sábado, 16 de outubro de 2010

Blogagem coletiva: Quem fala com você?


"Somos tarólogas e tarólogos. Quer dizer, só tarólogas? Definitivamente, não! Em nosso mundo existem pessoas que são muito sintonizadas com o Universo que nos cerca e que conseguem, através de diversas ferramentas compreender o andar da Natureza e aprender mais sobre si. São os oráculos e, com eles, a voz do divino. Assim, agora, queremos saber: Quem fala com você?"

Novamente, a convite da Pietra e da Luciana, estamos diante de um desafio. Sincronicamente, recebi o convite em uma postagem em que falava justamente sobre o Hierofante, a carta eleita para ilustrar a blogagem coletiva. No Housewives, o Hierofante é representado pelo rádio - intermediário entre o ouvinte e o mundo, num momento em que a internet não era nem um embrião de um sonho. Ou será que... deixa para lá.

A propósito, adorei o tema dessa postagem. Afinal de contas, quando penso em oráculos, penso, imediata e invariavelmente, em minhas cartas. São parte de mim e parte do que desejo que continue sendo parte de mim, partindo do pressuposto que nem sempre somos o que gostaríamos de ser. 
Contudo, no decorrer do meu treinamento e do meu desenvolvimento, me vi às voltas com outros oráculos também, e todos eles foram fundamentais para que hoje eu pudesse desenvolver o olhar que possuo sobre a própria prática da Cartomancia. 


Tentei as Runas. Não me adaptei à mitologia relacionada. E, talvez por falta de treino, não enxerguei com elas coisas que estavam debaixo do meu nariz. Ainda as utilizo, em rituais como símbolos e na divinação, mas apenas para mim. 


Tentei a Quiromancia. Foi engraçado, porque funcionava de forma absurdamente diferente da Cartomancia; era muito mais tátil que visual, era quase psicometria! Mas eu encontrei alguém cujo Caminho é este, e lhe repassei meu material. Ainda acho interessante conhecer, mas não profissionalizar. 


A bola de cristal foi mais interessante ainda (ou deveria dizer... engraçado?). Não tive paciência de esperar as Visões. O baralho é pá pum, embaralha sete vezes, corta três, reúne os montes, vira a de cima; pronto!


Vamos falar então do que eu amo... os baralhos!
Etimologicamente, "Cartomancia" é a advinhação (mancia) com as cartas de baralho. Isso nos abre um leque de possibilidades à luz do mercado editorial contemporâneo. Originalmente, o que diferenciava os baralhos era a interpretação artística, regionalizada, reflexo das mentalidades e costumes do período. É importante ressaltar que utilizo "reflexo" na acepção de Ernst Gombrich - uma ilusão visual (neste caso, comportamental) que gera um efeito mensurável. Temos essa possibilidade de mensura nos diversos baralhos que sobreviveram ao tempo e ao uso, entre Tarots e baralhos específicos para leitura de sorte ou para as mesas de jogo - senão para ambos.


Atualmente, temos tantos baralhos quanto é possivel imaginar. Promocionais, temáticos, turísticos, para coleção, adivinhatórios, divinatórios, terapêuticos, para meditação. Sendo assim, o que definiria um baralho, em síntese? Um grupo de imagens, reunidas de forma premeditada ou não - as imagens podem ser agrupadas de acordo com critérios que não são, a priori, "lógicos" -, que possuem dimensões passíveis de serem embaralhadas, homogêneas entre si. Não é possível um baralho de dimensões variadas, pois o conjunto não seria coeso em um leque. 


Os critérios para reunião das imagens das cartas em um baralho são, geralmente, temáticos: naipes, signos, formas, cores, títulos. No caso do Tarot, por exemplo, temos três características agregadoras: o nome/título, o número e os elementos afins, em alguns casos, formas, em outros, cores. Por exemplo: não importa o Tarot, sei que um Sete de Paus (nome) possuirá sete (quantidade/número) paus, varetas, cetros, clavas, bastões (forma). Além disso, poderíamos ter, como no Thoth Tarot, um título (Coragem), apontando para o conteúdo divinatório. como tradicionalmente os Paus são ligados ao elemento Fogo, encontraremos, na maior parte das vezes, amarelos, vermelhos e verdes em sua paleta de cores.


Além disso, saberemos que se tivermos mais ou menos Paus em uma carta, estaremos lidando com o mesmo conteúdo temático em uma outra esfera. E desta meditação começamos a interiorizar as possibilidades interpretativas de cada carta.


