terça-feira, 15 de maio de 2012

Blogagem Coletiva: Esperança



Sweet Pandora
Good-like aura
Smell like a flora
Open up your door-a for me

Aerosmith, "Pandora's Box"



Esperança. Tá aí uma palavra-sentimento que me deu o que pensar. As meninas da Blogagem Coletiva estão se superando! 

Estrela
Dellarocca

A associação esse sentimento com o Tarô é, de certa forma, tão direta que o texto fluiu como as águas fluem das ânforas da desnuda mulher do Arcano XVII. Falando nisso, esperança é uma das palavras-chave que norteiam a interpretação deste arcano; por outro lado, é a tradução direta daquilo que o consulente busca de um cartomante, uma perspectiva que gostaria de explorar por aqui.

Estrela
Waite-Smith

O Arcano XVII é um arcano de superação. Depois da terrível experiência do Arcano XVI, desagregadora, destruidora, decepcionante ou surpreendente, temos a oportunidade de olharmos a essência daquilo que nos resta, daquilo que nada, ninguém, coisa alguma ou situação nenhuma seria capaz de tirar de nós. Enxergamos quem de fato somos, não quem tentamos ser. A amizade é desfeita, e descobre-se que não é necessário consolo. O casamento se desfaz, segue-se em frente em busca de um novo parceiro ou da tão sonhada independência. A demissão tão temida ocorre, e descobre-se ser possível olhar novos horizontes. Diversas outras situações são passíveis da mesma análise, reflexo e emblema do ditame antigo: vão-se os aneis, ficam os dedos.


Os dedos, desnudos como a jovem, podem manipular e tecer novos destinos, novos rumos. Jack Johnson, antes da fama como cantor e compositor, era surfista. Devido a um acidente aos 17 anos, teve um problema no joelho e não pôde mais surfar. Pense naquilo que lhe serve de adjetivo identitário. Agora se pense sem ele. Imagino ter sido essa a sensação dele.
Ele sabia tocar violão. Hoje, percorre o mundo com seu instrumento, fazendo a alegria de muitos de nós, com uma suavidade impar na voz e no dedilhar das cordas. Será, penso eu, que ele se dedicaria ao violão se ainda competisse como surfista? Vão-se os aneis...

Estrela
Kristal

Esse é o Arcano onde todos os Reinos da Natureza se fazem presentes. O Reino Mineral, representado pelo solo; Vegetal, pelo arbusto; Animal, pelo pássaro. As águas, das quais toda a vida se originou, estão em profunda relação com a jovem, que derrama o conteúdo das ânforas na terra e na própria água, em oferta e celebração. A gota se derrama no oceano. Ocorre o retorno às origens – na verdade, depois da experiência do arcano anterior, não existe outro lugar para ir...
Nas origens encontra-se todo um futuro. Umbra futurorum, toda uma possibilidade se descortina a partir daquilo que nos mantém conscientes de nossa individualidade no todo, daquilo que temos a oferecer ao mundo. Pelas raízes, conhece-se a árvore e antecipam-se os frutos.
35
French Cartomacy

No Petit Lenormand, temos a âncora (escrevi um texto sobre as três virtudes teologais no Petit Lenormand para o Clube do Tarô; confira aqui). Trigésima quinta carta, quase encerrando a série. Aqui, temos a ideia de estabilidade em meio a instabilidade. A âncora mantém o navio firme mesmo em meio à tempestade. Na superfície, caos; nas profundezas, placidez. Quando tudo mais rui... Sobra o essencial para seguir em frente: nós mesmos, e é necessário mergulhar mais fundo.  
Para além das cartas em si, temos, na prática da Cartomancia, a esperança norteando a experiência. Jogar Tarô é uma espera, é uma expectativa. Dá para ouvir a respiração entrecortada dos consulentes durante o embaralhamento (momento bacana para acalmá-los, e dizer que o que será feito não é nenhum bicho de sete cabeças). Ali existe a espera do porvir e a esperança de que seja o melhor. Se não for, que para ele eu esteja preparado, assim espero, amém. 
Nesse ponto entra a habilidade do consultante: não se manipula a esperança alheia. Não se trazem pessoas amadas em três, sete, trinta ou qualquer outro número de dias a menos que elas queiram voltar por vontade própria (o que, por sinal, é possível de se Ver, mas não de se causar – pelo menos e até onde sei, não através da Cartomancia). 
O bom praticante da Cartomancia não se exaspera ao oferecer prognósticos. Nem os felizes, nem os tenebrosos. Não se deixa o consulente sem escolha, ainda que as cartas apontem para uma situação inevitável – ele ainda possui a escolha de não acreditar em uma única palavra que o consultante disser.
Porque, afinal de contas, todos esperamos, com silente expectativa, pelo melhor.
Abraços a todos.

3 comentários:

  1. Olá, Emannuel
    De tudo o que li, entendendo pouco do assunto de Tarô, gostei do dito poular que se enquadrou, perfeitamente, ao Tema Esperança: "Vão-se os anéis e ficam os dedos"... É asim que é na vida... cada um de nós caça com cão ou com gato... quem não tem um, tem o outro...
    Nunca perder a Esperança de dias melhores é o meu lema pois o pior da minha vida já passou...
    Abraços fraternos de paz

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  2. Tardou mas não falhou, não é meu amigo?
    Assim é que eu gosto, gente que se engaja nas coisas e vai até ao fim, sem medos :)
    Você acha que a "coisa" tá dificil?
    Já viu a próxima fase ¿questionamento?

    Gostei do senso ético que evidência: do dever do cartomatante de não manipular a esperança alheia.

    Também acho importante, não dar demasiadas asas de esperança ao consulente, a âncora é importante, o equilibrio céu-terra primordial. Caso contrário caimos de novo na roda de samsara, repleta de encantamentos e desencantos incessantes, mordendo a própria cauda sem nos apercebermos.
    Beijinhos esperançosos de nos encontrarmos de novo na próxima fase.
    Tomara que sua internet não falhe dia 15 JUN!!!
    Rute

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  3. O universo cartomântico é novo para mim, pouco entendo, mas algumas coisas são inerentes para todos nós, senão não haveriam cartas iguais. Eu entendo que nascemos para um propósito e não importa quantas voltas damos ou quantos caminhos percorremos, pois sempre iremos retornar ao ponto que desviamos da nossa trajetória. Houve outro surfista que virou um cantor famoso que agora me foge o nome, mas esse universo é bastante particular, pois moro perto da praia e sei bem como um violão faz companhia.
    A esperança é a fagulha que teima em permanecer acessa, mesmo quando todo o gelo insiste em invadir a nossa vida. Procurar a leitura das cartas é procurar por uma palavra que traga esperança. Acho que a sua missão é essa, não acha?
    Obrigada por participar mais uma vez da blogagem. Assim como você, eu tardo mas não falho!!
    Bom fim de semana!!

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Quando um monólogo se torna diálogo...