quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Blogagem Coletiva Petit Lenormand: 04. Marcelo Bueno e a Casa.


Pessoal, continuamos com a nossa Blogagem Coletiva. É fantástico repararmos em detalhes que sequer perceberíamos se não fossem os olhares de nossos pares! E hoje tenho a honra de convidar este que é uma referência para mim: Marcelo Bueno, que já esteve conosco na Blogagem Coletiva Arcanos e Olhares, explanando o Rei de Paus.
Marcelo Bueno é profissional do Tarot há alguns anos e aventureiro eventual em outras oráculos, como o Lenormand. Seus textos estão disponíveis no blog Zephyrus – www.zephyrus.blog.br – onde ele compartilha seu modo de (vi)ver as cartas. Vivamos/vejamos o que ele tem a nos apresentar, hoje. 
Certeza que será gratificante, como sempre.


Ok, dificilmente este é o seu primeiro texto sobre o Baralho Lenormad (aka Baralho Cigano), logo, as palavras-chaves de cada lâmina não lhe são de todo desconhecidas.

Sim, eu sei que você estranha que o Trevo em alguns lugares seja descrito como “sorte” e, em outros, como “paus e pedras no caminho”, mas os atributos da Casa permaneceram inalterados ao longo do tempo e independente das escolas, o que facilita bastante a vida.

Sibilla della Zingara

A Casa, por sinal, está presente em outros oráculos, como o Kipper alemão, a La Vera Sibilla italiana e a La Sybille des Salons francês, entre outros, guardando sempre os mesmos significados.

Em resumo, encontramos nesta imagem muito simples quatro grandes linhas de interpretação:

·         O espaço físico que o consulente entende como sendo a sua casa, incluindo todas as questões de ordem doméstica (cuidados com relação a conforto, segurança, manutenção, etc.) e as pessoas que dividem este espaço – parentes ou não.

·         A família (núcleo familiar, antepassados, parentes, etc.) como identidade e elemento de formação, exercendo influência constante na vida do consulente.

·         A casa como ponto de apoio emocional, oferecendo segurança, equilíbrio e estabilidade.

·         Espaços físicos específicos, quando combinada com outras cartas, como escola de ensino fundamental (com Livro), pequeno negócio ou home office (com Peixes) e templo religioso (com Estrela ou Cruz), por exemplo – para ensino superior, grandes organizações e mosteiros, considere a Torre no lugar da Casa.

Acrescento à lista a Casa associada ao corpo físico, morada da alma, tanto nas pautas de saúde (Árvore) quanto no aspecto espiritual, como algo que não deve ser preterido em nome daquilo que o consulente considera mais elevado, pois o corpo é a sustentação do ser, seu veículo nessa existência. Obviamente, para cada opção é preciso analisar o contexto.

Então, se é isso, poderíamos parar por aqui, não?

Poderíamos, mas vou além.

Clique para ampliar

A segunda letra do alfabeto hebraico, e a primeira da Torá, é Beit, que significa "casa". Na sua primeira representação, Beit possuía a forma de uma tenda e, com ela, temos dois grandes ensinamentos: o primeiro faz referência à tenda do patriarca Avraham, que possuía três lados abertos (exceto o Norte, por “onde entra o Mal”), representando a hospitalidade.


A hospitalidade, para o judeu, tem tamanha importância, que você pode se recusar a fazer parte de um minyan (quórum mínimo de dez homens adultos necessários para a realização de algumas liturgias) ou pode se abster/interromper o estudo da Torá para ser hospitaleiro com outra pessoa – em especial, desconhecidos, o que aumenta o mérito da ação.

Trazendo para o Lenormand, esta hospitalidade pode ser vista como acolhimento em diferentes sentidos. Não apenas a generosidade que auxilia quem precisa, desprovido de interesse, como a receptividade para o novo. O famoso “pensar fora da caixa” só é possível se você se arrisca por caminhos que não são familiares, logo, fora da zona de conforto que a Casa, simbolicamente, representa.

