sábado, 30 de julho de 2011

Conversas Cartomânticas: Sophia Austeros e... O Pendurado, o Mundo de cabeça para baixo - ou será você?

Continuando nossa blogagem coletiva, contamos com a colaboração de Sophia Austeros. Eu confesso que fiquei pensando febrilmente nesse texto, já que não é uma das minhas cartas favoritas. Mas a Sophia conseguiu modificar minha visão e, talvez mais que isso, simpatizar mais com o referido. 
Sophia por ela mesma:

Sou designer, bruxa, artesã e taróloga. Não necessariamente nessa ordem. E pisciana por mal de nascença.

Neo pagã, panteísta. Ser oráculo é um dos meus ofícios, como ser humano, antes de mais nada. Estudo tarô desde 2005. Aprendi a lê-lo o olhando, o que não significa que dispenso livros, mas me é impossível não olhar para a carta e conversar com ela! Sou também adepta da leitura de sinais.
Então já me delatei: Meu lance é com símbolos! E acredito em tarô como um conjunto de símbolos divididos em 78 capítulos. Essa é minha forma de estudá-lo.
Se você se interessa por bruxaria e espiritualidade pode ler-me no Fadas & Abobrinhas, se sobre paganismo e infância, pode me ver de vez em quando no Crianças Pagãs. Se gosta de artesanato, pode conhecer meu trabalho na Officina Ancestrale... Ou se só te interessa tarô e oráculos mesmo, leia-me no Oraculares!
Se quiser trocar figurinhas ou qualquer coisa, escreva para s.austeros@gmail.com

Próxima postagem: A Morte, por Nath Hera, em 2 de agosto.


O Pendurado, o Mundo de cabeça para baixo - ou será você?


Ficar parado. Ver as coisas de outra forma. Sacríficios.
De sacrifícios eu entendo, sou pisciana. E após inúmeras lunações[1] de Enforcado aprendi muitas coisas e alguns truques. 

Le Pendu
Marseille

Um homem pendurado pelo pé em uma árvore. Sozinho, de mãos atadas. Temos duas possibilidades: Ou alguém o colocou ali, ou ele está ali porque quer ou ainda: Fez por merecer.
Posso começar então dizendo que aprendi que o Enforcado quer dizer também solidão. Mas muitas vezes, não uma solidão necessária, uma solidão imaginária. Uma solidão que a pessoa sente por causa de alguma situação, desde não estar namorando a uma morte na família (nisso também se sente amarrado e impossibilitado de agir). Uma solidão que precisa ser encarada de outra forma, que deve ser vista de cabeça pra baixo. Nisso confesso, é o mal de água falando. Acredito muito nisso: que muitas vezes o sentir-se preso, impossibilitado, somos nós que criamos.
“The Tree”, do Gaian Tarot. 
Por Joanna Powell Coubert.

Daqui parto para solitude. A necessidade de repensar as coisas, necessidade de meditar, de ir para o canto e lá deixar seus pensamentos fluírem. Seu mundo, suas convicções e ideias estão prestes a ser mortas, transformadas (arcano XIII); você deve então ir para o canto, ficar quietinho, manter-se em equilíbrio e pensar no que pode fazer. Uma ideia muito expressa no Gaian Tarot, da Joanna Powell Coubert: lá seu arcano se chama “The Tree” – A Árvore, em português. Trata-se de uma mulher, em uma posição yoga de mesmo nome. Joanna descreve que “Sua graça, serenidade e equilíbrio são um espelho de seu ser interior. Ela é capaz de permanecer centrada mesmo quando seu mundo está em convulsão, quando o horizonte é fajuto e todas as coisas estão às avessas[2]. A ideia não é ignorar o mundo exterior enquanto se tem um foco no mundo interior (piscis!), isso seria trabalhar um lado negativo do arcano... A ideia é manter a cabeça em ordem, mesmo que a situação seja contrária.

The Hanged Man
Housewives Tarot

Então, até agora falamos de quando nos penduramos. Então agora vamos falar de quando somos pendurados! Ideia que pode ser muito bem observada no The Housewives Tarot – O Tarô das Donas de Casa. Neste baralho, o arcano é retratado como o marido pendurado de cabeça para baixo no varal, pela própria esposa!  A ideia é bem de sacrifícios... De quando alguém te pendura e você tem que resolver, “colocando os problemas para secar”. Pode ser conversando, pode ser terminando mas você tem que deixar essa situação terminar. Quando alguém te coloca em maus lençóis, o que você faz? O caminho é por aí.

