segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Doença e Morte nos Sibillas Italianos.

Misteri della Sibilla

Olá pessoal. Aparentemente esse seria um tema muito pesado, e inclusive duplamente pesado, por eu querer conversar sobre duas cartas indesejáveis de saírem juntas em uma jogada. Contudo, são as duas cartas que melhor definem o enredo de um dos filmes mais lindos que assisti na vida: The Bucket List (Antes de Partir). E é a partir da ótica oferecida por esse filme que dialogaremos sobre os meandros dessas duas cartas.
A música tema do filme é a maior inspiração para essa postagem. Say, do John Mayer - composta especialmente para o filme. Eu já conheço John Mayer há anos. Muito antes de assistir o filme. Na verdade, cheguei a ter o filme no meu computador, e apaguei sem ver. Acho que, de fato, há uma hora e um momento para tudo acontecer. Aconteceu. Assisti e agora, converso com vocês. Se não assistiram, assistam.

Carter Chambers (Morgan Freeman) é um homem casado, que há 46 anos trabalha como mecânico. Submetido a um tratamento experimental para combater o câncer, ele se sente mal no trabalho e com isso é internado em um hospital. Logo passa a ter como companheiro de quarto Edward Cole (Jack Nicholson), um rico empresário que é dono do próprio hospital. Edward deseja ter um quarto só para si mas, como sempre pregou que em seus hospitais todo quarto precisa ter dois leitos para que seja viável financeiramente, não pode ter seu desejo atendido pois isto afetaria a imagem de seus negócios. Edward também está com câncer e, após ser operado, descobre que tem poucos meses de vida. O mesmo acontece com Carter, que decide escrever a "lista da bota", algo que seu professor de filosofia na faculdade passou como trabalho muitas décadas atrás. A lista consiste em desejos que Carter deseja realizar antes de morrer. Ao tomar conhecimento dela Edward propõe que eles a realizem, o que faz com que ambos viagem pelo mundo para aproveitar seus últimos meses de vida. (fonte)

A doença é uma fase de reflexão forçada. Você não pode fazer nada. Você não pode enfrentar. Não pode lutar. A luta é feita por micropartes de você, e você não tem como fazer... nada. A não ser confiar que a vontade de continuar vivendo das suas micropartes é igual à sua. E, sobretudo, obedecer àqueles que conhecem mais sobre a sua doença que você.
As reações à situação são várias. Várias que se pensa ser possível, mais variadas ainda quando a possibilidade se torna realidade. Os desejos são tão singulares quanto as dores. Não existe maneira de pressupor reações, muito menos o que é real e o que é ilusório. Tente compreender a dor do outro e você perceberá o quanto você é pequeno frente às manifestações possíveis. 


DEGAS. L'absinthe.

Além da reação ativa, agressiva, desejosa de libertação imediata, existe uma outra reação também razoavelmente comum, que é inversamente proporcional. A apatia. Já que não há nada a fazer, nada será feito. 
Outra questão que se mostra, inversamente proporcional, é a ideia de doenças que não se mostram como tal. A depressão, a síndrome do pânico e o alcoolismo estão entre elas. Há quem as considere "falta de vergonha na cara" - isso, até se deparar com qualquer uma delas.


Sibilla della Zingara

Arrependimentos. "E se..." torna-se epíteto de todas as desculpas. Impotência. Eu poderia fazer, mas não posso. 
Mas... e se eu pudesse?



É sobre isso que o filme disserta. O que é que quero fazer antes de partir para o Outro Lado? A única certeza que tenho é que vou, não há a menor ideia do que está lá me esperando, já que eu construo essa ideia todos os dias... mas existe a certeza de que um dia eu irei partir. Desculpe, leitor: você também vai. Mesmo. Esse é o único oráculo infalível. Não se sabe como, quando, onde, porque ou com quem; mas sabe-se que se vai.
E é bom estar preparado para isso.
É muito difícil enfrentar esse fato. Mas quando não temos tempo, não temos também escolha. E, frente à Morte, nunca temos tempo suficiente.


