sexta-feira, 31 de julho de 2009

A Carta Diagnóstico ou: Quando não se deve proceder com a consulta



Uma das técnicas que venho desenvolvendo em minha prática na cartomancia, e que tem obtido resultados excelentes não só para mim, como para meus alunos, é a Carta Diagnóstico. Apesar de podermos jogar sem nenhum tipo de "licença" ou ritual, já que o processo interpretativo ocorre de acordo com o cartomante e o seu conforto na situação de leitura, eu, particularmente, "peço licença" para abrir o jogo, e essa licença é dada pela Carta Diagnóstico. Com ela, eu sei se posso abrir o jogo e qual é o principal assunto que será tratado na leitura. É um índice, um sumário, um começo. 
Certa vez, eu resolvi abrir o Thoth Tarot, buscando uma orientação. Respirei fundo como de costume, esvaziei a mente, buscando concentração e centramento, de forma a alcançar a clareza para enxergar a situação sem deixar que as esperanças ou o medo me influenciassem. Afinal, jogar Tarô para você mesmo é a maneira mais simples de aprender e a mais fácil de se enganar.
Chegado o momento do corte, viro o Arcano XII.
Fiquei atônito. Ué, mas eu tinha feito tudo certinho, porque o jogo não abriria?

Muitos jogos pedem uma certa quantidade de cartas ou mesmo um certo embaralhamento para abrir - são os rituais próprios de cada cartomante. Para evitar confusões ou indecisões de minha parte, elegi a escolha da Carta Diagnóstico para entender que forças estão em atuação no momento atual da consulta. Esse é o primeiro embaralhamento do jogo e quem corta é o cartomante - é ele quem mapeará as energias que estão envolvendo o momento do jogo, a si mesmo e ao consulente, percebendo também através dessa carta como proceder em relação ao consulente - que vocabulário utilizar, quais são as áreas da vida do consulente sobre as quais deve se focar mais etc.
É possível usar a técnica com qualquer baralho que se utilize, desde que se reflita sobre o significado de cada carta e se teste a técnica a partir desse primeiro mapeamento. Não é difícil supor quais cartas no Petit Lenormand não abrem jogo, por exemplo. Contudo, com a prática deste método, surgiram questionamentos específicos de cada baralho, por exemplo, no Petit Lenormand: "O jogo abre com as Nuvens? É um jogo de confusões mentais, stress, ou é a voz de Iansã?"
Para mim, não pode haver dubialidade em nenhum momento do jogo, sobretudo em seu começo. Quando saem cartas que podem responder de maneira dúbia - tanto o jogo não deve ser aberto quanto o jogo versará sobre aspectos muito densos/tensos da vida do consulente, tiro mais três cartas: 
Uma para o ambiente, pois o local pode não estar adequado para a consulta, sendo necessário efetuar alguns momentos de harmonização, acendendo incensos, aspergindo água abençoada ou perfume ou acendendo velas; 
Uma para o consulente, para saber se ele está pronto para o jogo ou movido por sentimentos menores, como a curiosidade ou o teste "se o cartomante é bom mesmo"; 
Uma para o consultante (o cartomante), porque nem sempre estamos cem por cento para iniciarmos uma leitura.
No exemplo, o Enforcado diria respeito a coisas que serão vistas de maneira equivocada (Sabendo que o jogo era para mim mesmo, seria difícil ir além das minhas vontades imediatas na leitura). Surpreso, como já disse, não me contentei e arrisquei uma segunda tentativa. 
Saíram: Ás de Espadas. Três de Discos. Cinco de Copas.
O Ás de Espadas para o ambiente mostra clareza na exposição intelectual do jogo, ou seja, as idéias que o permeavam seriam vistas de maneira clara, pois a energia estava fluindo bem no local.
O Três de Discos para o consulente mostra que a preocupação está ligada ao plano material e deve ser informada de maneira prática, direta, sem rodeios.
Entretanto, o Cinco de Copas, a terceira carta, foi que me respondeu por quais motivos eu não deveria abrir o jogo: eu estava muito envolvido emocionalmente com a questão para ter clareza, devido à mágoa envolvida no processo.
Como cliente ok, como cartomante... não.
Perguntei então se era realmente importante abrir o Tarô para essa leitura. Saiu o Oito de Copas. Nesse caso, seria um jogo por uma informação que eu estava careca de saber mas ansioso por confirmar, e que sem sombra de dúvida despertava em mim sentimentos menos nobres. 
Ok, ok. Entendi. Eu jogo depois. Por outros motivos, claro.
Usar a Carta Diagnóstico é muito bacana e muito efetivo, não importa qual cartomancia você utilize. Ela evita leituras anacrônicas, confusas, truncadas, porque impede que o jogo comece se algum dos três fatores estiver destoando: o ambiente, o consulente e o consultante (o cartomante) devem estar em perfeita sintonia para que o jogo flua com tranquilidade, respeito e sobretudo, clareza nas explanações.
Um grande abraço nada truncado e até o próximo post.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Significados do Petit Lenormand / Baralho Cigano.

