quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Cartomancia: Teoria e Prática - o livro chega a seus verdadeiros donos!

Olá pessoal. Para minha total alegria e contentamento, os primeiros livros Cartomancia: Teoria e Prática estão chegando aos seus verdadeiros donos. 


O primeiro a chegar foi o de Rubens Lacerda, do Projeto Arcano XXI.


Em seguida, chegou o da Thita Oliveira, criadora do baralho Era Uma Vez... Lenormand.


Chega o de Simone Jubileu Pedroso, junto com o livro de Rose Ragazzon sobre a Sibilla Húngara, que tive o prazer de prefaciar. 


O de Gabriela Amarello, em grandiosíssimo estilo.


O de Gilvania M Souza.


O de Kelma Mazziero, responsável pelo blog Cartas na Mesa.


O de João Acuio, responsável pelo Saturnália - Astrologia & Cidade e desenvolvedor do Tarot Furtado


O de Eliane Arthman, responsável pelo Baralho de Dona Maria Padilha.


O de Dona Yedda Paranhos, que tive a honra de entregar em mãos. Emocionada - o livro é dedicado, entre outras pessoas, a ela - ela me disse "agora você pode dizer que fez uma velhinha chorar!".

E você? Já adquiriu o seu? Mande fotos para o blog!
Não adquiriu ainda? É só clicar aqui


domingo, 16 de outubro de 2016

Cartomancia: Teoria e prática


Olá pessoal. Acaba de sair, pela Editora Alfabeto, meu mais novo livro: Cartomancia: Teoria e Prática. De forma bem descontraída, falo sobre as 32 cartas do baralho de Piquet e a Cartomancia aplicada com ele, assim como do Jogo do Destino, um jogo que possui todo um ritual e uma técnica para ser aberto, e que traz resultados incríveis!
Eu conheci essa técnica ainda na faculdade, há uns dez anos atrás (o tempo passa...). Ainda na faculdade, um amigo francês me presenteou com um baralho de Piquet que era de sua avó. 
O peso e a responsabilidade daquilo que pertenceu aos que vieram antes...


Desde então, eu venho praticando e testando esse jogo, que tem resultados incríveis, e obtendo sucesso em minhas leituras, com a praticidade que só o baralho comum é capaz de fornecer.
Recentemente, estive na França e, entre outras coisas, pude perceber a influência que os naipes tem na arte desse país. Algo que só me motivou mais a trazer esse conteúdo à tona. E agora, com esse propósito claro em mente, tive a oportunidade de apresentar para vocês os resultados de todos esses anos de estudo e prática. E voilà: cá está o livro disponível para aquisição!
Não perca a chance de conversarmos sobre esse baralho!
Para adquiri-lo, é só clicar nesse link

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Relacionamentos homossexuais (e livro novo!)

Olá pessoal. Uma das questões que recebo com mais frequência é da forma como devemos lidar com a homossexualidade no baralho. É um desafio interpretativo lidar com os aspectos da(s) sexualidade(s) com respeito ao cliente e ao procedimento. 
Notavelmente, os baralhos de cartomancia possuem uma perspectiva heterossexual. Quanto a isso, não há muito o que discutir, já que existe uma carta testemunha para o homem e uma carta testemunha para a mulher (falei mais sobre as cartas testemunhas nesse vídeo aqui). Em determinados baralhos, como o Sibilla Della Zingara e o Sybille Des Salons (aguardem novidades a respeito! ;) ) temos uma carta para o Casamento - na qual, invariavelmente, vemos um homem e uma mulher sendo abençoados.

O artista plástico Felix d'Eon fez uma releitura das cartas de casamento.
Existem outros trabalhos associando cartas de baralho a temas homoeróticos.
Confira em http://felixdeon.com/.

Particularmente, eu não sou favorável ao uso de cartas extras para representar os pares homossexuais, porque imagine se, para cada baralho que eu aprendo, eu precisasse desenvolver uma carta extra para um caso específico? É necessário, portanto, lançar mão de técnica para respeitar o oráculo e, ainda assim, obter a resposta correta. É necessário olhar o baralho com olhos para ver.
Tendo conversado sobre isso em relação ao Petit Lenormand, ao Sibilla Della Zíngara e ao Tarot, é hora de explorarmos um pouco mais as cartas comuns de jogar.
Faremos isso em outubro. 


