Rei de Copas
Waite Smith
Olá pessoal. Esse texto foi um daqueles que demandou muito estudo (mesmo!) e muita reflexão. E, absolutamente, nada garante que eu cheguei a algum lugar. Esse texto é um proveito de paisagem.
Uma das coisas mais intrigantes para mim no Rei de Copas do tarô Waite-Smith era a relação entre o navio e o peixe (?) em segundo plano.
Rei de Copas
Universal Waite
Ao contrário de outros elementos iconográficos, como o caracol do nove de Ouros, o "peixe" está ali, na quase totalidade dos baralhos inspirados diretamente em Waite.
Segundo o texto do The Pictorial Key:
Encontrei possíveis respostas na literatura. Herman Melville esclarecendo pontos do texto imagético de Waite. E aí não estamos falando mais de um peixe, mas de um cetáceo - ainda que no livro estejamos falando de um peixe. Todo livro é um relato de sua época, ainda que seja atemporal. Com os erros próprios da época, inclusive.
Segundo o texto do The Pictorial Key:
Ele segura um curto cetro na mão esquerda e uma crande taça na direita; seu trono fica sobre o mar; de um lado navega um navio, e do outro um golfinho está pulando. A dedução é que o Signo de Copas naturalmente se refere à água, que aparece em todas as outras cartas. (grifo meu)Certo, golfinho. Mas se tomarmos a proporção entre o "golfinho" e o navio, veremos que está muito desproporcional. Pensando melhor, está mais para baleia que para golfinho. Ainda cetáceo. Ainda possível um diálogo.
Encontrei possíveis respostas na literatura. Herman Melville esclarecendo pontos do texto imagético de Waite. E aí não estamos falando mais de um peixe, mas de um cetáceo - ainda que no livro estejamos falando de um peixe. Todo livro é um relato de sua época, ainda que seja atemporal. Com os erros próprios da época, inclusive.
Com a proposta de incentivar os jovens a relerem os clássicos lidos na infância – e fazer uma nova visita às obras de Franz Kafka, George Orwell, Herman Melville e tantos outros – a agência New!, da Lituânia, criou a campanha Books Change With You (“Livros mudam com você”, em tradução livre), para mostrar que há obras que ficam ainda melhores com o avançar da idade. Fonte: Para Ler.
Estar cravejada por arpões, nadar com corpos de pescadores mortos há dias, já deteriorados, presos sobre o seu dorso - nada disso lhe tem significado ou importância. Toda a sua simbologia parte do homem. Toda a sua fúria destrutiva parte do homem. Todo o seu significado, em tudo o que possui de atroz e belo e incontornável, parte do homem - é ele quem vive e morre para que Baleia Branca persista sendo mais do que um Leviatã que nada inutilmente para o seu próprio fim. (Fonte)
Moby Dick, DeviantArt; Jaws, divulgação.
O enfrentamento da Besta (em amplo sentido) é atemporal, é parte da jornada do Herói. Moby Dick, o Tubarão, seres do oceano do inconsciente que enfrentam o homem sem fé em si mesmo - e que, pelo enfrentamento, a recupera indelevelmente. Curioso é que ambos são... brancos. Além disso, diversos outros pontos vão de encontro a um simbolismo alegórico que permite camadas e camadas de interpretação, que nos encontram como ondas - quando as sentimos, já viramos a página e elas não estão mais lá. Ou estão, em estado de espera. Talvez as mesmas ondas que permearam a obra, em uma escala evidentemente menor. Ainda assim, Moby Dick foi inspirada em uma cachalote real, Mocha Dick:
(...) nome dado a um cachalote albino que viveu no início do século XIX, assim chamado porque ele tendia a frequentar as águas amenas perto da ilha de Mocha, ao sul do Chile. Dele, o explorador Jeremiah N. Reynolds escreveu: “Este monstro de renome, que tinha de sair vitoriosa em uma centena de brigas com seus perseguidores, foi uma baleia que lutava como um velho touro, em tamanho e força prodigiosa. Do efeito da idade, ou mais provavelmente de uma aberração da natureza ! – Ele era branco como a lã”. (Fonte)
O começo do livro é considerado um dos melhores já produzidos.
“Chamem-me simplesmente Ismael. Aqui há uns anos não me peçam para ser mais preciso —, tendo-me dado conta de que o meu porta-moedas estava quase vazio, decidi voltar a navegar, ou seja, aventurar-me de novo pelas vastas planícies líquidas do Mundo. Achei que nada haveria de melhor para desopilar, quer dizer, para vencer a tristeza e regularizar a circulação sanguínea. Algumas pessoas, quando atacadas de melancolia, suicidam-se de qualquer maneira. Catão, por exemplo, lançou-se sobre a própria espada. Eu instalo-me tranquilamente num barco.”
Quem é Ismael? "Me chame" soa como "não revelarei meu nome, contente-se com o que ofereço". Luis Fernando Veríssimo achou tão bacana que dialogou diretamente com este começo em particular e com a obra em geral, em O Jardim do Diabo:
Me chame de Ismael e eu não atenderei. Meu nome é Estevão, ou coisa parecida. Como todos os homens, sou oitenta por cento água salgada, mas já desisti de puxar destas profundezas qualquer grande besta simbólica. Como a própria baleia, vivo de pequenos peixes da superfície, que pouco significam mas alimentam. Você talvez tenha visto alguns dos meus livros nas bancas. Todo homem, depois dos quarenta, abdica das suas fomes, salvo a que o mantém vivo. São aqueles livros mal impressos em papel jornal, com capas coloridas em que uma mulher com grandes peitos de fora está sempre prestes a sofrer uma desgraça.
Ilustração de Odilon Moraes
A Cosac Naify produziu, em 2008 uma edição de Moby Dick cuja capa foi vencedora do prêmio Jabuti. Interessante perceber que não só o texto, como a apresentação, a editoração, são fundamentais para que sejamos impactados com a mensagem que está ali, de forma mais ou menos palatável de acordo com a intencionalidade do editor - intermediário quase sempre esquecido no processo autor - (editor) - leitor. Confira aqui a entrevista com a designer Luciana Facchini sobre o processo de criação.
Diversas adaptações foram produzidas a partir da obra. Inclusive pelo Pica Pau.
Pense :) .
Caso você seja fluente em inglês, existe uma novidade interessantíssima. Mesmo eu que não sou fluente, vou aproveitar. Conforme o blog Para Ler, baseado na matéria d'O Globo:
Abraços a todos.
Diversas adaptações foram produzidas a partir da obra. Inclusive pelo Pica Pau.
Pense :) .
Caso você seja fluente em inglês, existe uma novidade interessantíssima. Mesmo eu que não sou fluente, vou aproveitar. Conforme o blog Para Ler, baseado na matéria d'O Globo:
Um capítulo por dia, durante quatro meses. 135 narradores, para cada um dos 135 capítulos, que são ilustrados por 135 imagens, de 135 artistas diferentes. Tudo para “criar uma nova maneira de contar a história de Moby Dick para o público do século XXI”. Esse é Moby Dick Big Read, projeto que faz uma releitura da clássica obra de Herman Melville e iniciou as atividades no último dia 16 de setembro.Ainda dá tempo de seguir o projeto em tempo real, baixando no site http://www.mobydickbigread.com/
Abraços a todos.