domingo, 29 de dezembro de 2013

Esmeralda Lenormand. E sorteio de ano novo!!!


Olá pessoal. Tenho o orgulho de apresentar-lhes hoje uma das mais gratas surpresas deste ano: O Esmeralda Lenormand. Quando fiquei sabendo da criação deste baralho, fiquei extremamente curioso para entender os meandros que nortearam o desenvolvimento de cada carta porque, para além do conceito artístico, existe vida nessas cartas. Existe identidade.


Quando recebi o baralho, fui tocado por uma grande emoção. Apesar de ser um produto industrializado, cada caixinha acompanha um saquinho de cetim verde esmeralda que foi feito artesanalmente. A dose correta. A perfeita medida. É feito para aquele que o porta. Dá para sentir que o baralho toma posse do dono quando manipulado pela primeira vez, como uma luva que se ajusta à mão. O papel é de ótima qualidade, e os acréscimos dão todo um espírito à leitura – iniciantes e veteranos encontrarão nesse baralho uma rota nova para os seus estudos, certamente.


Foi necessário um bocado de pesquisa para entender porque eu me sentia tão tocado por esse baralho. E fui buscar sabedoria no livro da “Bibi” (um tratamento carinhoso que pedi autorização para utilizar), Ramona Torres: Mestres Ciganos astrais: suas origens, histórias, vidas, rituais e especialidades (Pallas, 2012). Abrindo um parêntese mais que necessário, esse livro é de leitura fundamental para quem quer entender mais sobre a egrégora cigana. Com o acuro e a simplicidade de quem sabe o que está fazendo, a Bibi nos apresenta coisas que, se não conhecidas, passam a ser, e se vividas previamente, passam a ter sentido. E foi assim que fui ao encontro da Cigana Esmeralda.
A Cigana Esmeralda é de etnia Kalon, residiu em Évora e sua magia reside na feitura de alimentos. Garante a fartura e oferece conforto àqueles que não a tem no momento. Aquilo que a Cigana Esmeralda oferece, não deve ser negado.
Quando a Karla Souza, autora deste baralho, me ofereceu esse presente, eu senti exatamente essa vibração. Um presente que não poderia ser negado. Um presente a ser vivido.

Atribuição dos chackras às cartas,
com os mantras correspondentes.

Pois bem. Esse baralho possui detalhes preciosíssimos – Deus mora nesses detalhes. O que mais me encantou foram os ícones de memorização colocados na parte inferior de cada carta. Um diálogo metafórico através da imagética correlata que permite encontrarmo-nos significados sub-reptícios que sempre estiveram ali, esperando para serem reencontrados. PERFEITO. 


Na imagem, por exemplo, relacionar a carta 16 à estrela das direções cardeais foi genial. Temos aqui o sentido de orientação em diversos níveis.
Sempre esteve ali, Karla explicitou.

Curtam a página do Esmeralda Lenormand no Facebook!
Confiram outras resenhas:
Tânia Durão, AS CARTAS CIGANAS.
Sonia Boechat, Tzara da Estrela
Bridgett, Bridgett Blessings

Ah, claro que o Conversas e o Esmeralda Lenormand, Emanuel e Karla, dariam as mãos numa promoção de ano novo! 

Quer ganhar um Esmeralda Lenormand? Siga os passos:

2. Curtir a página do Esmeralda Lenormand no Facebook.
3. Responder nos comentários, deixando seu nome e e-mail: "Por que você deseja o Esmeralda Lenormand na sua vida?"

O sorteio será feito pelo random.org.

Fácil, não é? Entre em 2014 com o pé direito, e com baralho novo!

Abraços a todos! Karla, que você prospere sob as bênçãos de Esmeralda, essa cigana tão abençoada!

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Blogagem Coletiva Petit Lenormand: 21. Lucia Sindoya e a Montanha.


Oi pessoal. Continuando nossa blogagem coletiva, contamos hoje com a colaboração da Lucia Sindoya. Quero agradecer enormemente sua disponibilidade em escrever depois do prazo, Jack Bauer ficaria com inveja! E unindo a experiência com o fundamento, ela nos apresenta uma visão muito bacana dessa carta tão ambígua quando estudamos a Escola Brasileira e a Europeia ao mesmo tempo. 
Esclarecimentos são sempre bons, vindos de quem entende do riscado então... é uma mão na roda!
Contatos com a Lucia: clique aqui e aqui.
Com vocês, Lucia Sindoya.


Na minha visão pessoal, de quem aprendeu a ler por intuição e somente bem depois teve interesse em estudar esse oráculo, A Montanha fala primeiramente de equilíbrio e solidez. Quem não deseja ser firme como uma rocha em suas convicções e em momentos de medo, vacilos, desequilíbrios?
A Montanha  fala também daqueles obstáculos que devemos atravessar, superar e vencer para encontrar o que há de bom do outro lado.
Fala das situações que não vem com facilidade , de tudo aquilo que chega a ser cansativo só de pensar, coisas que nos desafiam para que tenhamos coragem de seguir em frente.
Afinal de contas, que graça teria se tudo viesse fácil? Talvez, não muita graça..
Esta carta fala também da fé, daquela força de vontade interna que temos e que nos faz transpor barreiras, nos faz seguir em frente mesmo após derrotas, que nos faz acreditar no que ainda não é visível. Eu costumo dizer que só atravessando a Montanha para se ver o que existe atrás dela ou após a ela.



