NÃO SE ILUDA COM o aparente descaso do Mago; embora blasé, ele está te olhando. De soslaio, oblíquo, com seu sorriso diáfano. Ele está atento à plateia - é assim que ele domina: Dando atenção indistinta a todos, sem prestar reverência a ninguém.
Traz consigo uma bolsa amarela tecida e recheada com todos os sonhos roubados de centenas de pessoas. Voilà! E mais um sonho, à guisa de enfeite, parte do antigo dono para o novo possuidor. O homem do saco, ameaça corrente, lenda urbana, em outra roupagem.
Te afana do essencial, deixando o supérfluo. Senão, você sentiria falta.
Mestre das mágicas de cálices e varinhas, confira, sorrindo, a prataria quando ele sair. Hábil em somar para si, não raro subtrai dos outros. O show tem que continuar.
Nem jovem, nem velho, jovial; sempre um pouco mais experiente, não raro o mais imaturo experimentador. É ele quem vai na frente - e volta, para contar o que viu. À pé, é imbatível no seu foco. Ganha de qualquer homem, mas o castigo vem a cavalo.
Sua língua é prata líquida que escorre em nomes antigos e vislumbres de futuro. Todo Mago fala demais, mas quando quer dizer, a mensagem chega translúcida e sem ruído algum. Foco, eu disse.
Suas vestes são ricas, gypsies ou steampunk demais - naturalmente, o Mago é um vitoriano. Algo do gracejo da Belle Époque ecoa ali, mas ele insiste em manter uma aparência que vá na frente dizendo quem pode ou não se aproximar um pouco. Novamente, oblíquo. Todos lhe tem acesso, poucos sobrevivem ao Labirinto, menos ainda querem contar a história.
Amar o inalcançável tem lá suas mazelas.
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Quando um monólogo se torna diálogo...