quinta-feira, 1 de março de 2012

Compaixão e uma colher de xarope, por favor.



Olá pessoal. Eu tenho refletido muito sobre uma palavra em especial. Compaixão. Embora pensemos que ela soe como sinônimo de misericórdia, piedade, compaixão é outra coisa. O bacana da Língua Portuguesa é isso: nos meandros de um bom dicionário, encontramos não só novos sentidos, como novos caminhos imiscuídos em tais sentidos.
Bora lá, entender o que diferencia essas três palavras e porque compaixão é quase sinônimo de Tarô.
 Conforme o dicionário Aurélio, piedade é 
s.f. Compaixão, dó, pena, comiseração. / Teologia Virtude que leva a render a Deus a honra que lhe é devida. / Devoção, afeição e respeito pelas coisas da religião. // Piedade filial, amor respeitoso aos pais.
Misericórdia é
s.f. Piedade, compaixão, sentimento despertado pela infelicidade de outrem. / Perdão concedido unicamente por bondade; graça. / Punhal que outrora os cavaleiros traziam à cintura no lado oposto àquele em que estava a espada, e que lhes servia para matar o adversário, depois de derrubado, se ele não pedia misericórdia. // Misericórdia divina, atribuição de Deus que o leva a perdoar os pecados e faltas cometidos. // Bandeira de misericórdia, pessoa bondosa, sempre pronta a ajudar o próximo e a desculpar-lhe os defeitos e faltas. // Golpe de misericórdia, o ferimento mortal feito com o punhal chamado misericórdia; o golpe mortal dado a um moribundo. // Mãe de misericórdia, denominação dada à Virgem Maria para significar a sua imensa bondade. // Obras de misericórdia, nome dado a quatorze preceitos da Igreja, em que se recomendam diferentes modos de exercer a caridade, tais como visitar os enfermos, dar de comer a quem tem fome etc. // Estar à misericórdia de alguém, depender da piedade de alguém. // Pedir misericórdia, suplicar caridade.

Compaixão é, para além de sinônimo de piedade (grifo nosso),
s.f. Sentimento de pesar que nos causam os males alheios; comiseração, piedade, dó.



