralho como nosso favorito. Não existem razões objetivas para tal, e é difícil crer que elas poderiam existir. Um baralho já é, por si só, subjetivo, para que razões objetivas pudessem nortear sua escolha.
Passando os olhos pela minha coleção particular, e conversando com amigos sobre suas coleções, verifiquei que, em sua grande parte, as coleções não são norteadas para a prática do Tarô profissional, isto é, o gosto do colecionador é soberano às necessidades de uma ferramenta de trabalho. Utiliza-se um para a consulta e atendimento e vários para aulas e estudos.
Mas, o que norteia essa escolha, insisto? O que faz com que determinado baralho seja o baralho?
Eu senti que havia encontrado meu baralho quando abri a caixa do Ancient Italian. A sensação que tive, e partilho, é que ele pode ser manipulado por qualquer pessoa. Pode até mesmo ser embaralhado. Isso não tem a menor importância. Ele não foi consagrado em um ritual. Ele já me era sagrado. Ele já chegou pleno, sem necessidades de confirmações. Tal é minha certeza, e tal é o feedback que recebo das consultas feitas à ele, que vejo que ele foi o resultado de anos de busca, iniciada com um Marseille Jean Payen. Todos os baralhos anteriores foram uma preparação. Todos os baralhos posteriores, padrões de comparação. Ele é o meu baralho. Ele é meu.


Mago
1JJ


E isso ficou muito claro para mim há alguns dias. Adquiri um 1JJ da USGames Brasil, junto de um Thoth Mini (Blue Box). O 1JJ é um baralho suíço magnífico, clássico, e interessante, sobretudo, àqueles que possuem uma linhagem pagã de natureza grego-romana: Nesse baralho, temos uma das primeiras tentativas de substituição da Papisa e do Papa, cujos títulos até hoje causam incômodos em algumas pessoas. Nesse baralho, temos a Papisa substituída por Juno e o Papa substituído por Júpiter [daí o título 1J(uno)J(upiter)]. As demais cartas possuem correspondência clara àquelas do padrão Marseille. Conheci esse baralho em 2001, nas mãos de uma cartomante que, apesar do tanto que sabe, oculta seus dotes do grande público. Angela é seu nome. Porque certamente ela fala com seus pares diretamente, sem maiores intermediações.


Juno
1JJ


Desde então, tinha o desejo de obter um baralho desses. Desejo, não necessidade; mas diante da possibilidade, quem não confunde um e outro? Encomendado, ansiosamente aguardado. Em mãos.
Abri-o. E ao abri-lo, percebi o quão belo ele era in loco, em mãos. Manipulei-o. Mas algo estava errado. Ele não era meu. Era, objetivamente, porque eu o havia comprado e pago seu valor a quem cabia receber, mas não era meu, da forma como um baralho deve ser. O baralho, como a varinha da Arte, é uma extensão de seu proprietário. Aquele baralho não era uma extensão de mim, ainda que, aparentemente, fosse – eu me dedico ao estudo dos padrões marselheses, em especial, e aquele era um marselhês! Por que, por que ele não ressoava comigo?
À noite, encontrar-me-ia com uma grande amiga, também cartomante. A tentação de levá-lo era muito grande, mas, paradoxalmente, eu sabia que aquele baralho não voltaria comigo. E justamente por isso não queria levá-lo. Poxa! Onze anos para obtê-lo! Não, não quero desfazer-me dele. Não quero! 
*pausa para birra com direito a bater os pezinhos e as mãozinhas com os olhos cerrados*
Lá fui eu, com meu Ancient Italian e o 1JJ na bolsa. O Ancient eu sabia que voltaria. O 1JJ, torcia para que voltasse.
Ela viu, seus olhos brilharam como quem acaba de descobrir que amores à primeira vista existem. Ela o tocou. Ela o manipulou, viu carta a carta. Como quem acaba de comer uma fruta exótica em um local distante de sua casa, e sabe que aquele deleite é único e precioso, tendo que ser aproveitado à exaustão – sabe-se Deus quando ter-se-á tal deleite novamente. E eu, observador que era da cena, tive a dolorosa certeza de que aquele baralho, definitivamente, não era meu.
Ainda fiz um último esforço em guardá-lo na bolsa. Mas voltar com aquele baralho seria ter a certeza de ter um objeto roubado em casa. Apesar de eu ter pago por ele, eu era apenas o intermediário entre a ferramenta e o proprietário. 
O baralho ficou com ela. E, por mais que eu quisesse sentir o coração partido em 78 pedaços, eu sabia que ele nunca tinha sido meu.


