Olá pessoal. Hoje contamos com a colaboração de Denise D, responsável pelo blog Luna Speculum. Explorando aspectos históricos e vivenciais da lâmina, acompanhemos sua visão sobre a Roda da Fortuna. Questionada sobre sua biografia, Denise foi sucinta, definindo-se como "peregrina de caminhos ocultos e feiticeiros".
A ela, então, a palavra.
Muitos conhecem o que hoje denominamos Tarô como uma ferramenta para fins divinatórios, terapêuticos e ocultistas. Inclusive existem baralhos feitos especialmente para cada uma das funções citadas. Este breve ensaio tem como objetivo descrever uma das compreensões do que é o entendimento da unidade básica que faz do discernimento que é trazido aos baralhos divinatórios simultaneamente óbvio e misterioso: a humanidade. Todas as lâminas em seu conjunto refletem essa questão. Neste artigo a lâmina em destaque será a Roda da Fortuna.
O desenvolvimento do significado das lâminas é efetuado de várias formas. Aconselho que o primeiro passo a ser dado na compreensão da expressão Roda da Fortuna seja dado nos estudos da filosofia. Essa expressão é um tópico de validade geral utilizado como ponto de partida em argumentações. Foi através da obra De Consolatione Philosophiae de Boécio que o termo ganhou popularidade na Europa Medieval. Antes disso, a associação mais próxima pode ser feita a Tácito em Dialogus de oratoribus, onde a roda na verdade é uma esfera.
Em seguida, no auxílio do desenvolvimento de estudos da lâmina, podem ser feitas análises iconográficas e interpretações iconológicas através dos baralhos clássicos. Como o significado filosófico desse trunfo permanece o mesmo do conceito medieval os baralhos clássicos exibem uma perspectiva visual mais fiel. Considero que já existem excelentes materiais acadêmicos relativos a análise histórica e social do assunto tratado aqui, o que será oferecido nada mais é do que uma análise pessoal.
Toda ação retorna em qualidade e quantidade sua respectiva reação e essa é somente uma das várias conduções iniciais que podem ser realizadas para apresentar os significados internos inerentes a lâmina. Quando estamos em determinadas situações todos os eventos referentes a essas são possíveis; são o que alguns definem como fatos encadeados. A metáfora do rei é uma das mais utilizadas: vou governar, estou governando, governei. A Roda da Fortuna trata desses eventos, sendo eles conscientes ou não. Ela vem nos dizer sobre o Destino das coisas. E como o próprio Destino, seu significado está relacionado a posição que a lâmina ocupa no jogo e as lâminas que a rodeia.
Basicamente trata-se de um evento manifestado e a vivência de uma etapa conectada torna-se um fato. E é nesse ponto que começam os equívocos. Como o significado dessa lâmina está intimamente relacionada ao conceito de Destino temos que nos atentar as armadilhas de interpretação. Ela não fala se alguém é senhor/senhora do próprio destino, ou se deixa a vida nas mãos do acaso, só fala de algo que irá ocorrer que foi provocado pelo próprio sujeito. O sol nasce e se põe todos os dias mas como serão os eventos ocorridos durante esse período dependerá da vontade pessoal, o fato é visualizado mas não como ele será experimentado.
Vendo através da perspectiva de vivências disparadas torna-se fácil compreender que a Roda da Fortuna trata, nada mais nada menos, dos ciclos naturais e sua manutenção. O acaso torna-se a indiferença quanto a esses ciclos e consequentemente a fatalidade é um evento dirigido pelo acaso. O que está na Roda é o que governa o Destino do sujeito e algumas destas interpretações no jogo podem variar desde o que uma pessoa permite que interfira em seus ciclos até em quais pontos isso governa suas vontades.
A Fortuna por si só não diz muito a respeito, mas sua Roda, em seus ciclos, permite a observação dos fatos e a reintegração da ordem natural das coisas, para que assim o Destino faça sua função através do desejo sincero. O foco da realização do Destino através dessa verdade está no que é trazido à luz da consciência. Então, quanto mais os valores que impedem sua realização são realinhados, maior é a identificação de sua essência. A interação da lâmina então, em um sentido geral, nos indica a capacidade do sujeito de transmutar-se em agente na realização de seu destino.
Aqui estão algumas imagens da lâmina em baralhos clássicos:
Da esquerda para a direita: Visconti Sforza. Grogonneur. Jean Noblet. Marselha Grimauld.
Mas escolho essa imagem, e esse filme, para representar a intenção:
Desejo a todos os peregrinos uma ótima caminhada em busca da realização de seus Destinos.
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