sexta-feira, 30 de março de 2012

Conexão Reporter. Ou: da natureza da profissão, só que ao contrário.


Olá pessoal. Ontem foi ao ar uma edição do Conexão Repórter que visava apresentar o charlatanismo ligado àqueles cartazes que vemos com certa regularidade colado em postes, ou àqueles anúncios de "trago seu amor em três dias" (experimenta jogar essa frase no Google, rs) etc.
Não gostei da abordagem da matéria, ainda que o Cigano (sim, com "C") tenha mostrado claramente como é o procedimento para a Quiromancia e, ao fim, tenham colocado o depoimento de uma taróloga. Não conheço o trabalho dos profissionais entrevistados, mas gostei do que disseram. Contudo, ambos tiveram um tempo mínimo no meio e ao final da reportagem, frente às abordagens de vários charlatães que se utilizam de cartas, búzios e quiromancia para atender.
Eu, sinceramente, acho um mega desserviço chamar esses profissionais de cartomantes e videntes (para piorar, eles mesmo se autointitulam assim). Devido a isso pululam definições do que somos, ligadas a um imaginário que transcende a realidade dos fatos. Cartomante é aquele que manipula as cartas com fins divinatórios, assim diz o dicionário. Independente da natureza delas, seja um Tarô, um Petit Lenormand, um baralho comum, um baralho espanhol ou um oráculo específico, não importa, completo eu. Não deveríamos precisar de títulos como tarólogo - que tem sido banalizado por pessoas que se acham donas de toda a verdade e sabedoria do oráculo que veio do Egito (#brinks). Dá um pouquinho de vergonha ser chamado de tarólogo conhecendo gente desse naipe, que como pessoa e como profissional nada acrescentam à comunidade de praticantes e pesquisadores. Mas, na falta de palavra melhor, seguimos com o título e o nome.
Eu sou Cartomante acima de tudo, hereditário. E faço valer o título que me proponho, mantendo o que minha avó me ensinou e usando minhas cartas (do baralho que eu quiser) para Ver aquilo que é preciso Ver. E, diante disso, não sinto vergonha nenhuma de ser chamado assim, e, se eu fosse, também não teria vergonha de ser chamado de vidente. Afinal de contas, os profissionais da área esotérica são agora amparados pela lei.
Temos aqui um paradoxo. Se, amparados pela lei, podemos nos aposentar e ter direitos àquilo que nossa profissão nos oferece, por outro lado somos colocados no mesmo balaio de gato que estelionatários, ou seja, criminosos. Paradoxal, mas fato. Não adianta você se dedicar ao estudo e à meditação para melhorar e ampliar sua Visão se, ao fim e ao cabo, você será tachado com a mesma tarja que alguém que, com lábia e malícia, exige valores exorbitantes em nome de todos os Orixás, Deuses e o que lá que seja para retirar um trabalho feito (que a maior parte das vezes, nem existe).
Repare que, na maior parte dos casos, buscam-se soluções para o amor. Relações afetivas são complicadas e nem todo mundo aceita bem um término (as mina pira nos término, mano). Nesse momento, em que um profissional sério deveria orientar @ consulente a viver o luto e renovar sua autoestima, temos a chance de aparentarmos ser algo que não somos: solucionadores de problemas. Lembremo-nos que o oráculo é uma ponte para o panorama presente com indicações do futuro decorrentes desse mesmo presente. Não mais que isso, não além disso. 
Fica aqui minha reflexão sobre o tema. Eu ainda sou (e creio que serei por muito tempo ainda) um Cartomante. Todos os demais títulos que porventura foram criados decorrem desse e, para evitar desgaste e fadiga, é assim que me denomino. Que possamos, todos que praticam essa arte, lembrarmo-nos que não basta fechar os olhos ou atacar um estelionatário, um charlatão que se passa por profissional. Não adianta de nada negar o título Cartomante em favor de Tarólogo, se ao fim e ao cabo no imaginário social tudo é a mesma coisa.
Curandeiro é médico? Não, mas já foi, e para muitos ainda é. Advogado é doutor? Não, a menos que tenha doutorado, mas é tratado assim. E muitos "médicos" e "doutores" ainda pululam por aí. Se profissões tão antigas, legitimadas e laicas sofrem ainda estigmas generalizantes, que dirá da profissão de Cartomante, cujo imaginário ainda não foi desfeito graças à iniciativas tanto de profissionais quanto dos charlatães
Tudo vira a mesma coisa, MESMO.
Para assistir a matéria, clique aqui: 

Abraços a todos.

