sábado, 2 de abril de 2011

Cisne Negro: caleidoscópio cartomântico [Parte 1: Nina]



Olá pessoal. Tendo assistido (e ficado visualmente impactado) o filme Cisne Negro, proponho aqui, em postagens distintas, mas complementares, explorarmos o universo criado no filme.




Ficha técnica:
Cisne Negro (Black Swan)

Gênero: Drama e Fantasia
Duração: 107 min.
Origem: Estados Unidos
Estréia 04 de Fevereiro de 2011
Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Mark Heyman e Andres Heinz
Distribuidora: Fox Filmes
Censura: 16 anos
Ano: 2010

Assista o trailer aqui.

Cisne Negro é um thriller psicológico ambientado no mundo do balé da Cidade de Nova York. Natalie Portman interpreta uma bailarina de destaque que se encontra presa a uma teia de intrigas e competição com uma nova rival interpreta por Mila Kunis. Dirigido por Darren Aronofsky, Cisne Negro faz uma viagem emocionante e às vezes aterrorizante à psique de uma jovem bailarina, cujo papel principal como a Rainha dos Cisnes acaba sendo uma peça fundamental para que ela se torne uma dançarina assustadoramente perfeita.

Vale, na contextualização do filme, ver o que a atriz e o diretor têm a dizer.




A primeira coisa que aponta, como um iceberg no oceano, nos primeiros momentos do filme, é o aspecto perfeccionista e infantilizado no qual Nina (Natalie Portman) vive. Entre a Corte, inicialmente cotei a Rainha de Copas como sua máscara, mas não; é mais jovem, é Princesa. Princesa de Copas. A Princesa de Copas proposta por Crowley no seu Thoth Tarot é verde, pois sua carência de Fogo ainda não lhe permite o rubor da pele. Ela dança um nível abaixo das ondas, nem tão profunda, nem tão rasa, caminha rumo ao fundo lentamente. Um cisne coroa sua cabeça, curiosamente fazendo referência às possibilidades iconográficas propostas aqui. Junto ao golfinho (aparenta bem mais ser um marlim) e o quelônio em seus braços, apresenta seres de águas medianas, não tão profundas, apontando para sua disposição para o mundo dos sentimentos - não tão profundos. Uma ave, um réptil, um peixe - não há aqui anfíbios, ela não está propensa à versatilidade destes, plenamente adaptados à terra e à água.



E assim, Nina, a Princesa de Copas, é perfeccionista em sua arte, levando ao extremo as possibilidades do seu corpo - nem sempre o corpo acompanha o desejo do espírito, sendo um limite que apresenta todas as possibilidades plausíveis. E dentro dessas possibilidades, Nina se supera indo ao extremo de suas forças, apresentando o Cisne Branco em sua mais diáfana e perfeita possibilidade. Ela não o interpreta; ela é.
Ver Natalie Portman se portando de forma tão suave foi extremamente chocante para mim, acostumado que estava com sua personalidade marcante nos personagens que interpretou anteriormente. Ela exala força e magnetismo, naturalmente; vê-la suavizada ampliou todas as minhas possibilidades de vê-la como atriz. Contudo, a forma como ela apresenta a firmeza de propósito de Nina corresponde fielmente ao que eu espero de um título que carregue seu nome.
Num ambiente confortavelmente opressor, onde seus hormônios não poderiam se manifestar - por vezes, pensamos que sequer tinha consciência de sua existência - Nina vive no blanc et rosé de um quarto de menina, de uma vida de menina, de um sonho de menina, tão acalentado por sua mãe, que, ao tê-la, desfez-se dos seus próprios. 
O seu despertar se dá no momento em que a idealização não condiz com a realidade do gesto. Um beijo, uma mordida, um convite para a intimidade, a total inexperiência, a mentira que a confirma. Cisne Branco, quem é você frente sua atual necessidade? Até onde poderá ir em sua busca insana pelo perfeito? Como aponta Hannah Arendt em A Condição Humana, a ação perfeita esgota o agente...
Abraços a todos, até o próximo post.
Parte 2: 09 de abril.

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Quando um monólogo se torna diálogo...