Olá pessoal. Esse post foi retirado do meu blog antigo, Cartomancia - Por Emmanuel. Como esse post foi feito há alguns anos, eu perdi alguns dos links que me serviram de fonte, eximindo-os deste post, e modifiquei algumas informações que, com o tempo, verifiquei serem anacrônicas. Essa versão portanto é atualizada e ampliada em relação à anterior.
Conforme sabemos, não existe um baralho cigano, mas sim um baralho dito cigano e uma dita forma cigana de jogar (incluo uma aqui, só que com o Tarot). O baralho dito Cigano foi creditado, ainda no século XIX a uma francesa, Marie Anne Adelaide Lenormand, nascida em 27 de maio de 1772 em Alençon, França. Era uma cartomante muito popular e entre seus clientes podemos citar Napoleão, Josephine de Beauharnais, Robespierre, Louis XVIII entre outros. Uma resenha excelente sobre sua vida e seu baralho encontra-se no Clube do Tarô, de autoria de Constantino K. Riemma.
Além de cartomante, Mademoiselle Lenormand era astróloga, quiromante, numeróloga e tinha muitos outros conhecimentos como geomancia, dominomancia, cafeomancia. Ela revolucionou o conhecimento da Cartomancia, na época, utilizando flores, ervas e talismãs junto com seu jogo de cartas, como podemos observar no Grand Jeu de Mlle. Lenormand, de 54 cartas. - as 52 do baralho comum mais duas, representando o homem e a mulher mais importantes para a consulta. Segundo o Alexander, do blog Lenormando, esse baralho bebe diretamente na fonte aberta por Etteilla, a hipótese mais plausível e mais aceita até então pelos que buscam uma origem para essas cartas.
Sendo esse baralho de 54 cartas complexo e de difícil compreensão, Mlle. Lenormand criou uma segunda versão, o Petit Lenormand, de 36 cartas. E é esse último que foi adotado pelos Ciganos. Sabendo que Etteilla trabalhou com o Baralho de Piquet, de 32 cartas, somando mais uma, o consultante, e vendo nos baralhos de Lenormand tal referência, fica atestada sua referência em Etteilla.
Com seu desencarne, em 25 de junho de 1843, muita desta sabedoria desapareceu com ela. incluindo suas fontes e métodos que utilizou para desenvolver o seu próprio Somente cinqüenta anos depois, alguns manuscritos de Lenormand foram recuperados e mais tarde divulgados - ou melhor dizendo, relidos.
Nesse vídeo temos algumas atribuições às cartas Lenormand, em inglês, que correspondem ao livretinho que acompanha qualquer desses baralhos mais simples, aqui no Brasil. Esses significados, muitas vezes estão impressos nos baralhos; são oriundos de pequenos poemas que são vistos, por exemplo nas Cartas Mundi - por exemplo, na carta 24 (thanks, Alex, por essa informação). Os poemas, é importante dizer, diferem de edição para edição do baralho.
Todavia, sendo nômades e de natureza mágica, os Ciganos se apropriaram do oráculo e dele usufruiram, assim como da Quiromancia e do Tarot, desempenhando, muito bem devo dizer, tais mancias. Por isso, podemos dizer também que o fato desse oráculo não ter sido perdido foi devido ao esforço desse povo mágico e sofrido para sobreviver, tendo nas mancias um meio de troca que lhes permitia conseguir algum dinheiro.
Minha experiência particular com esse baralho me permite dizer que embora simples, de forma alguma esse oráculo é superficial. Ao contrário, suas respostas são diretas e francas, como as de um bom amigo. Mais que isso: com a devida compreensão, estudo e - claro - com o auxílio de egrégoras podemos ver além da compreensão literal das lâminas.
É importante, porém, frisarmos que esse baralho sofreu modificações com o tempo, desde sua utilização na França até sua chegada no Brasil. Devemos, inclusive, a Katja Bastos e César Bastos, com sua edição do Tarot Cigano, algumas da interpretações que perpetraram no nosso imaginário e nas publicações seguintes à essa publicação, que acresceram a esse baralho um quê de Brasil, aproximando-o de nossa realidade, mas afastando-se da tradição - vale a pena comparar a edição, de 1993, dos referidos autores, com as edições posteriores de diversas editoras, sobretudo no que concerne à atribuição de determinados Orixás à certas cartas.
A melhor edição deste baralho que encontrei, aida que com imagens simples, foi o Baralho de Ver a Sorte, Série Pingüim, da COPAG. Contudo, essa edição está esgotada e, pelo que percebi quando entrei em contato com a empresa, não há interesse em reeditá-lo. Uma pena, pois além de bonito, o baralho possui a durabilidade das cartas COPAG, garantindo uma vida útil bem bacana e possuindo um deslize entre as mãos muito bom; seu tamanho também facilita a manipulação. Minha versão favorita desse baralho, sem dúvida.