12 comentários:

  1. Querido Emanuel,

    Faço das tuas as minhas palavras.
    Adorei o seu post de hoje.

    Namastê!

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    1. Oi meu anjo, muito obrigado. Se não nos posicionarmos diante dos fatos, não podemos exigir o respeito que merecemos. E merecemos todo o respeito pelo trabalho que desenvolvemos.
      Um grande beijo, saudades, viu?

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  2. Eu penso na carta da Raposa, sabe,ela aproveita a oportunidade, enquanto existir gente preguiçosa e parada na vida que espera dinheiro e amor cair do céu e busca solução mágica p td, vai existir sempre um pastor, vidente, ou charlatão p se aproveitar disso #FATO.

    Bjo Manu ;)

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    1. Pois é, Michelle, você citou um fato interessante. Tarô não é religião, mas quem cai nesse tipo de conversa vê nosso ritual como religioso e/ou veiculado a alguma religião. Tá na hora de desassociar, não tá? Um beijo!

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  3. Agora que eu vi que a foto do seu perfil foi tirada lá na casa dos meus pais!!! :-)))

    Manu, falou e disse... Eu não tenho a menor paciência para este tipo de programa, aliás, pra TV em geral... Acho que firmo tanto o meu pensamento para só atrair os clientes que estão em harmonia com o meu trabalho e comigo, que não me aborreço muito (graças aos deuses todos). Na verdade, poucas vezes eu fui olhada de banda em função de trabalhar com o tarot, mas sei que muitos colegas passam por isso e que isso não é nada bom para a profissão em si. Sigamos fazendo o nosso bom trabalho e divulgando o que há de bom neste caminho.

    beijão e saudade!

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    1. Siiiiim, a foto é lá de São Lourenço! :D

      Pois é Clau. Eu também nada tenho a reclamar dos meus clientes. Alguns são mais difíceis, outros mais tranquilos, mas isso é próprio do trabalho com pessoas. Qualquer prestador de serviços tem seus bad days, é normal.
      Contudo, estamos diante de um panorama que teima em permanecer. Como se todos nós dividíssemos o mesmo balaio de pessoas sem caráter. Eu sempre me lembro de uma frase do Giancarlo Schmid: "A gente passa. O Tarô permanece." e é fato; mas, enquanto eu estiverpor aqui nesse mundo de meus Deuses, vou fazer valer aquilo que amo. Quer falar do Tarô fala; mas saiba do que está falando.
      Beijo Cacau! Saudade aqui é mato!

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  4. Mas também creio que essas reportagem visam denegrir a nossa profissão, tentando fazer com os que ainda relutam em procurar um profissional pensem melhor a respeito do oráculo e sua real eficácia quando tratado com profissionalismo.Bjs!

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    1. Então, querido, mas estamos diante de uma faca de dois gumes. Se ainda existem profissionais assim, é porque o mercado tem um espaço para eles. E isso é responsabilidade nossa, também. A que ponto estamos defendendo o espaço que ocupamos e, a propósito, qual é mesmo o espaço que ocupamos? Fico pensando.

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  5. Como disse a Cacau, ai em cima..."Sigamos fazendo o nosso bom trabalho e divulgando o que há de bom..."
    bjos Manu

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    1. Vamos todos, né Regina? Mas sabendo exatamente onde estamos pisando, porque podemos. Um beijo!

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Quando um monólogo se torna diálogo...