domingo, 23 de janeiro de 2011

Blogagem coletiva: Tendo um treco! Arcanos que apavoram



Você é um bom oraculista, conhece seu instrumento, tiradas, símbolos... Mas, sempre tem aquela carta, aquele signo que você não queria que estivesse alí. Então, perguntamos para a primeira blogagem coletiva de 2011: qual arcano te faz ter um treco quando aparece na leitura?


É pessoal, as meninas sempre surpreendem com os temas...
No microssegundo após ler a proposta já tinha minha carta medonha em mente: Dez de Espadas. Ô cartinha encardida!
Contudo, após refletir um bocado, pensei em escrever sobre algumas cartas. As ditas "piores", conforme a literatura que eu conheço, no Tarot, no Baralho Petit Lenormand e no baralho comum.

Sendo o Tarot composto por três estruturas interdependentes, a saber, os Arcanos Maiores, as Cartas da Corte e as Cartas Numeradas, escolhi falar sobre uma carta de cada grupo. Certamente não estou querendo encontrar essas cartas juntas em nenhum momento desta, ou de qualquer outra, encarnação.


Nos Arcanos Maiores, a Torre.Tudo bem que é a carta da cirurgia e da cura, mas vamos combinar que ela é uma carta muito densa. Quatro vezes quatro. O número da matéria ao quadrado. O quadrado do quadrado, a prisão por excelência. Talvez por isso seja relacionada com a Bastilha - e a queda desta. Vocês não sabem o quão chateado eu fiquei quando vi o Tarô Mitológico pela primeira vez, e vi que essa era a carta destinada a Poseidon! Depois eu entendi o que isso queria dizer. Poseidon realmente é ciumento e irascível.


Mas, independente do baralho escolhido, a Torre é muito difícil de ser interpretada de forma leve. Ela tende a tornar a leitura revolucionária, no sentido etimológico de revolver as estruturas criadas pelo consulente para o seu conforto. Acho que foi isso que o Shaman quis dizer com o clipe Fairy Tale (Dá uma olhadinha por volta dos 2'00)



Nas Cartas da Corte, temos duas em especial, mas me dedicarei apenas a uma: Rainha e Valete (Princesa) de Espadas, sendo que falarei desta última. 



O Valete representa a intriga. Quem é que diz que o "que vem de baixo não atinge"? Atinge sim! Que diga a Princesa elaborada por Crowley, que está voltada para cima, ainda que o maior perigo esteja no terreno onde seus pés não encontram apoio!



São sussurros, são ventilações maldosas sobre nossa natureza e comportamento, que nem sempre carecem de fundamento. Por vezes, uma palavra (mal) dita pode dar pano para manga de vestido de noiva cigana! Essa carta pede o comedimento, não só por este ser uma virtude, mas porque, nesse caso, é o único meio de ter alguma chance de sobreviver ao açoite sem osso de uma lingua ferina.



A pessoa representada por um Valete de Espadas nem sempre tem consciência que seus ataques advêm de uma falta de refereciais internos. Afinal de contas, quando passamos a cuidar de nossa própria vida, pouco tempo, ou mesmo tempo nenhum, sobra para cuidarmos da vida dos outros.

Nas numeradas, temos várias para pensarmos, de acordo com a postagem, tenho que escolher a que mais me assusta. Bem, no caso, o Dez de Espadas, a Ruína, para Crowley, é para mim de longe a mais assustadora. Poderíamos falar do cinco e do sete de Ouros, do três e do nove de Espadas, do sete e do oito de Copas, do Dez de Paus; mas como o Dez de Espadas, acho que não temos referência.



Ô cartinha encardida!


Derrota, ruína, falha, perda, escândalo, vexame, tudo o que possa afetar nossa imagem, nosso ego, nossa existência. Acidentes, atrasos, perdas, roubos, ataques inesperados. Complexo de autodestruição. Horrível de se ler!
Seus melhores aspectos decorrem da transformação que isso proporciona em nossas vidas. Tudo vem abaixo para que possamos enxergar o que estávamos fazendo de nós mesmos. É bem o que o Jack faz quando descobre quem é Tyler Durden, em o Clube da Luta. Mete um tiro no meio da boca.