Os baralhos comuns são reunidos pelos signos (sinais) correspondentes a cada um dos quatro naipes. O Petit Lenormand, pelo número e pelo naipe correspondente. Falando nisso, o Petit Lenormand é um caso interessantíssimo, pois não há uma relação coesa entre os naipes e a numeração. E, no desenvolvimento de sua iconografia, aos poucos foi-se perdendo o referencial na cartomancia (aqui diretamente relacionada ao baralho comum) e apenas a numeração foi mantida. Temos aqui os baralhos de Katja Bastos e J. Dellamonica, que são, até onde eu sei, os mais conhecidos por aqui, no Brasil. 


Mas não só os temas desse blog que são temas para baralhos, não (e, de certa forma, vice-versa: nem todos os temas de baralhos são temas para este blog.). Já vi baralhos próprios para a divinação com as Runas. Baralhos que se relacionam com o jogo de búzios. Baralhos que se ligam ao I Ching. Baralhos ligados à Wicca. Baralhos ligados à Cabala, seja relacionado à letras hebraicas, seja ligado aos Anjos Cabalísticos. Baralhos ligados a pesquisas específicas, como o do Dr. Masaru Emoto, de Cristais de Água, e o de Neide Margonari, de Florais de Saint Germain; nem todos se prestam a divinação.
Os últimos certamente servem para a meditação e interiorização. Mas, o que dizer do baralho de Runas?
Fui atrás, de novo e outra vez, da Amanda Izidoro. Ela me disse que não há diferença na resposta do oráculo, ainda que o método seja diferente. E que, por vezes, o fato de ser um baralho facilita, e muito, a obtenção da resposta.
Eu, particularmente, não gosto. O ritual rúnico se adequa mais às pedras que às cartas, em minha modesta opinião. O mesmo diria do I Ching: acho que as moedas já foram uma revolução e tanto, em relação às 49 varetas originais. E funcionam, e são versáteis, e pronto. Eu ainda bato bolo com colher de pau, olhando torto para a batedeira... Embora já tenha atendido clientes com Tarots virtuais! Mas isso é outra história.
Acredito na experimentação das imbricações entre técnicas de um e significados de outro oráculo, mas, por serem justamente experimentações, nem sempre funcionam. E é isso que devemos ter em mente quando as utilizamos. Não é o oráculo que é complicado, é o método que é inadequado, mas só percebemos isso de maneira empírica. Mas, na falta do método original que considero sempre mais adequado (acho que ninguém aqui vai deixar de jogar runas se as runas não forem de pedra ou osso), o oráculo funcionará perfeitamente como deve ser. 

Concluindo e respondendo a pergunta que motiva essa postagem, quem fala comigo é o baralho. Em suas múltiplas e caleidoscópicas apresentações, ele fala. Até mesmo quando eu não gosto da roupagem que veste, ele fala. Até mesmo quando não gosto do seu sotaque, ele fala.
Que bom que a gente conversa.

Referências bibliográficas:
GOMBRICH, E. H. Arte e ilusão: um estudo da psicologia da representação pictórica. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

9 comentários:

  1. Perfeito texto! Como escorpiano nato, adorador de conteudos esotericos, adoro conversar com tudo que se liga como radio aos dois mundos, pois sempre é bom contar com a ajuda dos nossos amigos e parentes de la,do nosso verdadeiro lar.
    Muito me interessei pelo baralho cigano, e ainda tenho um certo fascinio em aprender o jogo de buzios,esse devo realizar daqui aos 4 anos, quando dentro da minha religiao (Umbanda), posso por direito receber esse dom pelas mãos do meu Pai de santo.
    Mas de fato tambem acho que as cartas falam comigo de forma muito eficaz, é um contato que ja faz parte de mim.Grande beijo!

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  2. Que menino rápido! Nem a gente que fez a proposta conseguimos rascunhar o texto ainda!

    Mas enfim... achei incrível essa sua reflexão de olhar para o lado mais profundo do instrumento. E acho legal pensar no baralho tirando dele todo o blá blá blá de saiu da ìndia e foi para qqer lugar pelos ciganos e por aí vai... é o lance dele por ele, independentemente de teorias.

    Acho que, no meu caso, no fundo, segue o mesmo caminho!
    Bjos

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  3. Sim Pietra! Ele é célere!
    Amei o post!
    Há muita coisa que temos em comum eu e tu Emanuel!
    Logo, logo preparo o meu!
    Mais uma vez, obrigada por participar!

