quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Notas sobre a ambição, por Gerson H. Fachiano


Olá pessoal. Essa semana está mesmo para um reflexão conceitual. Pouco tempo depois de terminar nosso texto sobre Vanitas, o Gerson me apresentou esse artigo que vem muito a calhar. Sabendo-nos mortais, perecíveis, limitados, o que faremos com nossas possibilidades?
Com a palavra, o autor: um geminiano com ascendente em Áries, Lua em Leão. Poeta. Leitor voraz. Professor de Língua Inglesa na Fundação Nelito Câmara, estudante e praticante de Petit Lenormand Tradicional. Reside atualmente no Estado de Mato Grosso do Sul.

A AMBIÇÃO DA LUA, TORRE E SERPENTE, QUAL É MESMO A DIFERENÇA?


Em um ambiente empresarial e corporativo é comum ouvir alguns adjetivos que caracterizam e justificam o sucesso, e certamente ambição nunca faltará, assim como inteligência, criatividade, ética entre outros, não é mesmo? É sabido também que este tema é profundamente debatido desde os tempos remotos, temos desde passagens bíblicas até textos shakespearianos. Ambição tem a mesma raiz da palavra ambiente não por acaso. As duas vem de ‘ambire’, que significa ‘mover-se livremente’. Logo, podemos crer que ser ambicioso é ter nas mãos o próprio caminho na vida, sabendo exatamente o que quer, e tentar chegar lá de alguma forma e é neste ponto de ebulição que encontramos problemas perante o caminho.
Dentro do sistema Petit Lenormand há três cartas que falam deste tema, são elas: LUA, TORRE e SERPENTE. Mas qual é a diferença?


É simples, perceba. A ambição que a carta da Lua nos aponta é uma ambição no bom sentido, pois este sentimento está ligado ao ascencionato do indivíduo. 


Já a Torre possui uma ambição totalmente correlacionada ao universo social e totalmente ligado a mudança de status, mas por meio da arrogância e da frieza de como encara aquilo que almeja. 


Por fim, a Serpente possui a pior face da ambição, uma vez que a sua ambição é totalmente desmedida. Para conseguir aquilo que anseia ela passará por cima de tudo e de todos. Outro detalhe a ser percebido/discutido, quando é que essas cartas falam de ambição? Quando a mesma vem descrevendo as cartas significadoras (Homem/Mulher) ou quando descrevem alguma outra carta que possa representar dentro de uma Mesa Real ou fora dela, uma pessoa. 
A carta que estiver à direita de minha carta significadora será a carta que a descreverá. Por exemplo, você percebeu que em sua Mesa Real você encontrou a seguinte dupla: Mulher+Torre, logo, a Torre vem rotulando a carta 29, percebemos que esta consulente está sozinha e solitária no momento. Agora, se a posição estiver invertida, Torre+Mulher, temos a Mulher qualificando esta Torre, logo, a ambição dela é uma ambição Torre.
 Há quem as perceba de forma contrária, ou seja, a carta que descreve a significadora (ou qualquer outra carta dentro do jogo) será a carta que estiver à sua esquerda. Logo, as posições serão invertidas e contrárias ao que mostrei acima. É importante ressaltar que você deve ser consistente naquilo que faz e perceber essas nuances e inversões, pois faz toda a diferença.

Outro ponto a esclarecer são as cartas que podem representar pessoas num jogo. Como citei dois parágrafos antes, as cartas que estamos discutindo precisam adjetivar as cartas significadoras ou as cartas que representam pessoas dentro da leitura para se fazer valer do significado de ambição, assunto deste texto. Logo, podemos exemplificar com a carta do Cavaleiro, que pode vir representar alguém jovem ou parceiro afetivo de um homem; os Pássaros como um casal; a carta da Criança como um pré-adolescente ou filho do consulente (ainda menor de idade); a carta do Cachorro que pode vir a ser um amigo(a) próximo a ti; a carta do Urso, a tua mãe e a Torre ou a Casa representando o teu pai ou alguém mais velho, dentre outras possibilidades, pois tudo dependerá, claro, do CONTEXTO na qual essas possibilidades estarão efetivas dentro de uma leitura.
Portanto, dizer que o seu consulente é ambicioso será um insulto ou um elogio? Depende de qual carta acompanha o nosso consulente. O fato é que ter ambição é essencial em nossa vida. Caso você não possua alguma, certamente isso te faz ser um indivíduo acomodado e fadado ao fracasso, pois não sai da zona de conforto, não arrisca, não testa teus limites e por fim reclama dizendo que é infeliz. Já as pessoas ambiciosas serão as que fazem o mundo delas girar, pois, apresentam projetos, não ficam estagnadas, sonham e coloca tudo em ação assumindo riscos...