Mas voltando...
Mesmo sem uma história coesa, devidamente organizada, estamos diante de um oráculo fascinante, sem dúvida.
Segue minha interpretação das lâminas. Creio que, obviamente, não é a melhor, dado ser baseada em palavras-chave, mas foi a que abriu as portas do oráculo para mim. Baseado na apostila Tarô Cigano: Breves considerações... de Silvia Theberge. Como esse post foi retirado de um blog anterior, resolvi ampliá-lo, baseado em meus estudos da cartomancia.

01 - O Cavaleiro - 09 de Copas
Concretização, sexualidade, velocidade (acelera o tempo da previsão). Carta sob influência de Exu.
02 - O Trevo ou os Obstáculos - 06 de Ouros
Dificuldades momentâneas, atrasos. Se bem que já ouvi falar que significa sorte passageira. - para aqueles que seguem a tradição francesa, inclusive esse significado está no vídeo que postei. Mas não funcionou para mim com esse significado não.
03 - O Mar ou o Navio - 10 de Espadas
Viagem, saúde (alguns cartomantes vêem saúde na carta 05), mudança inexorável. Indica velocidade também, mas ao invés de ser uma aceleração, como o Cavaleiro, está mais próximo do sentido de "tempo certo". Carta sob influência de Yemanjá.
04 - O Equilíbrio ou a Casa - Rei de Copas
A casa, a família, o lar, em alguns casos o corpo físico. Indica homem gentil, psicólogo (se junto a 20) ou médico (junto a 30)
05 - As Árvores - 07 de Copas
Comunicação, troca, compartilhar, prosperidade. Alguns cartomantes vêem nessa carta questões de saúde. Carta sob influência de Oxóssi e dos Caboclos.
06 - As Nuvens - Rei de Paus
Confusões, instabilidade, stress, brigas. Carta sob influência de Iansã.
07 - A Serpente do Arco Íris - Rainha de Paus
Fofoca, intriga, inimizade próxima, traição, esperteza. Representa geralmente a(o) amante. Carta sob influência de Oxumaré.
08 - O Caixão ou a Vela ou a Caveira - 09 de Ouros
Morte, perda, prejuízo. Atrasos. Pode representar também uma vida passada. essa carta também representa os espíritos que ainda não conseguiram Luz para recuperar a consciência (Eguns).
09 - A Chuva ou o Ramalhete - Rainha de Espadas
Sabedoria, felicidade, sonhos realizados, lentidão (torna lenta a realização da previsão). Representa pessoas mais velhas, geralmente a avó. Carta regida por Nanã Buruquê.
10 - A Foice - Valete de Ouros
Transformações, cortes. Carta sob influência de Obaluaiê.
11 - O Chicote - Valete de Paus
Magia, poder, força de vontade. Competição. Ambição.
12 - Os Pássaros - 07 de Ouros
Alegrias, affairs, "namoricos", pequenas coisas que muito significam. Emoções leves. Neutraliza a influência da carta 07.
13 - A Criança - Valete de Espadas
Pureza, inocência, imaturidade, os filhos, o jovem mais importante da vida do consulente - os demais serão representados pelos outros três valetes (10, 11, 24). Influência dos Erês.
14 - A Raposa - 09 de Paus
Armadilhas, covardias, problemas inesperados, contudo, relaciona-se com situações, não necessariamente com pessoas - uma situação tensa, não necessariamente causada de maneira intencional por uma pessoa.
15 - O Urso - 10 de Paus
Amizades falsas, o "amigo urso", influências negativas de outros planos ("encostos"). Aqui temos a intenção de alguém em prejudicar ou oprimir o consulente.
16 - A Estrela - 06 de Copas
Sorte, karma - no sentido de sorte ou destino - , confiança, alegria, felicidade. Recompensa.
17 - A Cegonha - Rainha de Copas
