Olá pessoal, continuamos com nossa blogagem, agora com a colaboração do Victor Guagliardi, um querido que nos levará à subir as escadas da Torre. Vamos com ele!
O Victor vive no Rio de Janeiro, é Técnico em Alimentos, Estudante de Psicologia e Cartomante. Trabalha com Baralho Comum, Baralho Petit Lenormand, e como tarólogo, com o Tarot Rider-Waite.
E-mail: vguagliardi@gmail.com
Celular: +55(21)88702201
A carta da Torre, no Baralho Cigano, possui o significado – em minha óptica, subentende-se – de contemplação e interiorização. Pode ainda variar, indo para os campos semânticos de instituições – cuidando-se para não confundir com o anel – e ainda, no Brasil mais pronunciadamente, podendo significar prisão, aprisionamento.
O objetivo desse pequeno artigo, é puxar um fio – não “O fio” – de um tecido linguístico contextualizado , de forma a desvelar uns detrás, umas origens e uns conteúdos associativos que permitam aos colegas, comigo participarem dessa rede de pensamentos, que é a “pluricartomancia”.
A carta da Torre é associada com a lâmina VI(Seis) de Espadas do “baralho comum” – apesar de não gostar desse nome, por ser demasiado Eurocêntrico/”Ocidentocêntrico”, e o Ocidente sempre querer determinar o que é comum e o que é incomum.
O VI de Espadas, em CICERO & CICERO (The New Golden Dawn Tarot Ritual, 1991), é associado a Mercúrio em Aquário (10o – 20o). O livro contém ainda a seguinte referência: “(...)Saturno , que é co-regente de Aquário (...) age como um form builder [um construtor de formas, modelos, padrões, frames] estabilizando as qualidades etéreas de Mercúrio no signo de ar (...)” (tradução livre)
Para procurar essa relação a qual estamos nos referindo, escolhi utilizar o livro Astrologia e Mitologia (GUTTMAN & JOHNSON, 1993). Retirarei algumas citações com o objetivo de leitura, sem a preocupação da formalidade acadêmica:
“Na Babilônia, o planeta Saturno era chamado Ninib, e esse Ninib, como o itálico Saturnus, era uma divindade agrícola. (...) Saturno é o mestre interior. Esse mestre pode tornar-se um tirano, um patriarca severo e obcecado por leis de restrições, ou pode tornar-se um verdadeiro mentor. (...) O conceito do mentor é tirado também da mitologia clássica. Mentor, um personagem da Odisséia de Homero, era o velho conselheiro de Telêmaco, o jovem herdeiro de Odisseu. Enquanto Telêmaco esperava em vão por seu pai ausente, Mentor guiava suas ações com sábios conselhos. “
“Essa história, que vem dos Hinos Homéricos, revela bastante sobre Mercúrio. Ele era um ladrão que mais tarde foi chamado deus dos ladrões. Por que o deus da mente e de toda a atividade literária seria um deus dos ladrões? Porque o intelecto humano, por si só, é amoral. Sua função, o pensamento racional, não está necessariamente ligada a nenhum código de ética. O mesmo processo mental que leva um indivíduo a escrever um livro sobre consertos domésticos pode ser usado por um indivíduo diferente para quebrar fechaduras ou burlar um
alarme contra ladrões — ou desviar milhões de dólares de um público inocente com a venda de títulos de dívidas (Mercúrio também era o padroeiro dos mercadores).”
Temos então, duas citações. Uma fala sobre o caráter do mito de Mentor, e outra sobre o caráter dúbio do intelecto.
Queridos leitores, aonde colocamos alguém que possui um intelecto dúbio? A resposta é variada, porém simples. Podemos colocá-lo perante um mentor, em uma prisão, ou ainda com um construtor.
Ora, por quê um construtor? Pois é certamente necessário ao intelecto aéreo de mercúrio, que se construam limites. Limites esses que podem ser encarados de múltiplas formas, ou ainda, de uma forma Gestáltica.
Podemos ver a torre como uma prisão do intelecto, aonde os limites o aprisionam, e de certo, se você passar por uma experiência de saturno na torre, certamente poderá sentir isso. É extremamente doloroso passar um tempo sozinho, tendo que entrar em contato com o mestre interior, sem amigos.
Porém, os mesmos limites impostos ao intelecto por Saturno construtor, permitem ao Homem a construção de arranha-céus. Ora, o arranha-céu não alcança o céu de uma forma sólida?
Uma outra forma de pensar sobre as cartas, além dos mitos clássicos, é pelos contos de fada. E é na torre que nos encontramos com Rapunzel. Marie Louise Von Franz, em “O Caminho do Sonho”, percorre o mito de uma forma muito bela, trazendo novos complexos que podemos ligar a essa lâmina:
“Como é que um homem cuja feminilidade está presa no complexo materno sente as mulheres no plano exterior? Se um homem tem um vínculo íntimo demais com a mãe, especialmente se for positivo, sua tendência será de idealizar as mulheres. (...) Os contos de fada, através do tema da princesa presa na torre, oferecem um pano de fundo arquetípico para essa situação. Num dos mais famosos, a princesa Rapunzel é aprisionada por uma feiticeira. É a figura materna por trás dos bastidores que constela o problema. Quando isso ocorre, os amantes não podem se encontrar.”
Vemos então, que A Torre também pode sofrer outros tipos de influência, no jogo. Ela pode refletir a idealização de uma figura, como Rapunzel era a princesa ideal, e estava no alto da torre. De fato, isso acontece quando o indivíduo não transcende a função de Saturno, ocorrendo um fenômeno que chamo de “pular para pegar mangas”.
Sabemos que a mangueira é uma árvore alta. Porém, a manga é algo muito real. Ela é uma fruta, tem sabor, é natural, e saborosa. Ela é uma fruta que está no alto, mas que é extremamente possível. Desde que você suba na árvore para pegá-la. Se você não subir, você pode ainda utilizar algum objeto que chegue até em cima. O que não dá para fazer é pular. Quantas vezes nos pegamos tentando pular para pegar mangas? E temos aquela sensação de frustração, como se estivéssemos querendo pegar algo em cima de uma torre sem escada. Será que não estamos idealizando demais, caindo no feitiço da bruxa? Isso acontece facilmente, já que Urano, o regente de aquário, pode influenciar Mercúrio dessa forma, para pular etapas.
A mesma Rapunzel na torre, pode refletir a mulher presa por seu arquétipo materno. Ela coloca os homens como inalcançáveis, só que de cima. É aquela mulher que fala: eu quero um homem que seja aqui da minha torre, que venha do céu, se vier da terra não vai conseguir me alcançar! Acontece bastante!
A Torre também está presente em nossas instituições, nos nomes das universidades. Geralmente as universidades tem nomes femininos, elas prendem seus discípulos em seus programas e currículos, como a mãe prende seu filho. O mesmo acontece com as empresas. Chega um determinado momento, que a empresa age tanto como mãe, que fica difícil ser um indivíduo dentro delas.
Porém, lembramos que as cartas contam uma história de redenção. As torres tem escadas, ou se quebram, unindo as fronteiras esquizofrênicas de nosso ser. É muito mais salutar, portanto, ver a torre como uma ponte ao céu. As torres nos ajudam a construir o intelecto voador, ligando-o aos dois extremos. Ela une as partes que, em nós, são distanciadas: nossos antepassados, com nossa individualidade. E ajudam a construir nossa individuação, à medida que oferecem fronteiras sobre quem nós somos.
A torre é uma separação, logo a vemos em uma cidade. Da mesma forma, somos torres a partir do momento que passamos a ser nós mesmos, e não os outros.
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