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  4. Olá! Vi seu post através da blogagem coletiva. Entendo que você utiliza mais o baralho comum, que conhecemos (não o tarô). Isso? Poxa, eu tenho um profundo interesse nisso, mas os materiais que acho, não tenho confiança. SErá que poderia compartilhar algumas dicas? Grata! =]

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  5. Olá, Senhor da Vida! Eu nunca recebi um jogo de Búzios. Li a respeito mas não conheço a forma do ritual. Há ainda uma confusão para os leigos entre "oráculo" e búzios... Quando eu falo que sou cartomante, perguntam se eu jogo búzios! O.o... Aí, eu explico que os Búzios, ao contrário da Cartomancia, possuem todo um aspecto litúrgico e devocional ligado às religiões afro-brasileiras e, embora eu as admire, não participo.
    Creio que o Baralho Cigano, pela perspectiva que é jogado aqui no Brasil, lhe será muito útil. A mim foi, para começar a entender um pouco o universo do panteão afro-brasileiro, até eu descobrir a forma francesa de jogar. E você conhece o Tarot dos Orixas? Acho este um baralho muito lindo, recomendo sempre.
    Oi Pietra! As raízes históricas são importantes mas, nesse caso, nessa postagem específica, não tanto, pelo menos para mim. Eu acredito na aproximação do oráculo por ressonância, por identificação, e isso é atemporal. Foi isso que senti quando li sua chamada para o texto. No nosso caso, falamos dos sentimentos em relação a nossos oráculos, que são ressonâncias de nossas vivências, experiências, experimentalismos e hipóteses, contrabalançados por toda uma teoria e tradição anterior a nós. Mas a Tradição só tem sentido real se ressoar com nossas experiências. Só assim ocorre o "clic" que nos realiza como pessoas, dentro da nossa área.
    E eu já te admiro há anos, por uma apostila de Stregheria que você lanço por volta de 2003, 2004, que foi porta de entrada de uma série de reflexões para mim! Creio realmente ressoarmos em uma frequência parecida!
    O mesmo que digo em relação a você, Luciana. Fico na expectativa de sua postagem!
    Olá efortini! Tentei entrar em contato com você mas não encontrei um email. Na verdade, eu utilizo o Tarot, sim, o Petit Lenormand e o baralho comum, ou cartas de jogar. A questão é que é difícil encontrarmos pessoas que reflitam sobre as cartas comuns, por isso gosto de enfatizar alguns dos seus aspectos por aqui, já que temos uma literatura vasta sobre o Tarot e nem tato sobre cartomancia. Vejo normalmente um autor copiar literalmente do outro os conteúdos que lhe interessam, mais para "encher linguiça" que pára uma reflexão séria sobre o funcionamento do oráculo. Como vê, entendo perfeitamente a sua falta de confiança no material.
    No topo do site, abaixo d banner, temos quatro paginas fixas sobre os naipes, e nelas eu vou postando, pouco a pouco, conteúdos ligados à cartomancia com o baralho comum (seja o inglês, o francês ou o espanhol). E, nas postagens do próprio blog, vou relacionando os conteúdos dos baralhos entre si.
    De qualquer forma, esteja à vontade para perguntar ou sugerir o que desejar.
    Grande abraço a todos.

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  6. Oi Emmanuel,
    vc tem uma mente muito rápida e frutífera, e expressiva...qual signo vc é? rss (só por curiosidade). Vc se considera regido predominantemente pelo naipe de espadas?
    abração, adoro te ler.

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  7. Claudio Antonio Gonçalves19 de outubro de 2010 às 13:41

    Olá Emanuel, como vai? Adorei o post, muito esclarecedor. Obrigado por compartilhar de suas experiências com os oráculos. Eu também peregrinei por vários oráculos, mas a Cartomancia se mostrou mais aberta para a minha pessoa. Confesso que estou apaixonado pelas cartas. No caso leio o Tarô, com base no de Marselha, o Baralho Lenormand e o Baralho Comum.

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  8. Oi anônimo, tudo bem? Eu sou libriano com ascendente em Áries!
    Recentemente, na blogagem coletiva "Quem é o Rei da sua Casa?", eu me considerei o Rei de Espadas. Mas me sinto muito mais à vontade com o Príncipe de Paus. Obrigado mesmo pelo elogio, são as considerações positivas que me fazem continuar escrevendo!
    Oi Claudio, tudo bem? Não tem como não se apaixonar pelas cartas, não é? Eu sou super suspeito para falar.
    Um grande abraço a todos.

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  9. Oi, Emanuel:
    Sempre tive muito fascínio por tarôs, tenho vários:Baralho Cigano, Tarô dos Anjos, Tarõ Mitológico e outros.Gostei do teu blog e a minha dúvida é: Sendo apenas uma estudiosa do assunto, posso ler carta para outra pessoa? e qual baralho vc me indicar para que eu possa realmente ¨ler¨uma carta de verdade? Um abraço

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Quando um monólogo se torna diálogo...