Quatro de Ouros
Universal Waite
Tá aí um rapaz que gosta de guardar coisas...
Quando eu era menor, eu queria fazer uma coleção de alguma coisa. O que mais deu certo foram selos... depois revistas de videogame. Era divertido repassar aquelas páginas e ver nelas, mais que matérias, lembranças.
Acho que é para isso que a gente coleciona. Para manifestar, plasmar fisicamente, recordações. Porque, cada vez que retomamos nossa coleção, ela parece mais bonita. O tempo faz uma pátina interessante na nossa relação com as coisas. Algumas ficam mais bonitas com o passar dos dias, outras perdem completamente o sentido. E algumas agregam novos usos.
E esse lance de colecionismo é sério. Existe inclusive um Instituto de Pesquisa do Colecionismo. O processo que nos leva a agregar valores a objetos e reuni-los dentro de uma lógica particular e específica está ainda longe de ser devidamente interpretado, entendido e vivenciado conscientemente. É um prazer, e, por ora, isso basta.
Evidentemente, existem pessoas que colecionam baralhos de Tarô, e eu sou uma delas. Cada baralho que chega é uma novidade, um carinho novo, um novo alento, um novo olhar sobre um mundo já conhecido com um universo por conhecer. Existem baralhos para tudo: desde os clássicos em fac-símile até aqueles voltados para o último modismo em voga no momento.
Contentar-se com um só é difícil, ainda que possível.
Mas não é fundamental ter vários baralhos para ser um bom cartomante. Na verdade, creio que isso mais atrapalha que ajuda. Porque Tarô se vivencia, e vivenciar algo demanda tempo. O estudo do Tarô não é cartesiano. Você tem que entender como aquele grupo de imagens lhe afeta, como e por que determinadas imagens do conjunto lhe afetam mais do que outras. Paralelo a isso, é importante estudar os significados clássicos, para que as cartas não subjuguem o conceito, mas o conceito se aplique a qualquer conjunto de cartas. Dessa forma, você possui o conceito interiorizado, o que lhe permitirá ler qualquer maço com precisão, somado a uma sensibilidade apurada para aquele baralho que é seu e, portanto, possui um simbolismo que lhe é familiar.
Eu, por exemplo, possuo uma série de baralhos que utilizo em minhas aulas. É importante que o aluno conheça iconografias específicas. Mas eu tive formação no Tarô de Marselha. Ainda tenho interiorizados seus desenhos e aplicações. Estou estudando o Waite-Smith com afinco, mas não nego minhas raízes - na verdade, as venero. E tenho por baralho de trabalho o Ancient Italian. Sua iconografia é em muito semelhante a um Marseille, mas os detalhes em que um e outro diferem são dignos de toda a atenção. Nesse ponto, é o que digo: por conhecer os significados básicos dos Arcanos, poderia jogar o Ancient Italian como qualquer outro baralho de Tarô. Mas meu interesse por seus detalhes específicos faz com que eu o compare com outros conjuntos, buscando as intenções do Dellarocca quando produziu tais imagens e ressignificando as mesmas para meu uso cotidiano (falamos sobre isso quando analisei o Mago, aqui).
Em termos de Cartomancia, eu já estaria satisfeito. Tenho um baralho que eu amo e confio, e tenho segurança nos detalhes que vejo. Acho que esse é o ponto em que todos nós deveríamos chegar. Encontrar o baralho que mais lhe atende. Normalmente, esse baralho é um Marselha (sobretudo nos países latinos; predomina o padrão Grimauld, embora vejamos outros padrões serem comercializados), um Waite-Smith (mais comum em países anglo-saxões, mas atualmente tem um mercado crescente, dado possuir ilustrações nos Arcanos Menores que, aparentemente, facilitariam o acesso ao conteúdo simbólico. As diferentes versões mantém o traço da Pamela Smith, alterando o material com o qual o colorido é produzido, ou inspiram-se nas imagens para produzir um baralho diferente.) ou um Thoth (cujas imagens, de rara beleza e apurado senso estético e simbólico, falam por si mesmas. Considero esse baralho irretocável e incomparável com os que nele se inspiraram).
Mas, anualmente, os catálogos das editoras se enchem de novas possibilidades, belíssimas, de baralhos. Temáticos, voltados para o paganismo, para o cristianismo, para culturas específicas, históricos, voltados para práticas mágicas, voltados para o cotidiano. A despeito de sua beleza, nem todos os baralhos que estão à venda são baralhos adequados à uma prática séria de Cartomancia.
É muito complicado dizermos se um baralho é bom ou ruim. Bom ou ruim baseado ou comparado com o que? Eu costumo me ater a baralhos históricos e clássicos. Para mim, são os melhores. E, quando digo melhores, não entenda que estou denegrindo os demais. Na verdade, são os melhores para um único cartomante - eu.
Fora minhas escolhas pessoais de baralhos para trabalho, eu gosto de ter outros pelo prazer de tê-los. Conhecê-los, experimentá-los, compreender a intencionalidade do artista na elaboração das imagens. Cotejá-los em relação aos Tarôs clássicos. Verificar sua simbologia específica. E, evidentemente, testá-los. Amo muito tudo isso.