Em todas as situações que envolvem essa carta, vejo que as principais atitudes seriam não temer os obstáculos, confiar em si mesmo, ter força de vontade e seguir em frente. Ser perseverante, e principalmente ter fé . Seria um pensamento do tipo: Montanhas em meu caminho? Tudo bem, irei atravessá-las para encontrar o que quero.
Vejo como uma carta positiva, que faz com que o consulente busque sua força interior para vencer obstáculos que venham a surgir em seu caminho.
Existem associações dessa carta à terremotos, quando se tenta investigar e prever através do baralho cigano como será o clima, acontecimentos  e fenômenos naturais de determinado local.

No afetivo, pode falar de relacionamentos sólidos,  duradouros como também pode falar de pessoas que tem dificuldade em mudar seu jeito de ser, que gostam de certas regras e rigidez em seus relacionamentos.
Para quem esta afastado, indica obstáculos à se vencer para conseguir reconquistar a pessoa amada.
Como indicação de tempo, fala de demora, em conseguir o que se deseja, mostra um período de aprendizado até que determinada situação aconteça, de certa forma essa carta nos convida a exercitar a paciência, e buscar aprender e entender a forma como o tempo age em nossas vidas.



Eu, particularmente, aconselho a todos que tenham muita paciência e respeito por um desafio marcado pela carta da “Montanha”. Lembrando que os alpinistas que não respeitam os seus limites ao escalar uma montanha, acabam não conseguindo findar seu objetivo, pagando às vezes, com a própria vida.

Personalidade:


Clique para ampliar

A carta Montanha, falará de pessoas convictas, que tem fé em sí mesmas, eu diria que até mesmo teimosas, pois, se colocam algo na cabeça, vão até o fim, custe o que custar, sem desistir por causa de obstáculos.
São pessoas determinadas, mas que se acham as “donas da verdade”, assim como o arquétipo dos fihos de Xangô, que costumam ser metidos a “minha verdade é a única verdade”.
Pode indicar pessoas de meia idade, já bem vividas.




Xangô
Num dia em que falei tanto da significância de Xangô para mim, eis que recebo este presente, poder falar da carta que é sua representação no Baralho Cigano. Sincronicidades, pequenos e grandes sinais em minha vida.
Esta carta é ligada à energia do Orixá Xangô, que é o Deus Yorubá da Justiça, dos raios e trovões, conhecido por ser forte, violento, imparcial, um grande Rei que não tinha medo de enfrentar os seus inimigos. Xangô recebe suas oferendas em pedreiras.
Xangô é um Orixá que gosta das coisas de forma correta, certinhas, coerentes. Seu machado é sempre imparcial, nesse caso, quem deve paga, e quem merece, recebe.
Vejo a ligação dessa carta com Xangô, não somente no aspecto de justiça, mas principalmente, no sentido de se tornar alguém forte, de ser corajoso, não temer os inimigos ou obstáculos que possam surgir em seu caminho.
Existe na carta da montanha, uma ligação com justiça, mas não necessariamente casos judiciais, e sim situações justas, buscar o equilíbrio, puxar para sí a responsabilidade dos seus atos, e principalmente daquilo que você fala.

Personalidade:
A carta Montanha, falará de pessoas convictas, que tem fé em sí mesmas, eu diria que até mesmo teimosas, pois, se colocam algo na cabeça, vão até o fim, custe o que custar, sem desistir por causa de obstáculos.



São pessoas determinadas, mas que se acham as “donas da verdade”, assim como o arquétipo dos filhos de Xangô, que costumam ser metidos a “minha verdade é a única verdade”.
Pode indicar pessoas de meia idade, já bem vividas.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Blogagem Coletiva Petit Lenormand: 20. Carolina Bamberg e o Jardim.