Enforcado
Tarô Mitológico

De estar pendurado por merecer, penso muito no Tarô Mitológico, baralho de Sharman-Burke e da Liz Greene. Ali se trata de Prometeu, que roubou o fogo dos deuses, levou para os homens e agora é punido. Sacrifício voluntário, focando em um bem maior (no nosso caso, esperamos que seja!), mas que tem suas consequências. Me atrevo ainda a fazer a “piadinha”: Prometeu? Cumpre e agüenta. Mas um dia Prometeu se liberta. E é isso.
Agora falando um pouco mais de vivência, uma das coisas importantes para se prestar atenção quando estamos com O Pendurado, é saúde. Digo isso porque já entrei bem. Johann Heyss coloca em seu livro O Tarô de Thoth que “Pode haver disfunções com os líquidos do corpo, bem como a tendência a contrair resfriados. As articulações também podem estar frágeis durante a ação deste arcano”. E afirmo todas como verdadeiras. Aliás, a parte das articulações já me é um grande problema, pois tenho dores frequentes, imagine pois: como fico com este arcano? Tive infecções urinárias quando estava com O Pendurado e posso ainda falar do mais óbvio e que parecerá brincadeira: Torci o pé! Afinal, como já me disse a Pietra Di Chiaro Luna certa vez: Se você se mexe muito na corda, tentando sair, acaba machucando o pé. O Pendurado é um arcano para você ficar de molho, cuidar da saúde. Não saia correndo, preste atenção no caminho e nas coisas a sua volta, mas lá do seu cantinho.
Mas o aprendizado mais importante que tive até o momento é parar de encarar este arcano como algo negativo, estagnado, parado e como martírio. Como o Johann Heyss coloca: “A evolução neste arcano depende da capacidade do Andarilho de aceitar sem se conformar”. Eu fico abismada com como ficam as pessoas quando O Pendurado vem. Se conformar é a primeira coisa que elas fazem!
Eu não me conformo, dizer que torci o pé já é uma forma de demonstrar isso. Sou ansiosa sim, mas meu problema não é parar, longe disso... Como todo mundo sabe, é difícil voltar quando se para. Mas não sei bem se esse parar do Pendurado seja exatamente um parar... Mas com certeza, martírio não é. Ele é um arcano generoso, que te ensina muitas coisas. Que faz você ver diferente sim, mas que se você permitir, mostra como agir diferente, como respirar diferente. Mostra que você deve ser diferente! Aí vem A Morte, concretizando toda essa transformação. Talvez o dito Enforcado devesse perceber o próprio Enforcado diferente!
Digo em pleno gozo de minha loucura (mesmo porque, ele ainda é O Louco!) que O Pendurado é dos arcanos mais divertidos. Não entende? Tente ver como eu vejo! [risos]


Por que não ver o Enforcado como a mesma coisa que plantar bananeira? Ou como os trapezistas do circo, aqueles com fitas coloridas? Pode machucar um pouco as mãos, dar dor depois de um tempo plantando a bananeira, mas quem planta bananeira para sempre? O trapezista sim faz isso boa parte do dia, como treino, e cada vez arranja um jeito diferente de se pendurar. Um jeito que doi menos. Mas como é um prazer pendurar-se no trapézio! E plantar bananeira? Gostinho de infância!


Quer mais? Pendure-se na árvore! Você gostava tanto de se pendurar quando criança, porque quando adulto deixou de gostar?
Interessante como encaramos o arcano da mesma forma, mesmo ele nos implorando para encarar diferente. E então vamos e voltamos de Enforcado, várias e várias vezes e achamos totalmente natural, e ficamos paradinhos. Sem se mexer... Talvez tudo que você precise fazer, quando tira o Enforcado é plantar bananeira ou se pendurar numa árvore.
Eu já tirei muitos Enforcados, muitos! Vejo-me então como eterna trapezista, descobrindo um jeito mais cômodo e divertido de se pendurar a cada mês.
Tudo isso é o que aprendi com O Pendurado, é o que sou com O Pendurado. É o que enxergo junto a ele.  Como você vê O Pendurado?



[1] Lunação: é o período entre uma lua e outra. Firmou-se a prática de tirar entre um e três arcanos, todo mês, na entrada da Lua Nova ou Cheia. Este ou estes arcanos são como uma regência para o mês que virá. A ideia partiu da Pietra Di Chiaro Luna, e foi se alastrando por aí.
[2] Tradução livre minha, o texto original pode ser encontrado no site do Gaian Tarot.

Fonte das imagens: Taroteca, blog Pensar,  Deviant Art.

3 comentários:

  1. Muito bom, Sofia! Gostei muito! beijos

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  2. Solitude e uma palavra bonita, embora um pouco triste... Ninguem deveria ser so, mas as vezes e necessario para que possamos crescer.
    Adorei o conceito de colocar as ideias para secar.
    Tenho muito para refletir!
    Um fim de semana iluminado!!

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  3. Amei o texto. Já me disseram que essa é minha carta (ao lado da Imperatriz)... Desde então sempre me interesso em ler sobre o Enforcado apesar de não saber Tarô. Gostei muito da sua visão diferente (isso é uma dádiva do Enforcado então!)

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Quando um monólogo se torna diálogo...