Novidades, gravidez, mulher amiga, confidente, auxiliar.
18 - O Cão - 10 de Copas
Amigo fiel, Anjo da Guarda, neutraliza 15.
19 - A Torre - 06 de Espadas
Isolamento, espiritualidade, "ver de cima". Solidão ou solitude - depende da postura do consulente.
20 - O Jardim ou as Ervas - 08 de Espadas
Cura, medicina (pode indicar intervenção médica ou cirúrgica), coisas/situações a caminho devido ao esforço e postura do consulente. Resultados. Influência de Ossain.
21 - A Montanha - 08 de Paus
Justiça, o Poder Maior, Direito. Carta kármica: o que você merece lhe será dado, independentemente do que você acha que merece. Influência de Xangô. Essa carta também é interpretada como dificuldades e obstáculos que se mostram intransponíveis, ou que necessitam de um grande esforço para serem transpostos.
22 - Os Caminhos - Rainha de Ouros
Possibilidades, caminhos a serem trilhados ou desvios dos problemas. Carta sob influência de Ogum.
23 - O(s) Rato(s) - 07 de Paus
Desgastes, pequenos roubos, obssessão espiritual. Atente para essa carta pois ela pode indicar tanto indolência quanto depressão - o que pode ser exatamente a raiz do problema do consulente.
24 - O Coração - Valete de Copas
Todos os sentimentos são representados por essa carta, desde os mais puros aos mais sombrios, de acordo com as cartas que a acompanham. De qualquer forma, sempre representa emoções intensas. Emoções suaves são em 12.
25 - O Anel ou as Alianças - Ás de Paus
Alianças, sociedades, casamento. A natureza dessas alianças é dada pelas cartas que lhe cercam.
26 - O Livro - 10 de Ouros
Trabalho, estudo, negócios. Materialismo. Mistério, segredo.
27 - A Carta - 07 de Espadas
Convites, cartas, recados, sonhos, avisos. Atente para as cartas ao redor de 27; elas indicam os primeiros passos que o consulente pode dar em direção à solução do que o motivou a se consultar.
28 - O Homem - Ás de Copas
A figura masculina mais importante da vida da consulente, o próprio consulente. As demais figuras masculinas estarão representadas nos Reis (06, 04, 30, 34)
29 - A Mulher - Ás de Espadas
A figura feminina mais importante da vida do consulente, a própria consulente. Representa a energia Cigana do baralho. As demais mulheres estarão representadas pelas Rainhas (07, 09, 17, 22)
30 - Os Lírios ou os Rios - Rei de Espadas
Paz, tranquilidade, ser guiado ao caminho certo e desviado dos obstáculos suavemente. Recebe influência de Oxum. Pode indicar um homem da lei, militar, médico (junto com 04) ou advogado (junto com 21)
31 - O Sol - Ás de Ouros
Iluminação, cura, purificação, sabedoria, sucesso, prosperidade. Recebe influência de Oxalá: Oxalufan, se rodeado de cartas Yin, Oxanguian, se rodeado de cartas Yang.
32 - A Lua
Honrarias, merecimentos, intuição, inimigos ocultos, segredos e mistérios, mediunidade ou herança (material ou espiritual - atente-se para o derredor dessa carta).
33 - A Chave - 08 de Ouros
Soluções para os problemas apresentados. Fechamento ou abertura de alguma questão.
34 - Os Peixes - Rei de Ouros
Matéria, dinheiro, riqueza. Carta neutra; são as cartas que a ladeiam que lhe dão o devido significado. Pode representar o chefe ou superior imediato. O provedor de recursos.
35 - A Âncora
Fé, firmeza, resoluções, segurança. Indica muito mais uma postura do consulente do que uma situação externa.
36 - A Cruz - 06 de Paus
Vitória. Finalização proveitosa. Influência dos Pretos-Velhos.