Olá pessoal. Posso confessar uma coisa? Eu sou fã do trabalho da Carolina Bamberg.
Nas terapias alternativas e assuntos afins, nada melhor que a referência boca a boca: alguém experimenta e recomenda. Num momento em que a internet sofre um boom de “terapeutas” (com aspas bem ásperas) de quem você nunca ouviu falar (e possivelmente não ouvirá falar duas vezes), eu tenho o cuidado de aguardar comentários e feedbacks para escolher um momento de sibilar (de conversar tête-à-tête com a Sibilla). Quem me recomendou o trabalho da Carolina foi o Marcelo Bueno (o responsável pela carta 04 da nossa Blogagem Coletiva), alguém que para mim é hours concours no assunto. Como estava num momento em que precisava de uma consulta, achei por bem procurá-la, e ela foi mais que atenciosa. Foi sensacional.
O “problema” – se podemos considerar de fato um problema – de você conhecer os oráculos é que, por vezes, você não acompanha a mensagem. Acompanha o raciocínio do oraculista, e, por vezes, pode não concordar com os caminhos e descaminhos que sua psique percorre no desvelar dos símbolos. Particularmente, eu considero um bom oraculista para mim aquele com o qual não consigo esse efeito de acompanhar a leitura, senão a mensagem.
A Carolina foi uma dessas pessoas.
Quando recebi a análise cármica, li exatamente uma descrição pormenorizada da minha psique. Ela não me conhece pessoalmente, sequer nos falamos por telefone, e conheço pessoas há anos que não me descreveriam com metade do acuro com o qual ela conseguiu me descrever. Estupefato, passei os olhos, página a página, e de novo, e mais uma vez, e fui mergulhando em camadas em mais que um texto, em um espelho. Evidente que não gostei de tudo o que li – senão seria um elogio, não uma descrição – e tão evidente quanto, estou me esforçando para modificar os aspectos-sombra que vi no texto. Por outro lado, senti-me extremamente grato pelos aspectos que reconheço como fortes em mim, por justamente lê-los de alguém que me leu em metáforas e símbolos, sem nunca ter me visto para ler visceralmente. Sinal que, na maior parte das vezes, encaminho-me bem. Encaminho-me corretamente.
Eu gostaria, a propósito, de recomendar o trabalho da Carolina. Num preço justo, num cuidado extremo, numa presença de espírito que é singular no meio e com uma visão que, sinceramente, não encontrei em outros profissionais que se propõem ao mesmo trabalho, recomendo, veementemente, que você corra o risco e o prazer de ler a Carolina descrever você. Um espelho não faria melhor.
Definitivamente, não faria.
Hoje, particularmente, vamos com ela conhecer um jardim. Passeemos de mãos dadas por esse texto. E, depois, vamos até a casa dela.


Ao assistir filmes de época com personagens pertencentes à burguesia ou à realeza, sempre há cenas em que os mesmos fazem um passeio à luz do dia, as damas com suas respectivas sombrinhas e os cavalheiros com suas cartolas. Os passeios sob a luz do sol são regados de boas conversas, promessas de romances, confabulações de traições, além de fofocas tomando um gostoso chá. Esta é a imagem da carta 20 do Tarot de Lenormand – O Jardim: um lugar para passeios, encontros românticos, um gostoso pic-nic ao ar livre e lazer para as crianças. Estes lugares existiam mais como parques e grandes jardins reais, dentro dos portões de palácios e além dos muros dos castelos medievais. É óbvio que em grande parte temos a imagem dos jardins europeus em nossa mente, mas a maioria das cidades em todo o mundo possui um lugar com estas características, onde é mais frequentado aos finais de semana por famílias e casais.


Fachada neoclássica do Palácio de São Cristóvão – Museu Nacional
Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro - RJ

Analisando por esse aspecto, podemos entender que este arcano fala sobre lugares públicos, encontros ao ar livre e também a prática de esportes, pois é necessário que a pessoa entre em contato com a natureza. Remetendo-se às pessoas, é sinônimo de que precisa ter um maior contato com o público, ampliar a rede de relacionamentos pessoais ou profissionais, deverá ter uma maior exposição em algum tipo de mídia social, marcar mais encontros e entrevistas, fazer mais passeios e excursões, ou seja, todo tipo de atividade que engloba pessoas.

Esta carta também significa o Mundo, uma gama de possibilidades para os seus anseios e projetos. Todos os caminhos estão abertos para os seus sonhos, suas mensagens, seus feitos, tudo terá uma grande repercussão em cadeia e com longa duração. Portanto, deve-se pensar muito bem ao se expor desta maneira, pois um passo em falso ou uma palavra mal colocada, terá uma repercussão terrível e sua reputação ficará manchada.

Como personalidade, é uma carta que identifica celebridades, pessoas públicas e com grande repercussão, pessoas expansivas e que não sabem guardar segredos. Como profissão, sempre aquilo que for público, dependendo das cartas que estiver acompanhando é uma ótima carta para identificar jornalistas, políticos, e quem trabalha com eventos. Representando um tipo de amor, é o amor ágape, caridade, comum, fraterno, pois vê a todos como iguais. Espiritualmente, um momento de muita energia exposta, de grandes trocas energéticas e muita projeção para quem estiver a sua volta.

Jardim na casa de repouso – Fotos e fotos

Um lugar para encontrar a paz, o equilíbrio e a cura, são os significados do Jardim para uma grande corrente de tarólogos. Neste caso, o Jardim é visto de uma maneira mais restrita, imaginando que você tenha um espaço em sua casa onde procura cultivar flores e ervas, não só para ter uma bela paisagem em seu terreno, mas também ter temperos e remédios ao seu alcance a qualquer momento. O que você resolver plantar, com bom cultivo, você terá aquilo que merece. Plantando temperos, você está disposto a dar sabor à sua vida, significando alegria de viver. Plantando ervas, você busca cura terapêutica. Por este ângulo, vemos o significado do Jardim como uma visão mais interior, de cultivo de bons hábitos alimentares e espirituais, procurando calma e o equilíbrio vindo da natureza. Cultivar o seu próprio jardim nos faz pensar que devemos trabalhar nossas imperfeições e manter a beleza de nosso interior, deixando as coisas ruins para trás, semeando boas sementes para colher um futuro promissor.


