quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Blogagem Coletiva: Vozes dos Decks


"Como cada pessoa é uma pessoa, cada baralho de tarot carrega suas características, seu tom, sua voz. Como você escuta o que seus decks lhe contam? Que tom dão para as suas leituras? Qual é voz do seu tarot?
Blogagem baseada no texto Vozes dos Decks, na coluna La Pietra Oracolare do Bruxaria.net"

Olá pessoal. A postagem de hoje é a respeito de algo que me fez refletir sobre longo tempo. Há pouco mais de um ano (ou um pouco mais, não tenho certeza), estava eu postando num grupo de discussão do Yahoo! e a conversa estava bem interessante, até um jovem perguntar o que achávamos que a Força fazia - abria ou fechava a boca do leão.
Respondi que, em minha concepção, a informação dependia do baralho que ele estivesse utilizando, incluindo o fato de que nem sempre a Força é mulher! (Tão aí os Tarots Mitológico, dos Santos e 1JJ que testemunham isso)
E no caso do Thoth, em que a mulher está, com o perdão da palavra, pouco se lixando para fechar ou abrir a boca do leão?


O retorno não poderia ter sido pior. Parece-me que entenderam como uma ofensa pessoal eu acreditar que baralhos diferentes levam-nos a viagens arquetípicas diferentes. Tinha que haver um significado estanque. E para mim, Tarot é transformação. 
Não houve nenhuma manifestação do restante da comunidade, incluindo a moderadora, o que, para mim, foi de profundo descaso quanto à seriedade do tema. Desabafos à parte, hoje eu vejo que tudo o que pensei a respeito disso encontrou finalmente eco em outro(s) lugar(es).
A experiência da Pietra, de escolher duas cartas a cada plenilúnio, de baralhos diferentes, eu faço todo fim de ano, quando reenergizo meus decks e refaço meus votos. Abro todos os meus baralhos (acredite, isso leva um bom tempo) e vejo duas, três, cinco cartas de cada um, anoto as informações, verifico discrepâncias e congruências, enfim, tento fazer um todo com todas aquelas partes. No início, eu fazia isso em busca de um todo comum, mas com o tempo e a experiência eu percebia que haviam nuances diferenciadas, como sotaques, das cartas. Alguns me faziam gaguejar (estou falando sério), outros, o próprio consulente queria interpretar; alguns baralhos iam mais a fundo em determinados aspectos psicológicos, mas não eram tão eficazes nas questões práticas; outros, falavam de forma extremamente precisa quanto às questões emocionais, mas eram muito confusos quanto às questões profissionais; haviam ainda aqueles que eram Jack Bauer, outros que nos remetem a visões do passado e/ou do futuro para revelar questões imediatas - o que nem sempre é claro num primeiro momento.
Vejo meus baralhos como vejo minhas espátulas, quando estou restaurando algo: amo a todas, indistintamente, mas nem todas me auxiliam em todos os trabalhos - por isso são úteis! Uso cada uma delas de acordo com a necessidade. Da mesma forma, não jogo para todos os meus clientes com o mesmo baralho; de acordo com a necessidade, utilizo baralhos diferentes, cujo enfoque está mais próximo dos questionamentos que lhe afloram.
Certamente, vocês podem pensar, como eu pensei: "Então o que fazer quando só temos um baralho?" Bem, como pude perceber, o número de baralhos não altera o valor de uma consulta, mas o grau de envolvimento, comprometimento e conhecimento dos elementos ali envolvidos. Particularmente, creio que nunca vou ser bom, ou melhor, nunca vou ser razoável no Call of Cthulhu Tarot. Não li o Call of Cthulhu original; Não sou fã de Lovecraft; não gosto de monstruosidades; não sou adepto de leituras sombrias (ok, ok, eu assumo: sou fã do Edgar Allan Poe, e tenho certa estima pela Annie Rice, mas deixa baixo). No máximo, conseguiria uma grande dor de cabeça com esse deck - suas imagens não me provocam comoção, não me enlevam. Não me afetam como o Tarot deve afetar. Não correspondem ao que espero de um baralho. Entendam: Isso não significa que não seja um baralho bom. Significa que não é bom para mim.
Não pensem que sou maniqueísta. Para poupar leitura, não vou citar aqui tudo o que dizem de ruim sobre Aleister Crowley. Retire os exageros e possivelmente você estará lidando com a realidade de sua biografia - ele não fazia segredo sobre suas bizarrices. Mas, mesmo não concordando com muitos dos seus motes e hábitos enquanto era vivo, quem há de dizer que não é um baralho magnífico o Thoth (referências cruciais para leitura no Clube do Tarô), desenvolvido por ele junto a Lady Frieda Harris? 
Por outro lado, o Marselha (Grimauld, por favor. Conheci essa versão, dita espanhola, recentemente), o Mitológico, o Rider-Waite (e suas trocentas reinterpretações, temáticas ou não) são baralhos que falam algo, diretamente, à minha memória. Me sinto à vontade, com eles.
Entre eles, vamos tomar o exemplo do Mitológico. Se o Cartomante conhece os mitos gregos - ou está disposto a apreendê-los - e se interessa pelos aspectos psicológicos inerentes a interpretação dessas cartas, para quê mais? Esse baralho irá falar exatamente o que ele precisa de uma forma que ele consiga entender. Agora, se ele busca respostas práticas e diretas, voltadas para atitudes pré-determinadas, deverá treinar bastante, pois não é esse o foco dado ao desenrolar de suas leituras. Por outro lado, sendo esse o foco do Tarô Adivinhatório, precisamos estar mais amparados quando desejamos um jogo mais profundo e psicológico com suas lâminas.
Isso, só falando dos Tarôs. Quando estendemos a questão para os demais baralhos, o buraco fica BEM mais embaixo. Mas aí, é outra história.