Sibilla della Zingara

Encarar a Morte é preci(o)so e necessário (já falei sobre isso para o Clube do Tarô, dá uma olhada aqui). E, para quem achar que falar da Morte do Tarô e falar da Morte nos Sibillas é algo equivocado, lembro que morte significa... morte. Doença, significa... doença. Amor significa amor. E todas as demais titulações de cartas e arcanos possuem, antes de qualquer significado singular, o próprio significado conceitual que não pode ser esquecido ou deturpado. Ainda que ceci n'est pas une pipe.



Como cartomantes, temos que ir além do óbvio, partindo justamente dele e sem perdê-lo de vista. E, falar do óbvio, lição que jamais esquecerei, é sempre o mais difícil.



Sim, Ela, a Morte, vai vir uma, duas, dezenas de vezes no nosso decurso. Algumas vezes precedida da Doença, outras surpreendentemente sozinha. Mas, cada vez que ela venha, cada vez que ela toque alguém, que ela só toque a carne. O coração ficará intacto. E, quando ela nos tocar, que tenhamos sido como uma vela: consumimos a matéria iluminando o redor. E que essa luz tenha tido alguma utilidade.
Você já fez sua lista ou pensou sobre isso tudo?
Caso já tenha assistido o filme, vale a pena matar as saudades aqui. E, tendo ou não assistido, John Mayer nos embala nesse momento com frases de profunda reflexão - sim, essa música foi produzida para o filme.




Take all of your wasted honor.
Every little past frustration.
Take all of your so called problems,
Better put 'em in quotations.

Say what you need to say

Walkin' like a one man army,
Fightin' with the shadows in your head.
Livin' up the same old moment
Knowin' you'd be better off instead

If you could only...Say what you need to say 

Have no fear for givin' in.
Have no fear for giving over.
You better know that in the end
It's better to say too much, than never to say what you need to say again.

Even if your hands are shaking,
And your faith is broken.
Even as the eyes are closin',
Do it with a heart wide open.

(Wide Heart...)

Say what you need to say 
Say what you need to, 
Say what you need to...
Say what you need to say...

6 comentários:

  1. Ainda não vi esse filme, vou procurar. Só pelos protagonistas já imagino que deve ser realmente ótimo.
    Ótima postagem. Bom relembrar que o básico às vezes é o básico mesmo, por medo de certos arcanos inventamos mil e uma alternativas, tentando fugir da resposta óbvia mesmo. :)

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    1. Pois é, Piter. Esse tem sido meu questionamento há tempos. São tantos rodeios que as cartas deixam de ser o óbvio. Sendo que justamente vamos ao encontro do oráculo atrás de uma explicitação... do óbvio. Do corrente. Do diretamente relacionado. De nada mais que isso.
      Abração!

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  2. Olá Emanuel,
    eu não conheço as cartas nem as mensagens que elas passam. Sou um completo leigo no assunto. Posso dizer que o post que escreveu conseguiu transmitir uma boa ideia do que as duas cartas passam através de um exemplo mundialmente conhecido como um filme. Eu não assisti ao filme, mas sou um grande fã de John M. e conheci a música com o filme e consequentemente a história. Após ler o artigo consegui relacionar as cartas mencionadas com o filme.
    Agradeço o comentário no Arruma Blog e aproveito para dizer que em cima do seu comentário no artigo entrevista em blog eu fiz novos questionamentos a você. Assim que possível passe lá e compartilhe um pouco mais de informações conosco. Abraço.

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    1. Oi Rafa. Em compensação, eu sou um completo leigo em html. O que seria de mim sem blogs como o seu! Agradeço a presença por aqui, e, mais que isso, pelo feedback e pelo excelente trabalho que é o Arruma Blog. Se você conseguiu entender a proposta, eu alcancei o meu intento.
      Cartomancia não é um bicho de sete cabeças, como você pode ver. Mas demanda um empenho bem intenso. Aqui, a ideia é justamente oferecer o que alcanço, para facilitar tanto o diálogo com os colegas quanto a perspectiva de galgarmos outros graus de compreensão das cartas mais rápido.
      Indo agora no Arruma Blog, para continuarmos a conversa. Abraços.

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  3. Deu vontade de assistir este filme, grato pelo post, excelente!

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    1. Querido, você só tem a ganhar assistindo esse filme. Um abraço!

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