Olá pessoal. Esse texto é o resultado de uma conversa muito feliz com o Endimião, do Sono de Endimião.
A conversa foi feliz.
O tema, não.
Como cartomante, eu tenho sempre em mente a questão do devir. Aquilo que eu vejo vai acontecer, pode acontecer ou, pelo simples fato de eu ter visto, nada será como poderia ter sido? O que dizer diante das coisas que eu não fui capaz de Ver?
Até então, aceitei a resposta mais simples, nem por isso menos sincera: eu não sou capaz de tudo. Eu vou o mais longe que minhas habilidades permitem, sem saber exatamente qual é o limite disso. Mas ele existe.
Hoje, entretanto, eu vou um pouquinho além nessa questão. Sugiro que você leia o texto supracitado primeiro. Como essa reflexão parte da nossa conversa, é interessante que você conheça o começo dela.
Já leu? Agora coloca isso aqui para tocar. A ideia é termos juntos uma experiência sinestésica.
Eu ganhei um jogo de Tarô de aniversário. Uma Mandala Astrológica. Na casa 12, um Arcano curioso: Temperança.
"Você vai ter que aprender a esperar". Engoli em seco. Mas o conselho do baralho não deve ser ignorado; ele nunca é inocente.
Ative minhas questões a outras casas da mandala, e esqueci aquela ali. Embora ela represente os maiores perigos, ela estava razoavelmente bem aspectada.
Ah, que engano...
Fui para o treino de judô, em paz, depois de três semanas sem treinar. Eu tinha que retomar o tempo perdido, afinal de contas três semanas sem treino é muito tempo. Treinei como se não tivesse parado. A ideia era retomar a forma o mais rápido possível, forma que havia perdido nas férias de quinze dias que tirei.
Daí, ocorreu um acidente. Caí errado, luxei meu ombro. Na hora, nem me toquei direito. Um pouco de Reiki e um antiespasmódico e tô pronto para outra. Duas da manhã, acordo urrando de dor. Corro para a emergência. Tomo remédio na veia. Tiro Raio X na manhã seguinte, e o médico diagnostica: luxação. Quinze dias em casa.
"Dependendo da sua recuperação, conversamos se você volta para os treinos em um mês ou mais."
Aquilo doeu como um soco no estômago. Eu estava com todo o gás para retomar as minhas atividades, sobretudo os meus treinos.
Não estava?
Por que eu mereceria esse castigo?
E é aqui que eu e o Endimião entramos em um comum acordo. A vida não é um Big Brother divino de merecimentos. Não houve ali um merecimento. Um castigo. Houve um acaso - e eu tenho que lidar com ele adequadamente.
Mas é aí que entra a Temperança, essa carta tão complexa para uma casa 12. Aprender a esperar é confiar na Noite Escura.
A Noite Escura é um dos poucos conceitos religiosos que me soam lógicos. Sim, mais de uma vez eu vi no meu baralho meus clientes sem saber como agir, e o não agir era a melhor escolha. O cuidado que lhes deveria oferecer estava ligado ao bem estar nesse hiato entre uma fase e outra da vida. E tudo dava certo, como não poderia deixar de ser.
Normalmente, a Noite Escura está associada ao Enforcado, mas hoje a gente vai encontrar esse conceito lá na Temperança, que me visita na casa 12.
O Anjo da Temperança, a Solitude hermafrodita do encontro adequado dos opostos em comum acordo dentro do ser. Quantas vezes nós buscamos no outro, em uma situação, em um contexto, respostas que soariam mais como desculpas que como resultados dignos da pergunta que os motivou?
Por que? Por que... Comigo?
Por que justo agora?
A Ivana, muito sábia, retrucou: "você acha mesmo que algo tão importante iria passar batido na Mandala? A Mandala mandou você descansar. E é exatamente o que você está fazendo, mesmo sem querer, mesmo de uma forma que doeu. Mas você está descansando. Aproveite o momento e aprenda a lição."
O Anjo da Temperança dosa, doa de um jarro a outro, sem pressa, com precisão. No escuro de uma recuperação, só podemos fazer o melhor por nós mesmos.
E não confiarmos no Anjo. Embora ele vá fazer sua parte.
Até lá, eu sigo cuidando de mim. Não há culpados, inocentes ou vítimas.
Há o entendimento. E para todo mal, há cura.