Como efetuo o jogo

Abro o jogo com uma oração pessoal, pedindo que a Visão se abra para que eu diga apenas a Verdade que o consulente precisa ouvir, mesmo que ele tenha vindo buscar outra;em seguida, corto e retiro uma carta para saber se posso abrir o jogo e quais energias influenciarão a consulta, assim como quais são as áreas da vida do consulente que serão mais focadas. Em seguida, disponho as cartas pelo sistema da Mesa Real (vide post abaixo), que se utiliza de todas as 36 cartas. Após a leitura, caso o consulente ainda tenha dúvidas, respondo cada uma de suas perguntas com cinco cartas e, após sanar suas dúvidas, retiro uma mensagem final contatando a energia cigana.
Encerro com uma oração pessoal, dizendo "fecho este jogo mas não fecho seus caminhos. que você possa caminhar sempre para a Luz, e eu possa ver cada vez mais e melhor, para o bem de todos os envolvidos."

Até o próximo post.

Considerações sobre a Mesa Real


É difícil precisar o que é a Mesa Real. Encontram-se pelo Brasil e pelo mundo diversos métodos diferentes com esse nome, seja com o Petit Lenormand, seja com jogos de outros baralhos - como o Kipper, por exemplo. Entretanto, quando você, leitor, encontrar essa nomenclatura no blog, estou me referindo a essa forma de praticar o método, que uso há quase quinze anos - o tempo passa...
Inclusive, é esse jogo que você encontra atualmente no Baralho Para Ver a Sorte, publicado pela Copag, e que está no meu livro Conversas Cartomânticas: da escolha do baralho ao encerramento da consulta, e que analisamos pormenorizadamente na prática, no Módulo II do curso de Petit Lenormand (novas turmas em breve).
Ao invés da estrutura 4x8+4, utilizo uma sequência de 9 colunas de 4 cartas, 4 filas de 9 cartas, conforme segue:

[01][08][09][16][17][24][25][32][33]
[02][07][10][15][18][23][26][31][34]
[03][06][11][14][19][22][27][30][35]
[04][05][12][13][20][21][28][29][36]

Ou seja, após embaralhar as cartas, disponho em zigue-zague na vertical. Leio as cartas duas a duas, sendo da esquerda para direita nas fileiras de cima e da direita para a esquerda nas fileiras de baixo, assim:

[01][02][03][04][05][06][07][08][09]
[10][11][12][13][14][15][16][17][18]
[18][17][16][15][14][13][12][11][10]
[09][08][07][06][05][04][03][02][01]

