domingo, 8 de janeiro de 2012

Dia do fotógrafo e a cartomancia. Ou seria dia do beijo e a cartomancia? (quando dois temas se cruzam em datas diferentes)


A fotografia é uma forma de ficção. É ao mesmo tempo um registro da realidade e um auto-retrato, porque só o fotógrafo vê aquilo daquela maneira. 
Gérard Castello Lopes




Hoje, dia do fotógrafo. Daquele que desenha com luz e contraste. Daquele que resume em imagem o instante fugaz. Um dos agentes da eternidade do efêmero. Quando o instante vale mais que o devir.
Uma das situações mais evanescentes que vivenciamos é o beijo. Talvez porque até conseguirmos beijar, é um universo, e depois disso nada mais é como antes. Outro universo é criado do encontro entre dois lábios. 


Siga os links, vale a pena conhecer a história dessa foto.



Essa imagem ainda nos é poderosa. Mesmo depois das micaretas e raves, onde os olhos caminham para um lado e os lábios para outro, enquanto o coração pula amarelinha sozinho.
É curioso perceber, mesmo diante desse panorama, que a respiração ainda fica ofegante naqueles segundos que antecedem o beijo em um filme. O cinema pára. A sala de estar torna-se imensa. O silêncio reina, no intervalo entre dois segundos em que cada um dos presentes gostaria de estar no lugar de um dos protagonistas.
Em seguida, a vida volta ao normal. E o coração volta a pular amarelinha.
Zapeando textos na internet - muito para ler, nem tudo precioso, mas tudo acessível - percebo o quão sozinho estamos nesse mundo onde todos estamos paradoxal e virtualmente conectados. Um arquipélago de solidões, emergindo aqui e ali de um mar de dados, de zeros e uns. Vejo o quanto o tema relacionamentos é visado na imagem. Talvez pela falta de acesso à imagens cotidianas de afeto, talvez para servirem de exemplo para aqueles que perderam o feeling em alguma esquina da vida.
Mas ali, naquelas imagens, vejo um ponto de acesso a um símbolo poderoso. O fato de estarmos por ora sozinhos não indica, sobremaneira, que essa situação é para sempre. Alguém fez o favor de nos recordar esse detalhe. Como um bilhetinho de loteria que é levado pelo vento até aonde estamos, sugerindo que seja apostado. Ganhar ou perder, pouco importa; o importante é o risco de saber se aquele sinal é, de fato, um evento.




Pesquisando para essa postagem, um desses bilhetinhos de loteria caiu em minha tela. Trata-se da série Kiss, de Andy Barter. Em uma belíssima variação sobre o mesmo tema, o fotógrafo observa, de cima, a entrega ao instante de diversos casais. Uma posição que um certo personagem do Tarô tem há pelo menos sete séculos.


Enamorados


E, falando em Tarô, há um ponto em que nossas práticas se cruzam com as práticas de um fotógrafo. Quando embaralhamos nossas cartas, estamos como que pondo em ordem o foco de nossa lente. O consulente, ao cortar, posa para nossa interpretação. E ali vemos, em setenta e oito lentes cuidadosamente escolhidas de forma aleatória pelo modelo. Pois é dele que falaremos, sobre ele que colocaremos nossa técnica para que ele reflita - no sentido de ser reflexo, no sentido de refletir - o que há de melhor nele: seu agora. E, a partir desse agora muito bem descrito em um portfólio de várias cartas, ele pode escolher quem quer ser.
Feliz dia do fotógrafo. Seja você o desenhista em luz e contraste de sonhos e possibilidades. E realidades. Múltiplas como seu olhar o é.
Abraços a todos.


O Beijo (detalhe)
Klimt


Post Scriptum: Duas datas se mesclaram nessa postagem, pois o Beijo também tem seu dia - 13 de abril. Que de janeiro a abril possamos criar possibilidades perfeitas de celebrar tanto o efêmero quanto o beijo. O Anjo voa cá, até lá. E imagens se criam no processo de devir, de lembrar, de esquecer e lembrar de novo.

3 comentários:

  1. Texto incrível! Profundo! Dá pano pra várias reflexões, como as que nós mesmo já demos início.

    Beijooooos
    =**

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    1. Assim mesmo, Kel. Vamos aprofundando em espirais... Como quem come pelas beiradas para não queimar a língu.
      Um beijo!

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  2. Olá amigo Emanuel, passando para deixar um abraço e agradecer a visita!
    Tenha um bom dia!
    Bjuss!!!

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Quando um monólogo se torna diálogo...