quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Da consulta.

Pessoal, vi essa tirinha no blog Mulher de 30, da Cibele Santos (recomendadíssimo, não só para mulheres de 30, como também aqueles homens que querem entender suas mulheres de 30...), e não resisti a refletir a respeito. Vamos comigo e com a Cibele:


Para os cartomantes de plantão: quantas vezes nos deparamos com uma cena dessas, em que a mesa (ou método, ou tiragem...) aponta para um sentido diferente daquele procurado pelo consulente, sem, no entanto, apontar para uma negativa?
Tenho visto isso com uma certa frequência e, devido às reflexões propostas pela Giane Portal sobre jogos truncados, fiquei pensando nas motivações para uma consulta.
Eu não gosto de saber o motivo pelo qual o consulente vem à minha mesa. Parece-me limitador ir nesse ponto, diretamente; jogos como a Mesa Real e a Cruz Celta podem ir além de responder questões, e a Mandala Astrológica pode oferecer panoramas mais restritos, dependendo do jogo. Cartomancia é o contato com o maravilhoso mundo do inconsciente e do possível, e nem sempre é possível ir além do visível.
Mas o mergulhar nas cartas, para mim, tem que ser livre de amarras. E isso nem sempre satisfaz o consulente num primeiro momento. Repare na tirinha: por mais que os prognósticos sejam aqueles aspirados por quase todo mundo - representam a aparência de uma vida feliz e próspera - não correspondem àquilo que a consulente foi buscar, e, pelo jeito, ela não está dando a menor atenção ao que a vidente diz.
Existem cartomantes, no entanto, que preferem trabalhar com questionamentos prévios. Esses questionamentos limitam o universo de possibilidades das cartas. Tão funcional quanto não saber nada, justamente porque deixa o operador à vontade para fazer seu trabalho. Mas, nesse caso, a tirinha não existiria: ver-se-ia o possível marido, e dispensar-se-iam as demais questões. Tudo para conforto da consulente.
Para os consulentes de plantão: é ultra importante que você vá à consulta com algumas prerrogativas, a menos que você queira perder dinheiro (e não estou falando da competência do cartomante que lhe atenderá, que é outra história, conforme veremos à frente): saiba que o oráculo tem a precisão na resposta equivalente à sua certeza da questão. Então, formule sua questão com propriedade. Nomes, locais, datas de início e duração auxiliam muito nessa hora. Se não se sentir à vontade para isso, sem problemas: concentre-se em obter um panorama do seu momento. Avise isso ao seu Cartomante, ele saberá desenvolver o melhor jogo para você. Anote. Grave, se quiser. Aproveite a consulta ao máximo, preste atenção, faça perguntas. Converse com o seu Cartomante sobre o que ele está vendo, não sobre o motivo que te levou até ele. E vá dando feedbacks, se for necessário, para que ele possa guiar-se até o ponto em que você deseja. A consulta é sua, a visão é dele. O resultado, o aconselhamento, o encaminhamento, é construído pelos dois, para usufruto seu.
E aí vem a parte do Cartomante. Escolha, conscientemente, o profissional que te atenderá. É importante que você sinta empatia por ele. Alguns serão mais doces nas palavras, outros se aterão aos fatos vistos nas cartas, haverão aqueles que mesclarão abordagens terapêuticas, astrológicas, numerológicas, holísticas. Enfim, o que importará, nesse caso, é o quão à vontade você estará para ouvir, apreender e aplicar a consulta em sua vida. Sentiu que o Cartomante não está sendo preciso? Não hesite em avisá-lo. Ele terá respaldo para dizer o porquê de estar conduzindo a consulta por aquele viés. E, se não tiver, você sempre poderá procurar a opinião de outro profissional.
Cartomancia é magia, ninguém se iluda quanto a isso. Mas não é um grilhão, é uma escolha... que pode ser refeita.
Aos Cartomantes, clientes conscientes ou dispostos a conscientizar-se. Aos clientes, consulentes, curiosos, um Cartomante competente... ou mais de um.
E aí teremos consultas ricas e belas, sempre, crescendo juntos.
Abraços a todos. 


7 comentários:

  1. Emanuel, muito bem colocado! Estilos diferentes de consultas... estilos diferentes de cartomantes... mas o importante sempre é o foco e a clareza. Não sinto a pergunta ou a descrição como um fator limitador, porque gosto de ir construindo o jogo junto com o cliente - e às vezes para um universo simbólico tão amplo como são as cartas, o descritivo da situação ou a elaboração da pergunta podem ajudar a objetivar bastante a resposta, ao meu ver.

    Mas o importante é isso que vc colocou: independente do estilo de profissional, é fundamental a pessoa saber o que quer. E quanto a isso não podemos condenar a figura da tirinha... ela sabia o que queria - um marido!

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    1. Pois é Giane! É nisso que penso: a gente constroi a consulta com o consulente, atendo-nos ao que lhe é importante. Quando digo limitador, não é no sentido de restritivo, mas de ponto focal da intencionalidade da resposta. Assim, somos, como você mesma disse, mais objetivos na elaboração do panorama. Você tem toda a razão.
      E não é? De que adianta todo aquele panorama se, ao fim das contas... Nada daquilo respondia a questão? Fico pensando.

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  2. heheheheeheh sim, essa tirinha tão caricata reflete-se em camadas mais profundas do que aparenta - independente da intenção da autora! :)

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  3. Tudo bem? Adoro seus textos, ;Achei este tema bem legal e penso que quando isso acontece ( truncar o jogo ) é porque naquele momento não era para o consulente saber ou, ainda, o Tarot pode estar nos remetendo á uma outra questão ou situação que precisa ser resolvida antes de sabermos a resposta para aquela pergunta.
    Beijos.

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    1. Oi Magali, tudo bem, e você?
      Que bom que você gosta do que está por aqui. São os feedbacks que me fazem seguir adiante. Muito obrigado.
      Você foi no cerne da questão. Eu acho que todo jogo de Tarô é, na verdade, um despir de véus que, por ora, podem esconder mais que revelar. Cabe ao cartomante ir além, não é mesmo?
      Um beijo!

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  4. Sempre tem pessoas assim não?
    Acho que se apareceu algo que não foi bom deve ser dito ...
    Afinal se procuramos é porque queremos saber ...

    Passei também para te desejar um ótimo final de semana!

    Abraços e carinhos
    My

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    1. Sempre tem, My, sempre tem. E são as pessoas com as quais mais aprendemos. Querendo ou não, elas guiam nossa visão para pontos que poderiam passar batido. O problema é quando o panorama está claro - aí, não há mais o que dizer.
      Excelente final de semana! Beijos!

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Quando um monólogo se torna diálogo...