Três de Espadas
Waite Smith
Atenção: Sugiro que você ouça essa música aqui, durante a leitura.
Depois de visitar o desencantamento, à convite da Rute, eu fiquei pensando em toda a abrangência do termo. Embora eu tenha focado o despertar, percebi, ao ler o que os demais participantes escreveram, que eles foram a fundo naquilo que eu queria evitar, as dores emocionais, os relacionamentos que não deram certo. Não à toa, essa foi, sem dúvida, a Blogagem Coletiva mais difícil de que já participei. E, diante das participações e do que foi dito, escrevo um pouquinho mais, focando-me nos aspectos mais dolorosos do desencantamento. Esse é um texto sombrio, direto no queixo. Não leia se tiver um coração sensível e lentes cor-de-rosa. Eu não tenho nem um, nem outro. Perdi há um bom tempo, e se alguém encontrar, por favor... não me devolva.
Recentemente, eu fui picado por uma abelha. Na palma da mão direita. A despeito de todo o simbolismo que isso venha a ter, nunca na minha vida eu senti uma dor tão intensa. Isso porque já fraturei o nariz duas vezes.
Um misto de surpresa, impacto, que move simultaneamente em direção à catatonia e ao berserk, um pulso elétrico que se movimenta pelos filamentos de todos os músculos e que se mostra incontrolável. E, quando você volta a si, percebe que tudo isso aconteceu em segundos.
Aí você grita.
Três de Espadas
Monalisa Tarot
Os dias passam. A memória da dor permanece como um parâmetro. Como pode doer tanto? Mas a dor física passa, pouco a pouco, devagar ela se dilui nas necessidades do dia-a-dia. Esse passar da dor pode decrescer, como no caso da picada de abelha, gradualmente; ou, como no caso de uma Lesão por Esforço Repetitivo, inversamente oposta. Com as dores crônicas, a gente se acostuma.
As dores surpreendentes são as que de fato doem.
E, nesse caso, as ditas dores de amor recebem o Oscar de melhor efeito especial. São sempre apoteóticas. Chamam a atenção. Afinal de contas, a "compaixão" aqui é vestido e capa de uma autocomplacência que deveria ser desnudada.
Mas não. Uma coloca a anágua "ele não presta"; outra põe um godê guarda-chuva de "você encontrará alguém melhor". Outra vem e coloca um corpete de loja de artigos para maiores "como assim você, essa delícia, está chorando por ele?" Mais um, atraído pelo burburinho e encantado pela semivestida persona, veste-lhe uma blusa recém comprada de "gente, nunca tinha reparado na cor dos seus olhos... as lágrimas os deixaram mais bonitos". E, de peça em peça, num strip tease às avessas, um personagem é criado para sair às ruas mostrando sua vestimenta rica, paga com moedas de lágrimas. Mártir, sofredor, coitadinho. Dolorosamente merecedor da atenção de todos aqueles que, independentemente das próprias necessidades, estão ali para confortar (leia-se: deixam suas dores por serem feias demais para alguém as vestir. Tais dores permanecem nuas, mas presas no porão). Mas o personagem, a bela e sincera mocinha virginal, esqueceu a calcinha em casa. Um ventinho (algumas doses de uma bebida forte, uma música mais intensa, alguns olhares, um recadinho no MSN) e todo o paramento deixa de fazer sentido no flash de um paparazzi. Toda vestida de drama, mas não deixa de ser uma rameira.
Autocomp... Nazaré Tedesco.
Porque se escreve "boite" mas se fala "boate".
Ou buatchy. Vá saber.
Autocomplacência, rameira que faz o peito de qualquer um o bordel de mais alta classe. Ou não.
Colocar a autocomplacência amarrada ao pé da mesa não faz, ao contrário do que eu pensaria, com que qualquer evento doa menos. A dor é sempre dor. E, para piorar um pouco as coisas, dor não é parâmetro de comparação. O que você viveu/vive pouco ou nada interessa para quem vive, naquele instante, sua própria dor. É um consolo (leia-se: um uppercut na autocomplacência) saber que outras pessoas passaram por eventos diferentes, piores. Mas, por piores que sejam, não foram experimentados como reação química na carne que você veste. Você entende, mas não interage com nada aí dentro. Só faz sentido.
Ninguém passa por nada sem merecer, ainda que não entenda muito bem.
As Moiras (Parcas, Nornes) são atentas.
Elas tecem muito bem.
Três de Espadas
Tarô das Deusas
Então... Bora assumir a própria dor?
Não quero dizer que não existem momentos em que realmente precisamos de ajuda. Tem horas que só mantemos a sanidade porque tem alguém ali pronto para estender a mão. Tem horas que o desespero está quase se transformando em uma bala enterrada no meio da cabeça. Ninguém é plenamente autosuficiente para não precisar de colo de vez em quando.