(Ok, se você não viu o filme, saiba que isso não é um spoiler. Nem a frase, nem o vídeo; só assistindo o filme para entender.)


No Petit Lenormand, nem tem muito o que pensar: A carta 08 é de longe a que mais assusta, só de ver! Tanto é que possui mais representações diferentes que qualquer outra carta desse baralho. Pode ser uma vela, uma caveira, mas comumente é um caixão, mesmo. 
No poema da carta, temos, em tradução livre: Caixão, é má sorte / é doença ou morte. / Se o caixão está afastado / menos negativa esta carta é.




A tentativa de suavizar essa lâmina, inclusive, levou alguns artistas a representarem esquifes egípcios. O que, fora a egiptomania que se alastrava pela Europa e pelo mundo na época em que este baralho estava sendo desenvolvido, não tem nenhum sentido.


Um adendo: olha essa versão do Lenormand que eu achei! Inspirado diretamente no Rider-Waite, desenvolvido por Edmund Zebrowski. Muito bacana!


Enfim, essa carta representa morte, doença, perdas, roubos, o que há de denso e negativo na vida e no cotidiano. Contudo, com a 09, o ramalhete, aponta para vivências passadas - ou, no caso de um consulente que não tenha abertura para esse tipo de conversas, fatores inconscientes, possivelmente provenientes da infância, manifestados no tempo de jogo. De qualquer forma, é um resgate para uma posterior limpeza de um espaço psíquico na vida do consulente. Mas uma limpeza que é bem desagradável... Ainda que necessária.




Já nas cartas comuns de jogar, pelo método que minha avó ensinou, as cartas mais complicadas são a Rainha de Espadas - que pode tanto representar a mulher intrigueira quanto a intriga em si -, o 5 de Espadas (doença) e o Sete de Paus invertido (desgosto). Achei por referência à Cartomancia essa carta ilustrada, onde o Cinco de Espadas, mais que doença, tem por nome... Morte. Sem a suavidade do Arcano Maior homônimo.
Creio que seriam essas. Contudo, depois de apresentá-las, é importante ressaltar algo em negrito, itálico e caixa alta: 


1. TODAS AS CARTAS SÃO NECESSÁRIAS AO BARALHO, E É NA MÃO DO BOM CARTOMANTE QUE ELAS DIRÃO A VERDADE, SENDO MAIS SUAVES OU MAIS INCISIVAS, DEPENDENDO DA TIRAGEM UTILIZADA E DA PERGUNTA FORMULADA.
2. TODAS AS CARTAS MOSTRAM-SE RELATIVAS ÀS FUNÇÕES DADAS A ELAS DENTRO DE UM JOGO. 
3. UM BOM CARTOMANTE DEVE TRANQUILIZAR SEU CONSULENTE, PREPARANDO-O PARA TOMAR POSSE DE SUA VIDA APÓS O DIAGNÓSTICO DAS CARTAS, INDEPENDENTEMENTE DESSE DIAGNÓSTICO SER BOM OU RUIM.


Ufa! Recado dado!
Abraços a todos!






10 comentários:

  1. 10 de espadas, rainha de espadas, ce ta de brincadeira, né? rsrsrs

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  2. Incrível como cartas de espadas tendem a ser encardidas. Outro dia eu saí com um "7 de espadas do cão"... E da Torre, a Sarah tem uma frase que eu acho simplesmente A frase: se vc não abre a porta, os Deuses arrancam o teto.
    E sem dúvida, tudo tem seu lugar no esquema das coisas... inclusive essas encardidas!

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  3. Carta encardida é ótima, ha ha ha! Vou levar esse termo pra vida!
    A minha carta detestável é o 5 de espadas, cartinha chata dos infernos!
    Abração!