Ter acesso a um jardim de ervas para obter a cura não é um privilégio para muitos. Quem lê desta forma, está sendo abençoado pelo orixá Ossaiyn (Ossanhê), o senhor das folhas, detentor dos segredos das ervas. Quem tiver acesso à medida certa, consegue encontrar a cura do seu mal e o tratamento para aliviar suas dores. Não se deve esquecer que as mesmas folhas que podem trazer a cura, também podem ter efeitos entorpecentes, tirando o seu juízo normal, além do efeito de envenenar e matar. Vendo por esse lado, é uma atenção redobrada quando o mesmo aparece no jogo mostrando esse acesso, pois tudo vai depender da ação correta e da sua justa medida.


Adentrando mais no significado de Ossaiyn, ele é um orixá de fundamento essencial nos segredos de iniciação ao Candomblé. Religião onde tudo o que é feito deve-se ter a bênção de Ossaiyn, seus adeptos acreditam que onde não tem folha, não tem orixá, portanto não há vida e não há verdadeira iniciação. Sendo um grande senhor dos segredos, quem identificar este orixá por esta carta, ela já ganha um terceiro tom: um grande mistério espiritual, onde só se pode ter acesso aquele que passou pelos rituais apropriados. Pode até mesmo identificar rituais fechados de qualquer doutrina, dependendo das cartas próximas. O tarólogo que tiver este tipo de identificação da carta, pode confirmar se o seu consulente é verdadeiramente iniciado quando Ossaiyn responde.


Um aviso de antemão: nem todos os tarólogos identificam Ossaiyn, muito menos os seus significados. É uma visão para poucos, portanto não pode se tornar uma regra.


Como personalidade, identifica pessoas que tem bom gosto e gosta do que é belo, de lugares reservados porém considerados mágicos, com bastante contato com a natureza. Como profissão, identifica trabalho com a natureza como biólogo, botânico, tudo o que remeter o auxílio de plantas. No amor, significa que é necessário um encontro mais íntimo com si mesmo e com a pessoa amada, momentos de romance e amor. Espiritualmente, significa o acesso a segredos e mistérios restritos de doutrinas e religiões, tornando-se um curandeiro, ou mesmo tendo que procurar por um para solução de seu conflito.


Com muito prazer fiz esse texto, onde a escolha da carta foi totalmente vinda do meu baralho. Ao terminar falando de Ossaiyn, tenho só agradecer a este orixá que me abençoou em vários momentos, permitindo-me o acesso a segredos e mistérios.

Paz, luz, amor e toda a boa sorte do mundo a todos vocês.


Carolina d’Oxoguian

domingo, 15 de dezembro de 2013

Conversas Cartomânticas: Ano V!



Olá pessoal! Quem diria, quem diria que chegaríamos ao ano V!
Sinceramente, tem momentos em que paro e penso, puxa, como o tempo passou rápido. De uma ideia simples - conversar com as pessoas sobre o que eu pensava sobre a Cartomancia em geral - surgiu esse universo de conversas. Várias, pluridisciplinares.
Esse ano, em especial, quando adentramos a combinação do planeta Saturno com o Arcano VI, confesso que tive medo. Medo mesmo, de pensar na responsabilidade que é estar em contato com vocês, o tempo todo. Estar à disposição, estar à serviço, como professor e como cartomante. A coisa é muito séria, gente. Aquilo que é dito tem que ser balizado por dois crivos, um menor que o outro: base teórica e base prática. Em Cartomancia, como posso afirmar algo que não entendi, visceralmente? 


Falando em entendimento visceral, a série Doze Meses com os Enamorados me impressionou, muito. Dez colaborações que se entrecruzaram, cavando em mim um vazio pleno de fertilidade. Se tinha algumas dúvidas na leitura dos Enamorados, elas ficaram para trás com tamanho esclarecimento. Agradeço enormemente os participantes. Sugiro que leia todos os textos:
Janeiro: Robert M Place; Fevereiro: Claudia MelloMarço: Kelma Mazziero;  Abril: Yubertson MirandaMaio: Regina GuigouJunho: Euclydes Cardoso JrJulho: Veet PramadAgosto: Pietra di Chiaro LunaSetembro: Giordano BertiDezembro: Giancarlo Schmid


Eu tive que dar um tempo na série A Aventura do Herói em sua Autodescoberta. Haviam lições que eu precisava aprender. Coisas que eu precisava digerir. E, como disse acima, não sei escrever sem sentir o processo dentro de mim. Por mais bobo que isso possa parecer, cada linha que eu escrevo é sentida, e se você sente também, é porque o sentimento foi compartilhado. Nunca é unilateral, retórico. É uma conversa, oras, tem que ser assim. 
A parte boa é que esse ano ela volta com tudo! 


Da mesma forma, dei um tempo no Game of Thrones Lenormand. Deste, no caso, porque me cansei, enjoei. Qualquer pessoa que leia com sofreguidão os cinco livros entenderá perfeitamente meus motivos. Retomarei esse ano, também, com novo fôlego e novas impressões. Mas, sério, precisava me afastar dessa história um tempo. 
Visceral demais até para mim.


Por outro lado, mesmo com esses vazios nas postagens iniciadas na primeira metade do ano, a nossa produção foi alta. Temos as mais diversas contribuições na blogagem coletiva Petit Lenormand, em homenagem à Odete Lopes. Estamos na metade do baralho, ainda temos muito para ler. E, sabe? Só coisa boa. Mesmo. Todos de parabéns no processo.


