terça-feira, 20 de outubro de 2015

Visitar um museu com olhar de Cartomante: uma experiência no MASP.

Olá, pessoal. Quem acompanha o blog há um tempo, e a página do Facebook, em especial, sabe que eu sou ligado no poder das obras de arte para a análise da cartomancia - e vice versa. 
Mas fazia muito tempo que minha experiência se limitava a galerias online e compartilhamentos. Isso me incomodava um pouco; nenhum Pinterest da vida será mais intenso que a experiência in loco de um espaço museal.
Aproveitando minha estadia em São Paulo, resolvi ir ao MASP - uma dos maiores acervos da América do Sul - para reeducar meu olhar e meus sentidos.

ARTE DA FRANÇA: DE DELACROIX A CÉZANNE
Esta exposição atravessa quase duzentos anos de produção artística na França, dos séculos 18 ao 20, exibindo retratos, paisagens, naturezas-mortas e cenas históricas e do cotidiano, do mais importante acervo do período no Hemisfério Sul. Estão representados artistas de herança neoclássica, como Ingres, e romântica, como Delacroix; além de nomes ligados aos movimentos precursores do modernismo, como o realismo, de Courbet; o impressionismo, de Monet e Degas; o pós-impressionismo, de Cézanne, Van Gogh e Gauguin; o grupo dos Nabis, de Vuillard; e o cubismo, de Picasso e Léger.
Grande parte dessas obras é testemunha das rupturas de natureza política, social e cultural que marcaram a Europa do século 19 e início do 20, quando a arte ganhou outros circuitos de produção e veiculação para além dos salões e encomendas oficiais, como a imprensa e a crítica especializada; os bares onde fervilhava a vida da nova burguesia e intelectualidade; os ateliês e a importância de sua dimensão expandida, especialmente no caso de Picasso; as academias alternativas, como Julian e Suisse, que ofereceram opções à formação mais tradicional da École de Beaux-Arts.
A exposição privilegiou reunir conjuntos completos do acervo, com destaque para Renoir, Toulouse-Lautrec, Modigliani e Manet. Delacroix e Cézanne, juntos no mesmo espaço, na entrada, funcionam como vetores para todo o percurso, uma vez que apontaram, cada um em seu tempo, tanto para o passado quanto para o futuro da história da arte, pontuando transições entre a tradição e o moderno; o antigo e o novo; entre, por exemplo, Ingres e Léger.
Cézanne, que via em Delacroix um mestre e estudava pintura fazendo cópias de suas telas, soube perceber nele qualidades modernistas. Cézanne não só retomou algumas dessas qualidades como emprestou a elas novo significado, caso do encontro entre figura e fundo; do maior protagonismo dado aos elementos do quadro e da pintura, como a pincelada, em detrimento dos temas; e, sobretudo, da maneira como se valeu de um caráter supostamente inacabado de suas pinturas.
Também são exibidos itens do arquivo histórico e fotográfico do MASP, como correspondências sobre doações, aquisições, convites, folhetos de exposições, recortes de jornais, revistas e fotografias que recuperam parte da história das obras e do próprio museu. Apresentados no mesmo plano que as pinturas, apontam para uma redefinição de lugares e hierarquias entre os trabalhos de arte e sua história dentro da instituição, oferecendo um novo estatuto para materiais comumente distantes dos olhos do público.
A disposição dos painéis, dos cabos de aço e das obras, bem como a relação deles entre si e com o espaço, retoma projeto de Lina Bo Bardi, arquiteta do MASP. Em 1950, na antiga sede da rua 7 de Abril, sua expografia já antecipava noções de transparência, leveza e suspensão, sem divisões em salas nem cronologias rígidas. Essas escolhas foram fundamentais e prepararam o terreno para a radical solução das telas dispostas sobre cavaletes de vidro que, ausentes desde 1996, retornarão ao segundo andar do MASP no final deste ano.

Curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico; Eugênia Gorini Esmeraldo, coordenadora de intercâmbio; e Fernando Oliva, curador assistente. [Fonte]
A exposição foi muito bem organizada e aproveitou o espaço adequadamente, dispondo peças de nomes importantes para a História da Arte a partir de seus temas e diálogos com fontes secundárias e outras obras. Mas eu não estava lá, essencialmente, para perceber isso.
Eu estava querendo reaprender cartomancia. 
Nesse momento em especial, Sibilla.
A exposição estará acessível até sete de novembro de 2015. 
Exercite seu olhar como cartomante... Enxergue naqueles retratos suas cartas, e naqueles olhos seus clientes.

Como eu fiz.

Abraços a todos.




terça-feira, 13 de outubro de 2015

Futuros possíveis: Sibilla Della Zingara e cartões postais franceses.

Não há nada mais comum - bem, já não tenho certeza se na contemporaneidade posso afirmar isso categoricamente - que a previsão do futuro através da arte. Desde Blade Runner, passando por De Volta para o Futuro, o Exterminador do Futuro, Mad Max... culminando em Matrix e outras distopias, temos olhares curiosos sobre o que nos tornaremos, ou no que o planeta se tornará e como nos adaptaremos a isso. Não é diferente nas outras seis artes, antes mesmo que a sétima fosse nomeada e as outras cinco, catalogadas.
Nesse sentido, achei curioso os cartões postais de 1900 que propunham como o mundo seria no ano 2000. Tendo vivido o pavor do bug do milênio, pavor já superado há quinze anos (idades, apenas números), é divertido irmos um pouco mais além nas décadas e ver como aqueles homens e mulheres da virada do século supunham ser a virada do milênio. Mais curioso se mostra perceber que, em muito, suas preocupações estão ligadas ao cotidiano, cotidiano este muito bem ilustrados nos baralhos Sibilinos.
Recentemente, ministrei um curso sobre o Sibilla Della Zingara, com foco nas imagens, correlacionando-as com conceitos chave da história da arte. Foi um curso muito divertido (não perca as próximas edições presenciais e, caso queira, adquira o curso gravado). Foram dois anos estudando pormenorizadamente as imagens e encontrando conceitos aplicáveis à vida de um indivíduo do século XXI. Algo com o que me divirto, particularmente. 
Entretanto, nesse processo eu me vi face à diversas imagens chave, conceitos específicos e perspectivas de análise singulares. Cada baralho é um baralho e eu tento entender os seus ditames para usar suas características com o máximo efeito divinatório. Nesse caso, foi bem mais que isso. Encontrei aspectos cotidianos diretos, voltados a um público específico e com foco em um padrão de vida emergente. A arte serve a quem a paga, pelo menos até o começo do século XX. Ter isso em mente facilita - e muito - a interpretação dos conceitos contemporâneos à elaboração da obra. Sobretudo, se essa obra for designada para entender padrões vigentes de vida, morte e o intervalo entre ambas.
Conforme o site Defender

Diversos cartões desenhados no início do século passado mostram como as pessoas daquele tempo imaginavam os anos 2000. Compilado pelo jornal on-line sem fins lucrativos The Public Domain Review, as imagens de Jean-Marc Côte e outros artistas da França eram usadas em pacotes de cigarros e, depois, utilizadas em cartões-postais.Há pelo menos 87 desenhos diferentes de 1899, 1900, 1901 e 1910. A série, intitulada “França no ano 2000 (XXI century)”, mostra a percepção dos artistas sobre a vida das pessoas e o uso da tecnologia no dia a dia.
A criada.

O serviçal.

O literato.

A desgraça.

O mensageiro.

Belvedere.

O soldado.

A casa.

A amada.

Surpresa.

Muito podemos apreender com a história da arte. Sobretudo sobre usos e costumes, contextualizados devidamente para não incorrermos em anacronismos.
Mas... por um momento... imagine se fosse assim?

Abraços a todos.