Atualmente, tenho alguns baralhos em fase de apaixonamento e teste. São iconografias específicas, que pedem, mais que estudo, um mergulho. Estou até o topo da cabeça mergulhado em contos, músicas, pinturas, comidas, danças, usos e costumes da cultura árabe. Estou vivenciando as Mil e Uma Noites, não só em relação ao baralho de Tarô homônimo - que é um capítulo à parte, merecendo, portanto, uma postagem à parte - como em relação ao Persian Garden, baralho COPAG magnífico e de baixíssimo custo diante da sua beleza.
Isso porque teremos agora, em dezembro, 15% de desconto em qualquer produto COPAG comprado pelo site, bastando curtir a página da COPAG no Facebook e adicionando o código NATALCOPAG ao seu pedido, até o dia 31 de dezembro de 2011. Que vontade de comprar mais um :)
Da mesma forma, o Grupo Editorial Pensamento estará com uma promoção entre os dias 13 e 15 de dezembro: 30% de desconto em qualquer livro. Para quem gosta do Hajo Banzhaf, é uma mão na roda. Dois baralhos merecem atenção: o Antigo Tarô de Marselha, de Nicholas Conver, e o Oráculo Wicca. Tenho me divertido muito com o segundo, e o primeiro é um baralho clássico, produzido em 1760, de baixo custo, que não deveria faltar em uma coleção.
E meu atual vício é testar a capacidade da Priscilla Lhacer em encontrar baralhos raros para minha coleção. Ela trouxe para mim o Mage: The Awakening e o 8-Bit, entre outros. Em breve teremos notícias deles por aqui. Com calma, para termos tempo de degustar cada um deles com o carinho que merecem.
Fica aqui meu conselho: compre quantos baralhos puder e quiser (nessa ordem). Conheça os catálogos. Conheça os baralhos, os artistas, os idealizadores. Jogue quantos baralhos quiser. Mas lembre-se: o trabalho feito com um baralho é tão valioso quanto o trabalho feito com dez - o que importa é o quanto você estuda. Divirta-se colecionando - eu me divirto - mas lembre-se: o mais importante é o mergulho na simbologia, não a quantidade de baralhos que você vier a possuir. Mas estude, muito. Mesmo.
Abraços, aproveite as compras.
Concordo em gênero, número e grau! Vou pedir um Persian Garden ou o Mil e Uma Noites pra estudar tb... no fim, esse é o verdadeiro conhecimento que os decks trazem através de sua simbologia, não importa o contexto. Depende mesmo é da nosa atenção e boa vontade em buscar referências confiáveis, e da dedicação em aprimorar tais estudos. Bjs!
ResponderExcluirIsabel, ambos valem a pena, indubitavelmente. Amamos a ambos, não é mesmo? Um beijo!
ExcluirEmanuel, muito interessante teu blog! Sou iniciante na arte. Gostaria que pudesses tecer mais sobre o baralho modelo Persian Garden. Ah, conheces algo sobre o Tarot árabe? (Aliás, vc parece um príncipe árabe!)
ResponderExcluirO Persian Garden é um baralho bridge set da CartaMundi com imagens lindas de planjo de fundo, em uma caixa de luxo. No mais, são cartas comuns, apropriadas para a leitura com 32, 36, 40, 48 ou 52 cartas. Um dos meus baralhos favoritos, fica sempre na minha mesa.
ExcluirTarôs árabes, conheço dois, sem pensar muito: 1001 Noites (LoS) e Tarô Encantado (Siciliano, se não me engano). Possuo o primeiro e o livro do segundo, usando as informações do livro em estudos com o meu Tarô Ancient Italian.
Obrigado pelo elogio! Fiquei lisonjeado e feliz!
Obrigada pelas informações, Emanuel! Fiquei contente por ter respondido. Procurarei estas tuas indicações, bem como o teu livro! Acabei de comprar um Persian Garden. Gosto profundamente de tudo que é persa, árabe... Não sou uma vidente como minha irmã (linha cigana), contudo, quero aprender mais sobre a arte, e creio que encontrei meus tarôs, graças ao teus estudos compartilhados no Conversas!
ResponderExcluirEu sinto realmente aquela sensação gostosa de dever cumprido ao ler teu comentário. Sinal que estou no caminho certo, obrigado. Boa sorte com o Persian Garden, e, qualquer coisa, estou por aqui.
ExcluirCertamente que está, Emanuel! Encontrei todos entre os baralhos e os tarôs recomendados :D. Comprei um básico pra facilitar a iniciação, e mais alguns guardei pra comprar depois, o 1001 é meio complicado pra começar. Conhece este? (Nunca pensei em encontrar relacionado ao pensador sufi Rumi. Achei interessante e me quedei em amores...): http://www.aeclectic.net/tarot/cards/rumi/
ResponderExcluirUm abraço! Até mais!