Está em pré venda, pela Editora Alfabeto, meu mais novo livro, agora explorando o contexto das cartas comuns de jogar. Já já, em outubro, conversaremos sobre técnicas para abordar a tradição por uma ótica contemporânea.

Abraços a todos e até lá!

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Um conversa com o Louco.

Existem encontros que nos marcam. Outros, que parecem marcados.
Estava eu em frente a uma igreja. Eu gosto de igrejas - são o registro mais fidedigno da arquitetura de uma época (vide a atualidade...). Passa um rapaz com dois cachorros.
- Você gosta de igrejas? É cristão?
- Perguntas diferentes, respostas diferentes. Gosto de igrejas. Não sou cristão (precisa ser cristão para gostar de igrejas?)
- Eu sou ateu. Isso (apontando com o queixo para a igreja) não significa nada.
- Você não pode negar que é lindo. Imponente. 
- É. Pode ser.



E, ao seguir, eu vejo seu rosto mal escanhoado, seus cachorros e seu passo cadenciado.

E então eu rio. 

Aprendi com o Louco que não é necessária lógica para uma conversa ser frutífera. Já que, do Louco, não se poderia esperar grande lógica, não é mesmo?


Abraços a todos.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Quando o "não" é bem vindo.



Responder perguntas é uma arte. Quanto mais específica e direta, mais desafiadora é a função do cartomante. De certa forma, é muito mais fácil buscarmos na narrativa cartomântica prós e contras, sem, no entanto, arriscar-se um prognóstico direto. Entretanto, existe um ponto ainda mais difícil na leitura: quando é necessário dizer que não, os planos do consulente não caminham na direção que ele espera ou aspira.
Ainda assim, eu já tive casos em que a negação foi o melhor caminho. Puramente estratégico: não dar atenção a um aspecto da vida, ou negar uma opção, é permitir-se novos caminhos e opções diferenciadas. O jogo é isso - um mapa, onde nem sempre atalhos levam ao melhor lugar. 
Hoje eu tive uma experiência nesse sentido, e fiquei realmente muito feliz. Aflita, uma amiga pediu um palpite entre duas opções. Perguntei quais seriam as consequências de uma escolha ou outra - trabalhar em dois lugares ou dizer não à proposta que havia sido oferecida. Ela não sabia bem o que dizer, e realmente estava insegura sobre negar uma opção que, sabem todos os Deuses melhor que nós, poderia ser interessante a médio ou longo prazo. 
Como minha opinião vale menos que a minha leitura, propus que lêssemos o Tarot. Ela topou, procedemos com o início do ritual: a Carta Diagnóstico. Respirei, concentrei, embaralhei, cortei como de costume.



Cinco de Espadas.

Não.

Quando a primeira carta diagnóstico não abre, eu me concentro mais profundamente, buscando quais são os obstáculos para a leitura. A sensação que tive é que eu estava mexendo em algo que não deveria. Vamos lá, embaralhar novamente, cortar, tentar de novo.



Cinco de Espadas.

Não, como da primeira vez, mas esperamos que desta você entenda que não é não, Emanuel.

Avisei minha consulente. Ela abriu um jogo online. 



Nove de Espadas.

Não, tá? Chega.


A contragosto, ela decidiu dizer não à proposta que lhe ofereceram. Com uma confirmação tão poderosa, eu não tinha muito o que dizer, e fiquei pensativo. Sempre acredito no meu baralho, e sei que, quando ele nega, é porque o horizonte é melhor que o caminho escolhido. Isso não retira o amargo da escolha.


Menos de uma hora depois, ela me manda uma mensagem. Ela havia feito um concurso, para o qual não considerara as chances, e foi aprovada.

O não foi abençoado.


Abraços a todos.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Sobre a morte, sobre seguir.



Esse está sendo um ano curioso.
Todo ano morrem pessoas importantes - afinal de contas a Ceifeira não pede licença a ninguém. Vai quem tem de ir. Alguns reconhecem nisso seu ofício, outros, sua natureza, assim como há quem pense que esse é o seu desejo e louvam a Morte como deus.


