terça-feira, 12 de março de 2013

Conhecimento versus (?) intuição.

Olá pessoal. Essa postagem é o resultado de conversas no grupo de estudo da Odele Lopes. Esse ás da nossa cartomancia tem nos proporcionado estudos fascinantes, e tem nos levado à profundidade em diversos aspectos, dialogando com os mais diversos baralhos numa linguagem acessível e carinhosa. Meu carinho e gratidão a ela, por tudo o que fez e faz pela cartomancia neste mundo (e nos outros).


Existe um certo preconceito em relação aos profissionais que se utilizam da intuição (somente, ou em grande parte) para efetuar suas leituras. O primeiro problema decorre do fato de ser praticamente impossível avaliar uma leitura que provém de um profissional desses, já que os seus valores e interpretações estão em um nível subjetivo e profundo. Da mesma forma, eu mesmo tenho uma certa reserva com quem lê um livro ou faz um curso e acha que está capacitado para atender ou mesmo dar cursos de cartomancia. É necessário, é fundamental viver o oráculo por um tempo, para entender seus limites e possibilidades, e esses são valores que professor nenhum pode ensinar. Algumas pessoas tem facilidade em ver questões amorosas; outras, tem facilidade em ver o futuro; outras, em dissecar o passado; outras, em ver desgraças e por aí vai. São especificidades subjetivas que estão ligadas à singularidade do cartomante, e não à habilidade do professor ou a natureza do oráculo. Não é porque dizem que não é aconselhável ver morte nas cartas, que efetivamente não se vê morte nas cartas.
O segundo problema decorre da capacidade de persuasão de alguns profissionais ser maior que sua capacidade de ser um oráculo (leia-se: trambiqueiros...) Já falamos aqui no blog sobre esse tipo de profissional, que é o alvo de programas de televisão que visam denegrir nossa prática profissional. Não me estenderei nesse ponto, por ora; creio que você, que está lendo, está alinhado sinceramente com a vontade de ser oráculo. Com todo o peso que essa profissão carrega. Pesemos então, intuição e conhecimento.


A intuição é fundamental para a leitura do oráculo. Simples: em meio a inúmeros significados, como "escolher" o correto? E como que a linha de raciocínio permanece coesa? E, sendo as mesmas cartas, como os resultados são diferentes? E como sentimos aquela sensação de certeza no que vemos?
Ainda assim, não gosto da palavra "intuição" justamente porque ela soa como justificativa quando a pessoa não sabe o motivo do que vê, ou, pior, quando fala sem saber direito o caminho que a visão seguiu. Aí vem o conhecimento. O que não inviabiliza o seu uso, só o seu uso como justificativa.
Da mesma forma, o conhecimento do oráculo é fundamental para a leitura do mesmo. Você tem que conhecer os LIMITES de cada carta, para que elas sejam específicas. Quer ver? Tentem pensar em qual carta, entre os 22 Maiores do Tarô, representa mudança. Depois que vocês pensarem um pouquinho, verão que pelo menos cinco cartas correspondem a esse possível significado, mas cada uma é específica na sua colocação. Para você explicar o que está vendo, seu vocabulário (leia-se, conhecimento) deve corresponder à sua habilidade em ler. E essa foi uma lição que aprendi para nunca mais esquecer com a Kelma Mazziero: seu vocabulário tem que ser muito bom, e o dicionário tem que estar entre os seus livros principais de tarô. As palavras tem poder

De quê adianta uma tabela como essa,
se você não sabe usar ou, pior,
se você não vê utilidade?

Logo, se torna aqui viável a colocação do Nei Naiff, quanto às diferenças de prática entre taromantes/tarotistas e tarólogos. Todos nós que lidamos com cartas somos cartomantes, sempre bato nessa tecla. Ok que a palavra se tornou pejorativa, mas isso se deve ao uso até então. Eu reforço seu sentido positivo com a esperança que, daqui a alguns anos, o nosso reconhecimento como cartomantes alivie o seu peso e seja diametralmente diferenciada de charlatanismo. Ainda assim, todos sendo cartomantes, temos entre nós alguns tem habilidade para pesquisar os significados e conversar sobre eles, outros são mais focados na adivinhação (e, antes que alguém me apedreje, a "terapia" que as cartas oferecem nada mais é que uma adivinhação, sim?). É importante sabermos que existem dois campos dialogantes que não se desmerecem. Mas, num grupo de estudos, claro que o conhecimento se fará marcadamente presente. Contudo, reitero, na prática, a mão que manipula as cartas é sempre soberana, sempre mesmo. Não importa se o que você vê está ou não no livretinho, se o teu cliente - o único juiz que importa - estiver satisfeito e reconhecer a verdade nas suas palavras, não há o que desmerecer. 
Embora, seja intuição, seja conhecimento, seja ambos, sem treino, não há fruto.
Ninguém nasce pronto para a cartomancia. Nascemos suscetíveis, mas nunca prontos. É o treino e a prática que nos balizará para a avaliação de nossos clientes.
Abraços a todos.

4 comentários:

  1. Querido Emanuel, sempre a ponderacao e o equilibrio nas tuas palavras. Como vc mesmo diz, as palavras tem poder. O ser humanoo ainda esta preso a formas e rituais, na maioria das vezes com a finalidade de satisfazer seus proprios interesses. Nossa natureza eh egoista, centralizada no eu. Penso eu, na minha ignorancia, que a intuicao pode ser uma excelente ferramenta, mas que eh preciso discernimento para utiliza-la.

    Concordo contigo, nunca estamos prontos. E ainda bem, pois senao o que seria da nossa jornada rumo a perfeicao?

    beijoooooo

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    1. Pois é, Paula, a gente tem que ir se lapidando, se lapidando, pouco a pouco, acerto a acerto.
      E, mesmo na sua profissão, na qual, a propósito, você é excelente: o que faz de uma receita um "algo mais" senão aquela intuiçãozinha que vem na hora de temperar?
      Mas o que será o temperar sem o conhecimento do efeito do tempero?
      Um beijo, esteja sempre à vontade por aqui.

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  2. Olá, Emanuel!

    Vim conhecer seu blog e agradecer a visita. Embora não compartilhe com vc o interesse pelas cartas, compartilho a crença de que sem conhecimento, intuição e prática, nada vinga! rs

    Belo texto. Parabéns.

    Beijo.

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    1. Oi Cynthia, bem vinda!
      Aqui, sinta em casa.
      Como disse à Paula, antes: o instinto intuitivo é fundamental e maravilhoso, se embasado...
      Um beijo!

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Quando um monólogo se torna diálogo...