E é aí que começamos a refletir. Compaixão é uma aceitação da dor do outro como se fosse nossa. Mas... Sem ser nossa. É como se vivenciássemos o sofrimento sem, no entanto, sermos responsáveis ou correspondentes a ele.
Parece algo extremamente desagradável, algo extremamente desnecessário, mas não. É justamente o contrário. 
Existem coisas que não temos como explicar. Que, por maior que seja o nosso sofrimento, não conseguimos passar, não conseguimos fazer entender. Pode ser um limite nosso, mas pode ser um limite do interlocutor, também. Se, no primeiro caso, a responsabilidade é nossa e a ação é possível, no segundo caso é praticamente impossível resolver o caso.
A menos que o nosso interlocutor experimente a mesma coisa que nos faz sofrer, ele não irá entender. O limite é dele, é impossível transpor um limite interno sem o desejo do indivíduo de superá-los.
É aí que entra a compaixão. Compaixão é a habilidade de sentir com o outro, sem participar do evento que motiva tal sentimento. Normalmente relacionamos compaixão com a dor, mas não necessariamente estamos falando de qualquer tipo de sentimento negativo. A habilidade reside na capacidade de sentir junto.
Se a piedade e a misericórdia nos levam a entender o sofrimento do outro, a compaixão nos leva a sentir junto. O entendimento é baseado em nossa vivência, em nossa experiência, em nosso background e em nossas projeções. Como naquele caso famoso em que o rapaz num certo programa da Rede GloBBBo foi acusado de estupro, ainda que a jovem que dormiu com ele não tenha se pronunciado a respeito. O entendimento do telespectador visou a proteção da "vítima", mas não pensou se, de fato, a "vítima" teve um "algoz". O entendimento da cena motivou um julgamento que, embora mostre que o telespectador da atração está atento aos fatos que ocorrem, não está suficientemente apto para deixar que as pessoas que participam do programa tomem a frente de suas próprias decisões.  Mas não seria essa uma das prerrogativas para participar do programa?
Esses dois termos, que ainda que possam soar como sinônimos são coisas diferentes, deixam o observador à parte, seguro. Ele só observa e elabora seu julgamento, baseado em prerrogativas que não estão afinadas com o evento. São as experiências do observador sobre uma cena a qual ele não pertence. São suas ideias, são suas acepções do mundo, atuando sobre eventos aos quais ele não tem nenhuma participação. É seguro, é tranquilo. 
Não existe, num caso como esse, nenhum tipo de compaixão. Existe piedade, existe  misericórdia.... mas compaixão é outra coisa.
Compaixão é o que o leva a procurar na sua experiência aquela dor que o teu interlocutor está experienciando. Aquele sentimento que escorre por seus olhos e voz possui um registro em você, e você sabe. 
Não é difícil desenvolver a compaixão. É um desafio e tanto manter esse sentimento em ação quando as coisas não ocorrem como você deseja. Mas não é difícil. Lembra do que disse sobre termos todas as experiências do mundo dentro da gente, incluindo aquelas que execramos? Então. É disso que estou falando - temos todas as experiências do mundo dentro de nós, nada nos é indiferente, nada nos é desconhecido no campo dos sentimentos.
Saberemos exatamente como o outro se sente, se nos abrirmos para isso. Esqueçamos nosso passado, nossas prerrogativas, nossas projeções, nossas noções de certo e errado. Não é por muito tempo, é só pelo tempo suficiente para que aquilo que o outro representa nos preencha. Em algum lugar aí dentro haverá uma ressonância. Em algum ponto você sentiu ou deixou de sentir exatamente aquilo que o outro representa - e por isso ele apareceu na sua vida, para te lembrar das tuas escolhas, aquelas que levaram você a ser exatamente quem você é.
Ok, isso não é compaixão, isso é empatia. Compreender intrinsecamente como o outro se sente. Mas é a partir da empatia que desenvolvemos a compaixão. Ao desenvolvermos a habilidade de sentirmos o que o outro sente, sem participar ativamente do evento, temos aquele distanciamento confortável e necessário, próprio da piedade e da misericórdia, mas com a intenção de atuarmos exatamente no ponto que merece atenção, desprezando todos os demais - eles se resolverão por si mesmos, quando o ponto certo for curado.
Compaixão deveria ser prerrogativa de todo Cartomante. Nenhum cliente, mesmo que o mais curioso, se aproxima de nós a menos que tenha algo a resolver ou curar. E nossa habilidade, como tarólogos e cartomantes que somos, é revelar esse sofrimento e minimizar os danos causados por esse diagnóstico, através da conscientização dos indivíduos sobre suas capacidades de superação e desenvolvimento.
Eu ainda acredito que existe bad people  no mundo, eu não sou criança, eu não sou inocente. Mas eu decido olhar cada pessoa como alguém que pode ir além do que eu vejo à primeira vista.
Seja meu cliente, ou não.
Abraços a todos.

Post Scriptum: A motivação dessa postagem foi o episódio 14 da terceira temporada de Glee. Como não sei se todos os leitores assistem o seriado (mentira, sei que não...), posto aqui a música referente ao episódio e desejo que ela os toque como me tocou. Tendo sido inspirada em um episódio de seriado, a postagem não aprofunda o tema com a perspectiva que este merece. Temos outro texto sobre compaixão aqui no Conversas Cartomânticas e este, da autoria de Marcelo Bueno, em seu blog ZephyrusAlém disso, recomendo a leitura da postagem Om Mani Padme Hum, no blog do meu irmão Euclydes Cardoso Jr., TarotCabala. Confiram.
  






Life's too short to even care at all oh
I'm losing my mind losing my mind losing control
These fishes in the sea they're staring at me oh oh
Oh oh oh oh
A wet world aches for a beat of a drum
Oh

If I could find a way to see this straight
I'd run away
To some fortune that I should have found by now
I'm waiting for this cough syrup to come down, come down

Life's too short to even care at all oh
I'm coming up now coming up now out of the blue
These zombies in the park they're looking for my heart
Oh oh oh oh
A dark world aches for a splash of the sun oh oh

If I could find a way to see this straight
I'd run away
To some fortune that I should have found by now

And I run to the things they say could, restore me
Restore life the way it should be
I'm waiting for this cough syrup
To come down

Life's too short to even care at all oh
I'm losing my mind losing my mind losing it all

If I could find a way to see this straight
I'd run away
To some fortune that I should have found by now

So I run to the things they said could, restore me
Restore life the way it should be
I'm waiting for this cough syrup
To come down


One more spoon of cough syrup now, oh
One more spoon of cough syrup now, oh

Um comentário:

  1. Perfeito...
    É isso que eu sentia quando algumas pessoas me contavam seus problemas...

    ResponderExcluir

Quando um monólogo se torna diálogo...