Olá pessoal. Muitas coisas aconteceram nesses mais recentes dias, e elas estavam ligadas aqui ao Conversas. Mas cadê tempo de ordená-las para conversarmos?
Dia 08 de novembro dei uma palestra na Casa da Cultura de Três Corações cujo título era "Tarot: Oráculo e Terapia". Foi muito bacana, um grupo pequeno mas focado, que, mais que me ouvir, foram para me fazer pensar. Falei sobre o Tarot, em suas duas acepções - como forma de "ver o futuro" e como forma de "ver o interior" - e da forma como as percebo em meu trabalho, e principalmente, da ética de um Cartomante (acho super importante sempre frisar isso, independentemente do tema das palestras sobre cartomancia).
Depois disso, apresentei no SIC - UFOP dois trabalhos sobre Cartomancia, um relativo à semântica (Petit Lenormand, Baralho Cigano: um problema semântico e iconográfico) e outro à iconografia (O Tarot Thoth como objeto da História da Arte). Foram muito bem aceitos, e a pergunta que ficou foi: "Por que você não trouxe seu baralho?" Percebi que a Academia ainda se interessa pelos aspectos do Oculto. De uma outra forma.
E, por último, recebi o desafio das meninas do Chá de Tarot para falar sobre uma das minhas lâminas favoritas: A Imperatriz.
"Se arquétipos são do conhecimento construído pela humanidade, eles estão, certamente, em tudo que nos cerca: da observação dos ciclos aos movimentos mais humanos como as celebridades e as necessidades de agrupamento. Então, convidamos todos os oraculistas a nos contar onde está A Imperatriz? Onde está seu reinado? Sua força fêmea? Onde manifesta-se seu jardim? O que nasce de sua barriga fértil? Onde moram suas manifestações mais físicas? Onde está a Imperatriz?"
Pensei muito nisso. Tanto que me atrasei na postagem, para além do esperado! A Imperatriz é uma das cartas mais lindas do baralho. Fatalmente atrai nossa atenção. É envolvente e diáfana como um entardecer.
É o arquétipo da Mãe. Se nos ativermos à Espiritualidade da Deusa, a Donzela seria a Sacerdotisa, e a Lua a Anciã. Sendo assim, ela regeria a segunda fase da vida de uma mulher, por volta dos 17 a 35 anos (as Donzelas estão mais precoces).
Se fosse resumir essa carta em uma palavra, seria ternura. Ela não é o Amor, conforme entendemos - relação entre sujeito e objeto, podendo ou não ser recíproca - mas a relação de entrega do sujeito ao objeto que visa apenas a satisfação pessoal. Soa estranho e egoísta, mas não é. Pense num filme de amor. Qualquer um (aqui no blog temos alguns exemplos bem bacanas). E pense no estado em que você ficou quando chegou ao final. O teu choro, se choro, e o teu encanto, se encanto, não afetou ninguém além de você mesmo. Pura ternura.
Conforme o Dicionário Priberam de Língua Portuguesa, ternura pode ser também uma tristeza suave. Seria saudade, se não soubessem lhe dar nome?
Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
[ extático da aurora.
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
[ extático da aurora.
É um aspecto de nutrição. Nutrir, aqui, num aspecto diferente d'A Sacerdotisa: A Imperatriz é a nutrição que gera dependência e retroação. Como Dhea Mater, Ela pede nosso retorno e posicionamento. Sua dedicação não é gratuita. Assim, Ela permite que apenas os fortes sobrevivam; contudo, sua visão de força é diferente daquela que os homens desejam, pois não é imposta pela força, mas pela ousadia da semente que rompe a terra, a audácia do urso que emerge de sua hibernação, a vitória da crisálida rompida pela recém-nascida borboleta. Muito legal a colocação da Rainha de Espadas, que tomo a liberdade de transcrever: "Para mim a Imperatriz está nas bruxas de cozinha; alquimistas, nutridoras que são. Está nos momentos de maior criatividade, quando ousamos tirar idéias do papel. Quando plantamos nossas ervinhas no jardim, cuidamos dos nossos animais e de quem mais precisar de cuidados, mesmo que seja através de um chá quente e uma conversa. Está nos cuidados com nosso corpo, nossa casa."
Criatividade - É assim que Ma Deva Padma chama o Arcano III no Tarô Zen de Osho. Falando nisso, nem sempre a Imperatriz é o Arcano III. No Tarot Mitológico, que não possui numeração, é a segunda carta após o Louco, a que tradicionalmente atribuímos o Zero, e o mesmo se aplica ao Housewives, que é o tema das nossas postagens. A Mãe Terrena serve de amparo para a compreensão da Mãe Celeste, o empírico gera as bases do filosófico.
É muito forte o aspecto maternal dessa carta. Não sabia porquê. Mesmo. Talvez pelas relações com Isis e com Gaea, pois as primeiras referências à Imperatriz falam em razão, não em instinto, como temos atualmente. E a última coisa que eu relacionaria com a maternidade seria justamente a racionalidade. Para mim, era puro instinto.
Mas, pensando um pouquinho... É necessário muito sangue frio para cuidar das panelas enquanto se atende as necessidades de um filho, sem perder o controle de nenhuma das funções.
Sendo assim, eu vejo, ou melhor, sinto a Imperatriz quando meus instintos exigem a presença da minha Anima, que conheci quando atravessei o Véu da Sacerdotisa. Por outro lado, é sempre um desafio ouvi-La, pois é sempre o Outro Lado do meu gênero, o Outro Lado da experiência que aceitei nessa vida, nesse corpo.
Mas... Justamente por isso... Vivo essa experiência nas relações com as mulheres que cruzam meu caminho, pois elas são como reflexos iridescentes da experiência de habitar um corpo físico - outra das acepções dadas à Imperatriz.
Abraços a todos.
Sabe o que eu fiquei pensando no que vc escreveu?
ResponderExcluirEu senti essa mudança de papel... como me tornar Imperatriz aos 30... na verdade, aconteceram muitas coisas que levaram a isso - embora eu ainda não seja biologicamente mãe... mas é incrível como os ciclos mudam e o nosso modo de ver as coisas tb.
Amei o texto e certamente a palestra deve ter sido muito interessante!
ResponderExcluirOi Pietra, eu fiquei pensando nas mesmas coisas para nós que nascemos num corpo masculino (dizem que Bruxa é uma Só que se multiplicou em vários corpos).
ResponderExcluirE os ciclos são muito diretos. A gente simplesmente SABE.
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Obrigado, Senhor da Vida! Fico muito feliz com o comentário. Um grande abraço!