quarta-feira, 15 de junho de 2011

Conversas Cartomânticas: Luciana Onofre e O Louco




Olá pessoal. Iniciando nossos trabalhos da blogagem coletiva proposta no Facebook e anunciada aqui, cá temos o trabalho da Luciana Onofre, do blog Taroteando
Ela, por ela mesma:
Uma taurina com ascendente em Leão. Nascida na Colômbia e habitante da Terra Brasilis atualmente. Pesquisadora do Sagrado Feminino, dos  seus mitos e mitologias. Theateísta. 
Taróloga por paixão, escolha e fascinação, focando em especial aos Oráculos do Feminino. 
Escreve em vários espaços ligados a esses temas desde o ano 2000, entre eles os extintos sites Magia da Deusa, PanDea,Santíssimas.org, Magical, Tribos de Gaia. Já colaborou nos sites: Rede Matríztica, Universo EcoFeminino, Crianças Pagãs. Atualmente sua escrita pode ser acessada no Divinare, no blog Taroteando. Ambos espaços dedicados aos Oráculos e ao Tarot. Assim como no Mamães Matrízticas, dedicado ao mundo de casa, filhos e "fazeres mágicos" no Vassouras & Bruxas. Coordena junto a outra mulheres, o grupo matriztico circular, Ciranda das Mulheres Sábias, com nichos e encontros em São Luis/MA, São Paulo, e Santa Catarina/ Brasil. 
Tradutora Pública e Interprete Comercial do Estado do Maranhão/Brasil, e professora de Espanhol.
A Luciana tem uma visão visceral, telúrica, familiar e vivencial dos Arcanos, algo muito bonito de sentir! Espero que gostem, como eu gostei!


Próxima postagem: O Mago, por Giancarlo Schmid, em 18 de junho.

Abraços a todos.

Meu lindo amigo, o sapiente Emanuel, do Conversas Cartomânticas [o admiro muito e é algo sincero] convocou os amigos tarologistas a participar desta blogagem coletiva, que terá com certeza mil e uma nuances, mil e uma apreensões, e uma riqueza ímpar de valores e conteúdos sobre o Tarot.
Meu Arcano escolhido foi O Louco, por um amor que lhe tenho, por uma relação intrínseca, visceral que há entre minha vida, meu percurso e ele.


Tarot of the Trance / U.S. Games

O Louco, andarilho sem idades pode ser entendido como parte da Roda do Destino, como parte dum Dependurado, como parte de qualquer Arcano, pois ele surge sem número exatamente para isso: para ser o que for necessário representar ao longo de toda nossa jornada... Ou jornadas.  Não apenas ser apreendido como esses dois arcanos, parte deles, ou passagem deles, mas se formos analisar com delicadeza, ele pode ser parte coadjuvante ou principal de qualquer um.
Ele é um eterno viajante, com eternos caminhos, de idas e voltas, nunca sabemos quando nos deparamos com ele [seja na vida real e concreta, ou como uma leitura de cartas] se ele tudo nos dirá, se ele permitirá que saibamos por quais paragens já andou, quais coisas viu, de qual ponto da estrada ele vem ou a qual vai... O entendo como uma profunda incógnita.
Ao longo dos meus 41 anos eu o vi muitíssimas vezes, encarnando O Louco Demente, O Louco Andarilho, O Louco Sonhador, O Louco Vagabundo, O Louco Ensandecido, O Louco Inocente, O Louco Eremita, O Louco Destino... Há tantos Loucos em fim, e sem eles acordar seria monótono e previsível.
Se ele surge ao lado dum Carro afoito, pode ser que o Destino o colocou ali para que usemos o freio e demos um tempo, ou não e atropelemos a vida de algum incauto que teimou em passar na nossa frente ou atravessar a estrada... Ela nada tem com isso, com o que faremos, pois ele é apenas um Louco, a decisão é nossa, o Carro é nosso, mas O Louco é o destino avisando.
Se ele teima em ficar com um Dependurado, o vejo como um acontecido feliz: este Louco fala, diz com sua fala mansa que sair da estrada para apenas encarnar o Louco Despreocupado, O Louco Deleitador,  é a melhor ação para evadir uma emboscada que quiçá nossa presa, nosso medo colocou no caminho e dela somos reféns... Dar uma de Louco quando Dependurados é quiçá o melhor sistema para aproveitar esse breque da vida, apenas descobrindo com olhos desprovidos de tudo, o mundo que sempre esteve aqui, ao nosso lado.
Dime con quién andas y te diré quién eres, e isto jamais foi tão assertivo como quando aplicado ao arcano O Louco
Quem lhe fizer companhia dele poderá obter um aliado, um novo olhar, um insight terrível ou um final fatal, pois ele é aquele que tudo pode vir-a-ser, aquele que tudo já foi, ou aquele que nada tem a ser, e são as cartas que o circundam, ou que o avizinham aquelas que sofrerão sua influência...
Não é atoa que nos naipes de jogo ele aparece como o Curinga, aquela carta que muita coisa pode ser.
É na sua infinita liberdade "assistida" [sempre há aquele animalzinho mágico de poder, xamânico a rondá-lo] que jaz a facilidade inerente ao Louco de se mimetizar ao entorno e passar desapercebido em sua caminhada secular. Mas desapercebido não quer dizer invisível, ou inerte, ele sem dúvida alguma sempre indica um desapego iminente, seja para com a vida em si [e aqui mora a Morte], seja para com um modo de vida [O Julgamento?], seja para com alguém [os Enamorados], ou a ruptura de laços e empatias para com um sistema [o Imperador, o Hierofante]... Mas em suma,  O Louco não é aquele bobo da corte inofensivo, um bufão simpático inativo, ele é operante!