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  4. Oi Dani, não, não estou de brincadeira. A Rainha de Espadas possui uma iconografia recente - oriunda dos estudos da G.'. D.'. - que a relaciona com as Grandes Mulheres da Bíblia, Ester, em especial: aquela que, por algo maior, rompe com qualquer possibilidade de relacionamentos pessoais. Difícil uma pessoa assim não se tornar petulante ou amarga!
    Quanto ao 10 de Espadas, minha frase para ele é: BOM QUE ACABA.
    E não é Pietra? Imagina quando eu tirei num jogo semestral o Três e o Cinco de Espadas! Fiquei lívido. E tive que engolir a farofa sem suco de viver isso. Mas... BOM QUE ACABOU.
    Eu sempre me lembro quando a Torre sai de uma frase do Paulo Coelho, em Brida: "Certas bênçãos de Deus chegam estilhaçando todas as vidraças". E é bem isso né? (BEM) depois que passa, a gente dá risada.
    Como disse, Gemini, já senti o Cinco de Espadas na pele. Eu me toquei que haviam cartas "encardidas" no baralho depois que li, no Personare, que "Mundo" significa "limpo"; e a última coisa que essas cartas fazem é deixar-nos de mente limpa. Encardem todo o nosso pensamento.
    HSLO, e demais, obrigado pela visita!

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  5. Emanuel, rapaz, agora que você falou da dificuldade destas cartas do naipe de espadas nos deixar com a mente limpa, lembrei que a música que toca na cena final de Clube da Luta é "where´s my mind?". Tudo a ver!

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  6. Adorei tua analise!!!
    Aqui vemos que as espadas (pensamentos) sao mais perigosos que os copos (coraçao).
    Sempre que cai uma carta espadas eu fico confusa, pelo motivo que vc mesmo disse...saber como dizer isso a pessoa que fez a pergunta.
    O legal do espadas è que elas de alguma forma sempre nos faz renascer de alguma forma, mostrando de alguma forma que precisa sofre mto pra poder crescer....
    A torre, sempre me assusta demais! Nao que eu sempre tenha algo a esconder e a dar errado, mas o simples fato dela aparecer eu começa a ficar com medo do que virà hehehehe

    Boa analise ^^
    Deu atè saudade de shaman ihiih

    bjs

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  7. Como sempre, ótimo texto, hein! Infelizmente eu me identifico com a Rainha de Espadas, e sim, confesso que sou amarguinha. O bom é que a gente muda! Você fez uma coisa que eu adoro: relacionar as cartas com filme e música! Aliás o Clube da Luta é sensacional. To sempre por aqui dando uma espiada. =)
    beijos!

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  8. Belo!!! Que texto nota mil!! Não poderia ser diferente é claro!

    Sabes no baralho Cigano a cartinha que me deixa sem ar é o das Perdas... Aqueles ratinhos nada possuem de fofinhos, eles de fato me incutem pavor...
    São tantas coisas o que eles anunciam... Doenças, de todo tipo, perdas de diversos níveis, coisas que perdemos sem sequer ter noção consciente,isso me apavora...

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  9. "Um adendo: olha essa versão do Lenormand que eu achei! Inspirado diretamente no Rider-Waite, desenvolvido por Edmund Zebrowski. Muito bacana!"

    ahahahahahahaha

    bacaníssimo... O.O
    eu tenho uma sensação de estranheza com o naipe de espadas, embora eu saiba que algumas cartas desse naipe têm um significado de aparar algumas coisas necessárias, e eu já tomei muito susto com cartas que me fizeram quase ter um tréco, mas a que eu sempre torço pra não sair é o 5 de copas e essas do tipo "desilusãaaao, desilusão, dança eu, dança vc..." que fazem a gente sentir assim: "gelei e já vi esse fim antes"...

    abraços.

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Quando um monólogo se torna diálogo...