quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Sobre a leitura. Ou: sobre como a leitura influencia todas as outras leituras.


Olá pessoal. Esses tempos, um respeitado estudioso de Xamanismo disse, em sua página no Facebook, que Coraline não era um livro para crianças. Ponto. (sim, ele escreveu "ponto".) Como a netiqueta - uma série de valores que vejo se perderem dia a dia nas redes sociais - me impede de discutir além do necessário na página dos outros, eu me calei (e meu silêncio nunca é consentimento) mas fiquei com aquilo na cabeça. Existem livros que não devem ser lidos? Quem pode me dizer o que eu posso, ou não ler? Quem pode impedir alguém de ler algo?
Bem, eu trabalho com imagens como textos. O tempo todo. Isso faz com que eu queira traduzir o mundo em palavras, ou o inverso: que eu tente traduzir palavras para imagens. Na verdade, se você lê algum oráculo, você também faz isso, e espero que, como eu, faça o tempo todo. 
É no cotidiano que aprendemos a interpretar o que lemos. Seja em livros, ou em cartas de baralho.
E então, tive a oportunidade de ler no ConversaCult um texto de um dos meus autores favoritos: Neil Gaiman. Que, inclusive, desde Coisas Frágeis, me deixou com vontade de ler o Tarô que ele prometeu (mas promessas de Neil Gaiman são como borboletas; você sabe que elas aparecerão em algum momento, mas até lá, é melhor cultivar mais flores). E Neil Gaiman defende a leitura. De qualquer coisa. A qualquer tempo.
Até leituras ruins nos levam a um bom lugar - o lugar do que gostamos tem por calçada tudo aquilo que deixamos para lá.
Então, como cartomante que sou, sou obrigado a concordar com Gaiman. Tudo o que eu li me preparou para ser o cartomante que sou hoje. Porque nos livros encontrei palavras que traduziam as imagens que eu captava ao meu redor, e ressignificando essas palavras e imagens, meu baralho se tornou mais preciso e próximo daquilo que é ideal: a capacidade de, com empatia e comedimento, tocar as dores e feridas do outro para, se não curá-las, ao menos dizer que elas estão lá.
Tem muita gente que passa pela vida sem perceber o quanto dói carregar escaras que ninguém mais vê.
Dá uma passada no ConversaCult (o texto a que me refiro está nesse link aqui). Leia e me diga se concorda com Gaiman como eu. Depois me conte.
Abraços a todos. 
Sobretudo, aqueles sem preconceitos literários.

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