quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A Jornada do Louco em sua Autodescoberta: A Justiça.


O Herói passou pelo primeiro portal. Ele firmou as pernas e é agora um homem. Ou, pelo menos, pensa que é  - e é bom que pense, mesmo. E agora ele defronta com os aspectos mais elevados daquilo que costumeiramente foi chamado de “certo” e sua contraparte, o “errado”.

Se pararmos para pensar um pouco, é como se ele retornasse, numa espiral ascendente, à experiência do sexto Arcano. Lá, ele pôde escolher. Aqui, forçosamente ele tem que escolher o correto. Lá, ele teve o apoio do anjo flecheiro. Aqui, ele só tem o peso do próprio coração, a terra de ninguém onde deuses e homens se calam num deserto sem fim. A casca do coração é sentimento, mas seu interior é oco – só assim é capaz de conter sangue e amor. Nos Enamorados, o Herói conheceu a casca; na Justiça, ele conhece o Vazio. Esse Vazio vai ser visto novamente, mais à frente, mas é confortável que a priori ele seja razoavelmente humano.

Justiça
Ancient Italian

Esse silêncio da sala da Justiça – sim, ela está em uma sala – é aterrador. Ele já conheceu as paredes seguras do templo da Sacerdotisa, onde a escuridão lunar era confortável como útero de mãe. Aqui, ao contrário, ele se vê diante do frio, do impessoal e do irredutível apelo da sua própria consciência (sugiro a leitura de William Wilson, para maior aproveitamento desse momento da jornada).
A Justiça é a única carta que consegue sustentar sem esforço a Espada. Existe um motivo para isso: ela não é humana, no sentido estrito da palavra. Ela é causa e resultado de ações humanas, mas está para além de todas elas. E, por isso, o medo e o frio da sala da Justiça apontam para uma virtude a ser desenvolvida. A elaboração de projetos e metas. A resiliência. Antever os obstáculos e perseverar em busca dos resultados. A Justiça é atemporal, mas o que ela pesa está em uma relação de tempo e espaço. Só porque ela está fora não indica que ela não participe (ativamente, inclusive).
A Justiça é a primeira virtude Cardeal de quatro que encontrar-se-ão na Jornada. Ela é a primeira porque ela é a visão de todas as outras. Sem enxergar com os olhos certos, é impossível encontrar as demais. Sua aparente intangibilidade se deve ao fato de que, embora seja uma experiência própria da espécie humana, é individual e intransferível a sua aplicação. Ainda que, num jogo de aproximação e afastamento, seus resultados escapem aos dedos de quem julgava lhe controlar.
A Justiça porta uma espada e uma balança. A espada “destina-se a eliminar a ignorância, a autocomiseração e todas as outras ilusões a respeito da vida. Isso propicia uma visão mais clara de nós mesmos.” A balança “representa a nossa capacidade de avaliar as experiências quando deparamos com elas, compreendendo claramente seu lugar na ordem das coisas.” (DICKERMAN: 1994, 167)
Lembremo-nos que só se pode julgar uma pessoa emancipada. Uma criança, uma pessoa fora do seu juízo normal, não pode ser julgada. Ou seja: aqui o Louco despe sua última capa. Ele não é mais criança e não é mais irracional. Ele está pronto para ser julgado. 
As férias acabaram faz tempo, mas é aqui que percebemos isso.
Se você tirou a Justiça como carta de Separação, acho melhor você ouvir a música "Não vou me adaptar" e perceber como ela tem escrito a sua história. Não está na hora de uma nova trilha sonora? Se você tirou essa carta como Iniciação, está na hora de se tocar de suas responsabilidades. Ser adulto tem lá as suas vantagens. Ser honesto também. Ser verdadeiro, mais ainda. E nenhum desses estados de ser é fácil, mas o que seria de nós sem desafios? Se você tirou essa carta de Retorno, é momento de você colher os frutos que plantou. Causa e efeito, por vezes nos esquecemos que é uma lei, não uma opção. 
Os exercícios propostos e a bibliografia utilizada estão em um arquivo PDF. Para baixar, clique aqui. Caso queira conhecer outras versões dessa carta, clique aqui.

3 comentários:

  1. É muito interessante o tarô, porque em uma carta se pode falar tantas coisas né?
    Bom eu não entendo nada, mas é o que vejo.
    Acho interessante.. Gostei do seu blog.. vou voltar sempre pra ver as novidades..
    Beijo e um dia muito especial viu?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Exatamente. O Tarô é ainda um estudo em construção, sabemos dele o que ele (se) permitiu revelar até agora... É uma paixão para toda a vida. Seja sempre bem vinda por aqui :)

      Excluir
  2. Interessante demais teu blog

    Visitando Blogs amigos cheguei ao seu....

    Se gostar de desafios fotográficos, convido você a participar desse aqui:

    http://fotosdequinta.blogspot.com.br/2013/01/tema-de-janeiro-bandeiras.html


    Bom Domingo.
    Abraço.
    Ana Virgínia
    filhadejose.blogspot.com

    ResponderExcluir

Quando um monólogo se torna diálogo...