terça-feira, 13 de abril de 2010

Conversas Cartomânticas em tardes sem importância

Olá pessoal. Num domingo destes, de tardes despropositadas e evanescentes, eu visitei os meus amigos da minha antiga república. Fazia tempo que não os via, e como saudade é algo extremamente prazeroso de matar, decidi matar a minha e ir tomar um café com meus amigos.
Encontrei a Baby, uma mulher com naipe de feiticeira (^^) que tem uma abordagem fatalista dos oráculos. Sua visão da Astrologia é bem medieval (não estou sendo pejorativo), e atualmente ela tem se debruçado sobre o estudo das lâminas do nosso querido Tarot de Marselha.

Ela me pediu para auxiliá-la em uma interpretação sim/não, e me apresentou seu sistema de jogo: são cinco cartas, a primeira representa o consulente, a segunda a questão, a terceira o passado, a quarta o presente e a quinta o futuro, sendo que as duas primeiras cartas estão acima das três seguintes, formando um trapézio.
Depois de confirmarmos nossas impressões sobre sua questão, pedi a ela que me apresentasse seu jogo na prática. Ela me disse que não possuía o baralho e eu, surpreso, lhe perguntei como então ela poderia jogar. Ela me trouxe 22 papeizinhos com os nomes das cartas e disse... “assim”.
Isso me recordou imediatamente de um dos meus “jogos de emergência”, aqueles momentos em que estamos diante de uma necessidade legítima de resposta sem um baralho por perto. Eu desenhei um baralho para um momento específico. Ele funcionou. E me recordou também o meu começo, quando eu não tinha condições de comprar um baralho (nem mesmo aqueles de banca de revista). Achei uma lembrança curiosa e um esforço genuíno em seguir em frente com os estudos.
Por outro lado, o fato de só possuir o nome das lâminas me levou a questionar o método, pelo menos em parte. Os Arcanos Maiores do Tarot de Marselha, grosso modo, são formadas por três elementos: um número, uma imagem e um nome – com exceção d’O Louco, que não possui numeração, e do Arcano XIII, que não possui nome. Sendo assim, ela utiliza em suas interpretações 1/3 do potencial gráfico das lâminas.
Claro está que não estou levando em consideração, com uma afirmação como esta, a memória da Baby. Depois de um tempo manipulando as cartas, não decoramos apenas algumas interpretações, como também a representação imagética das cartas. Isso nos dá certa liberdade interpretativa e um maior acuro no momento em que determinados detalhes são privilegiados em uma interpretação (certamente você já se deparou com uma lâmina “brilhando”, como diz o Carlos, um amigo meu, ou mesmo com um detalhe saltando aos olhos em detrimento do todo que a lâmina representa).
De qualquer forma, foi uma experiência interessantíssima verificar essa forma de jogo. A interpretação foi direta, sem cortes, dose dupla de realidade sem gelo. Mas a resposta foi positiva.

Não recomendo o uso de papeizinhos para substituir o baralho. Pelas questões já apresentadas, acredito que é utilizar um potencial simbólico muito inferior ao que as cartas oferecem como um todo. 
De qualquer forma, é louvável a tentativa de manter o crescimento com as lâminas que a Baby apresentou ao utilizar-se desse procedimento. E, levando-se em consideração que a Arte se vale da Visão, não do instrumento... Mas devemos aprender todas as regras, antes de aprendermos a quebrá-las.

4 comentários:

Quando um monólogo se torna diálogo...