domingo, 26 de setembro de 2010

Apêndice A - O Comportamento do Tarô: seu uso na Arte da Adivinhação

Excerto retirado do site Hadnu.com. O texto dispensa comentários imediatos.



O Comportamento do Tarô
Tendo sido estabelecido à conclusão deste ensaio que as cartas do Tarô são indivíduos vivos, convém considerar as relações que são obtidas entre elas e o estudante.

Façamos uma analogia com uma debutante no seu baile de apresentação à sociedade. Ela é apresentada a setenta e oito pessoas adultas. Supondo-se que se trate de uma garota particularmente inteligente, de educação social bastante elevada, ela poderá saber tudo a respeito da posição e características gerais dessas pessoas. Isto, entretanto, não implicará em  conhecimento real de qualquer uma delas; ela não disporá de meios de afirmar como uma ou outra pessoa  reagirá em relação a ela. No máximo, será capaz de conhecer apenas uns poucos fatos  dos quais deduções podem ser feitas. É improvável, por exemplo, que  V. C. vá se esconder num porão se alguém acha que há um gatuno na casa. É improvável que o bispo vá se abandonar aos tipos mais espalhafatosos de blasfêmia.

A posição do estudante do Tarô é bastante semelhante. Neste ensaio e nestes desenhos é feita uma análise do caráter geral de cada carta; mas o estudante não poderá alcançar qualquer apreciação verdadeira das cartas sem observar o comportamento delas durante um longo período. Só poderá atingir uma compreensão do Tarô mediante a experiência. Não lhe será suficiente intensificar o estudo das cartas como coisas objetivas  -  terá que empregá-las; terá que viver com elas, e elas, também, têm que viver com ele. Uma carta não está isolada de suas companheiras. As reações das cartas, sua interação mútua, precisam ser embutidas na própria vida do estudante.

Então como deve ele usá-las ? Como deve ele misturar a vida delas à sua ? A maneira ideal é a contemplação, mas esta envolve iniciação de um grau tão elevado que é impossível descrever o método aqui, não sendo este, tampouco, nem atraente nem adequado à maioria das pessoas. A maneira prática e ordinária é a adivinhação.

O método técnico tradicional de adivinhação pelo Tarô se segue, tendo sido extraído de O Equinócio, vol. I, n. 8, e sua publicação é autorizada por Frater O. M.  Adeptus Exemptus.



A  Significadora

1. Escolha uma carta para representar o consulente, fazendo uso do teu conhecimento ou tua avaliação mais de seu caráter do que se apoiando em suas características  físicas.

2. Tome as cartas em tua mão esquerda. Na mão direita empunhe o bastão sobre elas e diga: Invoco a ti,  I A O para que envies  H R U, o grande Anjo que preside às operações desta  Sabedoria Secreta para que ele pouse sua mão invisivelmente sobre estas consagradas cartas da arte, que por meio disso possamos obter conhecimento verdadeiro de coisas ocultas, para a glória de teu  Nome inefável. Amém.

3. Entregue as cartas ao consulente e convide-o a  pensar na indagação atentamente e fazer o corte.

4. Pegue as cartas tal como cortadas e as retenha para o procedimento subseqüente.

Primeira operação

Esta mostra a situação do consulente na ocasião na qual ele o está consultando.

1. As cartas estando à tua frente, faça um corte colocando a metade do alto à esquerda.

2. Faça dois novos cortes, um para cada pilha de cartas, da direita para esquerda.

3. Estas quatro pilhas de cartas representam  I H V H, da direita para a esquerda.

4. Encontre a carta significadora. Se ela estiver no maço da Yod, a indagação se refere a trabalho, negócios, etc.; se estiver no maço da Hé, refere-se a amor, casamento ou prazer; se estiver no maço da Vau, a indagação se refere a problemas, perda, escândalo, brigas, etc; se estiver no maço da Hé final, a indagação se refere a dinheiro, bens e assuntos puramente materiais.

5. Pergunte ao consulente o objeto de sua indagação: se errado, abandone a adivinhação.

6. Se certo, espalhe o maço que contém a significadora, com a face para cima. 
Compute as cartas a partir do consulente na direção em que ele as observa. 
O cômputo deve incluir a carta a partir da qual você o iniciou. 
No caso de Cavaleiros, Rainhas e Príncipes, conte 4. 
No caso de Princesas, conte 7. 
No caso de Ases, conte 11.
No caso de cartas menores, compute de acordo com o número. 
No caso de trunfos, conte 3 quando se tratar de trunfos dos elementos; 9 quando se tratar de trunfos planetários;   
12 quando se tratar de trunfos zodiacais.
Componha uma “história” destas cartas. Esta história é aquela do início da questão.