Esse ano foi muito produtivo, em amplo sentido, para além do blog. Participei do processo de desenvolvimento do livreto para o Gilded Reverie Lenormand, de Ciro Marchetti. Uma honra participar como o único representante do Hemisfério Sul dessa publicação. Adquira aqui o livretinho em pdf.


Contamos, para a alegria geral da nação, com a reimpressão do Baralho Para Ver a Sorte, atualizado - tive a honra de escrever o livretinho que o acompanha. Para quem acompanha o blog já há algum tempo, essa é uma vitória. Estive, há alguns anos, caçando um baralho desses, de segunda mão, de tão desesperado que estava por não ter um para trabalhar. A COPAG, uma das maiores empresas de baralhos do mundo, foi generosa comigo, e é parceira do Conversas desde então. E hoje, não só eu tenho, como qualquer um pode ter - é um dos baralhos de maior acessibilidade do mercado brasileiro, unindo um preço fantasticamente barato à qualidade incomparável da COPAG [Falando nisso, esse foi o primeiro ano em que tivemos o Dia do Baralho!]. Preciso dizer mais? 


Preciso. Sou co-autor do primeiro livro da Lo Scarabeo em português. Agora, temos um Petit Lenormand com conteúdo atualizado conforme nossa prática no Brasil. Brevemente teremos o lançamento oficial, mas, ainda assim ele já está acessível - é só entrar em contato com o Amor, o Próprio.


Estive em quatro eventos esse ano como participante, que comento abaixo, um como ouvinte - Mystic Fair Sampa - e de um fui entusiasta - o Tarolog, embora não tenha podido ir. Na Mystic Fair Rio, estive com meus queridos, conversei, carteei, aprendi e ensinei. O bom de todo evento é o encontro, o diálogo, a perspectiva de abrir a mente para outras possibilidades. Nesse evento, em especial, quero deixar aqui meu agradecimento ao Giancarlo Schmid, um querido. Nossas conversas são sempre proveitosas, aprendo muito contigo. E, como não poderia deixar de ser, às minhas queridas Prem Mangla, Tânia Durão, Sonia Boechat e Chris Wolf. Vocês dão sentido ao que é ser cigano nesse mundo.


Na II Mesa Redonda sobre as Cartas Ciganas, organizada pela Tânia Durão, além de estar entre pessoas maravilhosas com as quais tinha contato prévio online ou que tive a oportunidade de admirar ao vivo (Julia e Paulinha, meus amores!), tive a oportunidade de dialogar e apresentar minha pesquisa sobre os naipes do Petit Lenormand. Algo inédito até então e que, dados os feedbacks que recebi, só me estimula a escrever mais sobre isso. Muito obrigado, pessoal. Aqui, quero agradecer em especial ao Alexsander Lepletier pelo apoio, e ao Marcelo Bueno e a Cris Mendonça pelos constantes toques.


Na III Confraria Brasileira do Tarot, organizada pela Pietra Di Chiaro Luna e pelo Edu Scarfon, estive novamente entre queridos - a melhor parte! - pude falar sobre algo que inspira grande reflexão na minha prática: a questão de qual baralho utilizar. Dessa palestra surgiu um texto que foi publicado no Clube do Tarô, e que pode ser baixado aqui, cujos feedbacks me deixaram muito satisfeito. Mais coisas virão daí, pessoal. 


Por fim, no III Fórum Nacional de Tarô, ocorrido em Belo Horizonte, fui convidado a refletir sobre  o ensino do Tarô, algo bem desafiador para um tarólogo autodidata. Estive em diálogo com os queridos Giancarlo Schmid e Sávia Moraes, vindo a conhecer pessoalmente Cyddo de Ignis e Ilma Queiroga no nosso bate papo. Gente, sério: foi um dos melhores eventos dos quais participei. Luciene Ferreira, minha querida, como já disse várias vezes: qualquer tempo é pouco tempo para conversarmos. Sempre precisa mais, sempre tem mais assunto. Yub, meu amigo, você é outro com quem quero ter tempo de conversar mais, poxa! Profhelius, você foi a maior descoberta do meu dia. Muito obrigado por nossa conversa.Uma das melhores companhias que poderia ter, a dona Yedda Paranhos, foi minha companheira de almoço. Poderia querer mais? Ah, e a dona Yedda acabou de publicar o seu Tarô, o Tarô do Eremita. Vale muito a pena adquirir!

E cá estamos, indo para o ano da Carruagem, em um ano regido por Júpiter. O que esperar desse ano? Mais empenho e comprometimento aqui no Conversas Cartomânticas, mais diálogos, mais promoções, mais presença e presentes! Inclusive, aguardem um sorteio para breve, muito breve, de um prêmio para lá de especial!

Abraços a todos, e sigamos a jornada.
O caminho é longo, aproveitemos a paisagem.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Blogagem Coletiva Petit Lenormand: 19. Victor Guagliardi e a Torre.


Olá pessoal, continuamos com nossa blogagem, agora com a colaboração do Victor Guagliardi, um querido que nos levará à subir as escadas da Torre. Vamos com ele!
O Victor vive no Rio de Janeiro, é Técnico em Alimentos, Estudante de Psicologia e Cartomante. Trabalha com Baralho Comum, Baralho Petit Lenormand, e como tarólogo, com o Tarot Rider-Waite.

