sexta-feira, 6 de abril de 2012

Perda é ganho. Ou: Reflexões sobre a gravidade.

Olá pessoal. Passeando pela blogosfera, deparei-me com um texto do Senhor da Vida sobre a carta de Copas que me gera maior apreensão: o Oito. Desilusão, tristeza, depressão e outros sentimentos de mesma natureza coexistem harmonicamente nessa lâmina (lembremo-nos que os semelhantes se atraem e percorrem a mesma via juntos, de mãos dadas).
Mas uma coisa me chamou a atenção: o baralho que ele utilizou, o Tarô Zen, de Osho.

Oito de Água
Deixando ir
Tarô Zen, de Osho

Nesse baralho, o título da lâmina é "deixando ir".  Uma gota d'água escorre de uma folha. Uma gota anterior derramara-se, provocando ondas no espelho d'água abaixo. Esse é o momento em que não há nada a fazer, a não ser corresponder à expectativa. Como somos seres treinados para desenvolver lutas, conflitos, defendermos nossos pontos de vista e os pontos de vista daqueles com quem nos importamos, é bem complicado aprender a desistir. 
Desistir não significa perda. Desistir é ganho. Soa contraditório? Mas quem nunca ouviu a frase nadar, nadar e morrer na praia ou dar murros em ponta de faca? Existem situações e pessoas que não valem a pena, o esforço, o empenho e a atenção, sendo total desperdício de tempo e energia tentar encontrar algo de bom ou tentar não perder o contato ou a oportunidade. 




Aí vem o apego. Mas por quê? Por que as coisas não podem ser do meu jeito, por que fulano fez isso, por que eu perdi? Sai-se da esfera do agora - a mais adequada a se manter no comando - e segue-se para a esfera do passado, que é perfeito, justamente por ser irretocável. Eu assumo que adoraria refazer um ou dois dias da minha vida. Mas confesso que isso é impossível, e não me gera nenhum arrependimento. Porque naquele momento, era o que o Emanuel daquele momento achava que era o certo a se fazer. Ao invés de colocar o meu agora no passado, aprendo com o passado para construir um agora mais preciso, mais adequado, mais perfeito.
Aprendemos a deixar ir, e com isso sofremos menos. 
Percebamos uma coisa, que não está representada explicitamente na imagem. A gota cai, e não existe nada a se fazer, porque uma força maior a impele a isso. A gravidade. Todos estamos sujeitos a ela, e nem sempre nos lembramos disso. Mesmo porque, não precisamos nos lembrar sempre daquilo que nos afeta a todo instante! Não precisamos nos lembrar de respirar, de pulsar o coração, de digerir os alimentos. São funções autônomas, sensíveis, porém autônomas. Como a gravidade que, a despeito de estarmos felizes ou tristes, confiantes ou desesperados, irá nos afetar da mesma forma, sem piedade ou consideração por nossas emoções.
Oito de Água. A despeito do que você sente, é hora de dar tchau.
Mas, na iconografia desse baralho, temos outra carta afetada por essa mesma força invisível, o Nove de Arco-Íris.

Nove de Arco-Íris
Maturidade
Tarô Zen, de Osho

Curioso que, mesmo sendo a mesma força invisível a propulsora do movimento, o resultado é completamente diferente. Aqui, o fruto maduro cai, não porque é seu desejo; existe ausência de desejo. Aqui, ele cai porque esse é seu momento. Ele está pronto. Não seria o mesmo caso da gota d'água da carta anterior? 
Mesma força, resultados diferentes, porque a disponibilidade de ceder é diferente. Na primeira existe resistência, aqui temos total entrega. Em ambas, a impossibilidade de uma escolha diversa daquela proposta pela Força Maior.
Às vezes, perder é ganhar. 

Abraços a todos, em especial ao Senhor da Vida que motivou essa reflexão.

P.S.: Não esqueçam de participar do questionário do Conversas Cartomânticas. Sabendo o que vocês desejam, o blog será mais agradável a quem realmente importa: vocês. 

4 comentários:

  1. Boa noite...perfeito o texto...
    vou divulgar!!!
    bjs, Marcella Allves

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    1. Oi Marcella, obrigado. Fico feliz que tenha gostado :)

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  2. como assim não tinha lido esse post pra lá de bacana?
    De fato ao relacionar as duas cartas você foi muito feliz, realmente ambas não fazem parte de nossa ação, mas sim da ação do tempo que ao mesmo amadurece ou nos leva para outros caminhos com um propósito igualmente bom, mas infelizmente o deixar ir que pesa. Grande Abraço e otimo fim de semana

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    1. Eu tenho é que lhe agradecer pela reflexão. Obrigado.

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