Sol
1JJ


Mas a história não acabou aqui, ao contrário; foi aqui que ela começou. Na primeira oportunidade, ela jogou para mim com o 1JJ. E eu vi, naquele baralho, nas mãos daquela cartomante, uma mestria que eu jamais teria com um 1JJ – pois meu coração já tem um dono, italiano (que desliza em minhas mãos contando histórias antigas de um tempo em que esse corpo não era senão um brilho nos olhos de minha genitora quando ela sonhava com um futuro promissor) e não quero dividi-lo com mais nenhum outro; naquele momento, e diante da desenvoltura com que as cartas conversavam com ela, espanando os cantinhos da minha alma para entrar num ano novo com uma proposta integralmente nova, limpa e plena (surpreendente para ela e para mim, já que – aparentemente, nessa vida – era a primeira vez que ela havia visto tais imagens), naquele momento eu entendi que ficar com aquele baralho seria uma atitude não só mesquinha, como avara. Seria considerar a materialidade de um baralhomais importante que o serviço à Arte. Tenho a firme convicção de que não passamos de carteiros do Divino quando lemos as cartas, mas carteiros não só leem e anunciam como também entregam encomendas. Esta era, a priori a contragosto, a posteriori com pleno deleite, dela. Da minha cartomante. Não minha.  
Um outro chegará para mim. Mas, quando ele vier, eu saberei exatamente qual é o papel que ele ocupará na minha vida e no meu trabalho. Porque este primeiro eu sei que cumprirá sua tarefa de oráculo perfeitamente. Já vem cumprindo, na verdade. 
Fica aqui meu convite, meu desafio. Encontre o baralho do seu coração. E todo o resto passará a fazer pleno sentido. E todo o resto, fazendo sentido, perderá a importância – porque o seu coração está em casa, e de lá não mais quererá sair.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Conversas Cartomânticas: Luciene Ferreira e a misteriosa Rainha de Copas



Conheci a Luciene Ferreira no Fórum Nacional de Tarô. Desde então, temos conversado um bocado. É nesses momentos que percebo o quão importante é participar de eventos de Tarô. Neles, podemos encontrar gente que pensa como a gente ou, pelo menos, na mesma coisa que a gente. E hoje ela nos inebria com esse mergulhar naquela que é a mais profunda das Águas, a Rainha de Copas. Vamos com ela.


Nota do editor: A Rainha de Copas possui um atributo
por vezes associado com uma lâmina, por vezes com um cetro;
assim como o Cavaleiro de Ouros. 
Rainha de Copas
Marseille Grimauld


Dentre as 16 cartas da Corte, sem dúvida a mais enigmática é a Rainha de Copas. Junto com a Rainha de Ouros, é a expressão mais forte do feminino na série dos arcanos menores, pois ambas representam os elementos associados à energia yin, o princípio feminino, passivo, noturno, escuro, frio. 

Rainha de Copas
Radiant Rider-Waite

Enquanto a Rainha de Ouros busca a segurança, nossa dama de Copas valoriza os sentimentos. Ela é a dona de nossas emoções. Representante do elemento água, une duas forças poderosas: o segredo da alma feminina e o vigor dos sentimentos. Em muitos decks, como de Marselha e o de Rider-Waite, ela surge com um aspecto sombrio, carregando uma taça (receptáculo da própria vida) fechada, indicando as emoções que são escondidas.
Similar à versatilidade da água, a Rainha de Copas transita da placidez de um sereno lago ao turbilhão de uma fatal tsunami. É a água que nos alimenta, mas que também pode nos matar. Traduz a dualidade do feminino; ao mesmo tempo, mistério, sensibilidade, amor e ódio. É sangue, é vida. Mistura a dor do parto, com a alegria do nascimento. 

Rainha de Copas
Hudes Tarot

A Rainha de Copas personifica bem a força de seu elemento, único capaz de se apresentar em estado líquido, gasoso ou sólido e o que ocupa a maior parte de nosso planeta e de nosso organismo. A mesma água que fecunda a terra e gera vida,pode contaminar nosso corpo, romper barreiras e causar destruição, É capaz de desgastar a rocha, apagar o fogo e umedecer o ar, mas também encontra caminhos onde nenhum outro elemento pode chegar. Nenhuma força a detém. 
O naipe que sustenta essa Rainha nos fala de duas potentes e antagônicas emoções. O amor, o mais nobre sentimento, pelo qual se concretizam grandes conquistas e se fortalecem laços de solidariedade. E o ódio, o outro lado do mesmo sentimento, que é responsável pelas piores mazelas e mais sanguinolentas guerras.

Rainha de Copas
Lo Scarabeo Tarot

Assim se manifesta essa dama da corte. Ela é a mãe amorosa, a esposa carinhosa, mas pode se tornar, em sua sombra, a mulher dissimulada, vingativa e cruel. Carrega as dores e as alegrias do mundo. Zela pelos que ama e defende-os até a morte. Numa tiragem, pode representar a amante, que é mantida em segredo, um de seus significados gerais.
Se você está com a Rainha de Copas, é momento de entrar em contato com suas mais profundas emoções, recalcadas em seu inconsciente. Os sentimentos estão aflorados, a intuição em evidência. Se souber contornar e limitar essas sensações, poderá navegar pelas plácidas águas de seu lago interior e realizar seus mais acalentados sonhos. Do contrário, poderá detonar um furacão de emoções, cujas consequências ainda não são percebidas. Saiba utilizar a nobreza dessa senhora para semear a paz e evitar a guerra. Compartilhe seus sentimentos e evite a dissimulação.

Rainha de Copas
Celestial

Se a Rainha de Copas é uma mulher em sua vida, atente-se para seus sinais. Cuidado para não se tornar vítima de seus sentimentos e nem render-se às suas chantagens emocionais. Aproveite de sua generosidade, mas fique atento às suas armadilhas.
E, por fim, se essa dama surge como conselho, o momento pede segredo. Não divida seus sentimentos com ninguém. Seja generoso, invista em seus sonhos, ouça sua intuição e proteja os que ama. O universo lhe pede delicadeza e entrega. Encha o mundo de amor!

Rainha de Ânfora
Policena (Polyxena)
Sola Busca Tarot

Nota do Editor: Para aqueles interessados na iconografia do Waite-Smith, sugiro a leitura deste texto aqui, da autoria da Mary Greer, sobre a imagem de Polisena do Sola Busca. É um oásis de informações nesse oceano de mistérios.