Entretanto, por mais que seja amargo reconhecer isso, cada morte é também um prelúdio da própria morte do observador. O golpe final pode ter sido antecedido por um espancamento por remédios, por um linchamento de agulhadas ou mesmo por um combate honesto ou vôo de passarinho, mas é o ultimato que fecha o ciclo - de quem vai e de quem vai em nós.
Foi-se Elke. Foi-se em mim alguém que me fez pensar seriamente o que é, de fato, uma vanguarda, já que demorei pelo menos todos os anos que tenho para aprender a admirar e perceber que a perda foi minha, por não ter admirado antes.
E o dia começa lindo, mas triste.
Show must go on. A louça não se lavará sozinha.

domingo, 14 de agosto de 2016

Stranger Things, Stronger Things.

Todo Arcano do Tarô possui camadas. Acredito que, ainda que eu treine o estudo diariamente há anos e não tenha pretensão de parar tão cedo, não creio que consiga captar todas elas, já que o dinamismo das cartas está associado não apenas ao que significam, mas o que tendem a significar - o segredo que as abre é a pergunta, e cada geração tem suas próprias perguntas.
O segredo muda a cada geração, ainda que certas perguntas sejam sempre as mesmas. 
Houveram algumas tentativas de expor essas camadas, com as diversas leituras comparativas e associativas que as diversas escolas de mistério já fizeram. Tais registros nos permitem ler não apenas aspectos específicos aplicados de cada cartas, como também ler nas entrelinhas as perguntas que nortearam tais resultados. 
Camadas, cascas, escamas no Mistério. Algumas trarão luz, outras não. Outras, só trarão luz anos depois, quando seu sentido real for devidamente lido. Não dá muito para ter certeza fora do consenso, senão pela prática e pela experiência.
Cabe-nos fazer nossas perguntas e manter um registro dos resultados. Ainda que não tenhamos tempo de vida para ler os Arcanos em relação ao possível, ampliamos o campo do consenso - o lugar onde a Tradição permanece.


Acabo de terminar a série Stranger Things. Confesso que assisti pelo buzz todo que ela fez, para ter certeza se era realmente bacana a releitura de elementos dos anos 80, uma tendência contemporânea que está em franco crescimento.
Ambientada no ano de 1983, Stranger Things decorre na fictícia cidade de Hawkins, Indiana, onde um garoto de 12 anos desapareceu misteriosamente sem deixar rastros. Enquanto procuram por respostas, a polícia local, a família e os amigos do menino acabam mergulhando em um extraordinário mistério envolvendo um experimento secreto do governo, forças sobrenaturais e uma garotinha muito estranha.
Não me arrependi nem um pouco. Foi uma aula sobre a Força do Tarô. Vista sob vários ângulos, explicitando significados que estavam até então circunscritos à possibilidades que os livros oferecem como palavras-chave. Embora costumeiramente busquemos personagens cuja natureza e comportamento lembrem algum Arcano, eu encontrei na verdade tantas situações que me remeteram ao mesmo Arcano que não deixa de ser algo a se repensar. Outra camada de leitura.

[SPOILER ALERT: talvez eu acabe escrevendo coisas que alterem a experiência de assistir o seriado. Assista primeiro, depois conversamos, tudo bem? Ou talvez você não ligue para isso, continue lendo e conversamos do  mesmo jeito. Ou talvez você queira um resumão, e eu particularmente me diverti bastante com esse aqui.]

Pensemos na estrutura do seriado. São três núcleos diferentes, em função da idade dos personagens: os protagonistas, crianças; os irmãos dos protagonistas, adolescentes; e os pais, adultos. A história cruza os três núcleos mas eles não se tocam completamente. Todos estão decididos a enfrentar a Fera. Cada um por motivos bem diferentes, que emergem da narrativa à medida em que ela se desenrola. 
O primeiro núcleo, das crianças, é o típico grupo de RPG (falei algo a respeito quando escrevi sobre o Quatro de Paus). Não só porque de fato jogam RPG, mas porque suas personalidades são complementares e o sucesso da amizade reside no fato de que os conflitos se resolvem com o mediador que sobra. 
Mike é o líder que tem a palavra final, Lukas é aquele que busca o caminho mais lógico, Dustin possui o raciocínio mais claro. Há regras na amizade entre eles, evocadas sempre que necessário. A Persuasão (citando deliberadamente o baralho Kier) reside na rememoração dessas regras. Sabemos pouco sobre Will, mas não deixa de ser uma evocação da vontade chamar por ele.