7. Emparelhe as cartas de cada lado da significadora, em seguida as externas e assim por diante. Componha uma outra “história”, que deve suprir os detalhes omitidos na primeira.

8. Se tal história não for absolutamente precisa, não desanime. Talvez o próprio consulente não saiba de tudo. Mas as linhas principais devem ser formuladas com firmeza, com retidão, ou a adivinhação deve ser abandonada.

Segunda operação - Desenvolvimento da Questão

1. Embaralhe as cartas, faça a invocação adequadamente, e deixe que o consulente faça o corte como antes.

2. Distribua as cartas em doze pilhas, para as doze casas astrológicas do céu.

3. Decida-se quanto à pilha em que deverá ser encontrada a significadora, por exemplo, na sétima casa se a questão disser respeito a casamento, e assim por diante.

4.  Examine a pilha escolhida. Se a significadora não estiver aí, tente uma casa cognata. Em caso de não encontrar novamente a significadora, abandone a adinhação.

5. Faça a leitura da pilha, computando e emparelhando as cartas como antes.

Terceira Operação - Mais um Desenvolvimento da Questão

1. Embaralhe, etc., como antes.

2. Distribua as cartas em doze pilhas para os doze signos do zodíaco.

3. Faça a adivinhação das pilhas apropriadas e proceda como antes.

Quarta operação - Penúltimos Aspectos da Questão

1. Embaralhe, etc., como antes.

2. Encontre a significadora. Coloque-a sobre a mesa. Faça com que as trinta e seis cartas seguintes formem um círculo em torno dela.

3. Compute e emparelhe as cartas como antes.

(Note que a  natureza de cada decanato é mostrada pela carta menor atribuída a ele e pelos símbolos dados em  Liber DCCLXXVII, cols. 149-151). 

Quinta Operação - Resultado Final

1. Embaralhe, etc., como antes.

2. Distribua as cartas em dez pilhas na forma da Árvore da Vida.

3. Decida-se quanto à  pilha em que deva estar a significadora, tal como antes, mas o insucesso neste caso não implica necessariamente na perda da adivinhação.

4. Compute e emparelhe as cartas como antes.

(Note que não se é capaz de dizer em que parte da adivinhação ocorre o tempo presente. Geralmente Op. I parece indicar a história passada da questão, mas nem sempre. A experiência ensinará. Às vezes uma nova corrente de grande ajuda pode mostrar o momento da consulta.

Devo acrescentar que em assuntos materiais este método se revela extremamente valioso. Tenho sido capaz de resolver os problemas mais complexos nos mínimos detalhes.  O. M.)

É absolutamente impossível obter resultados satisfatórios deste ou de qualquer outro sistema de adivinhação sem a  necessária e perfeita presença da  Arte. Trata-se do mais sensível, difícil e perigoso ramo da magia. As condições necessárias, acompanhadas de um amplo exame comparativo de todos os importantes métodos em uso, são descritas e discutidas em detalhe em  Magick, capítulo XVII.

O abuso da adivinhação tem sido responsável, mais do que qualquer outra causa, pelo descrédito de que toda a matéria da magia se tornou alvo, quando Mestre Therion empreendeu a tarefa de sua reabilitação. Aqueles que não dão importância a suas advertências e profanam o Santuário da Alta Magia não terão senão a si mesmos para se culpar pelos desastres formidáveis e irremediáveis que os destruirão infalivelmente. Próspero é a resposta de Shakespeare ao Dr. Fausto.



Características dos Trunfos Quando são Usados

0
CONHECE O NADA ! 
TODOS OS CAMINHOS SÃO LÍCITOS À INOCÊNCIA.
A LOUCURA PURA É A CHAVE DA INICIAÇÃO.
O SILÊNCIO ROMPE O ARREBATAMENTO.
NÃO SÊ HOMEM OU MULHER, MAS AMBOS EM UM.
SÊ SILENTE, BEBÊ NO OVO AZUL, QUE TU 
POSSAS CRESCER PARA PORTAR A LANÇA E O GRAAL !
PERAMBULA SÓ, E CANTA ! NO PALÁCIO DO REI 
SUA FILHA ESPERA POR TI.

Em assuntos espirituais, O Louco significa idéia, pensamento, espiritualidade, aquilo que se empenha para transcender a terra. Nos assuntos materiais ele pode, se mal dignificado, significar loucura, excentricidade ou mesmo mania.