O perigo é deixar que este Louco ande sem o nosso eixo pessoal, ou pior ainda, dilua nosso eixo pessoal, que dum estágio lúdico, recreativo, de prazer e deleite para com a vida, para com apenas deixar-se ir, o Louco se torne uma muleta emotiva, sensorial, mental e espiritual que usamos como meio de justificativas quando não sabemos lidar com essas esferas da vida: não sabemos amar, fazer parte, fixar ideias, evoluir pensamentos, concretizar sonhos, vivenciar um credo... 

Quando assim, O Louco encarna a pior das suas manifestações, mas também é ingrato culpá-lo pelas nossas solidões, pela fuga dos amigos ao avistar nossa presença, pelas falas coletivas sobre o que somos e fizemos, pois é escolha nossa manifestar esse aspecto dúbio e obscuro do Louco...

Podemos desejar um Louco quando tentamos outros caminhos, para assim encarar o quem vem pela frente sem presas ou preocupações, apenas aproveitando a nova chance, sendo o neófito que devemos ser quando o propósito é aprender.

Mas a maioria das vezes O Louco apenas quer assinalar um estágio em nossas vidas onde "In mundo privato" temos que encarar nossos demônios a sós, tecer nossos diálogos internos e reflexões, ver com nossos próprios olhos o Mundo e aprender com quedas e estradas sem fim a trilha da Vida. Onde devemos ter aprendido com toda a bagagem que ganhamos nesse caminho, o momento de partir, de voltar, de seguir em frente.


Magical Forest, Tarot of the Master, Bruegel Tarot/Lo Scarabeo; Tarot of White Cats/Llewellyn; Tarot Lukumi/Dal Negro; Paulina Tarot/U.S. Games


Meu amor pelo Louco mora na capacidade excepcional que ele tem de ser ele mesmo, sem vergonhas, sem medos aos parâmetros impostos pelo status quo, a seu singularidade exótica retrata como vejo a mim, aos meus e a vida... 
Eu gosto de ser este Arcano, e aceito os desafios e os perigos que ele traz consigo... Sem ele, penso que tudo teria sido bem mais fácil em meus dias, mas sem ele eu não teria aprendido tanto a criar meus eixos pessoais, a ceder quanto ao meu ímpeto de largar tudo e seguir sem eira nem beira pela vida... E ainda assim, após ter permitido a civilização do meu Louco, ainda sou ele, e isso me faz feliz, por todos os demais aspectos que ainda são latentes, que ainda são palpáveis, nele e em mim.

Eis o meu Louco.

Sempre grata,

Luciana Onofre


Imagens: Luciana Onofre/ Acervo pessoal.

3 comentários:

  1. Amo os bichos que acompanham O Louco... sempre mostram um pedacinho de entendimento das coisas... são uma boa dica!

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  2. Adorei o texto! Também tenho uma ligação muito forte com o Louco, me dou muito bem com os Loucos que encontro estrada a fora...

    Eles sempre nos pedem para desencanar, aproveitar o momento, ir, não pensar tanto... Muitas vezes esses conselhos vem bem á calhar!

    Bjos á todos do blog, tá td muito lindo!

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  3. "mas louco é quem me diz que não é feliz"...
    abrace o Louco, é isso aí!

    adorei o texto.

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Quando um monólogo se torna diálogo...