Sem pressa.
Enquanto isso
Não nos custa insistir
Na questão do desejo
Não deixar se extinguir
Desafiando de vez a noção
Na qual se crê
Que o inferno é aqui
Abraços a todos.
Atualização em 19 de novembro de 2015.
A conversa continuou no Facebook, e o Yub Miranda, que já esteve por aqui falando dos Enamorados, deu uma aula de leitura sobre a Temperança na Casa 12.
Eu não posso fazer nada além de endossar, assinar embaixo, me reconhecer em cada linha. E transcrever aqui, para que você possa usufruir também.
Querido, acabei de ler o post no seu blog. SHOW de questionamentos e reflexões. Só discordo de um detalhe que vc escreveu: "Não houve ali um merecimento. Um castigo. Houve um acaso - e eu tenho que lidar com ele adequadamente."Não considero que houve um acaso. Considero que houve uma CONSEQUÊNCIA da sua decisão imprudente de acelerar (recuperar a forma e o tempo de treinos que perdeu com as férias) o ritmo das coisas. Esse é o pecado maior dA Temperança. Se ela pede paciência, é porque estamos impacientes rsrs E como está na Casa 12, que - dentre os vários significados desta Casa do Mandala - pode representar um padrão inconsciente que vive se repetindo e precisa de tomar consciência, a fim de não deixar que esse padrão comportamental nos aprisione (outro atributo da 12), vc se deixou levar pelo padrão da ansiedade e da pressa que precisava ser moderado (Temperança). E a Temperança mostra que algo em nós que tá com raiva do que se perdeu (Morte = Arcano Anterior) e ambiciona exagerar (Diabo = Arcano Sucessor) para recuperar essa perda. Só que é justamente aí que ela entra. Se você tivesse ido com calma, fluindo com o ritmo de reconquista de sua forma e treino, vc não teria se machucado. Porque o efeito, a consequência do treino, não seria esse: se machucar por conta de uma afobação em apressar o ritmo que a Temperança não gosta de acelerar...Por tudo isso, não considero que foi um acaso... Se tivesse sido uma RODA DA FORTUNA = aí sim, teria sido um acaso. E este teria sido provocado por terceiro (Roda da Fortuna) = o seu colega que lhe machucou. ;)
Reparemos: existem detalhes que se escondem na escrita. E nem eu percebi que eu AINDA estava apegado a ideia de me consolar com o evento, para que ele doa menos.
Não. Ele está doendo na medida necessária para tatuar a aprendizagem.
Temperança... Não canso de aprender com você.
Mas me deixa voltar a treinar #brinks
E como não poderia deixar de ser, deixo aqui os links para os trabalhos das pessoas citadas nesse artigo, por dois bons motivos:
1. Aqui só tem gente preciosa.
2. Confio. E vale a pena nesse fim de ano procurar alguém que se confie.
Endimião. Nós somos resultados não só do que estudamos, mas da forma como vemos o mundo. Leio tudo o que esse rapaz escreve desde a época do Diannus do Nemi. É acuro na escrita, precisão e preciosidade no conceito, tudo isso temperado com vida, com experiência, com reconhecimento. O que Endimião vê como leitura da Bruxaria, você pode ver aqui. Para uma leitura de Tarô com um olhar pagão, clique aqui.
Ivana Mihanovich. Além de ser uma taróloga porreta e dona de uma leitura singular. a Ivana possui um livro MUITO bacana, que vale muito a pena ser lido. Adquira aqui.
Yub Miranda. O Yub possui dois canais no Youtube: Sacadas de Astrologia e Sacadas de Tarô. Vale muito a pena ver cada um dos vídeos, são aulas de interpretação por quem sabe o que está fazendo. Assista aqui a uma aula sobre o Ascendente. E aqui, o link para o livro no qual ele disserta sobre cada Arcano Maior em cada casa da Mandala Astrológica.
Exatamente isso, Irmão.
ResponderExcluirComo vc falou, o negócio é mergulhar na Escuridão Noturna e esperá-la passar. E contemplá-La se possível. Porque resistir a Ela, impossível. Não se resiste a lição de Mãe... A gente tem que aguentar firme, como o homem que Ela nos ensina a ser. Se curvando, se moldando e se adaptando à Escuridão até absorvê-la pra dentro de nós mesmos.