Mas esta carta essencialmente representa um impulso ou impacto original, sutil, súbito que provém de uma região completamente estranha.

Todos esses impulsos são corretos, se corretamente recebidos e a boa ou má interpretação da carta depende inteiramente da atitude correta do consulente.

I
O Verdadeiro Eu é o significado da Vontade Verdadeira: 
conhece a Ti mesmo mediante Teu Caminho.
Calcula bem a Fórmula de Teu Caminho.
Cria livremente; absorve jubilosamente; divide intencionalmente;
consolida completamente. 
Trabalha, Onipotente, Oniciente, Onipresente,
na e para a Eternidade.

Perícia, sabedoria, habilidade, elasticidade, artifício, astúcia, engano, furto. Por vezes sabedoria ou poder ocultos, por vezes um rápido impulso, “uma onda cerebral”. Pode implicar em mensagens, transações de negócios, a interferência do saber ou a inteligência no assunto à mão.

II
Pureza é viver somente para o Supremo; e o 
Supremo é Tudo; sê tu como Ártemis para Pã.  
Lê no Livro da Lei, e atravessa o 
véu da Virgem.

Pura, exaltada e graciosa influência penetra a matéria. Por conseqüência, mudança, alternância, aumento e diminuição, flutuação. Há, entretanto, uma suscetibilidade de ser levado pelo entusiasmo; pode-se ficar “lunático” a não ser que se mantenha cuidadoso equilíbrio.

III
Esta é a Harmonia do Universo, que o Amor
una a Vontade para criar com a Compreensão
daquela Criação: compreende tua própria 
Vontade. 
Ama e deixa amar. Regozija em toda forma do amor,
e obtém teu êxtase e teu alimento dela.

Amor, beleza, felicidade, prazer, sucesso, realização, boa fortuna, cortesia, elegância, volúpia, ociosidade, dissipação, deboche, amizade, gentileza, deleite.

IV
Verte água sobre ti mesmo: assim serás 
uma Fonte para o Universo.
Descobre tu mesmo em toda Estrela.
Conquista toda possibilidade.

Guerra, conquista, vitória, conflito, ambição, originalidade, confiança jactanciosa e megalomania, inclinação à disputa, energia, vigor, teimosia, impraticabilidade, precipitação, mal-humor.

V
Oferece a ti mesmo Virgem ao Conhecimento e Conversação 
de teu Santo Anjo Guardião. Tudo o mais é uma cilada.
Sê atleta com os oito membros da Yoga: pois sem estes 
não estás disciplinado para nenhuma luta.

Força obstinada, labuta, resistência, placidez, manifestação, explicação, ensino, bondade, ajuda dos superiores, paciência, organização, paz.

VI
O Oráculo dos Deuses é a Voz de Criança do Amor
em Tua própria Alma; ouve-o.
Não dá atenção à Voz-Sereia do Sentido, ou à Voz-
Fantasma da Razão: repousa na Simplicidade e escuta
o Silêncio.

Abertura à inspiração, intuição, inteligência, segunda visão, infantilidade, frivolidade, pensamento divorciado das considerações práticas, indecisão, auto-contradição, união em grau superficial com os outros, instabilidade, contradição, trivialidade, o “sabichão”.

VII
A Questão do Abutre, Dois-em-Um, comunicada;
esta é a Carruagem do Poder.
TRINC: o último oráculo.

Triunfo, vitória, esperança, memória, digestão, violência na manutenção de idéias tradicionais, o “duro de matar”, desumanidade, desejo de destruição, obediência, fidelidade, autoridade sob autoridade.

VIII
Equilibra em relação a cada pensamento seu exato oposto.
Pois o Casamento destes é o Aniquilamento da Ilusão.

Justiça, ou melhor  justesse, o ato do Ajustamento, suspensão de toda ação aguardando decisão; em assuntos materiais pode se referir a ações judiciais ou  processos. Socialmente, casamento ou  contratos de casamento; politicamente, tratados.

IX
Perambula só; portando a Luz e teu Cajado.
E seja a Luz tão resplandecente que nenhum homem te veja.
Não se comove com o que quer que seja externa ou internamente:
mantém o Silêncio em todos os caminhos.

Iluminação proveniente do interior, impulso secreto do interior; planos práticos derivados em conformidade com isso. Afastamento da participação nos acontecimentos correntes.

X
Segue tua Fortuna, despreocupado para onde ela te leva.
O eixo não se move: atinge isso.

