Olá pessoal. Esses tempos, um respeitado estudioso de Xamanismo disse, em sua página no Facebook, que Coraline não era um livro para crianças. Ponto. (sim, ele escreveu "ponto".) Como a netiqueta - uma série de valores que vejo se perderem dia a dia nas redes sociais - me impede de discutir além do necessário na página dos outros, eu me calei (e meu silêncio nunca é consentimento) mas fiquei com aquilo na cabeça. Existem livros que não devem ser lidos? Quem pode me dizer o que eu posso, ou não ler? Quem pode impedir alguém de ler algo?
Bem, eu trabalho com imagens como textos. O tempo todo. Isso faz com que eu queira traduzir o mundo em palavras, ou o inverso: que eu tente traduzir palavras para imagens. Na verdade, se você lê algum oráculo, você também faz isso, e espero que, como eu, faça o tempo todo.
É no cotidiano que aprendemos a interpretar o que lemos. Seja em livros, ou em cartas de baralho.
E então, tive a oportunidade de ler no ConversaCult um texto de um dos meus autores favoritos: Neil Gaiman. Que, inclusive, desde Coisas Frágeis, me deixou com vontade de ler o Tarô que ele prometeu (mas promessas de Neil Gaiman são como borboletas; você sabe que elas aparecerão em algum momento, mas até lá, é melhor cultivar mais flores). E Neil Gaiman defende a leitura. De qualquer coisa. A qualquer tempo.
Até leituras ruins nos levam a um bom lugar - o lugar do que gostamos tem por calçada tudo aquilo que deixamos para lá.
Então, como cartomante que sou, sou obrigado a concordar com Gaiman. Tudo o que eu li me preparou para ser o cartomante que sou hoje. Porque nos livros encontrei palavras que traduziam as imagens que eu captava ao meu redor, e ressignificando essas palavras e imagens, meu baralho se tornou mais preciso e próximo daquilo que é ideal: a capacidade de, com empatia e comedimento, tocar as dores e feridas do outro para, se não curá-las, ao menos dizer que elas estão lá.
Tem muita gente que passa pela vida sem perceber o quanto dói carregar escaras que ninguém mais vê.
Dá uma passada no ConversaCult (o texto a que me refiro está nesse link aqui). Leia e me diga se concorda com Gaiman como eu. Depois me conte.
Abraços a todos.
Sobretudo, aqueles sem preconceitos literários.
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