Ainda escuro, ouvia meu pai estrilar os sininhos da bicicleta pela estrada de terra. Quando clareava, ele retornava, aninhando-se junto à lenha do fogão para comer pão de milho. Perguntei o que fazia tão cedo. “Acordar o sol”, maldizia entre os dentes. Foi então que, numa madrugada, ouviu-se apenas o silêncio. Papai, cansado, decidiu dormir para sempre. Ficamos sete dias no breu até que vovó, entregando a bicicleta, me deu o ofício da família - acordar o sol. Minha mãe diz que é maldição.
Eu não. Gosto do sininho.
Leonardo Sakamoto
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Quando um monólogo se torna diálogo...