Mudança de fortuna (o que geralmente significa boa fortuna porque o fato da consulta implica em ansiedade ou descontentamento).

XI
Abranda a Energia com Amor; mas deixa o Amor devorar 
todas as coisas. 
Venera o nome ______,  quadrado, místico,
maravilhoso, e o nome de Sua Casa 418.

Coragem, força, energia e ação,  une grande passion; refúgio da magia, o uso de poder mágico.

XII
Não permite que as águas em que viajas te banhem.
E, tendo chegado à praia, planta a
Vinha e regozija sem pudor.

Sacrifício imposto, castigo, perda fatal ou voluntária, sofrimento, derrota, fracasso, morte.

XIII
O  Universo é Mudança; toda Mudança é o 
efeito de um Ato de Amor; todos os Atos de Amor contêm 
Alegria Pura. Morre diariamente. 
A  morte é o ápice de uma curva da Vida-serpente:
contempla todos os opostos como complementos necessários,
e regozija.

Transformação, mudança, voluntária ou involuntária, num caso ou  outro desenvolvimento lógico das condições existentes, ainda que talvez súbito e inesperado. Morte ou destruição aparente, embora esta interpretação seja ilusão.

XIV
Verte o teu todo livremente do Vaso em tua mão
direita e não perde gota alguma. Não tem a tua mão esquerda
um vaso ? 
Transmuta tudo integralmente na Imagem de tua Vontade,
trazendo cada um ao seu verdadeiro símbolo de Perfeição.
Dissolve a Pérola na taça de vinho; bebe e
torna manifesta a Virtude dessa Pérola.

Combinação de forças, realização, ação baseada em cálculo preciso; o caminho da fuga, sucesso depois de manobras elaboradas.

XV
Com teu Olho direito cria tudo para ti mesmo, e com 
o esquerdo aceita tudo que seja criado de outra maneira.

Impulso cego, irresistivelmente forte e inescrupuloso, ambição, tentação, obsessão, plano secreto prestes a ser executado; trabalho duro, obstinação, rigidez, descontentamento doloroso, resistência.

XVI
Derruba a fortaleza de teu Eu Individual
de modo que tua Verdade possa brotar livre 
das ruínas.

Disputa, combate, perigo, ruína, destruição de planos, morte súbita, fuga da prisão.

XVII
Usa toda tua energia para governar teu pensamento: queima 
teu pensamento como a Fênix.

Esperança, ajuda inesperada, clareza de visão, realização de possibilidades, discernimento espiritual com maus aspectos, erro de julgamento, devaneio, desapontamento.

XVIII
Deixa a Ilusão do Mundo passar por ti, despercebida,
à medida que caminhas da Meia-noite para 
a Manhã.

Ilusão, engano, confusão, histeria, mesmo insanidade, devaneio, falsidade, erro, crise, “a hora mais negra antes da aurora”, a iminência de mudança importante.

XIX
Emite tua luz a todos sem dúvida;
as nuvens e sombras não importam para ti.
Faz do Discurso e do Silêncio, da Energia e da Quietude
formas gêmeas do teu  jogo.

Glória, ganho, riquezas, triunfo, prazer, franqueza, verdade, despudor, arrogância, vaidade, manifestação, recuperação da doença, mas por vezes morte súbita.

XX
Seja todo Ato um Ato de Amor e de Veneração.
Seja todo Ato o Fiat de um Deus.
Seja todo Ato uma Fonte de irradiante Glória.

Decisão final com respeito ao passado, corrente nova com respeito ao futuro; representa sempre a tomada de um passo definido.

XXI
Trata o tempo e todas as condições do Evento como Servos
de tua Vontade, designados para apresentar o Universo a
ti  sob  a  forma  de  teu  Plano.
E : bênção e adoração ao profeta da
graciosa Estrela.

O assunto da própria questão, síntese, o desfecho da matéria; pode significar demora, oposição, obstinação, inércia, paciência, perseverança, teimosia persistente na dificuldade. A cristalização de toda a matéria envolvida.



3 comentários:

  1. Adorei o texto de nosso amado Crowley, perfect!

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  2. Lindo post, continue...
    sempre bom de ler, sempre esclarecedor!
    beijos, bom fim de semana!!

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  3. Olá Senhor da Vida! Crowley dispensa comentários, ainda que ache alguns de seus posicionamentos excêntricos demais para mim. Mas, fatalmente, é um Ás quando falamos em Tarot!
    Oi Juli, obrigado! Espero que continue gostando!

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Quando um monólogo se torna diálogo...