A posição da Carta Testemunha é fundamental para a análise do jogo. É a partir da posição do consulente, se homem, representado pela carta 28, se mulher, pela 29, que se inferem todas as questões do jogo. Confira aqui uma entrevista que concedi ao canal Sorte Lenormand sobre o assunto.
É importante perceber onde está a consciência do problema do consulente, a partir de sua significadora - a carta [28] para o homem e a [29] para a mulher, pois É possível que o consulente esteja se atentando mais a coisas que passaram (à esquerda de sua carta), ou a coisas que poderiam acontecer (as cartas à direita de sua Testemunha) mais do que realmente é importante atentar-se no AGORA (o que rodeia sua carta, em especial).
Há cartomantes que atribuem valores às cartas, como no Tabuleiro, feito com o Tarô. Nesse caso, à Casa 1 corresponde a carta do Cavaleiro e essa casa falará das notícias, da velocidade, daquilo que vem de forma oral, da sexualidade e libido. Ou seja, ao abrir uma casa, é o significado da casa que limita o significado da carta. Particularmente, eu prefiro ler os pares. É mais dinâmico e mais coeso, pelo tempo que venho praticando. Papus tem uma proposição parecida, para uma leitura de 36 cartas, que poderia ser utilizada - entretanto, apesar de sinalizar a possibilidade, nunca a testei.

Para saber mais:

Módulo II do curso de Petit Lenormand - com Emanuel J Santos

Sobre a Mesa Real de 4x8+4: 
Karla Souza possui um curso específico de Mesa Real.
volume III do Diário Lenormand, escrito e desenvolvido por ela, lida aprofundadamente sobre o tema.

Sobre as propostas de Papus (um estudo que eu ainda não fiz):

Até o próximo post.


sábado, 18 de julho de 2009

A figura do ilustrador no processo de criação de um baralho



Olá pessoal. Hoje, gostaria de compartilhar com vocês alguns questionamentos e considerações a respeito da feitura de um baralho. Antes de qualquer outra coisa, em minha concepção pessoal, vejo o baralho como uma obra de arte; dessa forma, para que ele exista primeiro tem que haver uma intencionalidade – para que ele alcance o status de obra de arte – e uma finalidade – para que ele atenda às expectativas concernentes à sua funcionalidade, que geram como produto final uma identidade - uma resposta aos questionamentos da época ou do indivíduo que as propõe.
Partindo desse princípio, é muito importante não só sabermos os nomes dos magos responsáveis por determinadas edições de baralhos, como também algo sobre os ilustradores que traduziram a experiência do encomendante em imagens acessíveis ao público. Nem sempre tais ilustradores tinham a vivência da cartomancia, mas certamente sua visão de mundo como artista também ficou impressa nas cartas, talvez mais até que o conhecimento de quem encomendou.
Essa experiência ficou clara para mim recentemente, pois fui convidado por um amigo para ilustrar um livro infantil que ele estava produzindo. Embora ele tenha sido extremamente detalhista em suas considerações acerca do que deveria ser ilustrado, quais cenas eram mais importantes e de que maneira as queria, ao me preparar para produzir o material fui tomado por outras ideias, outras possibilidades, até mesmo pela perspectiva de usar outros materiais – inicialmente queria trabalhar com aquarela, mas com o decorrer do trabalho utilizei muito mais lápis de cor e nanquim. Ainda que pareça desconexa, essa história me levou ao insight dessa postagem. Ainda que ele tenha sido claro no que queria, foi minha técnica, minha experiência, meu traço e meu gosto pessoal (e os meus limites, também) que deram forma aos pensamentos do meu amigo sobre o seu texto.
Certamente não sou um caso isolado. Nesses anos, tenho me encontrado com alguns ilustradores e produtores de baralhos, e a experiência tem sido bem rica. Vejamos alguns baralhos e a história de seus ilustradores.
A Ordem da Aurora Dourada (Golden Dawn) incentivava seus membros a produzirem seus próprios Tarôs. Segundo Giordano Berti, 
a Ordem Hermética da Golden Dawn (A Aurora Dourada) colocou à disposição de seus adeptos o famoso Liber T, atribuído a 'H.R.U., o grande anjo encarregado da Operação do Saber Secreto'. Na realidade, esse manuscrito contendo as atribuições do Tarô foi redigido por Samuel Liddell Mathers, que tinha sido, em 1888, um dos fundadores da confraria. Existiu também um jogo da Ordem, do qual restou muito pouco hoje. Mas houve certamente outros diversos Tarôs da Golden Dawn, pois os Adeptos eram convidados a desenhar eles mesmos seus jogos, baseando-se mais claramente nas descrições contidas no Liber T do que no modelo oficial da Ordem Hermética. 
Os baralhos mais famosos dessa leva, Rider-Waite (Smith) e Thoth (Crowley-Harris), entretanto, não foram produzidos pelos magos que os idealizaram, A. E. Waite e A. Crowley, respectivamente, mas por Pamela Smith e Frieda Harris, duas ilustradoras e artistas plásticas.