E-mail: vguagliardi@gmail.com
Celular: +55(21)88702201


A carta da Torre, no Baralho Cigano, possui o significado – em minha óptica, subentende-se – de contemplação e interiorização. Pode ainda variar, indo para os campos semânticos de instituições – cuidando-se para não confundir com o anel – e ainda, no Brasil mais pronunciadamente, podendo significar prisão, aprisionamento.
O objetivo desse pequeno artigo, é puxar um fio – não “O fio” – de um tecido linguístico contextualizado , de forma a desvelar uns detrás, umas origens e uns conteúdos associativos que permitam aos colegas, comigo participarem dessa rede de pensamentos, que é a “pluricartomancia”.
A carta da Torre é associada com a lâmina VI(Seis) de Espadas do “baralho comum” – apesar de não gostar desse nome, por ser demasiado Eurocêntrico/”Ocidentocêntrico”, e o Ocidente sempre querer determinar o que é comum e o que é incomum.
O VI de Espadas, em CICERO & CICERO (The New Golden Dawn Tarot Ritual, 1991), é associado a Mercúrio em Aquário (10o – 20o). O livro contém ainda a seguinte referência: “(...)Saturno , que é co-regente de Aquário (...) age como um form builder [um construtor de formas, modelos, padrões, frames] estabilizando as qualidades etéreas de Mercúrio no signo de ar (...)” (tradução livre)
Para procurar essa relação a qual estamos nos referindo, escolhi utilizar o livro Astrologia e Mitologia (GUTTMAN & JOHNSON, 1993). Retirarei algumas citações com o objetivo de leitura, sem a preocupação da formalidade acadêmica:



“Na Babilônia, o planeta Saturno era chamado Ninib, e esse Ninib, como o itálico Saturnus, era uma divindade agrícola. (...) Saturno é o mestre interior. Esse mestre pode tornar-se um tirano, um patriarca severo e obcecado por leis de restrições, ou pode tornar-se um verdadeiro mentor. (...) O conceito do mentor é tirado também da mitologia clássica. Mentor, um personagem da Odisséia de Homero, era o velho conselheiro de Telêmaco, o jovem herdeiro de Odisseu. Enquanto Telêmaco esperava em vão por seu pai ausente, Mentor guiava suas ações com sábios conselhos. “

“Essa história, que vem dos Hinos Homéricos, revela bastante sobre Mercúrio. Ele era um ladrão que mais tarde foi chamado deus dos ladrões. Por que o deus da mente e de toda a atividade literária seria um deus dos ladrões? Porque o intelecto humano, por si só, é amoral. Sua função, o pensamento racional, não está necessariamente ligada a nenhum código de ética. O mesmo processo mental que leva um indivíduo a escrever um livro sobre consertos domésticos pode ser usado por um indivíduo diferente para quebrar fechaduras ou burlar um
alarme contra ladrões — ou desviar milhões de dólares de um público inocente com a venda de títulos de dívidas (Mercúrio também era o padroeiro dos mercadores).”

Temos então, duas citações. Uma fala sobre o caráter do mito de Mentor, e outra sobre o caráter dúbio do intelecto. 

Queridos leitores, aonde colocamos alguém que possui um intelecto dúbio? A resposta é variada, porém simples. Podemos colocá-lo perante um mentor, em uma prisão, ou ainda com um construtor.

Ora, por quê um construtor? Pois é certamente necessário ao intelecto aéreo de mercúrio, que se construam limites. Limites esses que podem ser encarados de múltiplas formas, ou ainda, de uma forma Gestáltica.

Podemos ver a torre como uma prisão do intelecto, aonde os limites o aprisionam, e de certo, se você passar por uma experiência de saturno na torre, certamente poderá sentir isso. É extremamente doloroso passar um tempo sozinho, tendo que entrar em contato com o mestre interior, sem amigos. 

Porém, os mesmos limites impostos ao intelecto por Saturno construtor, permitem ao Homem a construção de arranha-céus. Ora, o arranha-céu não alcança o céu de uma forma sólida?

Uma outra forma de pensar sobre as cartas, além dos mitos clássicos, é pelos contos de fada. E é na torre que nos encontramos com Rapunzel. Marie Louise Von Franz, em “O Caminho do Sonho”, percorre o mito de uma forma muito bela, trazendo novos complexos que podemos ligar a essa lâmina:

“Como é que um homem cuja feminilidade está presa no complexo materno sente as mulheres no plano exterior? Se um homem tem um vínculo íntimo demais com a mãe, especialmente se for positivo, sua tendência será de idealizar as mulheres. (...) Os contos de fada, através do tema da princesa presa na torre, oferecem um pano de fundo arquetípico para essa situação. Num dos mais famosos, a princesa Rapunzel é aprisionada por uma feiticeira. É a figura materna por trás dos bastidores que constela o problema. Quando isso ocorre, os amantes não podem se encontrar.”

Vemos então, que A Torre também pode sofrer outros tipos de influência, no jogo. Ela pode refletir a idealização de uma figura, como Rapunzel era a princesa ideal, e estava no alto da torre. De fato, isso acontece quando o indivíduo não transcende a função de Saturno, ocorrendo um fenômeno que chamo de “pular para pegar mangas”. 


