segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Você tem vinte e quatro horas. Ou: da interpretação dos significados oraculares de forma reflexiva.

A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:
- Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...
 Machado de Assis. A Cartomante.

Olá pessoal. Eu fico pensando na questão tripartida que nos norteia sempre. O diagnóstico. A previsão. O aconselhamento. Três faces da adivinhação. É um pouco assustador, no começo, justamente porque precisamos da confirmação de que estamos agindo corretamente, e isso só vem com o tempo. E com o tempo, também vem vocabulário, para podermos esclarecer aquilo que vemos em uma ou duas cartas com bem mais de duas ou três palavras-chave. E quando a previsão não é das melhores, o que fazer?


E quando a previsão vem codificada? Existem dois momentos que me dão desespero: quando a mensagem vem codificada (e isso ocorre geralmente quando jogo para mim mesmo); uma frase, uma única frase, em meio a diversas cartas. E não adianta torcer que mais caldo não irá sair.
A segunda situação é quando, dadas as circunstâncias do jogo, eu sou obrigado a dizer coisas que, pessoalmente não diria de jeito nenhum. Você joga para uma pessoa conhecida. Ela está apaixonada. Você vê, com sua experiência, que aquilo não tem a menor chance de dar certo. A língua coça. E você é desmentido pelas cartas. As cartas dizem que vai dar certo. Respiro fundo, várias vezes, mas passo o recado. O oráculo é sempre soberano ao oraculista.
Mas hoje, atenhamo-nos ao primeiro caso. Quando a mensagem vem codificada.


Perceba o que ocorre na tirinha. Eu fico pensando se o consulente parou para pensar se a cartomante acertou ou errou. Em que nível estava o acerto, em que nível (poderia estar) o erro.
Bem, independente da natureza do prognóstico, confie no que vê. A confiança é fundamental para o bom resultado. A confiança é fundamental para a clareza da resposta. E só se obtém confiança praticando. Então pratique. Reconheça as cartas. Reconheça o que você vê. 
E, consulente, confie no seu cartomante. Não estou dizendo para acreditar em cartomancia, crença absolutamente desnecessária para o funcionamento do oráculo. Mas você precisa ouvir. Precisa entender. E precisa perguntar - quanto mais específica a pergunta, mais específica a resposta.
Sigamos traduzindo e transmitindo mensagens.
Abraços a todos.

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Quando um monólogo se torna diálogo...