No núcleo adolescente, vemos a relação entre Jonathan Byers e Steve Harrington ao redor de Nancy Wheeler, que tem que escolher qual é o lado que lhe toca mais. Ela se transforma em função dos eventos do seriado, do importar-se, do enfrentamento. O próprio Steve se transforma, por enxergar aspectos que outrora era incapaz pelo reforço negativo que recebia dos companheiros. Jonathan descobre aspectos de si que não lhe soavam possíveis. 
A Força quebrando padrões.


No núcleo adulto, vemos Joyce Byers lutando pelo filho e contra a loucura. O Delegado Hopper luta pela cidade, e contra o seu passado. Os personagens, num geral, estão lutando contra o seu passado, que os impede de criar um futuro decente. 


E, claro, temos Eleven - cujo nome já a associa diretamente ao Arcano. Sua luta para sobreviver é matando um leão por dia (às vezes mais de um). Sua dificuldade com a fala, suas dores revividas em flashbacks e suas decisões por medo e amor aproximam-na da tessitura narrativa da Força. Dificuldades não se eliminam da memória: se superam. 


Existe uma teoria que diz que Eleven pode ser o Monstro. Eu não tenho muita certeza para concordar, pelos eventos do último capítulo com Will. E você, o que acha? 


Toda essa reflexão não seria possível sem eu ter visto a Força do Tarot Furtado no intervalo entre um episódio e outro. Mais que uma proposta estética, o Tarot Furtado é uma proposta interativa na qual a memória e o esquecimento são fundamentais. Nessa carta, quem foi Furtada foi a Mulher, e a sugestão do baralho é sê-la, própria e apropriadamente. Entretanto, minha familiaridade com o baralho clássico faz-me ver ela, ainda, ali. Está mas não está, como um reflexo do Mundo Invertido na parede. 
Fica o monstro, a Fera, o instinto, a saliva, o hálito, o sangue, as presas e as garras, sentadas incólumes numa figuração perigosa. O pitbull pulou o muro, mas não fareja comida. Talvez a carne tenha melhor gosto. 
Cabe a mulher, Menina, descobrir-se e (re)lembrar o que foi furtado de sua vida: o Amor. Conforme o autor do Tarô Furtado, o que primeiro foi Furtado foi o Amor, este devolvido na primeira jogada. 
Tarot Furtado é um Tarô de amor, porque ele devolve o perdido sem ter sido pedido.
É o amor que une Mulher e Fera, num laço de flor mais forte que qualquer cadeia. 


As luzes piscam, concordando.

O Demogorgon nomeado perde sua Força pelo toque da menina renomeada. Eleven passa a ser El, um dos Nomes de D'us. Intencional ou não, o eco do Nome garante o efeito. Nos Nomes, o poder. As mãos se estendem, mas não se tocam; Escher sorriria e, incrédulo, preencheria um sketchbook inteiro. Mas, num átimo, o que estava, não mais está. 
Mas, claro, essa é só mais uma camada. 
Ainda tenho muitas a descortinar.

Confira o Tarot Furtado no Clube do Tarô e no Zoe Tarot. E siga o Tarot Furtado no Facebook. 

sábado, 6 de agosto de 2016

O Eremita e o distanciamento.