Sabemos que a mangueira é uma árvore alta. Porém, a manga é algo muito real. Ela é uma fruta, tem sabor, é natural, e saborosa. Ela é uma fruta que está no alto, mas que é extremamente possível. Desde que você suba na árvore para pegá-la. Se você não subir, você pode ainda utilizar algum objeto que chegue até em cima. O que não dá para fazer é pular. Quantas vezes nos pegamos tentando pular para pegar mangas? E temos aquela sensação de frustração, como se estivéssemos querendo pegar algo em cima de uma torre sem escada. Será que não estamos idealizando demais, caindo no feitiço da bruxa? Isso acontece facilmente, já que Urano, o regente de aquário, pode influenciar Mercúrio dessa forma, para pular etapas. 

A mesma Rapunzel na torre, pode refletir a mulher presa por seu arquétipo materno. Ela coloca os homens como inalcançáveis, só que de cima. É aquela mulher que fala: eu quero um homem que seja aqui da minha torre, que venha do céu, se vier da terra não vai conseguir me alcançar! Acontece bastante!

A Torre também está presente em nossas instituições, nos nomes das universidades. Geralmente as universidades tem nomes femininos, elas prendem seus discípulos em seus programas e currículos, como a mãe prende seu filho. O mesmo acontece com as empresas. Chega um determinado momento, que a empresa age tanto como mãe, que fica difícil ser um indivíduo dentro delas.

Porém, lembramos que as cartas contam uma história de redenção. As torres tem escadas, ou se quebram, unindo as fronteiras esquizofrênicas de nosso ser. É muito mais salutar, portanto, ver a torre como uma ponte ao céu. As torres nos ajudam a construir o intelecto voador, ligando-o aos dois extremos. Ela une as partes que, em nós, são distanciadas: nossos antepassados, com nossa individualidade. E ajudam a construir nossa individuação, à medida que oferecem fronteiras sobre quem nós somos. 


A torre é uma separação, logo a vemos em uma cidade. Da mesma forma, somos torres a partir do momento que passamos a ser nós mesmos, e não os outros. 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Blogagem Coletiva Petit Lenormand: 18. Robert M Place e o Cão.



Olá pessoal. Hoje contamos com a colaboração para nossa postagem de ninguém mais, ninguém menos que o querido Robert M Place, que já esteve por aqui nos Doze Meses com os Enamorados, abrindo a série. Esse autor e ilustrador magnífico hoje nos apresenta seu mais recente trabalho, parceria com Rachel Pollack: The Burning Serpent Oracle. 
Aguardamos ansiosos para embaralhá-lo e vê-lo em ação. Em breve.
Com a palavra, o autor. O texto original está em inglês, espero que isso não cause dificuldades. Optei por publicar conforme o original, mas caso desejem, providencio a tradução.



The Hound number 18, for the Burning Serpent Oracle
Designed by Robert M. Place with input from Rachel Pollack


In the traditional Lenormand system the Dog card symbolizes loyalty, dependency, and a trusted friend.  These are all qualities that have been associated with the dog at least since the Middle Ages.  In the Renaissance, a work of art was intended to have both body and soul.  The body was the visual composition and the beauty of the rendering. The soul was the philosophical statement that was communicated through symbols.  A dog was a common symbol for fidelity.  We can find a dog depicted on one of the oldest existing Tarot cards, the Lovers trump from the Cary-Yale Visconti Tarot, created for the duke of Milan, circa 1445. Here we see the lovers holding hands, a symbol of the marriage vow.  Above them flies a blindfolded Cupid.  Although we now romanticize that Love is blind, in the Renaissance, this blindness was seen as destructive and disruptive to the social structure. As a cure for Cupid’s flighty nature there is also a dog, standing at the couple’s feet. It appears to be an Italian greyhound. It seems that both the Tarot and the Lenormand deck use a dog to symbolize the same quality.



My wife and I have had at least two greyhounds with us for many years.  I have also had friends with Irish wolfhounds and Scottish deerhounds.  The hound on my card is an Irish wolfhound, the largest breed of hound.  I am fond of hounds and that is why I chose one for this card. But also, the hound is one of the oldest breeds of dogs.  We can find them in ancient Egyptian paintings, on Greek vases, in Roman murals, Medieval manuscripts, and Renaissance paintings, even on Tarot cards. Hounds have probably been with us since prehistoric times. And dogs may have been with us even before we were total evolved.  Paleontologists have found the remains of dogs along with human burials from thirty thousand years ago. At that time, Neanderthals and Denisovans existed along with modern humans.  It may be that humans learned to hunt in pacts by imitating their dogs.

The hound is a hunting dog, and because of this the Greeks associated them with Diana the goddess of the hunt and the moon. They are depicted as her companions. It is natural for hunting animals to be out at night because this is when prey animal are most active.  So there is a natural connection between the hound and the moon.




Robert M Place
alchemicaltarot@aol.com

domingo, 1 de dezembro de 2013

Doze Meses com os Enamorados: Giancarlo Kind Schmid.


Olá pessoal. Quem diria, um ano se passou! Tivemos dez contribuições e aprendemos mais sobre esse Arcano que inspira dúvidas, em amplo sentido. Foi um estudo coletivo muito rico, só tenho a agradecer a todos os participantes. Obrigado por acreditarem no projeto.
Fechamos com chave de ouro: Giancarlo é um Ás na leitura dos símbolos. E é esse querido que nos guia nesse fechamento de ciclo e abertura de possibilidades interpretativas. Nada tenho a acrescentar.
Deleitemo-nos.