A Temperança
Waite, Wang, Crowley, Berti
Clique para ampliar

É possível perceber que os baralhos acima possuem a mesma referência, embora proponham aspectos distintos em sua arte. Os baralhos da dupla Waite-Smith e de Crowley-Harris (também chamados de A Bela e a Fera - The Beauty and the Beast) são claramente inspirados no(s) Tarot(s) da Golden Dawn. 
Pamela Colman Smith (1878-1951), a artista responsável pelo Rider Waite, possuía formação esotérica, de forma que Arthur Edward Waite (1857-1942) pode orientá-la de maneira mais efetiva. O baralho possui um ar entre o medievalesco e o romântico. Surpreende o fato da artista não ter utilizado nem hachuras nem sombreados nas lâminas, mas é algo perceptível em outras obras suas - algo como a aplicação do seu estilo ao baralho.
Já Frieda Harris (1877-1962) produziu o baralho em função de sua própria técnica - diz-se que Crowley esperava uma arte mais medieval. Harris não possuía conhecimentos prévios de magia -  foi orientada por Crowley em toda a produção, chegando a refazer uma carta até oito vezes. Consta que ela experienciava as características da cartaem que estava trabalhando. Infelizmente, tanto em relação ao Rider quanto ao Thoth, falta documentação que nos permita conferir como foi o processo real de produção. 
Em relação à iconografia, vale a pena conferir sobretudo a relação entre os Arcanos Maiores de Waite e o Tarot da Golden Dawn editado por Robert Wang, assim como os Arcanos Menores deste mesmo baralho relacionados com os de Crowley.
Um caso mais recente. Tricia Newell, ilustradora do Tarot Mitológico (atualmente editado no Brasil pela Editora Madras, depois de ter sido pela Editora Arx e antes pela Editora Pensamento), foi orientada, certamente, por Juliet Sharman-Burke e Liz Greene na produção das cartas. Entretanto se observarmos o baralho Sharman-Caselli, e o Novo Tarô Mitológico, ambos ilustrados por Giovanni Caselli, percebemos claramente que o tema é o mesmo, mas a técnica se sobressai. Sugiro a observação especificamente da Imperatriz, onde fica mais gritante essa constatação.
Atualmente, é possível acompanhar artistas que desenvolvem seus baralhos em tempo real. É o caso de Ciro Marchetti, Stephanie Pui-Mun Law, Lisa Hunt, Robert Place, entre outros. Vale muito a pena uma pesquisa no Facebook.
Portanto, no estudo de um determinado baralho, não basta ter conhecimentos somente sobre quem o encomendou – pois essa parte é apenas conceitual. A produção, o fazer em si, parte de um artista que, ainda que bem orientado e vise atender unicamente às expectativas de seu encomendante, imprime de maneira indelével sua marca sobre as cartas, produzindo uma identidade para além da primeira intenção.

Deseja algum dos baralhos presentes nessa postagem? Coelestium.

Abraços a todos, até a próxima postagem.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Um ponto de partida para um novo ritmo...