Olá pessoal. Como tratamos no começo desse ano, eu tenho atentado para como os dois Arcanos Maiores propostos para o ano - Torre e Eremita - tem se mostrado presentes em meu cotidiano. a subjetividade inerente à experiência é o maior obstáculo para a leitura, afinal de contas eu não estou lendo minhas experiências nos Arcanos, mas sim tentando encaixar minhas experiências nos Arcanos. O desafiador, no caso, é justamente desidentificar-se. Em outro contexto, com outra pessoa, eu veria a experiência como escopo de qual Arcano?
E, embora eu tenha reconhecido a Torre como tônica do ano até o momento - de fato, muitas estruturas que considerava sólidas ruíram com uma facilidade tremenda - eu tenho tentado também ler os eventos à luz do Eremita. Do macro ao micro, do solo ao grupal, o que eu vejo é uma constante busca por identidades perdidas ou mal lidas. Saber quem sou eu não basta; preciso saber quem sou eu no contexto em que estou.
Esse fragmentar-se em possibilidades de reação - afinal de contas, somos Legião - apresenta-se, sobremaneira, nas redes sociais. Eu tenho acompanhado algumas postagens, com meu Engov do lado, para ver até onde vai a intensidade do ódio destilado. Protegidos em suas casas, escudados por seus monitores e telas de celular, percebo o quão corajosos se tornam os indivíduos. Os justiceiros de internet não poupam imprecações contra quem quer que seja, sob a capa de é minha opinião! 

"Tomara que morra!"
"Essa pessoa faria o favor de se jogar na frente de um carro."
"Errou em ter nascido"
"Bem feito"

Eu não estou, nesse caso, questionando o que os odiáveis fizeram para merecer tais praguejares, estou questionando a disponibilidade que existe em odiá-los, sem consequências (imediatas, ao menos). É possível postar um "que o Diabo o carregue!" e continuar conversando com a mãe sobre a novela de ontem. É possível desejar que "um caminhão de lixo atropele" e ir ao banheiro, escovar os dentes. 



Isso não é possível fora do meio virtual. Da discussão ao combate, o reino de Marte não permite que você mude facilmente de ideia e siga a sua vida. A responsabilidade pelo (mal)dito é cobrada no fio da espada, cheirando a saliva e sangue. Que responsabilidade existe sobre o dito na internet, mesmo?
Ah, sim, o registro.
O que é escrito não se apaga, se esconde. Fica na timeline do Facebook, ou no meio de mil e um tweets passados. Mas não em branco - mais cedo ou mais tarde, eles virão à tona. Cuidado com seu ódio, semelhante atrai semelhante. 
Isso poderia ser uma maldição, mas é só uma dica. 
Cuidado com o que escreve, com o que ama e com o que odeia. Um dia ou outro, as coisas mudam e você tem ali o registro de sua imediatez, de seu instante, de seu momentum.
Se há um desejo sincero de minha parte, é de que você não se envergonhe. 

Serpente, eu te reconheço.

E, diante desse quadro tão digno do Arcano XVI, marcial por excelência, o Arcano IX mostra-se em sua beleza inegável: a lentidão dos passos, o distanciamento adequado, a reflexão e o silêncio para o correto agir, falar e portar-se. Se o afastamento pode ser uma forma de causar no outro a sensação da ausência, a não relação, a criação de confusão e desarmonia, por afastarmo-nos de tudo o que não gostamos - ouvi isso ontem - o Eremita ensina uma lição diferente. Só podemos ver panoramas distanciados daquilo que chama nossa atenção. De perto, detalhe, parte, foco. De longe, panorama, amplidão, possibilidades. Quem de nós nunca jogou para si mesmo e teve dificuldades, ouvindo na voz de outro cartomante tudo aquilo que o baralho havia dito e não foi capaz de ler, que atire o primeiro Louco ao precipício. De longe fica mais fácil reconhecer o real. O risco, como a internet bem nos mostra, é tornarmo-nos covardes diante do bom combate. É bom manter a clareza de quando estamos corretos e quando estamos acorrentados a uma ou outra perspectiva.



Então eu levo isso para a vida. O distanciamento tem o seu valor, para evitar a grosseria que tornou-se lugar comum no cotidiano. Não me vejo na obrigação de participar desse curso de ódio que estamos tendo em redes sociais. Não me vejo na obrigação de manter relacionamentos doentios e tóxicos. Não me vejo na obrigação de corresponder a expectativas menores que minhas possibilidades. 

Na dúvida, o importante é sorrir, deixar ir, e observar. 
Relacionamentos ilusórios se desfazem com o tempo. O que permanece, depois de Torres e Eremitas, é o que se leva. 
Leve.



Em direção à Estrela. 