Lembra que eu disse que dor não se mensura? Então. A sua dor nunca será vivenciada por esse conjunto de nervos que está aqui no meu corpo. A memória, não, eu não terei. Eu terei parâmetros. E talvez sejam justamente os meus parâmetros que te tragam um pouco de sanidade, diante de uma dor que você considera forte demais para aguentar.
Três de Espadas
Marseille Grimaud
Eu tenho uma abordagem do Três de Espadas um pouco dura (dá uma olhada no texto que eu escrevi para o Clube do Tarô). Saturno em Libra, conforme a atribuição da Golden Dawn. Não dá para ser por menos. O Ceifador olhando para os relacionamentos. O Do Golpe Certeiro relacionando-se com o signo das dúvidas e indecisões. Ah, e para constar, Ele anda exaltado por ali.
Se nos aplicarmos, juntos, as ideias do Três de Espadas para a questão dos relacionamentos, o exercício aqui seria de se colocar em terceira pessoa, mesmo quando a dor for sua. Você está com a peça de roupa que corresponde à sua parte de autocomplacência pela dor alheia. Olhe de novo. Você ainda a quer vestir aquela peça? Se sim, vista de peito aberto sua dor, porque, como todo e qualquer sentimento, ela é passageira. Fica só o registro.
Agora... se você é incapaz de enfrentar de peito aberto o motivo da sua dor... Se você só consegue "buscar conselhos" de amigos... Se você diz que ele não presta, mas ainda mantém contato com ele, dizendo que o ama... Se você o traiu, e traição aqui em amplo sentido - um pedido de não faça isso quebrado pode doer mais que relacionar-se com um batalhão de pessoas - e (ainda assim) se arrependeu...
Faz um favor para mim. Cale a sua boca. Agora.
Muito sofrimento pode ser evitado assim.
Se você é incapaz de conversar diretamente com quem lhe causa dor, é melhor não conversar movido pela paixão com ninguém mais. A gente costuma mudar de ideia quando a raiva dá lugar à razão. E arrependimento não é desculpa, é consequência de uma fala mal... dita.
Lave seu rosto. Olhe-se no espelho. Despido daquilo que considera ser real. Olhe de novo. E mais uma vez.
Agora sim. Dê um passo. Sem a mesquinharia de quem acha sua dor a maior do mundo, com a autocomplacência de quem se acha a maior vítima do destino. Todos sofremos por amor de vez em quando. A maior parte de nós sobrevive a isso.
Lembre-se... Sua dor só é incomparável, mas jamais será a maior do mundo.
Doi ler isso? Sim, eu sei. Para escrever, doeu também. Dor é coisa que dá e passa. Como a de eu escrever e você ler. Saturno em Libra tem dessas coisas, ainda mais se representativo de uma carta como o Três de Espadas.
Voltamos a nossa programação normal, com postagens mais agradáveis.
Abraços a todos.
Três de Espadas
Medieval Scapini
Ah, quase me esqueço: além das leituras dos meus parceiros de Blogagem Coletiva, o texto é motivado pela inter-relação entre o Três de Espadas do Medieval Scapini com uma música do OneRepublic, Secrets.
Quem sabe te inspiram também.
I need another story
Something to get off my chest
My life gets kind of boring
Need something that I can't confess
Till all my sleeves are stained red
From all the truth that I've said
Come by, it honestly I swear
Thought you saw me wink, no, I've been on the brink, so
Tell me what you want to hear
Something that'll like those ears
Sick of all the insincere
So I'm gonna give all my secrets away
This time
Don't need another perfect lie
Don't care if critics never jumped in line
I'm gonna give all my secrets away
My God, amazing how we got this far
It's like we were chasing all those stars
Whose driver shining big black cars
And everyday I see the news
All the problems that we could solve
And when a situation rises
Just write it into an album
Sitting straight, too low
And I don't really like my flow, oh, so
Tell me what you want to hear
Something that'll like those ears
Sick of all the insincere
So I'm gonna give all my secrets away
This time
Don't need another perfect lie
Don't care if critics never jump in line
I'm gonna give all my secrets away
Got no reason
Got no shame
Got no family
I can blame
Just don't let me disappear
I'mma tell you everything
Tell me what you want to hear
Something that'll like those ears
Sick of all the insincere
So I'm gonna give all my secrets away
This time
Don't need another perfect lie
Don't care if critics never jump in line
I'm gonna give all my secrets away
Em tempo: O Ciro Marchetti preparou um vídeo sobre o Três de Espadas do seu Legacy of Divine Tarot. Vale a pena assistir.