Os Enamorados (ou Amantes)

  Giancarlo Kind Schmid

A cena clássica, repetida em inúmeros romances, onde o jovem flerta com a donzela, marca um ciclo importante literário europeu (século XII a XIV): o trovadorismo. Uma ode ao amor, especialmente o amor impossível e platônico transformando o trovador num vassalo da mulher amada, exemplo do amor cortês. Esse é o período onde surge o primeiro baralho de tarô na Europa (1392) e passa, então, a se tornar conhecido.
O arcano 06 é representado atualmente por um jovem entre duas mulheres tendo ao alto a figura resplandecente do Cupido. Em alguns textos, há o reforço da interpretação de escolha e livre arbítrio, de triângulo amoroso, até mesmo de Complexo de Édipo quando alguns autores reportam-se à ideia de que o jovem está entre a mãe e a sua namorada (ou noiva). Porém, essa visão moderna não está de acordo com as primeiras imagens do arcano. No baralho de Jacquemin Gringonneur (a pedido de Charles VI, rei da França em 1392) três casais surgem se cortejando, tendo na parte superior da lâmina Eros e Anteros (amor e ódio) disparando suas flechas, fazendo uns se apaixonar e outros se rejeitar. O baralho reproduz uma ambientação medieval com os casais num atitude de entrosamento. 


Já nos baralhos de Visconti Sforza (Itália, séc. XV) e Visconti Cary Yale (Itália, séc. XV) há apenas um casal e, no topo, sozinho, o Cupido (agora com os olhos vendados). A referência mais clara é do amor cavalheiresco, das bodas ou apenas do romance. E, há também um apontamento para a cegueira do amor e/ou da paixão. No simbolismo, a interpretação está mais de acordo com a frase: “o amor é cego”. Lembro que o Renascentismo surgia nessa época na Europa, uma explosão cultural, repleta de filosofia, invenções, artes, colocando o ser humano como centro do universo. Mais do que normal a ênfase aos sentimentos humanos e toda sua representatividade. 
                             

O humanista e poeta Francesco Petrarca (Itália, 1304-1374) ao escrever sobre os ‘Triunfos’, faz apologia especial ao do Amor, cujas ilustrações sempre destacam o Cupido num carro alegórico. No período pós-medieval e renascentista, o amor ganha destaque na forma de adoração do próprio ser humano, num tom narcísico e hedonista, com ênfase na estética, corpo e perfeição (quase) divina.
                                                           
Somente a partir do século XV surgem as primeiras representações do arcano 06 como um jovem entre outros dois personagens. A imagem analisada de forma pormenorizada em sua essência iconográfica não faz menção a um jovem entre duas mulheres e sim, entre seu pai e sua futura noiva. Devido à difícil representação artística xilográfica francesa, muitos confundiram a imagem da esquerda como a de uma mãe ou outra mulher importante na vida do personagem central. Portanto, nada de triângulos amorosos, amantes secretos, mães dominadoras, isso tudo surgiu das várias reinterpretações da imagem que fizeram perder seu sentido simbólico original. Podemos ver o Cupido apontando sua flecha para o indefeso coração do rapaz. A imagem é de jovem que apresenta sua pretendente e pede a benção ou consentimento do pai para casar-se. Nada, além disso.




Esclarecido o aspecto iconográfico, lógico que vários artistas vieram ao longo dos séculos repetindo a ideia de um rapaz dividido entre o amor de duas mulheres. Poucos foram os baralhos que se reportaram ao personagem da esquerda de quem vê como homem (como é o caso do Suíço 1JJ e Classic Tarot, até chegar ao Waite-Smith cuja ilustração está mais de acordo com o Éden com Adão e Eva representados. Da criação do Rider à edição do Thoth, o arcano ganha status de casamento alquímico e outras analogias postuladas pelas vertentes ocultistas.


Devido a esse erro de interpretação das imagens, o arcano 06 tornou-se símbolo das escolhas e dúvidas, livre arbítrio e bifurcações da vida. Claro, não podemos negar, hoje, os novos significados, longe daqueles que envolviam, diretamente, as relações amorosas diretamente os laços afetivos estabelecidos. O arcano diz respeito também às convivências e como as pessoas se interinfluenciam. De certo modo, como precisamos “colocar o coração” em tudo que realizamos ou geramos, além da dedicação carinhosa aos nossos planos e anseios, não nos esquecendo de que vivemos em sociedade e mesmo as decisões tomadas sozinho podem gerar consequências para os demais. Não há dúvida quando o amor é verdadeiro!
O arcano 06 nos ensina que ‘é preciso amar o amor’.

Bibliografia:
CARDOSO, Ciro Flamarion. Iconografia e História. Cadernos do ICHF, Niterói, no. 32, 1992.
KAPLAN, Stuart R., Encyclopedia of Tarot. 3 vols. New York: U.S. Games Systems Inc., 1978.
LOYN, H. R. (Org.). Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
MELLO, José Roberto. O cotidiano no imaginário medieval. São Paulo : Contexto, 1992.