O segundo ensinamento é a clara distinção entre “dentro” e “fora” - Beit, como prefixo, sempre indica o movimento para dentro daquilo que a precede. Saber o momento certo de se voltar para dentro e quando se voltar para fora ou como se preservar internamente das influências (nocivas) do mundo exterior são alguns desdobramentos deste atributo. Por ter valor numérico 2, Beit se refere às dualidades, de modo geral, mas vou me ater à principal para o que nos interessa com relação à carta.

Neste sentido, a Casa fala de privacidade e de recolhimento estratégico (diferente de isolamento, que é coisa de Torre), por vezes necessário para recuperar as forças ou botar o foco no lugar certo.

Esta dualidade “dentro” e “fora”, por sinal, é curiosa, pois o homem íntegro, ainda com base em ensinamentos judaicos, é tido como aquele que "fora" de casa não é diferente de como é "dentro" dela ou aquele que não expressa (fora) algo diferente do que traz dentro de si, mostrando que, na verdade, dentro e fora são conceitos ilusórios da nossa percepção limitada.

Esta integridade está presente na expressão “voltar para casa”, que muitas vezes ganha contornos religiosos, como “voltar-se para D’us” depois de um descaminho qualquer, mas, em especial, se refere ao resgate do Eu Autêntico, livre de máscaras e idealizações.

Fico imensamente tentado a falar do Rei de Copas como representação de David haMelech, o pastor, rei e poeta de Israel, por ele ser reproduzido em diferentes baralhos com uma harpa, mas a associação de naipes e imagens é um tema controverso, mesmo que seja muito mais simples escrever sobre uma figura da corte, por isso fica para uma próxima oportunidade.

6 comentários:

  1. Marcelo, meus parabéns pelo belo texto! O estudo da simbologia é algo que me fascina e onde dedico tempo para ampliar todo um mundo de possibilidades, foi maravilhoso pode ver a sua. :)

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  2. Mais um tesouro para nossos coraçõezinhos e nossos lares.

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  3. Nossa, encantada! E fiquei literalmente com água na boca pela possibilidade de um texto seu sobre o Rei de Copas.

    Parabéns e gratidão!
    _/\_

    Lilian

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  4. Olha eu de novo!

    O texto está ótimo, mas eu confesso que não consegui entender a visão do Marcelo, que é mais do que profissional. Dá pra ver nitidamente, que ele tem intimidade com o baralho. Eu tô engatinhando ainda, e para mim, tudo é novidade :)

    Geralmente, eu costumo analisar essa lâmina como "Equilibrio" apenas. A depender da combinação, eu julgo como o lar, propriamente dito. Exemplificando, posso contar a minha história: 'Não me dou bem com meus irmãos. É uma verdadeira guerra dentro de casa' E sempre quando eu abro as cartas, no sentido do que fazer da minha vida, sempre aparece A RAPOSA + A CASA ou ainda OS CHICOTES + A CASA. Eu lutei, relutei, estudei, e cheguei a conclusão, com a ajuda de outras pessoas, de que realmente esta tiragem faz referência a minha péssima situação com a minha "família" (Que de família não tem nada).

    Outra questão que eu aprendi com minha querida amiga Dani, do blog Cartas Amigas, é que essa lâmina pode representar um parceiro, em relações homossexuais. Deu super certo, porque as cartas sempre me mostravam a combinação A CASA + O CÃO + O CORAÇÃO, e eu não entendia nada, até que ela me ensinou como ver relações homossexuais (Que é o meu caso), no baralho.

    O que eu mais acho fascinante, é a grandeza desse baralho. Uma lâmina, com sua simbologia, traz diversos significados.

    É muito lindo.
    Vou ler e reler mais vezes esse texto, para assimilar melhor esse conhecimento.

    Super abraço.
    Cleiton.

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  5. A cada nova postagem aprendo um pouco mais sobre esse universo fascinante do Lenormand. Parabéns, Marcelo.

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  6. Privacidade taí gostei de ler esta palavra ligada a carta, geralmente falamos mais de família e convivência, o aspecto do Eu fica para a torre como bem expôs, muito bom.

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Quando um monólogo se torna diálogo...