A pergunta é... Qual é o seu modo de ambição no momento presente? É uma ambição Lua, Torre ou é a ambição venenosa da Serpente? Façamos uma reflexão diante dos fatos.
Até a próxima!

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Vanitas Vanitatum.

Vaidade das vaidades, tudo é vaidade!


Com esse mote, retirado do Eclesiastes, toda uma categoria de obras de arte - as Vanitas - fizeram-se presentes, sobretudo no Barroco. E esse é um dos vícios capitais (nova nomenclatura para os antigos pecados capitais) mais curiosos de se estudar e mais recorrentes como chamados para a aventura, dentro da perspectiva do monomito, que estamos estudando na Jornada do Louco em sua Autodescoberta).
Estava eu procurando uma imagem para ilustrar a carta Soberba, dos Sibillas - como o  Sibilla Della Zingara - e acabei me dando conta que esse tema perpassa todos os oráculos cartomânticos sobre os quais já conversamos. Não estou, necessariamente, falando do conceito de soberba/orgulho/vaidade, mas sim da representatividade pictórica do mesmo. Acho que essa conversa dá pano para manga, para mais de um artigo; gostaria de falar hoje sobre um insight em especial, que fez toda a diferença. 
Reparem nas obras a seguir (que foram retiradas deste blog e reorganizadas para nossa argumentação). 

Abraham Mignon (1640-1679)-'a Natureza como um símbolo de Vanitas'- óleo sobre tela. (1665-1679)    Darmstadt-Hessisches Landesmuseum

A primeira obra que temos aqui diz muito pelo título, e é uma das mais curiosas. Assim como as naturezas mortas, aqui temos a evanescência da vida retratada em sua magnitude e aparente perenidade. Tudo é passageiro, tudo nos toca. O imutável é a mutação, e o mutável nos muda, nos revolve. Repare, portanto, na natureza como referência em sua vida e impermanência ao conceito de Vanitas
Cace no[s] seu[s] baralho[s] referências a essa frase. 

Pieter Claeszoon (1597-1660); anteriormente atribuído a Clara Peeters (fl 1607-1621)-'vanitas ainda vive'- óleo sobre painel -1630 The Hague-Maurithuis

Essa imagem é uma das mais icônicas da ideia de Vanitas. A caveira, símbolo da finitude humana e do nosso resto e pó diante da Eternidade. Da personalidade nada sobra; de lembrança, um osso. Apenas. Aparece em muitas imagens de santos, como sua disponibilidade em desapegar-se definitivamente de sua vida pregressa. Encontramos aqui novas referências. Cacemos em nossos baralhos. 

Adam Bernaert (trabalhou no período entre 1660-1669)-'vanitas'- oleo sobre painel- cerca de 1665. Mount Vernon-Walters Art Museum

Essa obra, por sua vez, já nos traz um cenário mais intimista, cuja natureza nos leva ao Vanitas mas suplanta o primeiro significado de efemeridade. Aqui temos as obras humanas que suplantam sua própria existência. Tudo muito belo, mas que só tem sentido e significado com o reconhecimento do indivíduo - e isso me lembra as lágrimas de Alexandre. Sim, cacemos nos nossos baralhos.

Antonio de Pereda (1611-1678)-'Alegoria da Vaidade'-(1632-1636). Wien-Kunsthistorisches Museum Gemäldegalerie

Essa imagem me atraiu muito - sobretudo pela presença de um baralho espanhol aqui no canto inferior direito. É divertido perceber o uso desse baralho que, a despeito de seu pouco conhecimento cá no Brasil, tem sua referência, representatividade e uso. Buscamos apresentar um pouco dele em um artigo para o Clube do Tarô, mas existe muito, mas muito mais, por fazer. Mas temos as cartas não em seu sentido adivinhatório, mas como alegoria do jogo - as moedas que lhe ladeiam atestam o fato. Já apontei algumas prerrogativas diretas, encontremos outras em nossos baralhos.

Pieter Boel (1622-1674)-'Vanitas- alegoria das vaidades do mundo'- óleo sobre tela -1663 Lille-Palais des Beaux-Arts

Por fim, a imagem que me incentivou a escrever esse artigo. Aqui, tudo é metáfora, compondo uma alegoria complexa e passível de diversos níveis. Tudo é deliberado, nada inocente, para uma leitura que demandasse horas de educação visual.  Mas aos meus olhos evidenciou-se a ideia de um arcano específico do Tarot.


Vanitas Vanitatum. Tudo é vaidade aos olhos de Il Tredici. Olhe o que ela ceifa. Não cabeças de um rei e de um plebeu. Ceifa metáforas. Ceifa qualquer um que vista a carapuça.

Conte para mim nos comentários quais mais referências ( e a quais baralhos) você encontrou. Acredito que temos muito mais a ver, ainda. 
Abraços a todos.