Abraços a todos. 




segunda-feira, 25 de julho de 2016

Castelos de areia.



(...) ela se lembrou de quando tinha 4 anos e estava na praia, chorando porque o vento tinha vindo e desfeito o castelo que tinha construído. A mãe tinha dito que poderia fazer outro se ela quisesse, mas isso não impediu que chorasse, pois o que ela acreditava que era permanente não era permanente afinal, apenas feito de areia que desaparecia com a força do vento ou da água.

Clary | Cidade das Cinzas, Cassandra Clare.

sábado, 9 de julho de 2016

O baralho de Dona Maria Mulambo agora tem livro!


Olá pessoal. Eu acompanho o trabalho de Sonia Boechat Salema com muito carinho. Ela é uma pessoa criteriosa no que faz e devota ao seu povo como poucas vezes vi na vida. Dotada de uma sensibilidade ímpar, conversar com ela é certeza de querer conversar de novo. 
Ela sabe o que faz. 


Já há algum tempo, recebi meu baralho de Dona Maria Mulambo, a guardiã da Sonia, sua parceira de magia. É um baralho magnífico. É um dos baralhos das Senhoras. E é um desafio fascinante. A Karla Souza, autora do Esmeralda Lenormand e responsável pelo Falando Lenormandês, escreveu um artigo sobre ele também.
Agora, contamos com o companion escrito pela Sonia! São 312 páginas de teoria e prática não apenas de leitura cartomântica, como de rituais associados à Dona Maria Mulambo. 
Os Exus e Pombogiras são espíritos muito cultuados pelos devotos das religiões afrobrasileiras, mas sofrem de uma má interpretação pelos leigos. Associados ao mal - numa perspectiva maniqueísta rasa - são melhor entendidos quando apresentados por alguém que sabe o que está fazendo e do que está falando. Com a delicadeza que lhe é própria e a autoridade que lhe cabe, Sonia abre o livro explicando didaticamente sobre a natureza de tais entidades para aqueles que, como eu, não os conhecem o suficiente. 
Em seguida, apresenta cada uma das trinta e seis cartas, pormenorizadamente, conforme seu comportamento no jogo - da mensagem como carta do dia, à aplicação em áreas distintas e no posicionamento no Grande Jogo (semelhante à Mesa Real, mas com peculiaridades próprias do sistema).


Na terceira parte, fala sobre a consagração e sobre a mística do baralho. Ainda que não seja fundamental - baralho funciona se o cartomante funciona - esse é um baralho especial, ligado a uma egrégora específica e que atrai pessoas afinadas com ela. Sendo assim, acho pertinente que o baralho seja consagrado, não apenas por tornar-se um instrumento oracular, mas porque é um laço com alguém querido - estamos adentrando a seara de Dona Maria Mulambo, é no mínimo gentil que a agrademos para selar a amizade. 


Na quarta parte, fala sobre a prática, sobre os jogos mais adequados conforme a sua experiência na construção do oráculo e sobre a construção do diário de jogos. Embora o baralho aceite bem qualquer jogo que proponhamos, minha tendência é sempre acompanhar o raciocínio do autor, e, sendo a Sonia, eu acompanho tranquilo.
Na quinta parte, a mística, os rituais, mirongas, mandingas, conjuros e encantamentos de Dona Maria Mulambo. Para aqueles que, como eu, não se contentam em ler, sem viver o lido. 



Tudo o que eu disser aqui é pouco. Esse é um baralho para ser vivenciado, sendo ou não da religião afro. Vale o desafio, vale o encontro, vale o conjuro.


Para adquiri-lo, entre em contato com Sonia Boechat Salema na Tzara da Estrela - blog e página no Facebook.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Cartomancia: Previsões para a vida material


Olá pessoal. Esse fim de semana foi singular e divisor de águas - quase uma iniciação, se não tiver, efetivamente, sido. O evento Cartomancia - Previsões para a vida material foi, para mim, muito mais que um encontro de experts em Cartomancia do Brasil e do mundo. Foi meu encontro com um ícone da Cartomancia mundial, que eu sigo desde 2003 - Robert M Place.



