Olá pessoal. Finalmente temos uma data especial para a celebração de um oráculo por demais querido, por demais preciso, por demais presente na minha vida : O Petit Lenormand, aqui no Brasil conhecido também pelos nomes "cartas ciganas", "baralho cigano" e "Tarô cigano". Essa questão de nomenclatura parece pouca coisa, mas não é. Durante décadas , a personagem principal da história foi eclipsada pelos nômades que a divulgaram (mesmo sem saber disso) e, hoje, temos a oportunidade de mantermos a tradição sem, no entanto, fugirmos às evidências históricas.
A iniciativa de criação deste dia veio pela manauara hoje residente em Amsterdã Socorro Van Aerts, do blog De Keizerin Boutique, onde logo se juntaram Chris Wolf, uma carioca apaixonada pelo oráculo dona do blog Eye of Peregrine, e a paulista Débora Jazzini, estudiosa que palestra sobre Mlle. Lenormand e sua obra e uma das responsáveis pelo site Por Você: um eixo Holanda - Rio de Janeiro - São Paulo, que agora encontra eco e agregamento cá em Minas Gerais. Parabéns meninas, pela excelente iniciativa.
Não sei vocês, mas eu prefiro seriados a novelas. Sobretudo pelo curto período de tempo, que gera uma intensidade maior na elaboração dos diálogos, torna mais intensos os eventos e, especialmente, garante que o fio condutor da trama estará na mão dos escritores (quantas novelas mudaram o rumo dos seus personagens pela aceitação ou desprezo da maioria dos telespectadores?) Entre os seriados brasileiros, um dos meus favoritos é Hilda Furacão - se você não assistiu ainda, tenho certeza que vai ficar com vontade de assistir.
[Hilda Furacão] é uma adaptação do livro de mesmo nome, escrito por Roberto Drummond em 1993. Conta a história de Hilda Gualtieri Müller, a "Garota do Maiô Dourado", uma belíssima e recatada moça da família mineira, que no dia de seu casamento, em 1.º de abril de 1959, abandona o noivo e vai viver em um prostíbulo na zona boêmia de Belo Horizonte. Os seus motivos fazem parte de um mistério muito bem guardado por ela, que intriga o próprio Roberto Drummond, um jovem jornalista que trabalhava para o tablóide "Binômio", de José Maria Rabelo.
Hilda acaba por despertar a curiosidade dos editores do "Binômio", que escalam Roberto para acompanhar os acontecimentos na Zona Boêmia. Frei Malthus, amigo de infância de Roberto e clérigo bastante respeitado pela família de BH, realiza em plena praça o exorcismo de Hilda Furacão, mas uma súbita tempestade desaba, e todos saem correndo. Hilda, na confusão, perde seu sapato, que é achado por Malthus, e o esconde.
Tendo como cenário de fundo as transformações do Brasil naquela época, a narrativa se desenvolve de maneira deliciosa, com vários núcleos além dos personagens principais: a ambição de Aramel, o Belo, também amigo de infância de Roberto, de se tornar galã de Hollywood; os conflitos entre a modernidade e o conservadorismo na pequena Santana dos Ferros; a militância comunista; a emisora de rádio Inconfidência e o apresentador MC, apaixonado por Gabriela M. Enquanto isso, Hilda e Malthus se aproximam cada vez mais, vivendo um amor intenso e proibido. A saída de Hilda Furacão do Maravilhoso Hotel tem uma data marcada: o 1.º de abril de 1964, exatamente 5 anos após sua chegada. Mas o dia da mentira também traz o fim de um sonho e o início de um pesadelo, o do golpe militar.
A história parecia ter caído como uma luva para a televisão. Com a adaptação de Glória Perez e direção de Wolf Maia, a minissérie começa a ser gravada em novembro de 1997, contando com supervisão do próprio Roberto Drummond. Boa parte das locações é feita em Tiradentes, cidade histórica de Minas Gerais, e as gravações correm em ritmo acelerado, durando até fevereiro.
Mas o sucesso de Hilda Furacão é total. Estreando no dia 27 de maio de 1998 e com 31 capítulos, atinge uma audiência de até 32 pontos, superando inclusive a novela das 20 hs, "Torre de Babel". A série conseguiu cativar a atenção do país, em pleno desenrolar de uma Copa do Mundo. O livro de Roberto Drummond chega à lista dos mais vendidos, assim como o CD com a trilha sonora da minissérie. A Globo traduz a série para o francês e inglês, e a coloca à venda no mercado internacional.
Além da consagração de Ana Paula Arósio, a série ainda alavancou a carreira de vários atores, entre eles Matheus Natchergaele (o travesti "Cintura Fina"), Thiago Lacerda (Aramel) e Carolina Kasting (Bela B.). Justiça feita a tanto sucesso, "Hilda Furacão" recebeu o prêmio de melhor teledramaturgia de 1998 da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA).