Para mim, as vozes mais doces provém do Marselha (uma contralto de voz inigualável), do Thoth (um barítono que deve ser explorado ao máximo), do Mitológico (um castratto muito bem posicionado em seus solos), do Petit Lenormand (na versão da COPAG, Baralho para Ver a Sorte - minha soprano favorita) e do baralho comum francês (32 cartas Um baixo c'est ne pas grave). Não estou dizendo que são atenuantes das previsões, pois não são mesmo; mas que é bem mais palatável para mim receber as informações a serem repassadas a meus consulentes através de suas imagens. Existem outros, é verdade; mas dependem do meu momento, do rumo que minha busca está tomando, de para onde desejo ir... E para onde estou sendo levado.
Abraços a todos.




8 comentários:

  1. Oie!
    Eu adorei o que vc escreveu, pq é exatamente assim que eu me sinto e foi com essa linha de pensamento que eu escrevi aquele texto.

    Eu acho que o arquétipo está dentro da experiência humana com a Natureza, por isso A Força é representada (pegando o seu exemplo), mas nem sempre isso quer necessariamente dizer um abrir ou fechar de boca... No Alchemical Tarot a moça anda sobre um leão verde... numa comunhão. E eu acho que é assim, se temos um deck diferente do outro é pq temos conceitos diferentes no fazer daquelas cartas e acho que temos de saber aproveitar toda essa riqueza... às vezes, o Imperador é briga com autoridade, outras vezes é construção de mundo... as vezes é poder, ás vezes é trabalho e assim caminha a humanidade!

    ResponderExcluir
  2. Oi Pietra! Eu escrevi sobre isso nesse post aqui: http://conversascartomanticas.blogspot.com/2009/07/figura-do-ilustrado-no-processo-de.html
    Não basta interagirmos com o baralho em seus aspectos subjetivos. Os aspectos objetivos de sua construção não devem ser negligenciados.
    Grande beijo!!!

    ResponderExcluir
  3. Adorei o texto Emanuel ^^.
    Infelizmente nao tenhos muitos baralhos, tenho apenas o de Thoth e o de Viscont sforza.
    Meus pès foram plantados no mundo do taro a pouco tempo mas estou amando!!
    Preciso viver mais esse lado natureza como disse a pietra, assim poderei entender melhor o conceito de cara deck, e assim usa-lo da maneira que mais me ajudar.

    Beijos, e adoreeeii teu espaço ^^

    ResponderExcluir
  4. Sabe que eu nunca senti uma ligação com o tarot de Marselha, mas achei interessante essa versão espanhola que você citou?! São tantos decks e tantas versões deles... sinto que o mesmo tarô em outras versões tbm têm significados diferentes. O que você acha? Como sempre, texto excelentíssimo! :)

    ResponderExcluir
  5. Seu texto está ótimo!!!
    Aquela lista de discussão perdeu muito por não ter dado a atenção devida ao que vc propôs... Tarot é simbologia, mas também é o como alguém se identifica com a simbologia que eles expressam... é uma via de mão dupla... realmente cada deck tem características únicas por mais que suas simbologias sejam as mesmas, afinal cada um que os vê tbm é único... ;)
    Um grande abraço.

    ResponderExcluir
  6. Eu quase comprei o Marselha espanhol, mas acabei indo pro Jean Noblet! Concordo com a docura dos decks dessa tradição, sem dúvidas.

    Belo texto, Emanuel. =)
    E agradeço novamente a visita ao meu blog.

    um abraço,

    Rique

    ResponderExcluir
  7. Também acredito que decks diferentes falam de forma diferente! E seu texto, junto com o da Pietra, está colaborando para aumentar minha vontade de adquirir o Thoth!
    Abraços!

    ResponderExcluir
  8. Olá!
    Comprei o Tarot de Thoth hoje, estou tão feliz!:)

    ResponderExcluir

Quando um monólogo se torna diálogo...