Em 2003, um baralho figurava na livraria da cidade e me chamava a atenção: era o Tarô dos Santos, um box incluindo baralho e livro. Eu não fazia ideia de quem era o autor, mas me corroía a ideia de descobrir qual teria sido a escolha para o Arcano XV. 
Mal sabia eu que esse livro mudaria totalmente minha forma de ver as cartas, assim como nortearia meus estudos dali por diante. 



Robert Place já esteve conosco aqui no Conversas Cartomânticas algumas vezes. Citado no artigo Análise da posição das cartas em um jogo, no qual eu resumo a metodologia da leitura de três cartas conforme ele propõe; Na abertura do Ano VI do Conversas Cartomânticas, com um artigo sobre Os Enamorados; e na Blogagem Coletiva sobre Petit Lenormand, com a carta 18, o Cão
Mantemos razoável correspondência (dificultada por eu não ser bom o suficiente em inglês, mas eu me esforço) e, quando eu soube que ele viria ao Brasil, nada mais me importava o bastante: eu conheceria uma das maiores referências para o meu trabalho e jornada.
Tudo, absolutamente tudo, valeria a pena para isso.



Foram meses construindo uma palestra, apresentada conjuntamente com Patrícia Farias, sobre a prosperidade e o Petit Lenormand. Entender não só a parte oferecida no livreto, como também o papel do cartomante, do consulente e do ambiente no momentum da consulta. Meses ansioso pela perspectiva de encontrar Robert M Place. Meses focado nessa perspectiva. 



E, finalmente, o encontro ocorreu. Eu não sabia o que dizer.
Então eu sorri. E ele sorriu de volta.

Sorrisos. Resolvendo problemas linguísticos desde a Criação.



A palestra da sexta feira foi espetacular. História e simbolismo do Tarô. E a frase mais poderosa que já ouvi a respeito, que coloca o Tarô e todo o conhecimento criado ao redor dele no devido lugar (cito de memória):


O Tarô não foi feito por Magos, ocultistas ou estudiosos.
O Tarô foi feito por artistas. 

Melhor, impossível. É possível contextualizar o Tarô com as mais diversas crenças e existem bruxos consideráveis que utilizam as cartas como foco de rituais. Mas o Tarô, o maço de cartas que recebe esse nome, ganhou tal utilização a posteriori. O Tarô é uma obra de arte. Todas as releituras esotéricas e poéticas são supérfluas quando se busca uma origem essencial. Legitimações, por vezes, démodé. 
O Tarô foi feito por artistas.



A masterclass foi ainda mais surpreendente. Composta por uma parte teórica - a construção do Alchemical Tarot - e outra prática - a leitura por três cartas - tive a honra de receber uma leitura do artista, do seu jogo dos relacionamentos.



Num primeiro momento, jogamos uns para os outros sob supervisão de Robert M Place. Era impressionante a capacidade de síntese que ele possuía diante dos meandros por vezes enevoados da interface em três cartas 



Quando partimos para o Jogo dos Relacionamentos e havia a necessidade de um voluntário, não esperei que ele terminasse a frase. Este era um clímax que ninguém tiraria de mim, mesmo se tentasse. 
Gentilmente, Place dissecou um aspecto da minha vida que, pelo acuro e assertividade, me deixou completamente boquiaberto. E, com o bom humor que lhe é peculiar, me disse "mas... não é óbvio? Está na imagem."



Não tirei fotos. Não fui preparado para isso. Entretanto, meu caderno está repleto de anotações e conexões com outras disciplinas. Essa foto acima, entretanto, mostra o espírito do evento: aquecendo uns aos outros. Trocando informações e usufruindo da oportunidade de estarmos na presença de alguém que, de fato, sabe. 



Agradecimentos especiais aos organizadores do evento, e também à Jamile e ao Acuio, que foram surpresas extremamente agradáveis (não basta serem queridos na internet, ao vivo são muito mais!)


Agradeço também a todos aqueles que adquiriram o livro Sibilla Della Zingara e também o Baralho Cigano: As Cartas de Lenormand. Agradeço a todos aqueles com quem pude conversar, e a todos aqueles para quem joguei e que também jogaram para mim. 
Encontrar-nos-emos em outros eventos!

Abraços a todos.