sábado, 18 de junho de 2011

Conversas Cartomânticas: Giancarlo Kind Schmid e o Mago



Olá pessoal. Dando seguimento a nossa blogagem coletiva, segue abaixo o texto do Giancarlo Kind Schmid sobre o Mago. O Gian tem uma abordagem profunda e delicada de cada Arcano, sempre trazendo suas realidades para o cotidiano de uma forma prática e precisa, não deixando de nos apresentar a perspectiva histórica que permeia a construção do conceito do mesmo.

Próxima postagem: A Sacerdotisa, por Nelise Carbonari, em 21 de junho. 

Giancarlo por ele mesmo:
Giancarlo Kind Schmid, 41, é capixaba de Vitória (ES), de família petropolitana, morando em Petrópolis (RJ) desde tenra idade. Desde cedo inclinou-se às pesquisas, interessando-se por história, esoterismo e psicologia. Tem formação em Florais de Bach, Reiki Usui (nível 3A), Teoria Junguiana e é licenciado em Literaturas e Língua Portuguesa pela UNESA. Iniciou-se em algumas fraternidades esotéricas como a Ordem Rosacruz (AMORC), Colégio Druídico do Brasil e a Tradicional Ordem Martinista (TOM). Desenvolve desde os anos 90 a prática da "taroterapia" cuja proposta é o uso do tarô para o autoconhecimento e superação pessoal (a partir da integração do tarô com os florais, psicologia junguiana, meditação, análise dos sonhos, etc). Congressista e palestrante, participou de importantes encontros de tarólogos no país, levando suas práticas e experiências a conhecimento do público. Atuou em SP, RJ, MG, PB e ES profissionalmente. Escreve regularmente artigos e diversos textos para sites, blogs, jornais e revistas. Dirigiu o programa "Razões da Alma" (esoterismo, cultura e filosofia) pela TV Cidade Imperial. Mantém o portal Taroterapia (www.taroterapia.com.br), o Guia de Tarô (www.sobresites.com/taro) e o blog "Alpha Symbolon"
(http://alphasymbolon.blogspot.com/). É um ativo propagador do tarô no Brasil e países lusófonos. Atende regularmente (presencial e on line) e ministra cursos e workshops.

Escolhi “O Mago” a partir da interessante proposta sugerida pelo amigo Emanuel (de 22 autores escreverem sobre um arcano de sua escolha), companheiro de comunidades virtuais. Explanar sobre esse arcano é ao mesmo tempo fascinante e desafiador, pois é uma lâmina instigante, rica em sua alegoria e simbologia.

I O MAGO

Fiat lux (faça-se a luz)! 
Gênesis 1:3.
Um imberbe rapaz vestido despojadamente, portando um grande chapéu, tem à sua frente uma mesa na qual estão distribuídas moedas, copos, às vezes uma chaleira, adagas, cartas. O jovem mantém numa das mãos uma moeda e na outra uma varinha, imagem essa relacionada ao ato “mágicko” concebido entre famosas ordem esotéricas que se popularizaram no final do século XIX. Eteilla (Jean-Baptiste Alliette (1738–1791) foi o primeiro a adotar o título ao se assumir como o próprio, ilustrando o primeiro arcano do seu baralho sob o título “Eteilla Consultando”. O mago, segundo as concepções esotéricas, é um manipulador das forças espirituais, um mediador entre o mundo terrestre e o mundo astral, um operador que usa o poder das palavras e dos símbolos para realizar alguns feitos especiais.

O Mago
Visconti-Sforza (século XVI)


