Dizer que algo não é possível com o Tarô – ou com qualquer outro instrumento psíquico – é uma falácia usual. Circunscrita [com ressalvas] sua área de atuação em divinações e perspectivas terapêuticas, vejo soar improvável a perspectiva de utilização da ferramenta na magia ritual ou mesmo em práticas não usuais, como contato com outros planos. Não é porque algo não funciona para você que esse algo não funcione, oras. É como afirmar que lentes de contato não funcionam só porque você não tem um problema de vista que se corrija com lentes.
O problema não está nas lentes. O problema não está nos seus olhos. A relação entre um e outro é que é problemática.
Em termos de magia – que nada mais é que uma grande metáfora da criação aplicada num plano menor – o Tarô é um instrumento como outro qualquer. Vai funcionar para uns, não irá para os demais passar de um instrumento de adivinhação, e ainda terão aqueles que verão ali só um baralho diferente. Todos estão certos, nem todos experimentarão a melhor parte da brincadeira, mas... quem disse que tem que ter a melhor parte para ficar satisfeito?
Uma dos programas mais bacanas da minha infância era o Mundo de Beakman. Nesse programa, eram feitas, entre outras coisas, uma série de experiências passíveis de serem reproduzidas em casa. Um desses episódios falou sobre o método científico, tendo por referência a eletricidade.
sdds, Mundo de Beakman.
Resumindo, o acender da lâmpada, a corrente que segue, não é devido à água. Não é o sal. Não é a bateria. Não é a lâmpada. Nem os fios.
O efeito é resultado da combinação de todas essas causas. Bingo. E a água salgada, em especial, é a condutora pela combinação de seus elementos. Bingo, de novo.
Embora o fenômeno elétrico possa ser compreendido à luz das explicações que temos hoje, ela não passou a funcionar porque teve uma explicação, e nem passou a ser interessante por ter uma explicação. Ela foi testada sem entendimento, utilizada e nos testes a explicação se mostrou. Consequência, não causa.
É assim também com a magia. Não faço ideia dos motivos pelos quais a magia funciona. Sei que funciona. Utilizo porque funciona. E testo meus padrões de análise dos efeitos, mensurando os resultados obtidos, mantendo registro do que me foi útil, retificando o restante.
Mas... E quando ela não funciona?
E para quem ela não funciona?
Significa que ela não existe?
Revejamos nossos conceitos sobre a prática, sobretudo sobre a prática dos outros. Não é porque algo é teu limite que será limite do outro. Mas você só saberá quais são os seus limites... Se você for até o limite.
Como eu não acredito em coincidências, enquanto buscava a referência para esse texto encontrei essa imagem. Ela resume tudo.
Abraços a todos. E testem seus limites. E atenham-se unicamente a eles.
São seus limites que dizem quem vocês são.
P.S.: Relendo o texto, percebo que ficou faltando uma ressalva. Eu digo para você testar, você praticar, você ir ao seu limite. Você.
Procurar uma pessoa para efetuar tais viagens em seu nome é outra história.
Na magia, é sempre melhor seguir os próprios conselhos.
E também não estou dizendo que só porque não posso fazer algo, que esse algo será possível de ser feito. Em magia, quanto mais andamos, mais próximos dos nossos limites estamos. Isso inclui o limite do provável. Na dúvida, aceito o desafio de estar errado - se é provado que estava errado, meus limites se ampliam.
Ninguém perde por ter limites flexíveis. A perda está em cravar dogmas na pedra.