quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Quando o "não" é bem vindo.



Responder perguntas é uma arte. Quanto mais específica e direta, mais desafiadora é a função do cartomante. De certa forma, é muito mais fácil buscarmos na narrativa cartomântica prós e contras, sem, no entanto, arriscar-se um prognóstico direto. Entretanto, existe um ponto ainda mais difícil na leitura: quando é necessário dizer que não, os planos do consulente não caminham na direção que ele espera ou aspira.
Ainda assim, eu já tive casos em que a negação foi o melhor caminho. Puramente estratégico: não dar atenção a um aspecto da vida, ou negar uma opção, é permitir-se novos caminhos e opções diferenciadas. O jogo é isso - um mapa, onde nem sempre atalhos levam ao melhor lugar. 
Hoje eu tive uma experiência nesse sentido, e fiquei realmente muito feliz. Aflita, uma amiga pediu um palpite entre duas opções. Perguntei quais seriam as consequências de uma escolha ou outra - trabalhar em dois lugares ou dizer não à proposta que havia sido oferecida. Ela não sabia bem o que dizer, e realmente estava insegura sobre negar uma opção que, sabem todos os Deuses melhor que nós, poderia ser interessante a médio ou longo prazo. 
Como minha opinião vale menos que a minha leitura, propus que lêssemos o Tarot. Ela topou, procedemos com o início do ritual: a Carta Diagnóstico. Respirei, concentrei, embaralhei, cortei como de costume.



Cinco de Espadas.

Não.

Quando a primeira carta diagnóstico não abre, eu me concentro mais profundamente, buscando quais são os obstáculos para a leitura. A sensação que tive é que eu estava mexendo em algo que não deveria. Vamos lá, embaralhar novamente, cortar, tentar de novo.



Cinco de Espadas.

Não, como da primeira vez, mas esperamos que desta você entenda que não é não, Emanuel.

Avisei minha consulente. Ela abriu um jogo online. 



Nove de Espadas.

Não, tá? Chega.


A contragosto, ela decidiu dizer não à proposta que lhe ofereceram. Com uma confirmação tão poderosa, eu não tinha muito o que dizer, e fiquei pensativo. Sempre acredito no meu baralho, e sei que, quando ele nega, é porque o horizonte é melhor que o caminho escolhido. Isso não retira o amargo da escolha.


Menos de uma hora depois, ela me manda uma mensagem. Ela havia feito um concurso, para o qual não considerara as chances, e foi aprovada.

O não foi abençoado.


Abraços a todos.

2 comentários:

  1. O Não é sempre um paradoxo, e é um tema muito discutido até pedagogicamente, quanto a educação dos filhos. Achei fantástico quando você diz: "minha opinião vale menos que a leitura". Esse é o desafio que enfrentamos ao jogar para amigos, deixar claro que nossa opinião pessoal não está ali, naquele momento. Não, é não, e ponto final. Gostei.

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    1. A mão do cartomante é sempre soberana, mas é o baralho soberano sobre todos nós.
      A ele, e somente ele, a reverência na leitura.

      Abraços, meu caro!

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Quando um monólogo se torna diálogo...