O arcano número um já teve muitos nomes: “pelotiqueiro, escamoteador, malabarista, prestidigitador, ilusionista, artesão, saltimbanco, mágico”. Hoje, o conhecemos como “O Mago” - seu título é um atributo a partir da herança ocultista do século XVIII: a magia estava em alta na Europa. Inspirador de muitos ocultistas, o arcano deixou de representar o logro em plena praça pública através da prestidigitação (brincadeira dos copos, das moedas, dos palitos, etc), ato esse difundido largamente durante a Idade Média e Renascença, perdurando entre algumas culturas urbanas até hoje. Ao se assumir “mago”, o arcano 01 ganhou o status de intermediador entre os vários universos, de unificador simbólico, um agente capaz de encantar e seduzir através das palavras e atos, encarnando o próprio poder criativo e a vontade imperativa.
Dois elementos chamam a atenção nesse arcano: o chapéu que se metamorfoseia na lemniscata, ou se preferir, no símbolo algébrico do infinito, e as mãos posicionadas em direção opostas (para cima e para baixo), tomando em cada uma delas um objeto (uma moeda e um bastão ou varinha). Essa última representação veio a estimular o imaginário de muitos ocultistas, relacionando a posição dos braços com a primeira letra do alfabeto hebraico (Aleph - א); se tratava apenas do ato de iludir – enquanto o prestidigitador prendia a atenção do público com uma das mãos, manipulava com a outra. Já a lemniscata vem a se repetir no arcano “A Força”, também inspirada no chapéu da figura. Em sua significância, ver evocar o “eterno vir a ser”.

Mago/Branchus
Tarot Nostradamus (Jean Payen) (1713-1760)

De sua pequena mesa abarrotada de objetos, promete desde “curas para as mais esquisitas doenças até mesmo a fonte da juventude”.  Diverte o público, encanta com suas histórias, trapaceia sordidamente, propõe atividades lúdicas para arrancar dinheiro dos incautos. Essa é a imagem clássica do caixeiro viajante, do vendedor milagreiro ou simplesmente do ilusionista falastrão.

Mago
Tarot de Oswald Wirth (Século XIX)


O Mago “brinca” de Deus. Orbita no mundo das ideias, abre portas e cria situações. Mas, bem como os espetáculos que produz, suas ações são impermanentes e fugazes: a continuidade não é seu forte, apenas a oportunidade, o lance é o que importa. O arcano nos propõe o jogo do “pegar ou largar”, devemos ser rápidos em nossas decisões e hábeis na consecução. É o momento, o agora, aproveitando as condições tal como a frase latina “carpe diem” (aproveite o dia). Qualquer distração é fatal. Objetivos ou metas são necessários para a sedimentação do plano, caso contrário, a chance se esvai. O arcano 01 é dotado de grande destreza e inteligência e espera de nós enorme articulação e presença de espírito ao agirmos. Ação, aliás, é seu nome. 
Dotado de uma natureza pueril/adolescente, “O Mago” nos prega peças quando não sabemos o que queremos. É necessário sabermos para onde queremos ir, onde pretendemos chegar. É, também, o ponto de partida para o encontro com a própria individualidade e a realização do ego.
Personifica o orador, o mágico das plateias, o palestrante, o vendedor ambulante, o marqueteiro, o artista circense. É o conquistador pelas palavras, mágicas e acrobacias. Deste modo, sugere a ação do LOGOS¹, a atuação do pensamento sobre todas as coisas. O próprio médium em seu papel de canalizar as esferas divinas.
Bom de papo, leva todos na conversa. Se você precisar convencer alguém, conseguir atingir rápido seu objetivo, contornar espertamente uma situação ou dar o primeiro passo em algo, esse é o arcano certo! Mas, lembre-se: você não conseguirá manter muito tempo as aparências e nem sustentar prolongadamente suas ações – toda magia tem um tempo muito curto.

NOTAS


¹ Para Heráclito de Éfeso (V a.C.), conjunto harmônico de leis que comandam o universo, formando uma inteligência cósmica onipresente que se plenifica no pensamento humano; no misticismo filosófico de Fílon da Alexandria (I d.C.), no neoplatonismo e no gnosticismo, inteligência ativa, transformadora e ordenadora de Deus em sua ação sobre a realidade.

4 comentários:

  1. Eu sempre penso na canção (meio cafona, assumo): "entra em cena, faz seu número... faz meu gênero, ser seu fã no. 1" do Guilherme Arantes.

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  2. Giancarlo é uma das referencias desse universo maravilhoso que é o do Tarot. Aprendi muito com ele, admiro seus textos.Abs!

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  3. Oi gente, agradeço ao Emanuel pela oportunidade de aqui postar e aos amigos visitantes!

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  4. Excelente texto, em todos os níveis...

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Quando um monólogo se torna diálogo...