Ficha Técnica
Adaptação: Glória Perez
Direção de núcleo: Wolf Maia
Direção: Maurício Farias e Luciano Sabino
Direção de Produção: Carlos Henrique Cerqueira Leite
Gerente de Produção: Roberto Câmara
Direção Musical: Mariozinho Rocha
Direção de Fotografia: Ricardo Gaglianone
Figurino e Direção de Arte: Yurika Yamazaki
Cenografia: Claudia Alencar e Alexandre Gomes
Elenco:
Ana Paula Arósio (Hilda)
Rodrigo Santoro (Malthus)
Selton Mello (Roberto Drummond)
Thiago Lacerda (Aramel)
Stênio Garcia (Tonico Mendes)
Tereza Seiblitz (Gabriela M.)
Sérgio Loroza (MC - radialista)
Ricardo Blat (Cidinho - ajudante de Tonico Mendes)
Carolina Kasting (Bela B. - namorada de Roberto)
Eva Todor (Dna. Loló Ventura)
Rogério Cardoso (Ventura - marido de Dna. Loló)
Cininha de Paula (Luciana - amiga de Dna Loló)
Débora Duarte (Çãozinha - tia de Roberto)
Walderez de Barros (Ciana - tia de Roberto)
Marcos Oliveira (Zé Viana - namorado de Çãozinha)
Zezé Polessa (Dona Neném - mãe de Malthus)
Iara Jamra (Beata Fininha)
Mara Manzan (Nevita)
Marilena Cury (Alição - prostituta de Santana dos Ferros)
Thais Tedesco (Alice - prostituta de Santana dos Ferros)
Yachmin Gazal (Alicinha - prostituta de Santana dos Ferros)
Paulo Autran (Padre Nelson)
Marcos Frota (Padre Geraldo)
Guilherme Karan (João Dindim - sacristão)
Luís Mello (Padre Cyr)
Otávio (Mário Lago)
Chico Diaz (Orlando Bonfim - vereador de BH)
Cláudia Alencar (Divinéia)
Paloma Duarte (Leonor)
Rosi Campos (Maria Tomba-Homem)
Matheus Natchergaele (Cintura Fina)
Tarcísio Meira (Cel. João Possidônio)
Roberto Bonfim (Cel. João Filogônio)
Eliane Giardini (Dona Bertha Müller - mãe de Hilda)
Henri Pagnocelli (Sr. Müller - pai de Hilda)
Arlete Salles (Madame Janete - cartomante de Hilda)
Prestaram atenção no grifo? Temos uma cartomante na história e, sinceramente, não existe história sem ela, de fato. A interpretação de Arlete Sales é impressionante, com requintes e trejeitos que são próprios daqueles que tornam a Cartomancia sua profissão. Eu tenho mais um motivo particular para ter carinho por essa cartomante: ela usa o Baralho Para Ver a Sorte, da COPAG, meu baralho favorito e usado desde sempre para consultas. Para aulas, apresento os padrões iconográficos encontrados no mercado; para atendimentos, busco a familiaridade e a segurança que essas cartas me trazem.
As imagens são simples, mas claras, com a representação dos naipes. Apesar de ter uma cigana como verso das cartas, não atribuiu-se a ele uma "origem" cigana, nem adaptaram-se as imagens para que essa versão fosse creditável. Atualmente esse baralho encontra-se infelizmente esgotado. Aguardamos uma nova edição da COPAG.
A interpretação das cartas de Madame Janete merece um capítulo à parte. Como diversas cartomantes com quem conversei, não temos aqui uma sala especial para as consultas, mas sim a mesa da sala/cozinha; Madame Janete parece, inclusive, distante do tema da consulta, conversando assuntos paralelos oriundos do seu cotidiano para uma Hilda enfastiada. Mas, sobretudo, observe a certeza com a qual ela afirma veementemente aquilo que Vê.
Repare a colocação de algumas ideias espíritas no meio da conversa. E as coisas que ela diz... "Ninguém vem aqui porque está feliz. Quem senta nessa cadeira, é porque alguma coisa lhe falta".
"O que Deus risca, ninguém rabisca".
Depois da previsão feita e confirmada, Hilda retorna à Cartomante. E novamente, Madame Janete fala coisas que sabemos que na prática são verdadeiras, assim como coisas próprias do cotidiano dela, para manter o costume.
Desejo verdadeiramente que esse dia inspire você a ler suas cartas Lenormand, ou procurar quem as leia para você. Celebramos eu, você e todas as Madames Janete que, embora não estejam visíveis à mídia, levam a palavra certa no momento certo para a pessoa certa, tendo como catalisador um maço de trinta e seus cartas.
Abraços a todos.
Inspirador... Fantástico!
ResponderExcluirEu acompanhava a série e esperava por Madame Janete, achava "supimpa" a forma dela jogar,tão próxima...
Adorei a lembrança! =)
gente adooooro madame Janete, sério mesmo, vc sabe que dividimos paixão por essa ´serie!ce escreve muito tá?bjooo
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