Olá pessoal. Depois de muito tempo, voltei a escrever, em 2009, alguma coisa sobre Cartomancia. Veja só: estamos em 2016 e esse blog permanece sendo referência no assunto. Sim, essa é minha vida; e é muito difícil escrever sobre aquilo que faz parte de nós. Inicialmente, esse blog tinha como intenção lidar com três cartomancias específicas: o Tarô, o Petit Lenormand e as Cartas Comuns de jogar. Com o tempo e com os feedbacks que obtive, acabei mudando a perspectiva do blog, ampliando a leitura para todos os oráculos com cartas. E está sendo MUITO divertido viver essa experiência - são sete anos já - caminhando para oito - desde a construção desse espaço. A proposta inicial era crescer junto, e ela se manteve!
Eu lido com cartomancia há aproximadamente vinte anos. Fui iniciado nessa arte por minha avó, que conhecia bem o baralho comum. Entre um jogo e outro de buraco – sua grande paixão – ela foi me ensinando os primeiros passos nesse caminho, que hoje chamo de meu. Em seguida, iniciei os estudos do Tarot, de forma autodidata, com as 78 lâminas de um Jean Payen, e em 2002 fiz um curso de Baralho Cigano, seguindo com os estudos por conta própria. Continuei escrevendo esse blog... E, em 2012 ele virou livro (brevemente,teremos uma versão revisada - já são quatro anos desde o seu lançamento, que comemorou quatro anos de blog!) Mais à frente, já com o blog em andamento, iniciei os estudos do Sibilla Della Zingara, que gerou um livro também. Por fim, eu acabei escrevendo um livro sobre Cartomancia Francesa.  E tem um livro de Petit Lenormand em andamento para sair em breve.
Acho que ser cartomante é como andar de bicicleta. Muitas pessoas falam em Dom, mas acredito que o Dom em si é o Dom da profecia – um Dom que se manifesta independentemente do método utilizado para desenvolvê-lo. A Cartomancia, como disse, é como andar de bicicleta: qualquer um pode aprender, e é o gosto, o interesse, a paixão e o instinto que dirão quem será ciclista/cartomante e quem se contentará em andar de bicicleta apenas/conhecer o baralho.
Eu, acho que deu para perceber, decidi ser ciclista...
Bem, já dei o ponto de partida de um novo momento, mas falemos de ritmo agora. Segundo a Wikipedia, ritmo “vem do grego Rhytmos e designa aquilo que flui, que se move, movimento regulado. O ritmo está inserido em tudo na nossa vida.” E, dentro de nossa prática psíquica, ritmo é fundamental.
De nada adianta um estudo exaustivo das lâminas, uma vivência exagerada do assunto, aberturas intermináveis para desenvolver determinado ponto ... Se o ritmo não estiver presente. Ritmo é que determina a constância de nossa prática, que garante a sedimentação dos conceitos que, respeitando a velocidade do mundo que vivemos, se multiplicam ao infinito e se despejam aos borbotões quando acessamos o Google. Isso seria impensável para cartomantes de 20, 30 anos atrás, que tinham que se valer unicamente da vivência e dos livros.
Acontece que, como já sabemos, o processo referente ao aprendizado da Ars Magica não segue esse ritmo absurdamente rápido de uma pesquisa de Internet. Não basta baixarmos duzentos textos acerca da prática, sem efetuarmos, de maneira correta, a mesma. Ou melhor: de nada adianta baixar se não lermos os textos. Assim como não se aprende a andar de bicicleta apenas vendo vídeos de ciclistas.
Bem, mas eu falei de ritmo por uma outra coisa. Não basta iniciar coisas, é preciso mantê-las, cuidar para que se desenvolvam, pois a semente cai na terra e se desenvolve, se o jardineiro, além de paciente, for cuidadoso com seu intento de vê-la florescer.
Pretendo continuar sendo cuidadoso com esse blog. Dependo, claro, do diálogo com vocês, leitores – foi um de meus amigos que me motivou a voltar, e serão vocês que manterão esse blog ativo, dialogando com os textos que aqui virem.
Obrigado a todos, e até o próximo post.