sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Por que jogar para si mesmo? Um pequeno tutorial.

Olá pessoal. Uma das maiores dificuldades que tenho ouvido de alunos e amigos é a capacidade de jogar para si mesmo com o necessário distanciamento. Enquanto para os outros as palavras fluem velozes, quando jogam para si as cartas parecem expandir, de forma tal que não é possível saber se os Enamorados estão falando dos dilemas ou do processo de envolvimento. Aparentemente, os dois significados se aplicariam. A carta deixa de ser um conselho, uma direção, e volta a ser um conjunto de bibliografias previamente lidas. 



Se com uma carta o problema tá instaurado, com mais cartas então... Aquela Cruz Celta que não fecha, aquela Mandala Astrológica que parece estar toda errada, a Mesa Real que pede uma segunda opinião. Mas a mão do cartomante é sempre soberana; se se mostra necessária uma segunda opinião, e a proposta inicial não foi o estudo, mas sim a previsão, é mais decente buscar um profissional competente do que postar seu jogo em busca do maior número de comentários possíveis que, juntos, talvez deem uma luz sobre seu jogo. 
Eu passei, portanto, a questionar o motivo pelo qual jogar para mim mesmo seja tão confortável. Não entenda com isso que eu deixe de me consultar com outros profissionais, muito pelo contrário; além de ter uma visão distanciada do meu momento por olhos que pouco sabem sobre mim, é muito importante conhecer linguagens, métodos, estruturas de jogo. Um jogo, para mim, é previsão e é aula. Eu aprendo ali com quem está me atendendo.
Acredito ser esse o primeiro motivo. Eu não me importo de onde venha a informação, desde que ela se mostre confiável. Seja eu ou outro cartomante, é o baralho que vai ser interpretado. Eu preciso prestar atenção ao que está sendo mostrado ou lido. Só isso. E por isso, eu me consulto com poucas pessoas, e me mantenho em contato com elas há anos. E lhes dou feedbacks dos jogos que fazem para mim. 
O segundo motivo é: abro meu baralho para mim em clima de amistosa indiferença. Não importa se a questão é importante ou fútil (aos olhos dos outros; para mim, toda pergunta tem o seu valor, e o baralho responde de acordo com o acuro que ela for feita). Quando eu abro meu baralho, eu tenho uma pergunta e ela merece uma resposta. Se eu não for capaz de dar, vou procurar alguém que dê a resposta que preciso.
E por fim, abro meu baralho sempre. A linguagem do baralho é algo a ser aprendida. Dessa forma, quanto mais eu o uso, mais a aprendo. E mais fácil fica para mim aplicá-la tanto para mim quanto para os outros. Houve períodos em que abri meu baralho diariamente, em busca não de respostas, mas de encaminhamentos. Do entendimento da interface das cartas. E eu faço isso com cada baralho diferenciado que adquiro: pratico. Bastante. Com amistosa indiferença. Sem preocupação como a informação virá, desde que venha.
Ontem, eu estava sem vontade de sair de casa. Desanimado, mesmo. Mas eu tinha planejado ir ao treino. Como treinar com desânimo? Para resolver esse dilema, peguei meu Tarô dos Boêmios, de Papus (Ed Thot) e tirei três cartas.

Imperador. Tarô dos Boêmios (Editora Thot)


Dois de Espadas. Imperador. Mundo.

Dois de Espadas no livreto do baralho: oposição. A inimizade não dura. Ou seja, o motivo pelo qual eu estava desanimado não duraria tempo suficiente depois que eu saísse de casa. Eu estava inerte, Os dois Arcanos Maiores seguintes mostravam que eu teria experiências interessantes. Primeiro, porque de uma carta numerada eu ia em direção a um Arcano Maior, ou seja, eu não tinha como, em casa, ter noção de como o treino seria. Esse Arcano Maior dava lugar a outro Maior, o que garantiria uma experiência maior que a possível de ser lida. 
Eu poderia ficar tentando interpretar por mais tempo, mas a resposta fora suficiente: saia de casa. Será melhor.
Evidentemente, o treino foi maravilhoso. Para além do esperado.

Não deixe de jogar para você, mantendo o clima de amistosa indiferença. Não se preocupe em esgotar as informações das cartas - forme uma frase coesa, é o suficiente. E, no caso de questões mais sérias, procure um profissional de confiança.
Particularmente, eu não confio em grupos de estudo em redes sociais. É uma opção, mas não para mim.

Abraços a todos. 

6 comentários:

  1. Achei muito válido seu poste. De fato aprendi a jogar pra mim depois de algum tempo de resistência e até mesmo por ouvir que não se poderia. Hoje sou grato por ter conseguido fazer isso, porque realmente o oráculo se tornou o meu amigo de todos os momentos, que aconselha , que mostra expectativas, com um porém: sem julgamentos. É aquilo e ponto. sigo se quero e quando não sigo pago por isso, consciente. Quanto aos grupos já foram mais produtivos no inicio, mas ainda existem boas trocas. Grande dia a você!

    ResponderExcluir
  2. Sim, existe farta literatura dizendo que não podemos jogar para nós mesmos. O que é uma bobagem, na verdade - somos nossos melhores consulentes. É exatamente o que você disse: ele passa a ser um conselheiro acurado, uma ferramenta poderosa. Bem, eu não vejo os grupos com bons olhos atualmente. Acompanho alguma coisa, mas essas "trocas" de leituras? Não, não participo.

    ResponderExcluir
  3. O texto é mais do que válido as paixões pelo oráculo fomentadas e o aprendizado estimulado; cada vez mais fascinado, mas sempre , ou na maior parte das vezes, 5 cm por segundo. ^^

    ResponderExcluir
  4. Muito bom! Jogar para mim mesmo sempre foi um dilema, é como você disse, sem tirar nem pôr nada. Mas tento, jogo, crio frases, fotografo, analiso em outros momentos, e já construí muito conhecimento dessa forma. Sobre as trocas em grupos, realmente, já não dá mais. Ainda bem que existem os best friends, que sempre estão dispostos a dar sua opinião, quando o intuito é o estudo, ou ainda, auxílio na tiragem mesmo.

    Abraço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Exatamente, Kêu! Eu prefiro o esforço sincero, pessoal, individual e intransferível. Abraços!

      Excluir

Quando um monólogo se torna diálogo...